APOSTILA DE FILOSOFIA E ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES 2º. Bimestre Capítulos: I Ética: noções e conceitos básicos II Processo de Decisão Ética III - Responsabilidade Social Apostila elaborada pela Profa. Ana Maria Amorim, para a disciplina Filosofia e Ética nas Organizações do Curso de Administração da Faculdade Fortium Brasília 2012 1
I Ética: noções e conceitos básicos A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta Blaise Pascal Introdução Nas últimas décadas do século XX, a ética sai dos livros de filosofia e passa a ser discutida no mundo dos negócios, como um elemento tão importante quanto os conhecimentos teóricos e técnicos. Começou-se a considerar que o principal patrimônio de uma empresa é a sua imagem, no sentido da existência de confiança por parte de seus clientes, fornecedores, empregados, parceiros e todas as pessoas envolvidas. A redescoberta da ética reflete o intenso momento de transformações pelas quais passa a sociedade, afetada pela crise de valores e fragmentação social no nível global. Falar de ética exige uma reflexão sobre alguns conceitos como valores, moral, liberdade e as condições requeridas para o ato moral. Na vida, estamos sempre diante de situações que exigem nossa ação. Cada ato humano pressupõe algum tipo de escolha. Somos seres humanos que pensamos, agimos e decidimos. E mais, nossas ações produzem efeitos, agem sobre os outros, sobre nós mesmos e sobre a sociedade, sobre o país e até o planeta. Sempre estamos diante de situações novas que exigem reflexão e ponderação, temos que aprender e construir um caminho. A vida humana se constitui de valores. São os valores que definem os nossos escolhas, nossa ação. Existem diversos tipos de valores estéticos, afetivos, religiosos, econômicos. No entanto, os valores morais só existem nos atos e produtos humanos, como o comportamento, as interações sociais e as decisões, pois somente o ser humano é capaz de ser responsável pelo que faz e de prever as consequências de seus atos. Os valores éticos e morais garantem a condição de seres humanos, como seres racionais e livres, ou seja, seres que pensam e fazem escolhas. 2
Ética e Moral Ética e Moral têm sido muitas vezes tratadas como se tivessem o mesmo significado. Entretanto, quando passamos a estudar com maior profundidade, torna-se necessário desfazer tal confusão. A palavra moral deriva do latim moris, que significa costume e comportamento. Moral é o conjunto de regras que determina o comportamento dos indivíduos em um grupo social, sendo transmitida pela cultura. Sua função social consiste em regular as relações sociais entre os homens. A moral não é natural, ou seja, ela resulta de determinadas condições históricas e sociais e surge para garantir a ordem e a integridade social. É a moral que garante a preservação da sociedade pelo controle dos atos dos indivíduos. A moral tende à harmonizar os interesses individuais e coletivos. Ética vem do grego ethos e significa costume e conduta. Ética é a reflexão sobre as noções e os princípios que fundamentam a vida moral, sobre o comportamento moral dos homens em sociedade. A ética busca conceitos e teorias do comportamento moral humano e reflete o aspecto racional do comportamento humano. O objeto da ética é o mundo moral. Segundo Vasquez (1975, p.12), a ética é a ciência que estuda o comportamento moral dos homens em sociedade. Isso implica dizer que a ética e a moral possuem um caráter social e histórico. Embora o comportamento moral do ser humano dependa das condições concretas em que este se encontra, o ser humano tem a possiblidade de fazer escolhas e se responsabilizar por elas, pois possui a capacidade de pensar, planejar sua vida, não dependendo apenas dos instintos, como os animais. O ser humano busca um sentido para sua existência e, portanto, tem consciência do mundo e de si mesmo. Assim, este homem pratica a moral. Dizemos que o ser humano é um agente moral ou sujeito moral, ou seja, ele age dentro de condições reais, históricas, de modo consciente e dotado de escolha, ou seja, de liberdade. O ato moral é exclusivo do ser humano, porque este é o único ser dotado de consciência, de liberdade e de poder de decisão. E o que é essa liberdade? A liberdade que faz parte do agente moral não implica fazer o que quer, como ato desvinculado da realidade. Ao contrário, essa liberdade surge de condições reais. É a capacidade que 3
o ser humano possui de fazer escolhas a partir de determinadas condições. O Ato Moral pressupõe o Ser humano consciente: o sujeito não ignora nem as circunstâncias nem as consequências de sua ação. Pressupõe o CONHECIMENTO. Ser humano livre, ou seja, que o agente não esteja sob coação interna e externa. Pressupõe a LIBERDADE. Ser humano capaz de responder pelos seus atos. Pressupõe a RESPONSABILIDADE. Os meios que introduzem e propagam a moral são as instituições que trazem os valores morais e fazem parte da cultura e sociedade. As instituições são a família, a escola, a religião, o estado, entre outras. 4
II Processo de Decisão Ética Nosso caráter é o resultado da nossa conduta Aristóteles Muitos teóricos da Administração consideram que a função principal do empresário, ou do executivo que é seu representante, é tomar decisões. Nelas intervêm inúmeros fatores, como a natureza da própria decisão, a área tomadora da decisão, o tempo de vigência da decisão, os riscos envolvidos, a cultura da empresa, as emoções e a racionalidade dos tomadores da decisão. E, como se trata de decisões e, portanto, de atos humanos, o fator ético estará sempre presente. Às vezes, a Ética é considerada como algo que fica bem, um adorno. É fundamental ultrapassar essa visão. Três características devem estar presentes quando se trata de Ética. A primeira, é preciso considerar que toda decisão é ética não há decisões neutras. A segunda, refere-se a ideia de que toda decisão é pessoal, no sentido do ato humano, livre e responsável de quem decide. A terceira, que a decisão envolve ou afeta outros empregados, clientes, sócios, consumidores, cidadãos -, os quais têm direitos e devem ser conhecedores dos princípios éticos. Conclui-se que nenhuma decisão deve limitar-se à análise dos aspectos técnicos, econômicos ou circunstanciais das questões. A decisão deve ser humana, de dimensão ética. Com frequência, aqueles que decidem na empresa encontram-se diante de muitos dilemas. Como tomar a decisão certa? Costuma ser muito difícil, pois uma séria de fatores estão envolvidos. Deve-se buscar de agir bem e com justiça, a partir de uma reflexão racional. Entretanto, diante de uma situação que exige decisão, não se trata de seguir literalmente algo que está escrito em códigos e regulamentos. Na prática, não há regras nem processos decisórios preestabelecidos, no máximo há a experiência pessoal no exercício das virtudes. Cada profissional precisa estar especialmente atento em cada momento. 5
A arte da decisão ética profissional Antes de decidir é preciso conhecer bem a situação ou o conjunto de fatos sobre a qual se vai decidir. É preciso confirmar bem os fatos, analisar suas fontes, com prudência. Evitar decisões solitárias, compartilhar com outras pessoas, expor suas dúvidas, para evitar deslizes. A grande dificuldade de ações éticas reside nas deficiências pessoas, tais como ignorância, paixões, vícios, defeitos de caratê, limitações pessoais. Sem a reflexão e a prática da ética, as atitudes podem gerar grandes prejuízos, destruir a reputação da empresa e/ou a carreira do empregado. O investimento em práticas éticas promove, além da redução do risco do negócio, a criação de um ambiente mais saudável, onde as pessoas terão mais espaço para desenvolver suas habilidades. Haverá mais confiança e credibilidade, além de reduzir o custo invisível e contribuir para melhorar o ambiente ético na sociedade como um todo já que o que se aprende dentro da empresa poderá ser utilizado fora da empresa. Assuntos e atitudes éticas refletem questões extremamente delicadas e, na maioria das vezes, de foro íntimo. Não existe uma receita universal, pronta e completamente eficaz para resolver essas questões. As pessoas costumam tomar decisões a partir de seus valores e princípios. O sucesso da carreira do funcionário depende de como elas tomarão essas decisões no dia a dia. Empresas e indivíduos precisam de valores e princípios para nortear a sua atuação. As decisões precisam estar alinhadas com esses valores e princípios. Pode-se definir a ética como a busca da excelência em todas as coisas. Trata-se, é verdade, de um conceito bastante sintético para um tema que comporta debates amplos. Por isso, a ética encerra questões de naturezas diversas que a tornam, por assim dizer, relativa. Sua aplicação pressupõe visões de pessoas diferentes, com vivências e origens variadas. Indivíduos movidos pela razão, mas também por emoções, sentimentos, desejos, condutas. Seres humanos que passam, cotidianamente, por situações contraditórias. Circunstâncias regidas por medos, dúvidas, inseguranças, sonhos. 6
III - Responsabilidade Social "Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências." Pablo Neruda No século XXI, a sociedade enfrenta problemas econômicos e sociais que se estendem a nível global. Por outro lado, a sociedade pode criar soluções em grande escala para se construir um mundo mais justo. É dentro deste contexto que discute de que forma as organizações, devem participar na busca das mudanças necessárias. Os desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais estão interligados e juntos podemos desenvolver soluções inclusivas. A responsabilidade social significa uma transformação radical na concepção da empresa e de e seu papel na sociedade. Atualmente, as empresas têm consciência de que suas obrigações não se restringem apenas aos acionistas e não envolvem somente lucros e estratégias competitivas. No mundo empresarial fica cada vez mais claro a existência de uma ampla rede que envolve os seres humanos, indo desde os acionistas, empregados, clientes, fornecedores até a comunidade. No mundo do trabalho, essa discussão torna-se pública a partir dos anos 1970 e se consolida por meio de ações práticas a partir dos anos 1990, quando se expande por todo o mundo. A responsabilidade social significa uma transformação radical na concepção da empresa e de seu papel na sociedade. Nesse debate emergiram duas tendências: a primeira defendia a ideia de que as empresas são propriedade dos acionistas e, portanto, devem se preocupar apenas em gerar lucro. Entende-se que ao promover emprego e riqueza, as empresas já fazem um importante papel para a sociedade. Segundo essa perspectiva, as empresas não devem se envolver nas questões e problemas sociais, pois é responsabilidade do governo, como também, não estão preparadas para assumir esta missão. 7
a segunda tendência entende que a empresa é resultado do esforço de vários setores e utilizam recursos naturais e, assim, devem contribuir com a sociedade em geral e o meio ambiente. A responsabilidade social pressupõe a consciência e o compromisso das empresas com mudanças sociais e o meio ambiente. Além de compromisso com os acionistas e clientes, as empresas estão envolvidas em uma sociedade mais ampla e devem se comprometer com a construção de um mundo mais justo e melhor. A responsabilidade social é, portanto, uma prática orientada pela ética, pelo respeito com o ser humano. Para que uma empresa possa ser considerada socialmente responsável, ou um empresa cidadã, a empresa precisa contribuir para a transformação do ambiente social não se restringir à produtividade e ao lucro. Esses objetivos não podem ser confundidos com empresas que atuam voltadas apenas para interesses comerciais a fim de alcançar um diferencial competitivo. A partir do critério de responsabilidade social pode-se classificar as empresas em três categorias: As que visam apenas lucro As que se preocupam com os interesses de um grupo restrito As que atuam para transformações sociais Falsa responsabilidade social: as empresas tratam bem o público externo e explora seus funcionários. A responsabilidade social deve envolver colaboradores, clientes, fornecedores, acionistas, consumidores, e comunidade. A responsabilidade social significa o envolvimento das empresas com ações éticas, comprometidas com a humanidade, os direitos humanos, a justiça, a dignidade e o planeta, comportando-se de forma responsável e comprometida com toda a rede de vida. A responsabilidade social exige escolha, opção livre e consciente. Responsabilidade social é um processo, uma nova orientação para as empresas. As empresas começam a ter consciência que sua função não é apenas econômica, mas também de contribuir com o bemestar das pessoas e o desenvolvimento do país. As empresas devem saber ouvir as necessidades e demandas das pessoas beneficiadas. Mas onde atuar? 8
Público interno: colaboradores e dependentes. Com ações como novas oportunidades de emprego, capacitação, assistência medica, qualidade de trabalho, condições de estudo. Público externo: fornecedores, clientes, comunidade e meio ambiente. Transparência, qualidade dos produtos, serviços de assistência e informação para a comunidade. Com a responsabilidade social as empresas ganham visibilidade, prestígio e credibilidade, adquirindo confiança dos clientes e fortalecendo sua imagem. Mas, além disso, a prática da responsabilidade social deve ser motivada pelo compromisso em promover uma sociedade melhor e a dignidade das pessoas. Concluindo, a responsabilidade social das empresas é um tema atual e, nos últimos anos, vem sendo consolidada à crença que as empresas devem assumir um papel mais amplo perante a sociedade que não se limita à maximização de lucro e criação de riqueza. BIBLIOGRAFIA FELIX, R; ALONSO, F; P. CASTRUCCI. Curso de ética em administração. São Paulo: Atlas, 2006. PASSOS, E. Ética nas Organizações. São Paulo: Atlas, 2012. VAZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. 9