Avaliação da força de atrito de bráquetes cerâmicos estudo in vitro

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1 Artigo Original Original article Avaliação da força de atrito de bráquetes cerâmicos estudo in vitro Evaluation brackets friction force ceramic study in vitro Natasha Muniz Fontes 1 Silvia Vedovello 2 Mario Vedovello 3 Heloísa Valdrighi 2 Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da canaleta metálica e do tipo de bráquete estético, se convencional ou autoligado, na intensidade da força de atrito. Foram utilizados três tipos de bráquetes ortodônticos estéticos: convencional sem canaleta metálica (Morelli ), convencional com canaleta metálica (Tecnident ) e autoligados sem canaleta metálica (Eurodonto ). Os bráquetes foram associados a fios de duas dimensões, x e x (Morelli ), retangulares, originando seis diferentes grupos de acordo com o tipo de bráquete/fio (n=10). De acordo com os resultados, observou-se que o maior atrito foi gerado pelo bráquete autoligado sem canaleta metálica, seguido pelo convencional com canaleta metálica (p 0,05). Concluiu-se que os bráquetes estéticos convencionais sem canaleta metálica apresentaram a menor força de atrito. Descritores: Atrito dentário, Ortodontia, bráquetes ortodônticos. Abstract The aim of this study was to evaluate the influence of the metal channel and the type of aesthetic bracket, whether conventional or self-ligating, the magnitude of the frictional force. Three types of aesthetic orthodontic brackets were used: conventional without metal channel (Morelli ), conventional with metal channel (Tecnident ), and self-ligating without metal channel (Eurodonto ). The brackets were associated with two dimensions yarn, x and 0,019 x (Morelli ), rectangular, producing six different groups according to the type of bracket/wire (n=10). According to the results, it was observed that the greater friction generated by self-ligating was bracket without metallic channel, followed by conventional channel with metallic (p 0.05). It was concluded that conventional aesthetic brackets without metal channel had the lowest friction force. Descriptors: Tooth attrition, Orthodontics, orthodontic brackets. 1 Mestre em Ortodontia SLMandic. 2 Doutora em Ortodontia FOP/UNICAMP. 3 Doutor em Ortodontia UFRJ. do autor: natashafontes@hotmail.com Recebido para publicação: 06/07/2016 Aprovado para publicação: 25/01/2017 Como citar este artigo: Fontes NM, Vedovello S, Vedovello M, Valdrighi H. Avaliação da força de atrito de bráquetes cerâmicos estudo in vitro. Orthod. Sci. Pract. 2018; 11(41): DOI: /2018;

2 22 Artigo original Original article Introdução Com o passar dos anos a exigência dos pacientes em busca de tratamentos ortodôntico estéticos tem crescido a cada dia, principalmente um número elevados em pacientes adultos 13. Os principais fatores desmotivadores do uso de aparelhos convencionais em adultos é o tempo prolongado do tratamento e a aparência antiestética desses aparelhos 5,13. Em função da crescente demanda dos pacientes nos consultórios de Ortodontia, a indústria dos materiais tem buscado oferecer alternativas de tratamento estético desenvolvendo tecnologias e técnicas de tratamento específicas, como a Ortodontia Lingual, o tratamento com alinhadores transparentes e o uso de bráquetes estéticos, de coloração transparente ou esbranquiçada 4. No entanto, trata-se de um material com particularidades e características com as quais o ortodontista deve estar familiarizado para que possa utilizá-los com consciência de suas limitações e aproveitando suas qualidades, obtendo cuidados clínicos e selecionando os casos mais indicados para tratamento com o bráquete estético 4. As vantagens e desvantagens dos bráquetes de policarbonato e cerâmicos têm sido discutidas por meio de pesquisas e testes em laboratório, levantando questões como problemas com colagem, descolagem, resistências friccionais, descoloração e considerando cuidados que possibilitam a utilização clínica satisfatória desses bráquetes 4. O tratamento corretivo realizado com aparelhos fixos promove o movimento dos dentes pela ação de fios ortodônticos que deslizam em bráquetes colados, na face vestibular dos dentes, gerando certo atrito nesta interface. A evolução dos acessórios ortodônticos, visando a uma melhor estética dos aparelhos, levou à fabricação de bráquetes cerâmicos para substituir os metálicos até então utilizados 10. A introdução do primeiro bráquete cerâmico comercialmente disponível em 1987 foi recebida com entusiasmo pelos pacientes, pela mídia e pelos ortodontistas devido ao seu potencial de melhorar a aparência dos aparelhos ortodônticos fixos. Logo após, estudos in vitro começaram a realçar as dificuldades que podem ser encontradas durante a sua utilização 7. Na Ortodontia, necessita-se entender o impacto do atrito entre bráquetes e fios para aplicar a força apropriada e, assim, obter resposta tecidual biológica ótima e adequado movimento dentário durante a mecânica de deslizamento. A maioria das técnicas de aparelhos fixos envolve algum grau de deslizamento entre o fio e o bráquete e, quando isto ocorre, a força de atrito é encontrada. Durante a mecânica de deslizamento, a resposta biológica do tecido e os movimentos dentários ocorrem apenas quando as forças aplicadas superam o atrito na interface fio/bráquete. Desta forma, altos níveis de atrito podem minimizar ou até mesmo impedir o movimento dentário 19. O movimento dentário ocorre com uma série de pequenos passos, ao invés de um movimento suave e contínuo. A força de atrito estática entre o arco e o bráquete deve ser superada para iniciar o movimento do dente. Quando o dente é movimentado, a coroa do dente inclina-se na direção da força aplicada 10,22. Gradualmente, em função desta inclinação, pontos de contato duplos surgem entre o fio e o bráquete. Posteriormente, ocorre a remodelação periodontal ao longo da raiz e estes contatos direcionam forças verticalizando a raiz e o ciclo continua 14,17. Atualmente ainda são escassos os trabalhos avaliando atrito em bráquetes cerâmicos convencionais com e sem canaleta metálica. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da presença da canaleta metálica em bráquetes cerâmicos convencionais e comparar os efeitos dos bráquetes convencionais e autoligados sem canaleta metálica com diferentes marcas mais utilizadas no mercado brasileiro, avaliando o atrito estático desses bráquetes realizado num estudo in vitro. Proposição Na intensidade da força, quando associados, em diferentes diâmetros: - Avaliar a influência da canaleta metálica em bráquetes estéticos convencionais; - Comparar os efeitos dos bráquetes convencional e autoligado sem canaleta metálica. Material e métodos Para esse estudo foram utilizados três tipos de bráquetes ortodônticos: estéticos convencionais sem canaleta metálica (Morelli ), estéticos convencionais com canaleta metálica (Tecnident ) e estéticos autoligados sem canaleta metálica (Eurodonto ). O material utilizado para confeccionar os corpos de prova e suas características e marca comercial estão descritos na Tabela 1. Os três tipos de bráquetes foram associados a fios ortodônticos de duas dimensões, x e x (Morelli ), retangulares, originando os grupos: B1F1, B1F2, B2F1, B2F2, B3F1 e B3F2, segundo metodologia proposta por Oliveira (2011) 16 que estão dispostos na Tabela 2. O cálculo amostral proposto por Cacciafesta et al. (2003) 1 demostrou a necessidade da utilização de 10 corpos de prova para cada grupo.

3 23 Tabela 1 Materiais utilizados na confecção dos corpos de prova, características e marcas comerciais. Materiais Características Fabricante Base de polietileno Bráquetes ortodônticos Bráquete estético convencional sem canaleta metálica. (B1) Bráquete estético convencional com canaleta metálica. (B2) Bráquete estético autoligado sem canaleta metálica. (B3) Fios ortodônticos Aço inoxidável (Cr-Ni) (F1) Aço inoxidável (Cr-Ni) (F2) - Polietileno de alta densidade PEAD P.S.A - Barra com 10 cm de comprimento - 3,5 cm de largura - 3,5 cm de espessura. - Sistema convencional cerâmico - Canaleta x Técnica Roth. - Sistema convencional cerâmico com canaleta metálica - Canaleta x Técnica Roth. - Sistema autoligado cerâmico - Canaleta x Técnica Roth. - Dimensão x Secção retangular - Comprimento 10 cm - Retificado. - Dimensão x Secção retangular - Comprimento 10 cm - Retificado. Nitaplast Ind. de plásticos industriais. Pinhais/PR, Brasil. Morelli - Sorocaba/SP, Brasil. Tecnident - São Carlos/SP, Brasil. Eurodonto - Curitiba/PR, Brasil. Morelli - Sorocaba/SP, Brasil. Morelli - Sorocaba/SP, Brasil. Tabela 2 Descrição dos grupos, bráquetes e fios utilizados nos ensaios. Grupos Bráquetes Fios B1F1 Morelli cerâmico x B1F2 Convencional sem canaleta metálica x B2F1 Tecnident cerâmico x B2F2 Convencional com canaleta metálica x B3F1 Eurodonto cerâmico x B3F2 Autoligado sem canaleta metálica x Confecção dos corpos de prova Todos os corpos de prova pertencentes aos diferentes grupos foram confeccionados utilizando-se a mesma técnica, sendo que somente os bráquetes e os fios ortodônticos se diferenciaram entre os grupos. Barras de polietileno com dimensões de 10 cm de comprimento, 3,5 cm de largura e 3,5 cm de espessura foram confeccionadas de acordo com o padrão preconizado por Tecco et al. (2005) 21. Sobre as barras, três bráquetes de canino, primeiro e segundo pré-molares inferiores esquerdo, foram fixados com uma distância de 8 mm entre os seus centros. Este valor corresponde à distância média entre as coroas dos dentes em situação clínica normal e foi determinada com o auxílio de um paquímetro digital (Jomarca São Paulo, Brasil). Além disso, para padronizar e facilitar o posicionamento/ alinhamento dos canais de encaixe dos bráquetes, um segmento de fio de aço da marca comercial Morelli (Sorocaba/SP, Brasil), de diâmetro x 0.025, foi utilizado como guia. Após a correta determinação da distância, posição e alinhamento, uma pinça ortodôntica Morelli (Sorocaba/SP, Brasil) foi utilizada para a apreensão e assentamento dos bráquetes, que foram fixados sobre a barra de polietileno, com auxílio de uma cola à base de éster de cianocrilato Super Bond (Henkel/SP, Brasil). De acordo com as recomendações do fabricante foi necessário aguardar um período de 2 horas após fixação antes de dar início aos testes. Execução dos ensaios mecânicos de fricção nos corpos de prova Os ensaios mecânicos para determinar a fricção gerada foram executados em uma máquina EMIC DL 2000 (EMIC - Paraná, Brasil) que possui uma célu- Fontes NM, Vedovello S, Vedovello M, Valdrighi H.

4 24 la de carga com capacidade de medição até 10 Ib. O ensaio mecânico foi calibrado para efetuar medições com velocidade 1 mm/min até obter um deslocamento de 5 mm do fio, com uma força entre 0 a 1000 Kgf. Enquanto os testes estavam sendo realizados, as informações referentes aos ensaios foram coletadas e armazenadas por meio de um software de computador específico para ensaios (Test Standard - Paraná, Brasil) disponibilizado pelo programa de Pós-graduação em Ciências Odontológicas da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas. Os corpos de prova foram posicionados em um dispositivo construído especificamente para este estudo que manteve assegurada a estabilidade e a padronização no momento de cada ensaio. Os testes foram realizados de acordo com uma randomização realizada por blocos. Os ensaios foram executados de uma forma sequencial, conforme sorteio, porém, após cada teste tomou-se o cuidado de parar a máquina, substituir o corpo de prova e reiniciá-la para realização de um novo teste. Quando realizados os teste com os bráquetes convencionais, os amarrilhos metálicos de tamanho 025 (Morelli - Sorocaba/SP, Brasil) foram substituídos em todos os corpos de prova. Dessa forma, foi mantida a padronização dos ensaios, evitando possíveis efeitos que poderiam interferir nos resultados. Todos os procedimentos laboratoriais foram realizados por um único operador. Análise dos dados Para responder aos objetivos do estudo foi utilizada a ANOVA com medidas repetidas, sendo o ponto o fator de repetição, seguida das comparações múltiplas de Tukey, quando identificado efeito estatisticamente significativo do fator. Foi desenvolvido um único modelo de ANOVA, tendo como variável dependente o atrito, e como variáveis independentes (fatores), o tipo de bráquete e o seu respectivo diâmetro. Todos os testes de hipóteses desenvolvidos nesse trabalho consideraram uma significância de 5%, ou seja, a hipótese nula foi rejeitada quando p-valor foi menor ou igual a 0,05. Conforme apresentado na Seção I, foi utilizado o modelo de ANOVA com medidas repetidas, sendo o ponto o fator de repetição, para avaliar, estatisticamente, o efeito do tipo e do diâmetro do bráquete no atrito. Foi detectado efeito estatisticamente significativo do tipo de bráquete, com p-valor menor que 0,0001. Para o diâmetro não foi detectado efeito estatisticamente significativo, uma vez que p-valor foi maior que 0,05. Uma vez identificado efeito estatisticamente significativo, a análise seguiu com as comparações múltiplas de Tukey. Conforme apresentado na Tabela 4, todos os tipos de bráquetes se diferem estatisticamente entre si, uma vez que p-valor foi menor que 0,05 em todas as comparações duas a duas. Pela Tabela 3, os bráquetes autoligados sem canaletas metálicas são os de maior atrito médio, seguido de bráquetes convencionais com canaletas metálicas e bráquetes convencionais sem canaletas metálicas, com atrito médio igual a 566,21, 219,79 e 41,83, respectivamente. Na Tabela 5 pode ser descrita a comparação de Tukey entre os diferentes tipos de bráquetes e fios utilizados no ensaio. Para o modelo completo (efeito do tipo de bráquete, diâmetro e interação) foi necessário transformar os dados para atingir homocedasticidade. A transformação considerada foi a logaritmo. Observou-se o efeito do tipo de bráquete, sendo que todos diferem entre si, (Tabela 5) e efeito da interação bráquete diâmetro (grupos), em que todos os grupos diferem entre si, exceto o grupo autoligado e convencional com canaletas, ambos com diâmetro de 0.017, ou seja, os grupos B3F1 e B2F1 são estatisticamente iguais quanto ao atrito. A seguir foram ilustrados os resultados deste estudo em forma de gráficos relacionando o atrito (em Newtons força) e os grupos de bráquetes associando aos fios ortodônticos utilizados neste estudo (Gráfico 1). Além disso, estão sinalizadas a máxima e a mínima de cada grupo separadamente e a comparação entre os grupos de fios ortodônticos (Gráfico 2). E por fim a análise do atrito máximo e mínimo dos bráquetes estudados (Gráfico 3). Artigo original Original article Resultados

5 Tabela 3 Média e desvio padrão de atrito para cada categoria de bráquete e diâmetro 25 Tipo de bráquete Diâmetro Grupos Variável Autoligado Conv. com canaletas Categoria Autoligados sem canaletas metálicas Bráquetes convenciais com canaleta metálica Bráquetes convenciais sem canaleta metálica Média Atrito Desvio padrão 566,2 513,6 219,8 221,1 41,8 39,2 0, ,4 258,5 0, ,5 485,3 0, ,5 284,0 0, ,9 587,9 0, ,8 222,8 0,019 69,8 56,5 Conv. sem canaletas 0,017 29,0 27,7 0,019 54,7 44,8 p-valor Tipo de bráquete <.0001 p-valor Diâmetro 0,343 p-valor Tipo bráquete *diâmetro <.0001 Tabela 4 Diferença estatisticamente de todos os tipos de bráquetes entre si, uma vez que p-valor foi menor que 0,05. Comparação p-valor Autoligados sem canaletas metálicas Bráquetes convenciais com canaletas metálicas <.0001 Autoligados sem canaletas metálicas Bráquetes convenciais sem canaletas metálicas <.0001 Bráquetes convenciais com canaletas metálicas Bráquetes convenciais sem canaletas metálicas <.0001 Tabela 5 Comparação de Tukey entre os diferentes tipos de bráquetes e fios utilizado no ensaio. Comparação Tipo de braquete Diâmetro Tipo de braquete Diâmetro p-valor Autoligado Autolig. 0,019 <.0001 Autoligado 0,017 Conv.com 0,017 0,2142 Autoligado 0,017 Conv.com 0,019 <.0001 Autoligado 0,017 Conv.sem 0,017 <.0001 Autoligado 0,017 Conv.sem 0,019 <.0001 Autoligado 0,019 Conv.com 0,017 0,0031 Autoligado 0,019 Conv.com 0,019 <.0001 Autoligado 0,019 Conv.sem 0,017 <.0001 Autoligado 0,019 Conv.sem 0,019 <.0001 Conv. com 0,017 Conv.com 0,019 <.0001 Conv. com 0,017 Conv.sem 0,017 <.0001 Conv. com 0,017 Conv.sem 0,019 <.0001 Conv. com 0,019 Conv.sem 0,017 <.0001 Conv. com 0,019 Conv.sem 0,019 0,0506 Conv. sem 0,017 Conv.sem 0,019 0,0004 Fontes NM, Vedovello S, Vedovello M, Valdrighi H.

6 ,0 600,0 1000,0 500,0 800,0 400,0 600,0 300,0 400,0 200,0 200,0 100,0 0,0 b1f1 b1f2 b2f1 b2f2 b3f1 b3f2 0,0 0,017 0,019 Gráfico 1 Análise do atrito máximo e mínimo dos bráquetes em comparação aos fios ortodônticos estudados. Gráfico 2 Comparação do atrito máximo e mínimo nos fios ortodônticos estudados. Artigo original Original article 900,0 800,0 700,0 600,0 500,0 400,0 300,0 200,0 100,0 0 Autoligados sem canaletas metálicas Bráquetes convencionais com canaletas metálicas Bráquetes convencionais sem canaletas metálicas Gráficos 3 Comparação do atrito máximo e mínimo dos bráquetes estudados. Discussão A literatura relata que, mesmo com canaleta metálica ou com lisura de superfície, bráquetes estéticos conferem maior fricção quando comparados aos metálicos, porém, vale ressaltar a importância do tratamento adequado realizado na superfície cerâmica da canaleta ou mesmo na superfície metálica colocada neste bráquete cerâmico, pois nosso estudo mostra, com os bráquetes de escolha, que o cerâmico sem canaleta metálica apresentou melhor performance, como uma possível hipótese do acabamento e a lisura na canaleta desse bráquete ser melhor do que comparados aos outros estudados 9,11,15,18,20. Além disso, sabe-se que a ligadura de metal em contato com o fio de nivelamento gera menor força de atrito que as ligaduras elásticas 6,8. Portanto, em casos clínicos com extração ou que requerem procedimentos de retração e mecânica de deslize, os bráquetes cerâmicos monocristalinos ou policristalinos devem ser ligados com amarrilhos metálicos 4, concordando com a escolha deste presente estudo. Em um estudo in vitro de comparação do atrito em bráquetes metálicos e estéticos convencionais e autoligados, foram utilizados 120 bráquetes de 6 marcas comerciais, sendo 20 bráquetes de cada marca. Para os ensaios laboratoriais, foram colados dois bráquetes de cada marca comercial em uma placa metálica, com uma angulação de zero e três graus entre os bráquetes. Foram empregados os fios retangulares de aço inoxidável 0,017 x 0,025 ; 0,019 x 0,025 e 0,021 x 0,025 em uma máquina de ensaios universal Instron. Os resultados demonstraram que, na angulação de zero grau, os bráquetes autoligados apresentaram menor atrito em relação aos convencionais, em todos os fios avaliados. Já na angulação de três graus, observou- -se resultados semelhantes dos bráquetes autoligados em relação aos convencionais. Concluiu-se que a angulação entre os bráquetes aumenta consideravelmente o atrito, fazendo com que a composição dos bráquetes convencionais influencie de forma mais significativa o atrito devido suas angulações embutidas para adequado posicionamento dentário 12. Sendo assim, como nesse estudo foram utilizados bráquetes com angulações pré-estabelecidas, encontramos resultados nada satisfatórios nesse tipo de comparação entre os cerâmicos convencionais e autoligados, revelando um alto nível de atrito nos bráquetes autoligados e um menor atrito nos cerâmicos convencionais. Com esse resultado, podemos suspeitar pelo não adequado tratamento da superfície da canaleta metálica da marca avaliada. Por sua vez, uma revisão sistemática de 2009 analisou a quantidade de resistência friccional expressa entre bráquetes convencionais e autoligados in vitro. Para tanto, foi feita uma busca, ilimitada, em bases de dados (Medline, PubMed, Embase, Cochrane Library e Web of Science) e os artigos sobre fricção entre bráquetes convencionais e autoligados foram selecionados e revisados. Feita a busca, ao final, 70 artigos foram selecionados pela busca eletrônica e 3 por meio do levantamento secundário e, após a aplicação dos critérios de seleção, apenas 19 artigos foram incluídos nessa revisão. Os autores concluíram que, comparados aos bráquetes convencionais, os autoligados produzem menor fricção quando combinados a arcos redondos de pequeno diâmetro e na ausência de angulação e/ ou torque, em um arco com alinhamento ideal 2,3. Não foram encontradas evidências suficientes para comprovar a baixa fricção de bráquetes autoligados em relação aos convencionais, quando do uso de arcos retangulares, na presença de angulação e/ou torque, em casos de maloclusão considerável. A maioria dos

7 27 estudos avaliados concorda que a fricção de bráquetes autoligados e convencionais aumenta com o calibre do arco 2,3, como foi comprovado em nosso estudo. Concluiu-se com o presente estudo, que os bráquetes com melhor performance foram os bráquetes convencionais sem canaleta metálica, seguidos dos convencionais com canaleta metálica e, por último, os autoligados sem canaleta metálica. Também concluiu- -se que há menor atrito com fios de menor calibre. E, por fim, devemos dar continuidade nesse estudo realizado, avaliando em microscopia de varredura o nível de polimento e lisura das canaletas desses bráquetes estudados para justificar os resultados deste estudo. Conclusão Concluiu-se que os bráquetes convencionais sem canaleta metálica em comparação aos autoligados tiveram uma melhor performance em ambos os fios e, além disso, a influência da canaleta metálica em bráquetes convencionais não foi relevante pois o grupo sem canaleta metálica desenvolveu menor atrito. Referências 1. Cacciafesta V; Sfondrini MF; Ricciardi A; Scribante A; Klersy C; Auricchio F et al Evaluation of friction of stainless steel and esthetic self-ligating brackets in various bracket-archwire combinations. Am J Orthod Dentofacial Orthop, Saint Louis 2003; 124(4): Castro R. Dental Press Ortodon Ortop Facial. Maringá, 2009 jul/ago; 14(4): Ehsani S et al. Frictional resistance in self-ligating orthodontic brackets and conventionally ligated brackets: a systematic review. angle orthod., Appleton. 2009; 79(3): Gibbs SL. Clinical performance of ceramics brackets: a survey of British orthodontist experience. Br J Orthod, Oxford. 1992; 19(3): Grillo VR. Avalição da força de atrito geradas em bráquetes cerâmicos com e sem canaletas metálicas. Campina/SP, Dissertação Mestrado - Centro de Pós-Graduação / CPO São Leopoldo Mandic. 2009; 1: Hain M; Dhopatkar A; Rock P. The effect of ligation method on friction in sliding mechanics. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St Louis. Apr 2003; 123(4): Johnson G, Walker MP, Kula K. Fracture strength of ceramic bracket tie wings subjected to tension. Angle Orthodontist. 2005; 75(1): Kapila S; Sakima T; Wyazaki S; Sachdeva R. Currently used orthodontic alloys. Review (1). Rev Odontol Univ São Paulo, São Paulo. 1990; 4(4): Karamouzos A; Athanasiou AE; Papadopoulos MA. Clinical characteristics and properties of ceramic brackets: A comprehensive review. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St Louis. 1997; 112(1): Khan RS, Horrocks EN. A study of adult orthodontic patients and their treatment. Br J Orthod London. 1991; 18 (3): Kusy RP; Whitley JQ. Frictional resistance of metal-lined brackets versus conventional stainless steel brackets and development of 3-D frictional maps. Angle Orthod, Appleton. 2001; 71(5): Leal RS. Comparação do atrito in vitro em bráquetes metálicos e estéticos convencionais e autoligáveis. Dissertação Mestrado - Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. 2009; Maltagliati LA, Feres R, Figueiredo MA, Siqueira DF. Bráquetes estéticos- considerações clínicas. Rev Clin Ortodon Dental Press. 2006; 5(3): Mazzetto,A.H. Resistência ao deslizamento em fio de aço inoxidável de braquetes estéticos nacionais. Araras/SP, Dissertação Mestrado UNIARARAS, Centro Universitário Hermínio Ometto. 2006; 1: Nishio C et al. In vitro evaluation of frictional forces between archwires and ceramic brackets. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St Louis. 2004; 125: Oliveira LFD. Avaliação da força de atrito estático em bráquetes autoligados e convencionais estudo in vitro. Santa Maria/RS, Dissertação Mestrado Universidade Federal de Santa Maria. 2011; 1: Omana,HM, Moore RN, Bagby MD. Frictional propertis of metal and ceramic brackets. J Clin Orthod, Boulder. 1992; 26: Saunders CR; Kusy RP. Surface topography and frictional characteristics of ceramic brackets. Am J Orthod Dentof Orthop, St Louis. 1994; 106: Secco AS. Determinação da rugosidade, força de deslizamento, coeficiente e resistência de atrito entre bráquetes e fios ortodônticos. Piracicaba, Tese Doutorado- Unicamp, Fac. de Odontologia. de Piracicaba. 1999; 1: Suwa N et al. Static Dynamic Friction Transition of FRP Esthetic Orthodontic Wires on Various Brackets by Suspension-Type Friction Test Part B: Appl Biomater. 2003; 67(B): Tecco S et al. Frition of conventional and self-ligating brackets using a 10 bracket model. Angle Orthod. 2005; 75(6): Zinelis S, Eliades T, Eliades G, Makou M, Silikas N. Comparative assessment of the roughness, hardness and wear resistance of aesthetic bracket materials. Dental Materials. 2005; 21: Fontes NM, Vedovello S, Vedovello M, Valdrighi H.