Formacão em Seguro Social



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Protecção Social para um Crescimento Inclusivo. Nuno Cunha Nações Unidas

Transcrição:

Formacão em Seguro Social Sessão:Introducao a alguns princípios básicos da Protecção Social Maputo, 9 de Novembro de 2009 Nuno Meira Simões da Cunha Coordenador do Programa STEP para Mocambique

O que vamos rever hoje à tarde: A origem da Proteccao Social em termos conceptuais Uma pequena viagem pela história Ver as 3 componentes da PS Articulacão dos regimes A convencão 102 Alguns principios em termos de financiamento

1ª Questão: Proteger quem, contra o quê? Protecção Riscos Futuro Incerteza Saúde Capacidade de Trabalho Suficiência do rendimento Pobreza (...)

Riscos Sociais Considera-se risco social: a probabilidade de verificação de um facto futuro incerto que ocorra de forma involuntária que possa vir a causar danos sobre a condição económica do indivíduo.

Riscos Sociais Podemos distinguir a seguinte categoria de riscos (de acordo com as suas consequências/origem): Perda ou diminuição do rendimento profissional: Riscos físicos (os que reduzem a capacidade de trabalho) De origem profissional (acidentes de trabalho e doenças profissionais) De origem não profissional (doença, maternidade, invalidez, velhice e morte) Riscos económicos (colocam obstáculos ao exercício da actividade - desemprego) Aumento das despesas (factores que determinam que o indivíduo tenha de suportar encargos adicionais - encargos familiares, despesas médicas)

Aspectos distintivos dos riscos sociais Os riscos sociais distinguem-se dos restantes pelos seguintes factores: Pessoalidade do risco A Segurança Social é um seguro de pessoas. Os riscos sociais afectam as pessoas e não o seu património. O que se pretende segurar são as faculdades da pessoa. Individualidade do risco A par de um conjunto de medidas dirigidas a melhorar a situação da sociedade como um todo, a Segurança Social visa actuar sobre a situação de cada individuo/família em concreto. Natureza económica do risco Os riscos geram perda ou insuficiência de recursos económicos pessoais (ou porque ocasionam a redução ou a perda de salário ou porque produzem um acréscimo extraordinário de despesa)

Vulnerabilidade Social A vulnerabilidade traduz: uma situação de elevada exposição a determinados riscos, combinada com uma capacidade reduzida de se proteger ou defender contra esses acontecimentos (bem como de lidar com as suas consequências). Apesar de todos os seres humanos se encontrarem expostos a diferentes tipos de risco, os níveis de vulnerabilidade variam de indivíduo para indivíduo ou entre diferentes grupos variando, simultaneamente, ao longo da vida dos próprios indivíduos (crianças e idosos tendem a ser mais vulneráveis aos riscos) entre territórios (caso da população rural ) Na grande parte dos casos, os efeitos dos riscos estão interligados, visto que a ocorrência de um risco aumenta a vulnerabilidade perante outros riscos.

Vulnerabilidade social e pobreza Efeitos mais provaveis decorrentes da ocorrencia de um risco num contexto de alta vulnerabilidade (ausencia de mecanismos de prevencao, mitigacao e compensacao) retirada das crianças da escola redução da utilização de serviços de saúde redução do número de refeições diárias e o recurso a alimentos com reduzidos valores nutricionais venda de activos minimizacao das suas estratégias de risco em termos económicos (impactos na producao) exclui também estes indivíduos e as suas famílias do seu papel na economia como consumidores

Conceitos básicos Segurança social refere-se à protecção que a sociedade assegura aos seus membros graças a um conjunto de medidas públicas, por exemplo: para compensar a ausência de rendimento do trabalho ou uma forte diminuição desse rendimento perante uma série de eventualidades (nomeadamente a doença, a maternidade, os acidentes de trabalho ou as doenças profissionais, a invalidez, a velhice, a morte do sustento da família e o desemprego); para assegurar os cuidados médicos; para apoiar as famílias com crianças.

Conceitos básicos A Protecção Social compreende, para além dos regimes públicos de segurança social, os regimes privados que apresentam finalidades análogas como as mutualidades ou os regimes profissionais. Nesta definição são incluídos também os regimes que não são instituídos pela lei, desde que a sua participação não seja exclusivamente determinada pela lógica de mercado.

Origem e evolução da protecção social Quando terá surgido a Proteccão Social?

Enquadramento histórico As raízes da protecção social encontram-se muito antes do período capitalista. A proteccão encontrava-se essencialmente fundada nas estruturas familiares e comunitárias (PROTECCÃO DE PROXIMIDADE) Mais estas práticas evoluem com a introducao de lógicas assentes na beneficência/caridade e na solidariedade de base profissional. A filosofia vigente era de que os trabalhadores podiam e deviam fazer os seus próprios planos e poupanças para contrabalançar os riscos de vida Com o passar dos tempos, as pessoas com problemas e preocupações semelhantes foram-se juntando com o objectivo de se protegerem mutuamente.

Enquadramento histórico Formalizacao da Proteccao Social Só com o advento da industrialização (aliada à Urbanizacão), quando os trabalhadores começaram a poder contar com o pagamento regular de salários (e as situações de risco se multiplicaram), alguns Estados começaram a introduzir legislação que exigia que as entidades patronais providenciassem algum auxílio aos seus trabalhadores doentes ou que sofressem acidentes no local de trabalho.

A intervenção do Estado Bismarck foi o percursor da intervenção pública no domínio da Segurança Social. Bismarck foi chanceler alemão entre 1871-1890 e, durante a sua governação, promulgou, em benefício dos trabalhadores da indústria cujos salários fossem inferiores a um certo limite, três leis fundamentais: obrigatoriedade do seguro de doença (1883), do seguro de acidentes de trabalho (1884) e do seguro de invalidez e velhice (1889). Bismarck foi, assim, o percursor dos seguros sociais obrigatórios para protecção dos trabalhadores, que constituem a base dos actuais regimes contributivos obrigatórios dos sistemas de segurança social. O sistema de seguro exprimia a solidariedade dos trabalhadores e o interesse comum dos trabalhadores e empregadores (ambos tinham vantagens)

A intervenção do Estado Na década de 1940, ainda no decurso da 2.ª Guerra Mundial, o economista inglês William Beveridge propõe que a todo o cidadão seja assegurado um rendimento suficiente para, em cada momento, satisfazer os seus encargos. Estas propostas foram apresentadas no relatório Social Insurance and Allied Services (1942), que acabou por ficar conhecido como Relatório Beveridge. As suas ideias e propostas influenciaram de forma significativa a estrutura dos sistemas de segurança social dos países anglo-saxónicos, sendo de destacar os seguintes princípios orientadores do pensamento beveridgiano: Integração das prestações de previdência e assistência, como forma de combater mais eficazmente as necessidades sociais; Uniformização tendencial dos valores das prestações, que assim ficam desligadas das remunerações do trabalho e são atribuídas como prestações básicas; Organização autónoma dos cuidados de saúde, através da criação de um serviço nacional de saúde; Financiamento diferenciado de acordo com o tipo de prestacoes (contribuicoes prestacoes de substituicao de salarios, fiscalidade prestacoes de montante familiar e ser. Saude)

A diversidade dos modelos nacionais Embora o objectivo último da Protecção Social seja o mesmo em todas as sociedades (garantir padrões mínimos de bem-estar) o modelo de organização da protecção social pode assumir formas diferenciadas. A protecção social tende a revelar-se como um modelo social específico, que é fruto da história e das escolhas colectivas, ou seja, do contexto social, económico, político e cultural de cada Estado. Assim, cada país deve desenvolver o seu próprio sistema de Protecção Social, determinando as suas próprias necessidades à luz dos recursos que tem disponíveis e levando em conta as aspirações do seu povo. A experiência revela, contudo, que a Protecção Social é um processo contínuo de construção, com uma tendência para uma expansão progressiva das pessoas abrangidas e dos riscos cobertos e de adequação às mutações sociais.

As 3 componentes da Protecção Social Antes de mais, importa ter presente que a Protecção Social é um sistema, ou seja, é algo que é composto por um conjunto de componentes diferenciadas que, embora utilizando técnicas e abordagens distintas, visam atingir o mesmo fim: o bem-estar das populações. Em termos gerais distinguem-se 3 componentes principais no domínio da Protecção Social: Protecção Social Seguro Social Assistência Social Serviços Sociais

O seguro social Seguro Social Protecção Social Assistência Social Serviços Sociais A componente de seguro social baseia-se no princípio de agrupamento de riscos, implicando o pagamento de contribuições para um fundo comum (que é utilizado para pagar as prestações). Qualquer regime de seguro social apresenta as seguintes características: As contribuições para o fundo são partilhadas entre trabalhadores e empregadores; As prestações são pagas mediante o registo das contribuições; As contribuições e prestações são, geralmente, proporcionais aos salários.

Seguro Social: Quem é protegido? As pessoas com estatuto sócio-profissional (trabalhadores por conta de outrem e, em alguns países, trabalhadores independentes) Alguns países apresentam apenas uma cobertura parcial dos trabalhadores por conta de outrem (abrangendo apenas os sectores melhor organizados e administrativamente mais fáceis de controlar - caso dos funcionários públicos) Tendencialmente exclui os trabalhadores do sector informal e os trabalhadores agrícolas O Seguro Social é, de longe, o pilar da Protecção Social que exige, por parte do Estado, o maior esforço administrativo. Torna-se necessária a manutenção de registos pormenorizados de toda a história contributiva de cada indivíduo por forma a que, quando o beneficiário tiver de receber o benefício a que tem direito, a informação necessária à sua qualificação e ao cálculo da prestação se encontre disponível.

Casos particulares Planos de pensão de base profissional Em muitos países, muito antes do surgimento do regime gerais de Segurança Social, alguns grupos de trabalhadores já se encontravam cobertos por mecanismos de pensões de protecção próprios do seu sector, profissão ou entidade patronal. Um dos problemas inerentes à manutenção dos planos de pensões de base profissional é a sua transmissibilidade, uma vez que alguns destes planos não possibilitam que os trabalhadores, quando mudam de emprego, levem consigo os direitos de pensão que já haviam adquirido com a entidade patronal anterior.

Casos particulares Regime especial para funcionários públicos Na maioria dos países os funcionários públicos foram, durante muitos anos, cobertos por medidas de protecção social próprias. Contribuintes voluntários Alguns países permitem que as pessoas que não trabalham contribuam voluntariamente para o regime de Segurança Social. Apesar desta ser uma ideia recomendável, levanta algumas dificuldades específicas. O problema principal é a dificuldade da eficiência da sua administração e do seu supervisionamento.

Casos particulares Trabalhadores agrícolas A Segurança Social desenvolveu-se, originalmente, para satisfazer as necessidades económicas dos trabalhadores urbanos do sector industrial. Como os padrões agrícolas variam bastante, desde as grandes propriedades às pequenas explorações familiares que se destinam apenas à auto-suficiência, torna-se difícil a aplicação, a estes casos, de programas de Segurança Social o que, em muitos países, resulta em pouca ou nenhuma protecção social aplicada ao sector agrícola. O caminho a seguir para esta tipologia de trabalhadores talvez seja o desenvolvimento de formas inovadoras de protecção social

Exemplo de aplicação de um modelo de seguro social a trabalhadores do sector informal Índia: Segurança Social Mínima Nacional Um estudo, elaborado por especialistas no domínio da segurança social propôs ao Governo indiano a aplicação de um pacote básico de segurança social a aplicar ao sector informal na Índia. A proposta prevê a criação de um sistema de seguro social específico para os trabalhadores do sector informal que abrangerá as seguintes eventualidades: acidentes de trabalho, seguro de saúde, maternidade, pensões de velhice e pensões de sobrevivência. Este regime deverá ser financiado por contribuições dos trabalhadores, das entidades empregadoras e do Governo (à taxa de uma rupia por dia por trabalhador). O Governo assumiria as responsabilidades pelas contribuições das entidades empregadoras nos casos em que estas não pudessem ser facilmente identificadas e pela garantia dos direitos de protecção nas famílias destes trabalhadores cujo rendimento se encontre abaixo da linha da pobreza. NCEUS (2006), Report on Social Security for Unorganised Workers, Nova Deli (disponível em http://nceuis.nic.in)

Índia: Segurança Social Mínima Nacional Cobertura: 300 milhões de trabalhadores do sector informal (estimativa superior) Financiamento: Através de contribuição para a segurança social Organização: A nível central, o Conselho Nacional de Segurança Social será responsável pela gestão do Fundo Nacional de Segurança Social. A nível local o Centro de Coordenação dos Trabalhadores será responsável pelos registos administrativos. O Departamento de Correios será responsável pela cobrança das contribuições. Prestações: Seguro de Saúde (para o próprio e para a sua família) Subsídio de Maternidade Subsídio de Doença (prazo máximo de 15 dias) Subsídio por morte (decorrente de acidente de trabalho) Pensão por velhice

Exemplo de extensão do seguro social aos trabalhadores agrícolas Brasil: Especificidades no tratamento dos trabalhadores rurais Em 1988 o Brasil reviu a sua legislação de enquadramento do regime de segurança social, consagrando um conjunto de tratamentos especiais para o sistema rural. A primeira componente de diferenciação refere-se aos meios que o trabalhador agrícola tem para comprovar o seu número de anos de trabalho. Através de documentação relativa ao terreno utilizado na agricultura; Através dos recibos de comercialização de produtos agrícolas; ou Através de uma declaração de um dos sindicatos de trabalhadores rurais. A segunda componente de diferenciação consiste na introdução de uma regra específica, que não requer uma contribuição monetária sobre o rendimento auferido. Em substituição, o primeiro comprador da produção rural paga ao Instituto de Segurança Social uma contribuição de 2,2% sobre o preço de comercialização (2% destinados à cobertura das pensões por velhice, invalidez e sobrevivência, 0,1% ao seguro contra acidentes de trabalho e 0,1% destinado Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).

Os serviços sociais Seguro Social Protecção Social Assistência Social Geralmente o Estado presta indirectamente estes serviços, fazendo acordos com outras entidades no sentido de, mediante apoio financeiro, serem estas a fornecerem o serviço aos cidadãos Serviços Sociais Dependendo dos recursos disponíveis o Estado concede, muitas vezes, uma prestação de serviços sociais aos seus cidadãos. Estes serviços sociais incluem, normalmente: A prevenção médica; Programas de vacinação; Consultas de planeamento familiar; Serviços de reabilitação de acidentados e deficientes; Lares de idosos; Creches e infantários (...) A estrutura descentralizada dos serviços sociais permite uma maior proximidade aos cidadãos

Protecção Social Seguro Social Assistência Social Serviços Sociais ç Em todos os países os serviços sociais são prestados por um grupo muito variado de actores Cooperativas Organismos Públicos Família Sindicatos Privados ONG s Redes de Vizinhança Organizações Comunitárias Instituições Religiosas

A assistência social Seguro Social Protecção Social Assistência Social A ajuda pode ser concedida através de: dinheiro; títulos ou vales que dão acesso a bens ou serviços essenciais; concessão directa dos bens necessários (alimentação, vestuário) Serviços Sociais A Assistência Social integra um conjunto diversificado de ajuda a pessoas, famílias, grupos ou comunidades que, por múltiplas razões, sofrem de carências de natureza económica e social que não lhes permitem fazer uma vida decente. A Assistência Social atribui prestações, mediante a verificação de condições de necessidade, sendo estas financiadas pelos impostos locais ou nacionais (e não pelo pagamento de contribuições). A Assistência Social compreende ainda a componente não contributiva de seguro social, quer seja através da concessão de pensões mínimas, quer seja completando por baixo o direito à segurança social de base contributiva (ex. caso em que o contribuinte não cumpre o prazo de garantia exigido pelo sistema de pensões). A Assistência Social é, essencialmente, um mecanismo de redistribuição do rendimento (financiamento através dos impostos)

Assistência Social: aspectos distintivos Protecção das pessoas que se encontram em situação de carência ou necessidade (necessidade em si mesma ou conjugada com encargos suportados, como é o caso das despesas familiares) Protecção selectiva dos cidadãos mais desfavorecidos Não assume a condição de trabalho como factor de acesso às prestações (não tem uma base contributiva) O direito à prestação é feito através do apuramento dos níveis de rendimentos, pela aplicação da técnica de verificação da condição de recursos (avaliação efectiva da carência económica dos requerentes e do seu grau de necessidade e de dependência) Pode exigir que o beneficiário cumpra um programa de inserção sócio-profissional ou sócio-familiar Assume ainda uma natureza de prestação complementar ou aditiva, sob a forma de subsídio diferencial, a fim de que os rendimentos das famílias, incluindo os que se baseiam em prestações da segurança social, sejam completados até atingirem o valor mínimo garantido (de acordo com os padrões legalmente estabelecidos).

Assistência Social Financiamento: Fundamenta-se, essencialmente, na função redistributiva da segurança social, pelo que é financiada por receitas gerais do Estado (resultantes da aplicação dos impostos nacionais ou locais) Garante prestações para as pessoas poderem viver minimamente de acordo com os padrões reconhecidos em termos de dignidade humana

Articulacão entre os regimes Os sistemas nacionais encerram por norma uma combinação entre mecanismos de natureza contributiva e não contributiva Moçambique segue a regra geral com mecanismos dos dois tipos Se os dois forem vistos como realidades isoladas e completamente independentes existem vários problemas que podem vir a ocorrer

No desenho dos regimes de proteccão social é necessário ter atencão a potenciais problemas: No financiamento Na administracão

Articulacão no Financiamento «Salto no Subsídio» - situacão resultante da passagem de trabalhadores que são obrigados a variar entre empregos formais e informais ao longo da sua carreira, tendo como resultado uma baixa densidade contributiva Ficam assim numa situacão de «limbo» - não têm anos suficientes de contribuicão para poder-se qualificar como pobres, mas muitas vezes não são reconhecidos como estando entre os mais pobres para beneficiar do sistema não contributivo Uma solucão possível é establecer uma pensão não contributiva de montante descrecente conforme aumenta a capacidade contributiva para permitir uma transiccão suave entre os regimes (este mecanismo foi aplicado na Suécia e está estabelecido na recente reforma das pensões no Chile)

Articulacão no Financiamento Outro problema pode surgir da existências de pensões não contributivas de montantes elevados em comparacão com a pensão contributiva Gera desincentivos para a contribuicão para o sistema contributivo Uma alternativa pode passar por financiar as quotizacões no lugar das prestacões, estabelecendo um apoio gradual em funcao da capacidade contributiva do trabalhador

Articulacão Administrativa Decorre da fragementacão da responsabilidade por diferentes actores resultando em: Falta de integracão entre as bases de dados e dificuldades para cruzar informacao

Abordagem integrada para a extensão da Protecção Social 4. Inovar e enquadrar sistemas próprios adaptados que integrem aqueles que estão longe do sistema ou que não têm confiança no sistema 1. Melhorar o que existe para aqueles que estão cobertos e são activos 2. Adaptar o que existe às necessidades daqueles que estão excluídos 3. Inscrever na Lei as categorias excluídas 5. Estabelecer um limiar acessível a todos financiado pelos impostos e não relacionado com o emprego (assistência social, pensões mínimas...)

Doença Desemprego Maternidade Cuidados médicos Sobrevivência Invalidez Velhice Acidentes de trabalho Prestações familiares Define um conjunto de eventualidades a que um sistema de seguranca social deve assegurar cobertura CONVENÇÃO N.º 102 DA OIT

Relembrando as principais características do seguro social Por referência histórica, esta abordagem assenta no modelo bismarckiano de protecção dos trabalhadores através de seguros sociais Importância do estatuto profissional das pessoas que podem ser abrangidas pelo regime As prestações assumem uma natureza compensatória ou indemnizatória relativamente aos rendimentos do trabalho

Tipologia das prestações de seguro social Quais são as prestações atribuídas? Prestações imediatas ou de curta duração Cuidados médicos; Prestação por doença; Prestação por maternidade; Prestação por desemprego; Prestação por acidentes de trabalho; Pensão de invalidez; Pensão de velhice; Pensão de sobrevivência. À excepção da prestação de desemprego, todas estão ligadas a aspectos biológicos nascimento de crianças, doença, acidentes de trabalho, velhice e morte e podem, todas ou cada uma delas, afectar o rendimento do trabalhador Prestações diferidas ou de longa duração

Financiamento da Protecção Social Dado o grande número de agentes envolvidos nos mecanismos de Protecção Social, as suas fontes de financiamento são também bastante diversas: Receitas gerais do Estado; Contribuições; Financiamento das ONG s; Financiamento de doadores internacionais; Poupanças individuais; Recursos privados. Quanto ao financiamento público da Protecção Social, este pode ser feito através de impostos, de contribuições ou de esquemas mistos. Especificamente, a componente de seguro social pode ser financiada por esquemas de Repartição ou de Capitalização.

Esquemas de Seguro Social Diferenciar compromissos de curto prazo de compromissos de longo prazo CP não é necessário acumular reservas consideráveis LP a sua provisão exige garantias quanto ao seu pagamento futuro (duas formas distintas): Técnica de Reparticão Técnica de Capitalizacão

Mecanismo de repartição financeira Princípio: Num regime de Segurança Social de repartição financeira as prestações pagas durante o ano são financiadas pelo volume total de contribuições recebidas durante o ano. (existe um fluxo constante de entrada e saída de dinheiro)

Mecanismo de capitalização financeira Princípio: Nos regime de capitalização as pensões estão directamente relacionadas com as contribuições (feitas pelos trabalhadores e respectivos empregadores) e os rendimentos resultantes das aplicações financeiras desses activos. (existe uma acumulação de dinheiro)

Constituicão de Reservas Os regimes de segurança social geram excedentes constitui uma prática comum investir os capitais que não são necessários no imediato, com vista a obter os melhores retornos possíveis. Os princípios básicos que regem o investimento dos excedentes do sistema de Segurança Social são: Segurança no sentido de assegurar a manutenção dos fundos dos contribuintes; Rendimento no sentido de maximizar os fundos (e assim, eventualmente conseguir manter as taxas contributivas em níveis relativamente baixos ou mesmo conseguir aumentar o valor das prestações); Liquidez no sentido de assegurar que o capital necessário estará disponível quando for necessário pagar as prestações. Contudo, às aplicações financeiras feitas pelos regimes de segurança social geralmente associa-se um factor complementar a utilidade económica e social do investimento

Riscos à sustentabilidade financeira do sistema Numa perspectiva de longo prazo, o risco financeiro de qualquer sistema de Protecção Social é definido em função de duas componentes: 1. O risco biométrico, que corresponde aquele que é definido pelas perspectivas de evolução da população num dado país (evolução das taxas de natalidade, de mortalidade, incidência de doenças, etc...) Avaliado através das previsões demográficas e das tábuas de mortalidade 2. O risco financeiro, que corresponde ao risco associado à evolução macroeconómica do país (PIB, emprego, produtividade, inflação)

Quem assume o risco? Planos de benefício definido O nível da protecção assegurada é estabelecido em função de um esquema de prestações previamente estabelecido, com regras precisas sobre a fórmula de cálculo dos respectivos valores. Assim, o elemento fundamental é constituído pelo quadro regulador dos benefícios (à partida definidos) Os níveis de financiamento e os encargos a assumir com o pagamento das prestações dependem da carreira profissional e das remunerações do beneficiário. Neste tipo de esquemas o nível das prestações é certo, ao passo que o volume de financiamento necessário é incerto (depende da evolução económica, crescimento dos salários, etc.) O nível da protecção comanda o nível financeiro. O risco financeiro recai sempre sobre o promotor do plano. É um método seguido pelos regimes públicos de segurança social e que tem igualmente dominado os regimes privados complementares colectivos. Os planos de pensões geridos pelos fundos de pensões podem ser de benefício definido, de contribuição definida ou mistos.

Quem assume o risco? Planos de contribuição definida O nível da protecção é estabelecido em função do total das contribuições pagas e dos rendimentos acumulados (em consequência das aplicações financeiras na gestão dos activos). Assim, o elemento fundamental é a conta individual do beneficiário O valor existente na conta individual do beneficiário vai sendo progressivamente aumentada em função da rendibilidade das aplicações financeiras (dependendo assim da eficácia da gestão, do comportamento do mercado de capitais e do comportamento da economia em geral). Neste tipo de esquemas o nível das prestações é incerto, ao passo que o nível de financiamento é certo O nível financeiro comanda o nível da protecção. O risco financeiro recai sempre sobre o beneficiário.