III-107 ESTUDO DAS VARIAÇÕES DE ph NO LODO CALEADO EM FUNÇÃO DE DIFERENTES DOSAGENS DE ÓXIDO DE CÁLCIO E TEORES DE UMIDADE
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- Moisés Vasques Casqueira
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1 22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro Joinville - Santa Catarina III-107 ESTUDO DAS VARIAÇÕES DE ph NO LODO CALEADO EM FUNÇÃO DE DIFERENTES DOSAGENS DE ÓXIDO DE CÁLCIO E TEORES DE UMIDADE Otto Samuel Mäder Netto(1) Acadêmico do Curso de Eng. Química/PUC-PR, estagiário da Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR/GECIP. Integrante do Grupo Coordenador do projeto Interdisciplinar de Pesquisa sobre Eutrofização de Águas de Abastecimento Público na Bacia do Altíssimo Iguaçu e Integrante do Programa Interdisciplinar de Pesquisa em Reciclagem Agrícola de Lodo de Esgoto e de Gerenciamento de Mananciais. Cleverson Vitório Andreoli Eng. Agrônomo, Mestre em Agronomia e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), Professor da UFPR, Engenheiro Técnico e Coordenador do Programa de Reciclagem Agrícola do Lodo de Esgoto e do Programa Interdisciplinar de Pesquisas de Gerenciamento de Mananciais da Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR. Charles Carneiro Eng. Agrônomo, Mestre em Ciência do Solo, Pesquisador junto à Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR/GECIP. Integrante do Grupo Coordenador do Projeto Interdisciplinar de Pesquisa sobre Eutrofização de Águas de Abastecimento Público na Bacia do Altíssimo Iguaçu e Integrante do Programa Interdisciplinar de Pesquisa em Reciclagem Agrícola de Lodo de Esgoto e de Gerenciamento de Mananciais. Cristina Rincon Tamanini Eng. Agrônoma, mestranda em Ciência do Solo da UFPR, bolsista de mestrado pelo CNPq, Integrante do Grupo de Coordenação do Programa de Reciclagem Agrícola do Lodo de Esgoto, pela Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR/GECIP.
2 Milene França Eng. Civil, Mestre em Engenharia Ambiental, Pesquisadora bolsista pela Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR/GECIP; Integrante do Grupo de Coordenação do Programa de Reciclagem Agrícola do Lodo de Esgoto. Endereço(1): Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR/GECIP. Rua Engenheiro Rebouças, nº 1376, Rebouças Curitiba, PR CEP Brasil. Telefone: +55(41) Fax: +55(41) RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar as variações nos níveis de ph do lodo de esgoto caleado em função de diferentes dosagens de cal, do teor de umidade do lodo e do tempo de reação. O experimento foi conduzido com lodo proveniente da ETE Guaraituba, no município de Colombo/PR. O lodo testado é proveniente de reator anaeróbio de leito fluidizado (RALF). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso arranjados em parcelas subdivididas, totalizando seis tratamentos principais, quatro tratamentos secundários e 14 tratamentos terciários em quatro repetições. Avaliou-se o lodo caleado com taxas de caleação de 10%, 20%, 30%, 40%, 50% e teores de sólido de 28%, 38%, 45%, 69% e a testemunha sem caleação (tratamentos principais e secundários), em 0, 1/24, 2/24, 8/24, 1, 3, 5, 7, 10, 15, 20, 30, 45 e 60 dias após caleação. As dosagens de CaO proporcionaram significativas variações de ph (alcançando valores acima de 12,0) mesmo com teores de umidade reduzidos. Os máximos valores para ph foram alcançados imediatamente após a caleação. O ph manteve-se em valores iguais durante 1 dia, tendo decréscimos progressivos no restante do período de avaliação. A caleação proporciona incrementos no volume final do produto. PALAVRAS-CHAVE: caleação do lodo, lodo de esgoto, ph, higienização. INTRODUÇÃO O lodo de esgoto é um material rico em matéria orgânica e nutrientes, passível de ser utilizado na agricultura. A reciclagem agrícola do lodo é interessante em áreas de solos degradados e com baixos níveis de matéria orgânica, característica freqüente dos solos brasileiros. No entanto, devido ao perfil microbiológico e potencial para disseminação de doenças, é necessário um processo de higienização a fim de viabilizar seu uso. A caleação é um processo utilizado para a higienização / estabilização do lodo, bastante difundido a nível mundial, especialmente devido ao baixo custo, fácil aplicabilidade e
3 eficiência do processo. A caleação do lodo é um processo de higienização que consiste na mistura de cal virgem (CaO) ao lodo em proporções que variam de 30% a 50% em função do peso seco do lodo. O contato da cal com a água livre do lodo resulta em uma reação exotérmica. Os fatores que intervêm no processo de desinfecção são a alteração da temperatura, a mudança do ph e a ação da amônia resultante de reações ocasionadas pelo aumento de temperatura e ph.a reatividade da cal depende da quantidade de água "livre" do lodo, avaliado pelo teor do resíduo, e da % de CaO aplicada. A inertização do lodo pela adição de cal preconizada pela EPA (1994) envolve a adição de quantidades suficientes de cal para alcançar e manter o ph 12 pelo período mínimo de 2 horas. A calagem pode inviabilizar ovos de helmintos, porém, desde que respeitados os períodos de carência, que são variáveis segundo a dosagem de cal. Os ovos remanescentes não apresentam viabilidade biológica, portanto, não apresentam potencial infectivo. (Ilhenfeld et al, 1999). Adicionalmente, a cal minimiza odores gerados por lodos de esgoto, promovendo uma maior estabilização dos processos biológicos. É fundamental no processo a relação umidade x quantidade de cal (base peso seco de lodo), para determinar as condições ideais de realização da caleação, visando obter a máxima eficiência com os menores custos. No estado do Paraná mais de 85% das ETEs emprega reatores Ralf para tratamento do esgoto e leitos de secagem para desaguamento, produzindo lodos com concentração de sólidos variáveis, dependendo da temperatura de secagem e das condições climáticas Este trabalho teve como objetivo avaliar as variações nos níveis de ph do lodo caleado em função das doses de CaO, do teor de umidade do lodo, e do tempo de reação. Analisar a quantidade de cal para atingir um ph 12, verificar a relação entre massa de sólidos, ph e temperatura, ainda, avaliar a possibilidade de redução da quantidade de cal por peso de lodo seco e a avaliação da eficiência da cal. UTILIZAÇÃO DO LODO DE ESGOTO A reciclagem agrícola do lodo de esgoto é uma prática popularmente consagrada entre os países desenvolvidos e representa uma alternativa particularmente interessante às regiões com agricultura intensiva e com extensas áreas de solos depauperados e baixos níveis de matéria orgânica. No entanto, para que o lodo seja utilizado com segurança devem ser controlados alguns fatores que podem inviabilizar economicamente e ambientalmente sua disposição. O biossólido, de uma maneira geral, pode ser caracterizado como um material bastante rico em matéria orgânica, com alto teor de umidade e com concentração relativamente elevada de nitrogênio e outros minerais (Shirota e Rocha, 1997). Segundo OLIVEIRA FILHO et al (1987), a matéria orgânica é a principal responsável pela estruturação física de um solo, além de melhorar sua circulação de água e ar. A matéria orgânica ainda está relacionada a diversas características do solo que definem seu potencial produtivo e sua erodibilidade, tais como tamanho e estabilidade dos agregados, capacidade de armazenamento e infiltração de água no solo, densidade do solo, lixiviação, biomassa e atividade microbiana,
4 mobilização de substâncias tóxicas, solubilização de nutrientes das partículas dos solos, além de ser uma fonte de macro e micronutrientes para os vegetais (SOPPER, 1993). A caleação é um método com grande potencial de consolidação no processo de desinfecção e condicionamento do lodo para uso agrícola, embora os aspetos negativos de perda de nitrogênio e imobilização do fósforo durante a mistura da cal, bem como a limitação de seu uso em solos pouco ácidos ainda se mostrem vantajosos pela eficiência na desinfecção, pela relativa facilidade no procedimento (se comparado a compostagem) e pelo baixo custo. É importante destacar que, devido à acidez da maior parte dos solos brasileiros, é muito comum a adoção de práticas agrícolas de correção do ph dos solos por meio da aplicação de calcário. Dependendo da proporção de cal e das doses de uso, o lodo alcalino pode minimizar ou mesmo substituir essa operação, trazendo grandes vantagens ao produtor rural. PRODUÇÃO E HIGIENIZAÇÃO DO LODO Os diferentes sistemas de tratamento e seus respectivos estágios geram lodos com características e quantidades variáveis. Uma das estimativas teóricas produzem de 15 a 20 mil litros de lodo por milhão de litros de esgoto tratado, com 0,5 a 2% de sólidos contendo 50 a 60% de matéria orgânica (OUTWATER, 1994 citado por SANEPAR, 1999). Uma das estimativas teóricas do potencial de produção de lodo de esgoto no Brasil, considerando apenas o tratamento integral do esgoto coletado da população urbana (que beneficia aproximadamente 35% da população) produziria diariamente cerca de 25 a 35 mil toneladas de lodo primário ou 750 a 2450 toneladas (em base seca). A produção de lodo secundário estaria entre 150 a 200 mil toneladas (com 0,5 a 2% de sólidos) ou 750 a 4000 toneladas (em base seca) considerando-se uma produção per capita diária média de esgoto em torno de 250 litros. A amplitude anual de produção de lodo em base seca situa-se entre 244 mil a 1,46 milhões de toneladas. (SANEPAR, 1999) O lodo de esgoto contém todos os poluentes oriundos das atividades, dos hábitos alimentares e do nível de saúde da população atendida pelas redes coletoras de esgotos. Bactérias, vírus, protozoários, parasitas intestinais e seus ovos estão presentes nos lodos, e uma significativa parte deles são causadores de doenças. (PINTO, 2001) A sanidade do lodo, caracterizada pela ausência de agentes patogênicos como ovos de helmintos, cistos de protozoários, colônias de bactérias, hifas de fungos e alguns vírus, é realizada por intermédio de métodos de higienização, que devem ser econômicos, seguros e de fácil aplicação prática. (ANDREOLI et al. 2001). Os níveis de patogenicidade do lodo podem ser substancialmente reduzidos através dos processos de estabilização e tratamento, como digestão anaeróbia ou aeróbia. Entretanto, muitos parasitas e principalmente seus ovos, são muito pouco afetados por processos de digestão convencional, para sua completa inativação, denominada de higienização. (PINTO, 2001)
5 Os processos de tratamento do lodo contribuem para a diminuição do risco de infecção humana e animal, permitindo a utilização do lodo como adubo orgânico. O limite desses organismos para utilização do lodo para a reciclagem agrícola no Estado do Paraná está especificado na Tabela 1. Tabela 1 Limite de patógenos presentes no lodo de esgoto para a reciclagem agrícola. Parâmetros Limites Helmintos (contagem de ovos viáveis) 0,25 ovos/g MS Coliformes fecais 103 NMP/g MS Fonte: Fernandes et al. (1999). Os fatores que se destacam como os mais indicados desinfectantes do lodo de esgoto são: a temperatura, o ph e a radiação. Sob determinadas condições ambientais, estes fatores apresentam faixas em que os organismos se mantém presentes ou em desenvolvimento no lodo, e desde que quebrado este equilíbrio, os organismos são destruídos. Os organismos expostos a níveis extremos de ph, seja básico ou alcalino, tendem a ser destruídos. (Ilhenfeld et al, 1999). A maioria dos países que possuem alguma normativa quanto aos aspectos sanitários da disposição agrícola do lodo relacionam uma série de tecnologias de processamento que, se operadas de maneira adequada, são capazes de produzir biossólidos com concentrações de bactérias, enterovírus e ovos viáveis de helmintos em níveis previstos para a disposição irrestrita. Esses processos combinam mecanismos térmicos, químicos e/ou biológicos para alcançar esta inativação. (PINTO, 2001) O mecanismo de redução de microrganismos patogênicos, através da via térmica, combina o tempo de permanência do lodo a uma dada temperatura. Estas duas variáveis agem em conjunto para atingir a qualidade microbiológica exigida para a aplicação irrestrita. Devido às diferentes difusividades térmicas do lodo para diferentes concentrações de sólidos, a USEPA propôs quatro diferentes regimes de tempo-temperatura, que consideram como o lodo é colocado em contato com o calor, o teor de sólidos e a facilidade de mistura e transferência de calor, o teor de sólidos e a facilidade de mistura e transferência de calor. (PINTO, 2001) Para os lodos Classe A, tem-se quatro regimes, sendo que para lodos com no mínimo 7% de sólidos, a temperatura do lodo deve ser maior que 50ºC por no mínimo 20 minutos; para lodos com no mínimo 7% de sólidos, na forma de torta e aquecida por contato com gás
6 quente ou líquido imiscível, a temperatura do lodo deve ser maior que 50ºC, por no mínimo 15 segundos; para lodos com menos de 7% se sólidos, este último deve ser aquecido por no mínimo 15 segundos mas menos que 30 minutos ou a temperatura do lodo deve ser maior que 50ºC por no mínimo 30 minutos. (PINTO, 2001) O mecanismo de higienização de lodos pela via química utiliza um produto alcalinizante para elevar o ph do lodo e consequentemente alterar a natureza coloidal do protoplasma celular dos microrganismos patogênicos de forma letal, e produzir um ambiente inóspito para a sua sobrevivência. (PINTO, 2001) Dependendo do produto utilizado, esta mistura pode ser acompanhada pela elevação da temperatura, que atuando em conjunto com a elevação do ph, permite uma condição mais efetiva para a inativação dos microrganismos patogênicos e um período menos exigente para a relação tempo-temperatura que via térmica isoladamente. Assim, as condições requeridas para se obter um lodo sanitariamente seguro por este mecanismo são a elevação do ph do lodo para valores superiores a 12 por no mínimo 72 horas, e manutenção da temperatura do lodo superior a 52ºC por no mínimo 12 horas, durante o período onde o ph está maior que 12, e a secagem à temperatura ambiente até atingir a concentração de sólidos de 50%, após o período de elevação do ph (PINTO, 2001). PROCESSO DE CALEAÇÃO A cal, por ser um produto alcalino e de baixo custo, é utilizada em diversas atividades relacionadas à melhoria das condições sanitárias e higiênicas. Em função da alcalinidade que condiciona ao meio ao qual é adicionada, a maioria dos microrganismos encontra condições ecológicas inadequadas para seu crescimento e sobrevivência e, assim, o ambiente fica desinfetado e livre de maus odores (ANDREOLI et al. 2001). A cal virgem é adicionada ao lodo de esgoto com principal objetivo de reduzir seu grau de contaminação, já que ele apresenta agentes patogênicos como ovos de helmintos, esporos de fungos e colônias de bactérias, e também melhora a consistência do lodo e serve como corretivo do solo. A caleação é uma das alternativas mais econômicas para a higienização do lodo de esgoto. (ANDREOLI et al. 2001). A tabela 2 ilustra os valores médios contidos nos cales, encontradas no mercado brasileiro, e oferecidas por empresas de médio/grande porte. Tabela 2 Valores médios contidos nas cales virgens encontradas no mercado brasileiro. Composição Cal virgem cálcica Cal virgem dolomítica ou magnesiana CaO (%)
7 MgO (%) 0,1-0, Insolúvel no HCl (%) 0,5-3,5 0,5-4,5 Fe2O3 + Al2O3 (%) 0,2-1 0,2-1 P.F. (%) 0,5-5 0,5-4,8 CO2 (%) 0,2-3,8 0,5-4,5 SO3 (%) 0,1-0,6 0,05-0,10 CaO + MgO base não volátil (%) 96-98, MgO não hidratado (%)
8 0,5-1, Fonte: ABPC (1998) A caleação tem como maior inconveniente o aumento da quantidade ou volume final do produto, pois este processo de higienização implica o aumento correspondente do peso final a ser disposto. (ANDREOLI et al. 2001). A calagem é um processo que consiste na mistura de cal virgem (de construção) ao lodo em proporções que variam de 30 a 50% do peso seco do lodo. Três fatores irão intervir no processo de desinfecção: inicialmente ocorrerá elevação de temperatura da mistura lodo+cal ("golpe de calor") seguida por uma rápida elevação do ph a níveis ligeiramente acima de 12,0 e, finalmente, a ação da amônia formada a partir do nitrogênio. A cal em contato com a água contida no lodo resulta em uma reação exotérmica, ou seja, que gera calor. Assim, a temperatura se eleva durante alguns dias, até a mistura se estabilizar. Na calagem de lodo, observou-se que o limite mínimo de umidade do lodo, que promove uma boa reação com a cal, é um teor próximo a 70%. Teores de umidade menores não apresentam quantidade de água suficiente para que a mistura atinja temperaturas muito altas, reduzindo o efeito desinfetante. Outra razão da desinfeção é a elevação do ph da mistura. O lodo caleado a 50% do seu peso seco apresenta ph ligeiramente acima de 12,0. Neste nível de ph todos os patógenos são eliminados, desde que o tempo de ação seja adequado. Os estudos sugerem um prazo de 60 dias de armazenagem após a mistura. A calagem é eficiente na estabilização acelerada do lodo, eliminando os maus odores. O contato da amônia produzida a partir do nitrogênio do lodo é também um fator de desinfeção, que apresenta maior eficácia quanto maior o tempo de exposição dos agentes patogênicos. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Estação de Tratamento de Esgoto Guaraituba, município de Colombo/PR. O lodo de esgoto testado é proveniente de reator anaeróbio de leito fluidizado Ralf. O lodo foi parcialmente desidratado em leito de secagem com auxilio de processo térmico artificial. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com 6 tratamentos principais (TT: testemunha; T10: caleação 10% MS; T20: caleação 20% MS; T30: caleação 30% MS; T40: caleação 40% MS e; T50: caleação 50% MS); 4 tratamentos secundários (T28 sólidos totais 28%; T38 sólidos totais 38%; T45 sólidos totais 45% e T69
9 sólidos totais 69%) e; 14 tratamentos terciários (0 dias; 1/24 dias; 2/24 dias; 8/24 dias; 1 dia; 3 dias; 5 dias; 7 dias; 10 dias; 15 dias; 20 dias; 30 dias; 45 dias e ; 60 dias), com 4 repetições (FIGURA 01 e 02). Os da dos foram arranjados estatisticamente sob parcelas sub-divididas (F-teste 5% e 1%) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (5%). As doses de cal aplicadas foram calculadas em função do peso seco das amostras de lodo obtidas em estufa a 65ºC, até peso constante. Os pesos foram obtidos em balança analítica de precisão e a mistura realizada manualmente. As amostras foram acondicionadas em potes de polietileno com capacidade para 0,5 Kg. O experimento foi desenvolvido sob cobertura durante todo o período de avaliações. Os parâmetros analisados foram ph e temperatura avaliados com utilização de um phmetro digital. Os tratamentos com aplicação de cal foram utilizados face à importância da caleação como processo de higienização de lodo de esgoto. RESULTADOS E DISCUSSÃO As dosagens de CaO proporcionaram variações significativas nos níveis de ph. A partir dos valores médios (período 60 dias - GRÁFICO 01) é possível verificar que as maiores dosagens de CaO (T50 e T40) mantiveram os níveis de ph elevados por um período maior de tempo. Considerando o tempo de reação do CaO, constatou-se que na primeira hora após a adição do agente alcalinizante foram observados os maiores níveis de ph, embora não diferente estatisticamente da segunda a sétima hora, corroborando com BATES (1964) que cita que a adição de sais em soluções tamponadas é prontamente verificado. Em média, é possível considerar que independentemente da dosagem de CaO utilizada e do teor de sólidos presente no lodo, o processo de restabelecimento do equilíbrio do ph somente iniciou após 24 horas da caleação (Gráficos de 02 a 05). GRÁFICO 01 COMPARAÇÃO DE MÉDIAS (TUKEY0,05) EM FUNÇÃO DAS DOSES DE CaO.
10 No quadro 01 é possível verificar a existência de interação significativa entre as doses de CaO e os teores de sólidos e sua influência sobre os valores de ph da massa lodo-cal, e também que os teores de sólidos 69 e 28% permitem a utilização da dose de CaO 30% sem que ocorra redução significativa nos valores de ph. O processo de caleação também resultou em aumento de temperatura na massa lodo-cal durante alguns dias, até a estabilização ser alcançada. O decréscimo da temperatura ocorreu de forma constante e proporcional (dados não publicados). No entanto, este efeito depende da proporção da cal utilizada em relação à quantidade de lodo. Segundo BATES (1964), o ph neutro é 7,5 em temperatura de 0ºC, porém em 60ºC, a neutralidade é observada em ph 6,5, dependendo ainda da influência de sais presentes no meio. A temperatura exerça um efeito realmente significativo em ph de soluções de ácidos e bases fortes. O tratamento testemunha (TT) apresentou um ligeiro declínio nos valores de ph no período inicial, mantendo-se em equilíbrio (aproximadamente 5,00) em praticamente todo o período de avaliação do experimento. QUADRO 01 COMPARAÇÃO DE MÉDIAS (TUKEY0,05) PARA A INTERAÇÃO DOSES DE CaO E TEORES DE SÓLIDOS TOTAIS DO LODO. Interação Doses de CaO x Teores de Sólidos Tratamento ph Tratamento ph T50-T69 10,81 a T30-T38 9,63 defg T40-T69 10,58 ab
11 T30-T45 9,50 defg T50-T28 10,63 ab T20-T45 9,22 efgh T40-T28 10,45 abc T20-T38 9,13 fgh T30-T28 10,19 abcd T10-T28 8,99 gh T30-T69 10,07 abcd T10-T69 8,64 h T50-T38 9,91 bcde T10-T38 8,63 h T50-T45 9,88 bcdef
12 T10-T45 8,47 h T40-T38 9,86 bcdef TT-69 5,49 i T40-T45 9,84 bcdef TT-T45 5,07 ij T20-T28 9,77 cdefg TT-T38 4,96 ij T20-T69 9,63 cdefg TT-T28 4,83 j A elevação do ph da massa lodo-cal ocorreu imediatamente após a realização da caleação (Gráficos de 02 a 05). Podemos observar as concentrações 28%ST, 38%ST e 45%ST tiveram comportamento semelhante. No entanto, o tratamento com 69%ST (GRÀFICO 05), os níveis de ph mantiveram-se em valores elevados por um maior período de tempo, especialmente nos tratamentos T40 e T50 onde os valores observados estiveram acima de 11,00 por mais de 500 horas, sugerindo que em valores reduzidos de umidade, porém, suficientes para efetivar a reação do CaO, estabeleceram uma condição em que o ph manteve-se elevado por um período mais prolongado de tempo comparativamente aos
13 demais teores de umidade (significativamente maiores), constatando que novos estudos sejam feitos neste sentido. A concentração 28%ST de sólidos totais seja a que alcançou o maior ph (próximo a 13,00), embora em um curto período, a partir de 300 horas o ph reduziu abaixo de 11,00. GRÁFICO 02 Comportamento do tratamento T28 (28% ST) em função das doses de CaO. GRÁFICO 03 Comportamento do tratamento T38 (38% ST) em função das doses de CaO. GRÁFICO 04 Comportamento do tratamento T45 (45% ST) em função das doses de CaO. GRÁFICO 05 Comportamento do tratamento T69 (69% ST) em função das doses de CaO. CONCLUSÕES A concentração do agente alcalizante exerce influência nos níveis de ph e no tempo de estabilização. A caleação pode promover um aumento significativo nos níveis de ph mesmo com teores de umidade bastante reduzidos. A umidade influenciou a reatividade do CaO e consequentemente os níveis de ph.
14 Os máximos valores para ph são alcançados imediatamente após a caleação. O processo de restabelecimento do equilíbrio é influenciado diretamente pela concentração do alcalinizante. A caleação tem como inconveniente o aumento do volume final do produto, aumentando os custos com transporte. Um fator importante a ser levado em conta para a higienização do lodo, além do ph, é a salinidade e a condutividade elétrica, fatores que podem diferenciar o efeito da caleação com relação à concentração de sólidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREOLI, C.A.; FERREIRA, A.C.; CHERUBINI, C.; CARNEIRO, C.; TELES, C.R.; FERNANDES, F. Higienização do Lodo de Esgoto (cap. 4). In: ANDREOLI, C.V. et al.. Resíduos Sólidos do Saneamento: processamento, reciclagem e disposição final. Editora RiMa, Curitiba, COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ. Reciclagem Agrícola do Lodo de Esgoto: estudo preliminar para definição de critérios para normatização ambiental e sanitária. Companhia de Saneamento do Paraná SANEPAR 2ª ed. Ver. Curitiba: SANEPAR, p.il.; 21cm. BATES, R.G. Determination of ph - Theory and Practice. EUA, 435 p, ESTADOS UNIDOS. Environmental Protection Agengy. A plain english guide to the EPA part 503 biosolids rule. Washington, DC, ILHENFELD, R.G.; ANDREOLI, C.A.; LARA, A.I. Higienização do Lodo de Esgoto (cap. 4). In: FERNANDES, F. et al. Uso e Manejo do Lodo de Esgoto na Agricultura. Rio de Janeiro; PROSAB, Programa de Pesquisa em Saneamento Básico, 97p, PINTO, M.T. Higienização de Lodos in ANDREOLI, C.V., von SPERLING, M., FERNANDES, F. - Lodo de esgotos: tratamento e disposição final/ Cleverson V. Andreoli, Marcos von Sperling, Fernando Fernandes. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Ambiental UFMG; Companhia de Saneamento do Paraná, p.
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