REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA 21:00 SALA SUGGIA

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1 12 MAR 2013 REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA 21:00 SALA SUGGIA Enno Poppe direcção musical Jonathan Ayerst piano 1ª Parte Richard Wagner Idílio de Siegfried, poema sinfónico WWV 103 [1870; c.16min.] Pedro Amaral Deux portraits imaginaires [2013; c.15min.] (estreia em Portugal; encomenda da Casa da Música) 2ª Parte James Tenney Form 1, in memoriam Edgar Varèse [1993; 18min.40s.] Luca Francesconi Islands, concerto para piano e 12 instumentos [1992; c.15min.] Portrait Luca Francesconi II itália 2013 Devido à forte queda de neve na Europa central, o voo do solista Marcus Weiss foi cancelado. As obras de Giacinto Scelsi e Hanspeter Kyburz programadas para este concerto foram por esse motivo substituídas por obras de Richard Wagner e James Tenney. A estreia absoluta da obra de Pedro Amaral foi realizada pelo Remix Ensemble Casa da Música a 9 de Março na Tonhalle de Zurique. Notas ao programa disponíveis em na página do concerto ou no separador downloads. Enno Poppe direcção musical Enno Poppe nasceu em 1969, em Hemer/Sauerland, e é um dos jovens compositores mais importantes da música contemporânea alemã. Como maestro, é membro do ensemble mosaik desde Estudou direcção e composição na Universidade de Artes de Berlim, com Friedrich Goldmann e Gösta Neuwirth, entre outros. Prosseguiu estudos no campo da síntese sonora e composição algorítmica na Universidade Técnica de Berlim e no Centro de Arte e Tecnologia Media em Karlsruhe. Para além de várias bolsas da Academia Schloss Solitude em Estugarda e da Villa Serpentara em Olevano Romano, entre outras foi galardoado com o Prémio Boris Blacher em 1998, o Prémio de Composição da Cidade de Estugarda em 2000, o Prémio Busoni de Composição da Academia de Artes de Berlim em 2002, o Prémio da Ernst von Siemens Musikstiftung em 2004, o Prémio Schneider Schott em 2005, o Prémio da Fundação Kaske em 2009 e o Prémio da Fundação Hans und Gertrud Zender em Depois de dois anos a leccionar na Academia de Música Hanns Eisler em Berlim, Enno Poppe deu aulas várias vezes nos Cursos de Verão de Darmstädt entre 2004 e 2010, bem como nos seminários de composição da Academia Impuls em Graz/Áustria. É membro da Academia de Artes de Berlim, Academia de Ciências e Artes de Düsseldorf e Academia Bávara de Belas Artes em Munique. A nível internacional, as suas obras são tocadas por quase todos os principais ensembles e na maior parte dos festivais de música contemporânea. Tem tido encomendas do Wittener Tage für Neue Kammermusik, Berliner Festwochen e Festivais Ultraschall e MaerzMusik em Berlim, ECLAT em Estugarda, musica viva e Bienal de teatro musical em Munique, bem como do Donaueschinger Musiktage e do Festival de Salzburgo. Enno Poppe vive e trabalha em Berlim desde As suas obras têm tido numerosas gravações, pelo ensemble mosaik e outros agrupamentos, e são publicadas pela Ricordi (Munique). MECENAS PROGRAMAS DE SALA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA

2 Jonathan Ayerst piano Jonathan Ayerst começou os estudos musicais como membro dos coros das catedrais de Truro e Wells, em Inglaterra. Iniciou o estudo intensivo de piano na Escola da Catedral de Wells, ganhando mais tarde uma bolsa para a Royal Academy of Music. Entre 1995 e 2000 gravou para estações de rádio como a BBC Radio 3 e a Classic FM, e apresentou se no Wigmore Hall e South Bank Centre em Londres. Em 2000 foi nomeado pianista do Remix Ensemble Casa da Música, com o qual participou, como solista, em importantes festivais por toda a Europa, tendo trabalhado com os maestros Peter Rundel, Emilio Pomàrico, Reinbert de Leeuw e Martin André. Em 2004 foi nomeado organista na Igreja de St. Benet Fink em Londres. Desenvolveu o ciclo de improvisações A Modal Pilgrimage, apresentado em Santiago de Compostela com António Aguiar. Entre 2008 e 2011, realizou regularmente recitais de órgão na Casa da Música. As suas composições para órgão foram incluídas na peça This Cold August Light de Jerome Vincent, em 2008, para a BBC Radio 4. Em 2010 co fundou o ensemble vocal Capella Duriensis, formado por jovens cantores portugueses. O ensemble interpretou mais de 40 obras no seu primeiro ano de actividade. Em 2011, recebeu numerosos convites para se apresentar em festivais em Portugal Continental e nos Açores e gravou duas vezes para a União Europeia de Radiodifusão. Depois da residência em duas catedrais do Reino Unido em Agosto de 2012, o Capella Duriensis inicia este ano um projecto ambicioso de gravação de música sacra portuguesa. remix ensemble casa da música Peter Rundel maestro titular Desde a sua formação em 2000, o Remix Ensemble apresentou em estreia absoluta mais de oitenta obras e foi dirigido pelos maestros Stefan Asbury, Ilan Volkov, Kasper de Roo, Pierre André Valade, Rolf Gupta, Peter Rundel, Jonathan Stockhammer, Jurjen Hempel, Matthias Pintscher, Franck Ollu, Reinbert de Leeuw, Diego Masson, Emilio Pomàrico, Brad Lubman e Paul Hillier, entre outros. No plano internacional, apresentou se em Valência, Roterdão, Huddersfield, Barcelona, Estrasburgo, Paris, Orleães, Bourges, Reims, Antuérpia, Madrid, Budapeste, Norrköping, Viena, Witten, Berlim, Amesterdão e Bruxelas. O projecto The Ring Saga, com música de Richard Wagner adaptada por Jonathan Dove e Graham Vick, levou o Remix Ensemble ao Festival Musica de Estrasburgo, Cité de la Musique em Paris, Saint Quentin en Yvelines, Théâtre de Nîmes, Le Théâtre de Caen, Grand Théâtre du Luxembourg e Grand Théâtre de Reims. Em 2012 fez a estreia mundial do concertino para piano Jetzt genau! de Pascal Dusapin no programa de encerramento do Festival Musica de Estrasburgo, apresentou se na Fundação Gulbenkian em Lisboa e na Filarmónica de Berlim. Entre os projectos para 2013, destacam se cine concertos com o acompanhamento ao vivo de filmes como Paris qui dort, de René Clair, ou Un Chien Andalou, de Luis Buñuel, a ópera Quartett, de Luca Francesconi, com encenação de Nuno Carinhas, e a estreia de encomendas da Casa da Música a Pedro Amaral, Brian Ferneyhough, Luís Antunes Pena, Oscar Bianchi e Wolfgang Mitterer. O Remix tem nove discos editados com obras de Pauset, Azguime, Côrte Real, Peixinho, Dillon, Jorgensen, Staud, Nunes, Bernhard Lang, Pinho Vargas, Wolfgang Mitterer e Pascal Dusapin. Violino Angel Gimeno José Pereira Viola Trevor McTait Violoncelo Oliver Parr Contrabaixo António A. Aguiar Flauta Stephanie Wagner Oboé José Fernando Silva Clarinete Victor J. Pereira Fagote Roberto Erculiani Trompa Nuno Vaz Trompete Cameron Todd Trombone Jordi Rico Percussão Mário Teixeira Manuel Campos Piano Jonathan Ayerst APOIO INSTITUCIONAL ITÁLIA 2013 A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE

3 Richard Wagner Pedro Amaral 3 lípsia, 22 de maio de 1813 veneza, 13 de fevereiro de 1883 O Idílio de Siegfried (WWV 103) cujo título completo é: Idílio de Triebschen com canto de pássaros Fidi e nascer do sol alaranjado, prenda de aniversário sinfónica de Richard Wagner à sua Cosima foi composto em 1870, após o nascimento (em 1869) do último filho do casal, Sieg fried Wagner, sendo Fidi o seu nome familiar. O canto dos pássaros e o nascer do sol referem-se a aspectos pessoais, de significado íntimo para o casal, e a primeira versão desta peça foi estreada na alvorada do dia 25 de Dezembro de 1870, tocada por quinze músicos da orquestra de estudantes de Hans Richter, nas escadas interiores da grande Villa de Triebschen a famosa residência junto ao lago de Lucerna, que tinha sido habitada por Franz Liszt (pai de Cosima) e Hans von Bülow (o primeiro marido desta). Nessa manhã Cosima completava trinta e três anos, tendo sido magicamente despertada pelo som desta música. No seu diário pode ler-se a seguinte entrada: Domingo, 25 de Dezembro, Sobre este dia eu não consigo dizer nada nada sobre os meus sentimentos, nada sobre o meu humor, nada, nada, nada. Eu só posso contar, seca e directamente, o que se passou. Quando acordei ouvi um som, um som que crescia continuamente; apercebi-me então que já não estava a sonhar, mas que estava a ouvir música, e que música! Quando a música acabou Richard veio ter comigo com as cinco crianças e ofereceu-me a partitura da sua prenda sinfónica. Eu estava desfeita em lágrimas, mas o mesmo se passava com todos os criados da casa. Richard tinha montado a orquestra nas escadas e assim consagrado Triebschen para sempre. O Idílio de Triebschen assim se chama a peça. Depois do pequeno-almoço a orquestra voltou a tocar, e novamente se ouviu o Idílio, agora tocado no piso térreo. Seguiu-se a Marcha Nupcial da Lohengrin, o Septeto de Beethoven e, uma vez mais, o Idílio. Agora deixa me morrer! exclamei para Richard. lisboa, 30 de janeiro de 1972 Deux portraits imaginaires é uma peça programática. Na sua base está um diálogo entre duas personagens, sendo que a música, puramente instrumental, procura pintar o retrato de cada uma delas, da sua personalidade profunda e do seu estado psicológico no momento em que dialoga com a outra. As personagens são duplamente imaginadas. A primeira delas é Fausto, na leitura que dele nos deixou Fernando Pessoa na sua obra inacabada Fausto, Tragédia Subjectiva; a segunda é não Margarida, como em Goethe, que representa a figura feminina, o amor impossível. Mas Pessoa construiu o seu Fausto, em parte, à sua própria imagem, o que me incitou a emprestar à personagem aspectos da personalidade do próprio poeta; e a visão que aqui deixo de, na construção do diálogo imaginário, mistura personagens femininas diversas que atravessam a escrita pessoana e a vida íntima do escritor. Quando a peça começa, Fausto está sentado ao cravo a ler uma página de Froberger, o grande cravista barroco que, em pleno século XVII, desenvolveu e estabilizou, formalmente, a Suite para teclas. Froberger foi um dos primeiros e mais notáveis compositores de música programática, e algumas das suas obras são extraordinárias deambulações pelo fio do pensamento, da introspecção. A página que Fausto lê, sentado ao cravo, é a Allemande da vigésima Suite, em Ré maior, intitulada (em francês) Méditation sur ma mort future. É essa peça que ouvimos, ao cravo, no início destes Deux portraits, em confronto com os pensamentos de Fausto, representados nos outros instrumentos. E é neste ambiente que aparece, numa exuberância feérica que, por momentos, arranca Fausto às suas sombrias meditações. A partir da chegada de, a peça toma a forma de um diálogo, onde as palavras estão implícitas nas linhas de determinados instrumentos: O poema sinfónico Idílio de Siegfried teve pois uma génese e nascimento extremamente íntimo e familiar, tendo Wagner proibido durante anos a sua execução e publicação. Todas as interpretações desta obra eram feitas para círculos restritos de amigos ou patronos de Wagner, criando a aura duma obra legendária e misteriosa. Só em 1878, devido à gravíssima situação financeira do compositor, é que a editora Schott teve autorização para imprimir e vender a partitura a mercantilização duma declaração de amor, diria Wagner mais tarde. paulo de assis (2007)

4 (trompete) Pessoa (clarinete baixo) Amo como o amor ama. Não sei razão pra amar te mais que amar te. [Fausto, 29 96] Ao meu exílio, que sou eu mesmo, a sua carta chegou como uma alegria lá de casa, e sou eu que tenho que agradecer, pequenina. [carta de Pessoa a Ofélia, 11/09/1929] 4 Agora podemos sonhar Vem. Pessoa (à parte) Ah não poder Arrancar de mim a consciência! [Fausto, 29 94] (trombone) (num tom exageradamente infantil) A minha pequena Vespa gosta realmente de mim? Porque é que tem esse gosto estranho pelas pessoas de idade? [ ] Estou preparando a pasta preta para a levar nela. Ouviu? Vespa, vespíssima? [carta de Pessoa a Ofélia, 24/09/1929] Pessoa (clarinete baixo) (com uma ternura infinda, quase maternal) Vem. E não penses mais, não olhes [ ] para o amor. No fundo, não somos [ ] senão Dois [ ] uma epopeia eterna o homem e a mulher. Oh, meu amor, não pensemos mais, não pensemos mais. Amemos sem pensar. [ ] (clarinete) Que tem quem ama com o saber que ama, com pensar amor? [in O Privilégio dos Caminhos, pág. 96] Infelizmente, o amor de não salva Fausto, pregado na cruz ígnea de [si] mesmo, na sua lucidez paralisante, na sua incapacidade de amar sem se ver amar, de sentir sem pensar o sentimento (é Alberto Caeiro, o mestre, quem constata: Amar é a eterna inocência, / E toda a inocência é não pensar... ). Apesar de toda a exuberância amorosa de, a peça termina com um inevitável Lamento, e as personagens ficam, no fim, tão sós como começaram. James Tenney silver city (novo méxico), 10 de agosto de 1934 valencia (califórnia), 24 de agosto de 2006 pedro amaral (2013) James Tenney realizou estudos em composição e piano e foi co-fundador do Tone Roads Chamber Ensemble em Nova Iorque, dirigindo-o entre os anos de 1963 e O adágio diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és tem uma clara aplicação no seu caso. Tocou nos ensembles de John Cage, Philip Glass, Harry Partch e Steve Reich, e se hoje em dia alguns destes músicos rejeitam o rótulo de minimalismo com o qual se classificam as suas músicas, ele é claro e lógico para a maior parte dos melómanos. A peça de James Tenney que vamos escutar faz parte de uma série de obras dedicadas a Edgard Varèse, John Cage, Stefan Wolpe e Morton Feldman. No seu conjunto são extremamente semelhantes. Form 1, dedicada a Edgar Varèse, é escrita para um ensemble misto com madeiras, metais, cordas e percussões de altura definida. Na partitura o compositor escreve: quantos mais instrumentos melhor, mas não menos do que 16. Os músicos deverão estar divididos em quatro grupos em redor do público, de acordo com um plano espacial. A peça consiste em 57 segmentos de som com uma duração de 20 segundos, nos quais estão indicadas alturas de som disponíveis. Cabe a cada músico escolher um som que não esteja a ser tocado em seu redor. Cada nota que tocam tem a duração de uma arcada ou de um sopro e é sucedida de uma pausa. No caso dos instrumentos de percussão, a extinção do som ocorre de forma natural. Decorrendo da soma dos 57 fragmentos, a peça dura exactamente 18 minutos e 40 segundos. Na sua estreia foi realizada por 21 instrumentistas.

5 Luca Francesconi 5 milão, 17 de março de 1956 Luca Francesconi estudou piano e composição no Conservatório Verdi com Azio Corghi e depois prosseguiu os estudos de composição em Roma e Bóston com Stockhausen, colmatando o seu percurso formativo nos cursos de Tanglewood com Luciano Berio. O seu nome está intimamente ligado à música electrónica e à sua interacção com instrumentos acústicos. Islands, para piano e ensemble, foi escrita em 1992 e resultou de uma encomenda do Xenakis Ensemble. Nesta peça, de escrita exuberante e ritmicamente muito complexa, Luca Francesconi explora a ideia de repetição, ou de duplicação. Geram se assim texturas parecidas entre si mas sempre diferentes. Dentro do princípio da escrita concertante, existe neste caso uma grande cumplicidade entre o piano e os outros instrumentos de percussão. Nesta relação, sobressai o carácter vertiginoso do ritmo, o qual Francesconi assume como uma concepção dionisíaca a que não é alheia a sua admiração pelo jazz e pelas celebrações rituais africanas. rui pereira (2013)