Bizarrices jamais são esquecidas

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Thomaz Aires Caetano
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3 Flavio P. Oliveira Bizarrices jamais são esquecidas 1 a Edição Delirium Editora Rio de Janeiro [2018]

4 Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou utilizada de qualquer forma ou qualquer meio, eletrônico ou mecânico, sem a permissão por escrito do autor. Os direitos autorais desta obra pertencem a Flavio Pereira de Oliveira. Todos os direitos desta edição reservados à Delirium Editora. Revisão: Érica M. Bettoni Hayashibara. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) O48b Oliveira, Flavio P. Bizarrices jamais são esquecidas / Flavio P. Oliveira. Rio de Janeiro: Delirium, p. ISBN Ficção brasileira - contos. I. Título. CDU: (81) CDD: B869.3 Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Beatriz do Carmo Alves CRB 11/801 [2018] Delirium Editora Contato através do contato@deliriumeditora.com.br

6 Introdução

7 O universo é bizarro um adjetivo complexo, lotado de significados, em plena evolução e que significa elegante, generoso, nobre, valente, brioso, insólito, excêntrico, esquisito etc. Os três contos deste livro têm como princípio básico o bizarro e são recheados de extravagâncias e psicodelismo; além disso, as histórias se passam em lugares, imaginários ou não, onde o horror e/ou o terror estão camuflados e à espreita. Aprecie sem moderação.

8 Sumário

9 1. A menina da bolsa manchada de sangue : Uma fugitiva escrava e uns seres estranhos : Uma observadora cabeça bovina : 51 Poemas : 75

11 Amenina traz a bolsa (costurada em renda) a tiracolo e sorri, jovenzinha, enigmática, uns dez anos. Rebeca devolve o sorriso. Um encapuzado ronda por ali, também um enxame e a raposa. A casa pertenceu aos avós, hoje é receptivo esconderijo, porque detesta pessoas e mosquitos. A menina desaparece, deixando escarlate umidade em manchas no chão. Detesta mosquito, alucinações e encapuzados. Ficaram na cidade grande as drogas recreativas, ver o que viu assim, sem mais nem vezes, é incomum. A menina carrega uma bolsa manchada em tons avermelhados e dá um adeusinho. Rebeca deseja a liberdade sem vícios. Os miados vêm do telhado, e qualquer encapuzado é certamente perigo à vista. Um frio intenso fura os ossos, um achado, acender a lareira é próximo passo, escuta um sussurro, o qual lembra uma prece. Há nenhuma moradia familiar nas redondezas, muito menos igrejas, apenas o cemitério, cerca de cinco quilômetros dali. Os gatos miavam no telhado. De lareira Bizarrices jamais são esquecidas 11

12 providencialmente acesa, abre uma garrafa de vinho. Os sussurros gregorianos continuam, missa fúnebre. A menina mexe na bolsa, tirando de dentro um coração meio azulado. As abelhas africanas são mais bravas e perigosas. A Melipona rufiventris, uma abelha social brasileira, nidifica em ocos de árvores e produz mel apreciado. O frio diminui, as labaredas dançam, a menina mostra o coração. Rebeca verifica a validade do tinto e se despe, apesar do frio reinante nos demais aposentos. Nua, dedica-se ao favorito passatempo: queimar as próprias roupas. Usa uma combinação e, quando tem um sentimento e/ou pressentimento ruim associado ao instante, queima as peças, como se livrando de algo aprisionado ao tecido. A lareira é providência, escuta uma voz elogiar o corpo. Volta-se para o corredor, nenhuma viva alma ali, ninguém encapuzado. Abelhas e vespas detestam fumaça. A menina da bolsa a tiracolo é invasora na casa dos avós. Detesta mosquito, alucinações e ser picada por abelhas. Abre a mala e veste uma camiseta branca, mais nada. Observa novamente a mancha no chão, é provavelmente sangue. Nem sempre queima as roupas, questões de impossibilidades. Certa vez, em um hotel, acompanhando um bel ragazzo, teve um mau pressentimento, tirou o lenço do pescoço, vedou os olhos do jovem, fazendo charme, encenação, disse obscenidades, tirou a roupa vestida, entregando peça a peça, abriu a porta e partiu, colocando um 12 Flavio P. Oliveira

13 vestido, no corredor, carrega um sobressalente na bolsa. A menina carrega órgãos. Rebeca abre a agenda e lê a frase adotada como descrição de si mesma: metade de mim é loucura, a outra metade é sandice. Anota uns questionamentos e transcreve a saciedade interior, oriunda do afastamento. Da janela, um insistente barulhinho, vidro sendo arranhado por potentes ferrões, e a lenha traz estalos ao concerto rústico. O irmão gostava da fantasia de carrasco, no Carnaval. Ninguém lá fora, um galho faz barulhinho na janela, a menina sumiu. Fecha a cortina, atiça a lareira e enche a taça. Os fantasmas, os fantoches e os apaches no filme predileto do ex-namorado falecido pouco importam. Detesta ser picada por mosquitos, vespas, marimbondos e abelhas, no entanto adora banana amassada com aveia e mel. A menina mexe na bolsa, apanha um fígado azulado e deixa fluir risada simpática, Rebeca derrama o vinho na camiseta, barulho no telhado, um uivo ao longe. Sente dores onde o branco se manchou, vinho ao sangue, tudo no frio coagula, inclusive mel. A dor aguda é exatamente onde o tinto manchou o tecido, altura do fígado. Despe-se apressada, arremessa a camiseta na lareira, a dor diminui, cai na gargalhada. Abre a janela e deixa a raposa azul entrar. A raposa é engraçadinha mas bagunceira, derrubando Bizarrices jamais são esquecidas 13

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