GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANAIS DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO - ANPED (2004 2013)



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Transcrição:

1 GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANAIS DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO - ANPED (2004 2013) Leandro Teofilo de Brito Universidade do Estado do Rio de Janeiro Introdução Questões relacionadas ao gênero são temas recorrentes nas pesquisas brasileiras da área de Educação Física, sobretudo no formato de teses e dissertações em inúmeros programas de Pós-graduação, além de publicações de artigos, ensaios e trabalhos em revistas, periódicos e encontros nacionais e internacionais, assim como de livros e obras que buscam problematizar as relações desiguais e hierárquicas entre homens e mulheres no esporte e nas práticas corporais. Especificamente, a Educação Física escolar tem abarcado essa discussão a partir de questões relacionadas às aulas separadas por sexo e mistas, diferenças de habilidades motoras entre meninos e meninas e sobre a questão da generificação dos conteúdos nas aulas (ABREU, 1995; DAOLIO, 1995; SOUSA & ALTMANN, 1999; SARAIVA, 2005; VIEIRA, 2008; dentre outras/os). Atualmente, a construção de masculinidades e feminilidades na Educação Física escolar tem se tornado um foco de estudos de pesquisadoras/es da área (DEVIDE et. al., 2010; ALTMANN, AYOUB & AMARAL, 2011; BRITO & SANTOS, 2013; dentre outras/os) e mais recentemente, a questão da sexualidade na Educação Física escolar (WENETZ, 2012; DORNELLES, 2013) tem começado a ser discutida. Deste modo, a partir de um levantamento nos anais do Grupo de Trabalho (GT) 23 - Gênero, Sexualidade e Educação, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), busquei realizar uma revisão bibliográfica nos encontros de 2004 a 2013, com o objetivo de discutir como a interlocução dos temas Gênero, Sexualidade e Educação Física foram abordados por pesquisadoras e pesquisadores da área de Educação. O GT 23 da ANPEd foi criado no 27º encontro, no ano de 2004, a partir da demanda e da iniciativa de se discutir os temas gênero e sexualidade em um grupo de trabalho específico.

2 Este estudo está dividido nas seguintes etapas: discuto de forma breve como as questões de gênero e sexualidade foram apropriadas pelas pesquisas na área da Educação Física, em especial na Educação Física escolar; logo após apresento os trabalhos encontrados a partir da revisão bibliográfica nos encontros da ANPEd, e, por último, faço as considerações finais apontando alguns caminhos que possam ser viáveis para futuras pesquisas sobre gênero e sexualidade na área de Educação Física, dentro do contexto da Educação. Gênero e Sexualidade: um debate no campo da Educação Física Os estudos de gênero na Educação Física adentraram a área, aproximadamente, na década de 1980, quando, segundo Devide et. al. (2011), com forte influência do movimento feminista questionou-se os argumentos biologicistas que historicamente segregaram e excluíram as mulheres do esporte e do âmbito da Educação Física. Nisto, a produção do conhecimento do referido campo de estudos se acentuou com o surgimento dos primeiros programas de Pós-graduação stricto-sensu (idem). Dando ênfase à Educação Física escolar, foco deste estudo, as aulas mistas e separadas por sexo se constituíram como um dos primeiros problemas investigados nas pesquisas, trazendo assim a interlocução do gênero para o campo. Abreu (1995), em pesquisa sobre o referido tema, constatou, dentre variados pontos, que os discursos dos/das docentes justificavam a separação de meninos e meninas nas aulas alegando a vontade dos/das estudantes na separação e o fato de optarem por evitar os conflitos nas aulas, assim como intervenções durante as mesmas fato que atrapalharia o seu bom andamento. Entretanto, a autora se coloca contrária a esta posição, defendendo que professores e professoras ao intervirem na questão, propiciariam as/aos discentes a possibilidade de se despirem dos tabus construídos culturalmente, fazendo com que a interação socioesportiva se fizesse presente nas aulas. Esta foi uma discussão que permeou a área da Educação Física escolar em diversas pesquisas e, de certa forma, ainda não é uma questão superada nos dias de hoje. Nesta mesma direção, Sousa & Altmann (1999), em pesquisa sobre as relações de gênero no cotidiano da Educação Física escolar, abordaram como as expectativas corporais e a generificação do esporte faziam parte da cultura da escola, apontando assim possibilidades de intervenção docente na questão. Para as autoras, a separação de meninos e meninas nas

3 aulas, assim como na pesquisa de Abreu (1995), desconsidera possibilidades de discussão e intervenções em relação a conflitos, reconhecimento de exclusões e diferenças entre pessoas do mesmo sexo, assim como impossibilita as variadas formas de relação entre meninos e meninas. De acordo com as autoras: Mesmo entendendo que o ensino escolar é uma alavanca de potencial limitado para a conquista de objetivos que afetam valores e comportamentos enraizados nos distintos grupos sociais, acreditamos que existe a possibilidade de ampliação de espaços para a construção de relações nãohierarquizadas entre homens e mulheres, para a qual a escola pode contribuir (p.64). A construção de masculinidades e feminilidades tem sido um debate mais atual nas pesquisas sobre gênero na Educação Física escolar. Devide et. al. (2010) realizou uma pesquisa de campo em turmas de Educação Física femininas e Brito & Santos (2013) em turmas masculinas, e, nestes diferentes contextos, os/as pesquisadores/as constataram que os processos de exclusão também se faziam presentes nas aulas separadas por sexo, assim como ocorria com aulas mistas, reconhecendo que este processo é mais amplo do que o dualismo masculino x feminino, muitas vezes justificado para a não realização de aulas mistas. A problematização das questões atuais de gênero, através do reconhecimento da existência de feminilidades e masculinidades entre alunos e alunas, mostra-se essencial e indispensável nas práticas pedagógicas que buscam a inclusão e uma participação efetiva de meninos e meninas nas aulas de Educação Física (BRITO & SANTOS, 2013, p. 243). Mais recentemente, algumas pesquisas se detiveram na questão da sexualidade no contexto da Educação Física escolar. Como destaque, apresento a pesquisa de Dornelles (2013), que levanta em seu estudo a ação (hetero) normalizadora do gênero nas aulas de Educação Física em uma escola no interior baiano, situando a disciplina através de uma atuação pedagógico-estratégica embasada, e potencializadora, da heterossexualidade compulsória no seu contexto. Segundo a autora, o caso de um aluno identificado pelo docente e por alunos e alunas como homossexual, em uma aula em que os/as estudantes estariam submetidos a avaliações distintas entre meninos e meninas, trouxe a tona a discussão dos

4 binarismos associados à sexualidade, fato muito corriqueiro no cotidiano da Educação Física nas escolas. As pesquisas sobre gênero e sexualidade, no contexto da Educação Física escolar, apresentaram certo desenvolvimento e evolução ao longo dos anos, adequando-se às demandas específicas em que o contexto sociocultural do esporte e das práticas corporais escolares tem caminhado. Apresento, como próxima (e principal) discussão neste estudo, as produções acadêmicas do gênero e da sexualidade em articulação com a Educação Física nos anais da ANPEd. As produções sobre Gênero, Sexualidade e Educação Física na ANPEd Especificamente, neste levantamento, analisei dez encontros da 27ª até a 36ª reunião -, que ocorreram entre os anos de 2004 a 2013, até então anualmente 1. O Grupo de Trabalho (GT) 23 - Gênero, Sexualidade e Educação, foi criado na 27ª reunião, no ano de 2004, visando um espaço legitimo e formal para as discussões sobre gênero e sexualidade, pois: [...] delimita um movimento de consolidação acadêmica e política e institui um espaço de encontro e discussão que pretende potencializar algumas das características mais importantes desses campos por exemplo, sua pluralidade teórico-metodológica e temática e a constante autocrítica que, neles, acompanha a produção de conhecimento (MEYER, RIBEIRO & RIBEIRO, 2004, p. 1-2) Opto pelo levantamento a partir do 27º encontro, pois com a criação do GT 23 abriu-se a possibilidade de ampliação das discussões sobre gênero e sexualidade, e embora esta discussão já ocorresse em outros GTs nos anos anteriores, a interlocução com o campo da Educação Física só ocorreu a partir da criação do mesmo. Neste contexto, foram localizados apenas oito trabalhos em que o tema Educação Física dialogou com as questões de gênero e sexualidade nas publicações da ANPEd, denotando que o entrecruzamento de tais temáticas ainda é recente, e, de certa forma, escasso no referido evento, conforme apresento na tabela abaixo: 1 A partir da 36ª reunião, após mudança estatutária ocorrida em assembleia em 2012, os encontros da ANPEd passaram a ser realizados bianualmente, intercalando-se com as reuniões regionais (Anpedinha e EPENN).

5 Tabela 1 Produção Gênero, Sexualidade e Educação Física na ANPEd Encontros Quantitativo 27ª reunião 2004 1 28ª reunião 2005-29ª reunião 2006 1 30ª reunião 2007-31ª reunião 2008-32ª reunião 2009 1 33ª reunião - 2010 3 34ª reunião - 2011-35ª reunião - 2012 1 36ª reunião - 2013 1 TOTAL 8 Fonte: Site da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação Discutindo os trabalhos localizados na revisão, Freitas (2004), na 27ª reunião, apresentou o trabalho intitulado Gênero e Futebol feminino: preconceitos, mitos e sexismo na prática discursiva de docentes da Educação Física. A autora trouxe, como foco do trabalho, os discursos de professoras, professores, alunas, alunos, pais, mães e juiz, que organizaram a VI Copa de Futebol Infantil nas escolas do município de João Pessoa, tendo como base a análise das relações de gênero no evento. Dentre os dados apresentados, Freitas (ibidem) aponta que inúmeros discursos se colocavam contrários à participação das meninas tanto nos treinos de futebol na escola, como na Copa propriamente dita. Destaco, nos discursos, o entendimento da fragilidade feminina para a prática do futebol, receptividade e influência da família que negavam a participação das meninas, a preferência dos professores e professoras pelo trabalho do futebol com meninos, a violência do jogo como algo não pertencente ao universo feminino, dentre outros. Como afirma a pesquisadora: Tanto o discurso do docente (P2M) como os discursos emitidos por outros professores e professoras enunciam, direta ou indiretamente, que a culpa de não saber jogar é da própria menina (p.11). Em 2006, no 26º encontro, o trabalho Gênero, educação e educação física: um olhar sobre a produção teórica brasileira de Simões (2006) se deteve em uma revisão bibliográfica em livros, teses, dissertações e artigos com enfoque na categoria gênero como construção

6 social, histórica e cultural do sexo, conforme explicita a autora. Passando pelo contexto histórico cultural, conforme citado, pelo conceito de gênero como categoria de análise, pelo debate de gênero na instituição escolar, tomando como referência autores e autoras como Connell, Louro, Rosemberg, Scott, dentre outras/os, a pesquisadora constata no estudo que: [...] 1) as lutas femininas por igualdade de direitos que ocasionaram mudanças nos paradigmas sociais construídos às custas de muita opressão e discriminação; 2) diferentes tipos de relações firmadas na escola, enquanto espaço físico e social propício a essas ocorrências; 3) processo histórico de construção de identidades de meninos e meninas, rapazes e moças, homens e mulheres no espaço social e no espaço escolar (SIMÕES, 2006, p.13). Os encontros de 2009 e 2010, 32º e 33º reuniões, respectivamente, apresentaram pesquisas sobre masculinidades no contexto das práticas corporais. Bandeira (2009) no trabalho Um currículo de masculinidades nos estádios de futebol investigou como em alguns estádios de Porto Alegre RS, as diferentes formas de masculinidades eram representadas e como as mesmas se hierarquizavam neste espaço. Desta forma, a partir de observações, uso de diários de campo, leitura e análise de jornais dos dias de jogo e posteriores, o autor situa sua metodologia como uma etnografia pós-moderna para problematizar a construção de um currículo de masculinidades nos estádios de futebol. Dentre as considerações da pesquisa, Bandeira (2009) afirma que existiam dois tipos de masculinidades, como ele mesmo nomeia como a nossa e a deles, remetendo a um binarismo entre as masculinidades configuradas dentro do time que se torce. Nas palavras do autor: Nesse contexto de produção da identidade de forma tão binária, é a partir da masculinidade inadequada deles que garantimos a normalidade da nossa (p.14). Dando continuidade à discussão sobre masculinidades, a 33ª reunião apresentou o trabalho O bailarino self-made: trajetórias do masculino na dança, de autoria de Andreoli (2010), que afirma existir uma pedagogia de masculinidades no espaço da dança, articulando o modelo hegemônico de masculinidades e as representações da modalidade. Utilizando-se de entrevistas, o pesquisador afirma, pelas falas e discursos dos bailarinos, a associação da dança com o feminino e com a homossexualidade, remetendo-se assim à existência de menos homens que mulheres na dança, assim como a profissão de bailarino nem sempre ser considerada um projeto de vida rentável. Segundo o autor:

7 A partir dessas duas fortes representações, é possível compreender porque poucos homens optam por se tornar bailarinos, bem como porque os poucos que o fazem precisam romper com barreiras sociais impostas para o gênero masculino em nossa cultura. Todavia, mais do que uma forma de driblar os obstáculos trazidos pela representação cultural de masculino, esses homens também estão constantemente prestando contas a uma sociedade e a uma cultura que os constitui enquanto sujeitos de um dado tipo (ANDREOLI, 2010, p.12). As pesquisas sobre masculinidades e Educação Física são uma temática, ainda, pouco explorada na área, e menos ainda com enfoque na Educação. Os dois trabalhos se valeram do entendimento de Educação dentro de um contexto mais amplo, evidenciando um processo que vai além do espaço escolar e do ensino formal, reconhecendo-a como parte de um processo formativo que faz parte da vida dos sujeitos de forma constante e em variadas instâncias. Ainda na 33ª reunião, tivemos mais dois trabalhos articulados com a Educação Física. Também com enfoque na dança, Medina (2010) fez um levantamento nos anais do CONBRACE (Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte), entre 1979 e 2005, buscando compreender como a categoria gênero apresentou relação com a dança. Localizando 5 trabalhos (dentro de um universo de 95 publicados), a autora aponta que apesar do pequeno quantitativo, a importância de se discutir as construções culturais e sociais do masculino e do feminino, como possibilidades de romper com as barreiras de gênero, se faz primordial nas aulas de Educação Física escolar. O outro trabalho do 33ª encontro teve o titulo A Educação Física como espaço de formação feminina, de Silveira (2010). A pesquisadora propõe analisar as concepções a respeito da formação feminina presente nos discursos e nas práticas curriculares que atuaram na formação das professoras da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (ESEF/UFPEL), entre os anos 70 e início dos anos 80. Utilizando-se de fontes empíricas (registros escritos) da ESEF, que tivessem relação com as questões de gênero e depoimentos orais com ex-alunas e ex-professoras, Silveira (2010) afirma que: Os fragmentos de memórias expostos demonstram a experiência, a sabedoria e as aprendizagens dessas mulheres que fizeram uma história, e também foram parte dela, promovendo novas possibilidades de pensar e exercer a prática docente a partir de uma perspectiva da experiência. As memórias manifestadas na pesquisa demonstraram que, mesmo parecendo haver um discurso homogêneo e hegemônico no campo da Educação Física e da

formação de mulheres professoras no período, múltiplas práticas e discursos da formação profissional, suas atuações nas aulas, seus corpos e suas escolhas pessoais basearam-se a partir de uma ética, conferindo a vida de cada entrevistada valores, técnicas, saberes uma arte! (p. 13). 8 Na 35ª reunião, Ribeiro (2012) apresentou o trabalho Gênero, sexualidade e diversidade sexual na educação física escolar. uma cartografia das práticas discursivas em escolas paranaenses. Com enfoque nas narrativas de professoras de Educação Física da rede pública estadual do Paraná, participantes do curso Gênero e diversidade na escola GDE, promovido em 2009/2010 pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, a pesquisadora apontou em seu estudo entraves no trabalho com as questões de gênero e sexualidade no cotidiano escolar, tais como a naturalização de estereótipos, processos de normalização e regulação da diversidade sexual, resistências sobre o uso do nome social e banheiro para estudantes transgêneros, assim como o impacto e a importância do curso Gênero e diversidade na escola para as mesmas na prática docente. De acordo com a autora, a questão da diversidade sexual, em relação à tolerância e respeito por sujeitos LGBTs, ainda é um ponto a ser trabalhado e refletido pelas professoras. Por fim, na 36ª reunião, o trabalho Apoios ou agachamentos? : a normalização do gênero na Educação Física escolar de Dornelles (2013), se apoia em preceitos da teoria queer em diálogo com Michel Foucault e Judith Butler, utilizando-se de conceitos como norma, gênero e heteronormatividade, para discutir como docentes de escolas públicas do interior baiano articulavam o tema sexualidade nas aulas de Educação Física. Conforme expõe a autora, feiras pedagógicas e seminários se mostraram como práticas cotidianas na Educação Física escolar, que tinham como objetivo o trato com a sexualidade em um viés pautado no discurso da saúde e da biologia, enunciando propostas como prevenção à gravidez, à saúde e ao sexo seguro. Além disso, o sexo também serviu como um modo de ação normalizador na Educação Física escolar, instituindo lugares fixos para meninos e meninas nas aulas, a partir da norma e de uma matriz heterossexual. Estes dois últimos trabalhos apresentados tiveram uma inovação ao trazer discussões específicas sobre a sexualidade nas pesquisas da área da Educação Física escolar, que conforme eu havia apontado anteriormente, ainda é um diálogo recente no campo.

9 Considerações finais A interlocução das temáticas gênero e sexualidade no campo da Educação Física, analisados neste estudo, mostrou-se diversificada nos últimos dez encontros da ANPEd. Da discussão sobre aulas mistas e separadas por sexo, principal problema que permeou os estudos de gênero na Educação Física escolar, chegando ao diálogo da sexualidade adentrando as práticas corporais escolares, os trabalhos analisados mostraram certa evolução, de acordo com as demandas investigativas da área. Desta forma, a partir da análise destes trabalhos, conclui-se a emergência de novas pesquisas que investiguem no contexto da Educação Física subtemas como feminilidades e masculinidades, apontando para o reconhecimento das diferenças entre os sujeitos por meio das práticas corporais, como também de pesquisas que se pautem em questões relacionadas especificamente à sexualidade e à diversidade sexual no âmbito da Educação Física, ampliando assim as pesquisas no campo. Referências ALTMANN, Helena; AYOUB, Eliana; AMARAL, Sílvia C. F.. Gênero na prática docente em educação física: meninas não gostam de suar, meninos são habilidosos ao jogar? Revista Estudos Feministas (UFSC. Impresso), v. 19, p. 491-501, 2011. ANDREOLI, Giuliano Souza. O bailarino self-made: trajetórias do masculino na dança. In: 33ª Reunião da ANPED, 2010, Caxambu. Anais... Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd). Disponível em <http://www.anped.org.br/home>. Acesso em: 21 de Abril de 2015. BRITO, Leandro Teofilo de; SANTOS, Mônica Pereira dos. Masculinidades na Educação Física escolar: um estudo sobre os processos de inclusão/exclusão. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 27, n.2, p. 235-246, 2013.

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