CONVERSÃO DE UM POVOAMENTO EM MULTIPRODUTOS DA MADEIRA
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- Vítor Castilhos Farinha
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1 1 CONVERSÃO DE UM POVOAMENTO EM MULTIPRODUTOS DA MADEIRA Thelma Shirlen Soares Departamento de Engenharia Florestal - Universidade Federal de Viçosa (thelsoares@bol.com.br) Hélio Garcia Leite Departamento de Engenharia Florestal - Universidade Federal de Viçosa (hgleite@ufv.br) Antônio Bartolomeu do Vale Departamento de Engenharia Florestal - Universidade Federal de Viçosa (sifat@ufv.br) Resumo O objetivo deste trabalho foi realizar a avaliação econômica da utilização da madeira para um único uso versus a utilização para multiprodutos em um povoamento de Eucalyptus grandis através dos métodos do VPL. Foram consideradas duas opções de utilização das toras de madeira: produção para um único uso (celulose ou energia ou serraria) e produção para multiprodutos (celulose + energia + serraria). A partir dos resultados obtidos foi possível concluir que a destinação de um povoamento a multiprodutos foi a opção que apresentou maior viabilidade econômica. Palavras-chave: Madeira de eucalipto, avaliação econômica, multiprodutos. Abstract The objective of this work was to carry through the economic evaluation of the use of the wood for only one use versus multiproducts in Eucalyptus grandis stand, through the Net Present Value method. Two options for the utilization of logs were considered: production for only one use (cellulose or energy or sawing) and production for multiproducts (cellulose + energy + sawing). The obtained result indicates that the multiproducts demonstrated to be the best remuneration alternative for the product from the forest stands. Key Words: Wood of eucalypt, economic evaluation, multiproducts 1. Introdução Atualmente assiste-se o crescimento dos mercados globalizados. VALE (1998) comenta que, por todo o mundo, observa-se um interesse renovado pelas atividades florestais, seja pela utilização econômica destes recursos, seja pela importância dos serviços proporcionados pelas áreas florestadas em termos de proteção à biodiversidade, aos recursos hídricos, ao clima e ao lazer.
2 2 O Brasil detém um terço das florestas tropicais do mundo. Segundo dados da SBS (2001), as florestas plantadas ocupam uma área de 4,8 milhões de hectares, dos quais cerca de 2,96 milhões de hectares ocupados com o gênero eucalipto. As maiores áreas reflorestadas com eucalipto estão localizadas nos Estados de Minas Gerais (51,8%), São Paulo (19,4%), Bahia (7,2%) e Espírito Santo (5,1%). Entretanto observa-se que a falta de conhecimento das reais potencialidades do setor florestal brasileiro tem gerado uma sub-utilização dos recursos, além de desperdícios econômicos, face às tecnologias e infra-estruturas disponíveis, diminuindo então a competitividade das empresas domésticas. Visando atender às necessidades do mercado consumidor, a médio e longo prazo, a busca por técnicas capazes de permitir a obtenção de vários produtos da madeira, em quantidade e qualidade adequadas, se apresenta hoje como um imperativo para o desenvolvimento do setor florestal brasileiro. Sendo assim, é de suma importância o estabelecimento de plantações de árvores em condições de crescimento monitorado que permitam previsões confiáveis tanto sobre as quantidades e a qualidade dos recursos naturais produzidos nas plantações como sobre o cronograma das extrações seqüenciais que configuram as diversas etapas da colheita florestal. Vale salientar que, a verificação do potencial de produção de serviços e produtos das florestas pode gerar retornos financeiros justificáveis em um prazo satisfatório, desde que oportunamente utilizados. Atualmente, entre as estratégias que possibilitam à empresa florestal uma maior competitividade, pode-se destacar o direcionamento das florestas para multiprodutos. Segundo Leite et al. (1995a), tal direcionamento possibilita que de um mesmo fuste de uma árvore possa-se extrair madeira para laminação, serraria, fabricação de papel e celulose, e, ainda, se aproveite seu resíduo para a fabricação de chapas de fibras e geração de energia, entre outros produtos. Tendo em vista colaborar com a efetividade das empresas do setor florestal brasileiro, realizou-se o presente estudo cuja metodologia se aplica a diferentes situações pois objetiva comparar, economicamente, a conversão em multiprodutos (celulose + energia + serraria) com o uso da madeira para apenas uma finalidade (celulose ou energia ou serraria). Embora, a princípio, seja previsível uma maior receita com a conversão em multiprodutos, torna-se importante dimensionar as diferenças que podem ocorre. 2. Material e métodos 2.1. Área de estudo e fonte e dados
3 3 Foram utilizados, neste estudo, dados obtidos de parcelas permanentes de povoamentos de Eucalyptus grandis, localizados no Estado de Minas Gerais, na região conhecida como Vale do Rio Doce. A medição do povoamento foi efetuada na idade de 9 anos, sendo que, em cada parcela, foram registrados os diâmetros a 1,3 m de altura do solo (dap) de todas as árvores e a altura total (Ht) de algumas árvores. Para a obtenção do volume real, procedeu-se à cubagem de árvores-amostra, em diferentes classes de diâmetro. Essas informações foram utilizadas na determinação da distribuição diamétrica e no ajuste de modelos para estimativa da produção do povoamento Modelos hipsométrico, volumétrico e de taper A altura total das árvores foi obtida através do modelo hipsométrico de Campos et al. (1986), citado por Gomes (1996). Para a obtenção do volume, por árvore, optou-se pela utilização do modelo de múltiplos volumes proposto por Leite et al. (1995b). Já para quantificar os multiprodutos e volumes de partes do fuste, de acordo com as características estabelecidas, quanto ao comprimento das toras e diâmetros máximo e mínimo, ajustou-se o modelo de Demaerschalk (1972) modificado por Leite e Garcia (2001). As relações funcionais dos modelos ajustados foram: 1 ln Ht = β 0 + β 1 + β 2 ln( Hd ) + ln( ε i ) dap 1+ β4d β β β (Tx/dap) d V β0dap 1 Ht 2 = [e 3 ](1 ) + εi dap Tx β 0 dap dap + 2 d i 2β = 10 4 dap ( 2β1 2) 2β 2β Ht 2 ( Ht hi ) 3 e εi em que: dap = diâmetro medido a 1,3 m de altura do solo (cm); d = diâmetro comercial ou superior (cm); d i = diâmetro comercial na altura h i (cm); Ht = altura total (m); Hd = altura dominante (m); h i = altura onde ocorre o diâmetro comercial d i (m); V = volume (m 3 ); ln = logaritmo neperiano; e = base dos logaritmos neperianos; Tx = variável binária (0 para volume ou diâmetro d i com casca e 1 para volume ou diâmetro d i sem casca); β i = parâmetro a ser estimado (i = 0, 1,..., 4); e ε i = erro aleatório, ε i ~ NID (0, σ 2 ).
4 Alternativas de conversão da madeira e comércio dos multiprodutos Foram consideradas três alternativas de conversão dos troncos da madeira em toras: madeira para celulose, energia e serraria. Os diâmetros mínimo (dmin) e máximo (dmax) com casca são apresentadas no Quadro 1. Quadro 1. Informações sobre as alternativas de usos e produtos da madeira Especificações das toras Uso da madeira Celulose Energia Serraria Diâmetro mínimo (cm) 8,00 4,00 15,00 Diâmetro máximo (cm) 40,00 40,00 50,00 Comprimento (m) 2,20 1,10 2, Avaliação econômica A análise econômica foi realizada aplicando-se o método do Valor Presente Líquido (VPL). Para as análises, utilizou-se dados de custos de condução e colheita do povoamento, juntamente com dados de preços de venda da madeira, definindo-se uma planilha de custos e receitas. Os custos referentes às operações de implantação, manutenção anual e exploração florestal são apresentados no Quadro 2. Como custo da terra definiuse o valor de US$ 500,00/ha. O transporte da madeira foi considerado ser de responsabilidade do comprador. Quadro 2. Dados de custos de produção de madeira considerando o uso para celulose e o uso de multiprodutos Atividade Ano de ocorrência Custos (US$.ha -1 ) Implantação* 0 500,00 Capina 1 40,00 Capina 2 18,00 Manutenção 1 a 9 10,00 Colheita** 9 6,00 Administração Anual 10% do custo total * Os custos de implantação envolvem as operações de infra-estrutura, construção de estradas e aceiros, desmatamento, destoca, limpeza da área, preparo do terreno, plantio e replantio de mudas, combate às formigas e aplicação de fertilizantes. ** Custos expressos em US$/m 3. Os preços de venda das toras destinadas aos usos de celulose, energia e serraria foram de R$11,50/m 3 ; R$3,41/m 3 ; R$13,43/m 3, respectivamente. Cabe ressaltar que os preços considerados referem-se ao preço da madeira em pé.
5 5 Considerou-se que a venda da produção é feita de acordo com a demanda. Para tanto, admitiu-se que qualquer quantidade e tipo de tora produzida será comercializada, isto é, que existe demanda e não há restrição de quantidade. A rentabilidade dos multiprodutos (combinação dos comprimentos selecionados para celulose, energia e serraria) foi comparada com a rentabilidade proporcionada pela destinação da madeira do povoamento a um único uso (celulose ou energia ou serraria). Com relação às taxas de desconto, considerou-se a aplicação de taxas reais de desconto de 6, 9 e 12% ao ano, no cálculo do VPL. Essas taxas foram escolhidas por, segundo OLIVEIRA et al. (1998), abrangerem os níveis mais utilizados pelo setor florestal. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Equações hipsométrica, volumétricas e de taper As estimativas dos parâmetros e das medidas de precisão das equações obtidas são apresentadas no Quadro 3. Quadro 3. Estimativas dos parâmetros e medidas de precisão para as equações ajustadas Equação β 0 β 1 β 2 β 3 β 4 R 2 Syx Hipsométrica 2,0165-7,9756 0, ,9485 0,0858 Volumétrica 0, ,6884 1,1399-3,0295 0,2494 0,9958 0,0486 Demaerschalk 0,0420 0,9021-0,6842 0,7574-2,7317 0,9780 0, Volume do povoamento Os volumes, considerando a conversão da tora em usos individuais (madeira para celulose, energia e serraria) encontram-se no Quadro 4. Quadro 4. Volume total com casca (VTCC) e sem casca (VTSC) Uso VTCC (m 3 /ha) VTSC (m 3 /ha) Celulose 378, ,553 Energia 422, ,843 Serraria 208, ,573 Multiprodutos 422, , Avaliação econômica Analisando os resultados do Quadro 5, observa-se que a alternativa de multiprodutos apresentou-se, do ponto de vista econômico, a mais viável, seguida
6 6 das opções serraria, celulose. Considerando o uso da madeira para energia observa-se que, para todas as taxas de desconto, a alternativa apresentou-se inviável economicamente, uma vez que apresentou VPL negativo. Quadro 5. Volume e Valor Presente Líquido (VPL) para um único uso e para multiprodutos, para diferentes taxas de desconto Uso Volume (m 3 ) VPL (US$.ha -1 ) 6% a.a 9% a.a 12% a.a Celulose 378, ,05 411,79 160,70 Energia 422, , , ,67 Serraria 208, ,49 211,20 6,50 Multiprodutos 422, ,41 561,23 279,09 De modo geral, verifica-se que, à medida que a taxa de desconto aumenta, o risco do empreendimento também é maior e o VPL cresce em termos negativos, ou seja, o prejuízo aumenta. Essa sensibilidade às variações na taxa real de desconto usada era esperada, uma vez que altas taxas de desconto tendem a inviabilizar investimentos a longo prazo devido ao longo tempo de conversão do investimento, como é o caso de investimentos no setor florestal. Os valores obtidos para o VPL indicam que a alternativa de uso da madeira para um único uso não é recomendável do ponto de vista econômico, no referente caso, em relação ao uso de madeira para multiprodutos (celulose + energia + serraria). 4. Conclusões Para as condições em que se desenvolveu este estudo, pode-se concluir que os multiprodutos (combinação dos usos celulose, energia e serraria) apresentaram maior retorno econômico quando comparado com a destinação da madeira apenas um uso (celulose ou energia ou serraria). 5. Referências bibliográficas Gomes, C. R. L. Produção de madeira e carvão em plantações de Eucalyptus camaldulensis e Eucalyptus cloeziana p. Tese (Mestrado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. Leite, H. G.; Campos, J. C. C.; Paula Junior, G. G. Emprego de um modelo de programação dinâmica para conversão de troncos em multiprodutos da madeira. Revista Árvore, Viçosa, v.19, n.4, p , 1995 a.
7 7 Leite, H. G.; Garcia, S. L. R. Pesquisa e desenvolvimentos em inventário, mensurações e manejo florestal na CENIBRA. Sociedade de Investigações Florestais, Viçosa, p. (Relatório técnico) Leite, H. G.; Guimarães, D. P., Campos, J. C. C. Descrição e emprego de um modelo para estimar múltiplos volumes de árvores. Revista Árvore, Viçosa, v.19, n.1, p.65-79, 1995b. Oliveira, A. D.; Leite, A. P.; Botelho, S. A.; Scolforo, J.R.S. Avaliação econômica da vegetação de cerrado submetida a diferentes regimes de manejo e de povoamentos de eucalipto plantado em monocultivo. Revista Cerne, Lavras, v.4, n.1, p , SBS Sociedade Brasileira de Silvicultura. Setor florestal brasileiro. Disponível em: < Acesso em: 16 maio Vale, L. C. C. Refletindo sobre as atividades florestais. Jornal Floresta & Derivados, Belo Horizonte, ano II, n.16, p.4, ago./set
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