22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina II-192 - USO DE EFLUENTES DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO PARA PRODUÇÃO DE FLORES EM SISTEMA DE HIDROPONIA EM VASOS Fernando Campos Mendo nça(1) Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP). Mestre e Doutor em Agronomia, área de concentração Irrigação e Drenagem, pela ESALQ/USP. Pós-doutor em Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde Pública (FSP/USP). Professor da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE). Roque Passos Piveli(2) Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, Doutor em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Professor Doutor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Quirino Augusto de Camargo Carmello(3) Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Solos, Área de Concentração Nutrição Mineral de Plantas, pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ/USP. Prof. Titular do Departamento de Ciência do Solo Endereço: (1) Rua Riachuelo, 477, Ap. 43 - Centro - Piracicaba - SP - CEP: 13400-510 - Brasil - Tel: (19) 3422-535 - e-mail: fcmendon@ig.com.br (2) Escola Politécnica (POLI/USP) - São Paulo - SP - Brasil - Tel: (11) 3091-552 e-mail: rppiveli@usp.br
(3) Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP) - Piracicaba - SP - Brasil - Tel: (19) 3429-4171 e-mail: qaccarme@esalq.usp.br RESUMO O cultivo de flores em sistemas hidropônicos é uma opção interessante de reutilização agrícola de efluentes de esgotos tratados, pela possibilidade de cultivar espécies nãocomestíveis de alto valor (flores) como pela economia de insumos na composição da solução fertilizante. Em vista desse contexto, foi desenvolvido um trabalho sobre a desinfecção e reúso de efluentes em hidroponia com efluente de esgotos tratados em lagoas de estabilização no município de Lins-SP. No presente trabalho, são apresentados os resultados de dois experimentos em um sistema de hidroponia em vasos, com o objetivo de avaliar a resposta do uso de efluente de lagoas de estabilização no cultivo de flores em sistema de hidroponia em vasos. O trabalho constou de dois experimentos, um com Gypsophila paniculata cv. "Golan" e outro com crisântemo de corte cv. "Reagan Mundo Yellow". Os resultados obtidos mostram a resposta de duas espécies de flores à aplicação de efluentes em hidroponia, contribuindo para futuros ajustes do sistema de produção. PALAVRAS-CHAVE: Águas residuárias, lagoas de estabilização, hidroponia, flores. INTRODUÇÃO A hidroponia é uma técnica de cultivo em que não há a utilização do solo, seja como meio de sustentação, seja como fonte de fornecimento de nutrientes às plantas. A palavra "Hidroponia" é composta por duas palavras originadas do grego: Hydro (água) e Phonos (trabalho). Assim, a hidroponia é um processo de cultivo de plantas utilizando-se uma solução nutritiva composta basicamente de água e sais nutrientes, que é aplicada diretamente ao sistema radicular das plantas. O cultivo de flores em sistemas hidropônicos é uma boa opção para a reutilização de águas residuárias na Agricultura, tanto pelo reúso em cultivos não-comestíveis de alto valor como pela economia de insumos na composição da solução fertilizante. Em vista desse contexto, foi desenvolvido um projeto de pesquisa sobre a desinfecção e reutilização de efluentes de esgotos tratados em hidroponia, em Lins-SP. No trabalho são apresentados os resultados de dois experimentos em sistema hidropônico em vasos. Os resultados obtidos mostram a resposta de duas espécies de flores à aplicação de efluentes em hidroponia, contribuindo para futuros ajustes do sistema de produção.
MATERIAIS E MÉTODOS A Área Experimental de Reúso localiza-se na cidade de Lins, situada junto à ETE da cidade, que atende a uma população de 67.000 habitantes. A estação é composta de três sistemas paralelos de lagoas de estabilização, conforme se vê na Figura 1. Utilizou-se um sistema de hidroponia em vasos, montado em casa de vegetação, cultivando-se flores em sacos plásticos e substrato sólido. Foram feitos dois experimentos; o primeiro com Gypsophila paniculata cv."golan" e o segundo com crisântemo cv. Reagan Mundo Yellow. Os experimentos foram conduzidos sob delineamento inteiramente casualizado, com dois tratamentos e nove repetições. Os tratamentos foram: T1 - água potável e T2 - efluente de esgotos tratados. Cada parcela experimental foi composta por 25 plantas (5 x 5 plantas), com parte útil de nove plantas (3 x 3 plantas). Em ambos os tratamentos a solução de fertilizante e elementos nutrientes utilizada foi a mesma, tal como se apresenta a seguir, no Quadro 1. Figura 1 - Vista aérea da estação de tratamento de esgotos de Lins-SP Quadro 1. Composição da solução fertilizante Componente Conc. (g/m3) Observações Ca(NO3)2 1200 Adubo MgSO4 500 Reagente grau técnico KNO3 260 Adubo KCl
250 Adubo MAP - NH4H2PO4 150 Adubo Solução de micronutrientes Ác. Bórico 2,6 grau técnico ou produto comercial MnSO4 1,1 ZnSO4 0,10 CuSO4 0,04 Ác. Molíbdico 0,02 Solução de ferro EDTA EDTA-dissódico 26,10 grau técnico ou produto comercial Sulfato ferroso 24,00
Soda 11,44 Fonte: Carmello (1997) Avaliou-se o experimento de Gypsophila paniculata por meio do número de ramos por inflorescência, da massa seca e composição química mineral da inflorescência. Em crisântemo avaliou-se a massa seca e da composição química mineral das plantas. RESULTADOS OBTIDOS Experimento 1 - Gypsophila paniculata A análise de variância mostrou que os tratamentos tiveram efeito significativo sobre a massa seca da inflorescência e o conteúdo de fósforo e potássio. Os números apresentados na Tabela 1 mostram que em ambos os tratamentos as inflorescências têm mais de 7 ramos (padrão comercial). Também se mediu o comprimento das inflorescências, que foi igual ou superior ao padrão comercial (60 cm). Portanto, as inflorescência têm as características necessárias para sua comercialização. Os resultados de massa seca da inflorescência são apresentados na Tabela 2. Tabela 1 - Número de ramos da inflorescência de Gypsophila paniculata Tratamentos Repetições 1 2 3 4 5 6 7
9 Médias n.s.* Água + Sol. Fertilizante 7 6 9 7 11,0 Efluente O3 + Sol. Fertilizante 9 9 9 9 10 10
,9 * n.s. - diferenças não-significativas pelo teste F a 5% de probabilidade. Tabela 2 - Massa seca da inflorescência (g/planta) para Gypsophila paniculata Tratamentos Repetições 1 2 3 4 5 6 7 9 Médias Água + Sol. fertilizante 20,30 21,46 20,36 22,59 21,6 24,30 22,9 17,42
21,04 21,35 a Efluente O3 + Sol. fertilizante 15,51 1,77 14,15 14,21 12,97 6,79 16,07 17,22 11,71 14,16 b Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O tratamento T1 (água) apresentou resultados superiores aos do tratamento T2 (efluente), com inflorescências mais robustas, indicando a necessidade de reequilíbrio da solução fertilizante para melhorar os resultados com a utilização de efluente como solvente da solução fertilizante. Também podem ser feitos estudos com mistura de água potável e efluente em diferentes proporções, a fim de verificar se há melhora nos resultados. As análises de macro e micronutrientes, e sódio são apresentadas nas tabelas 3 e 4. Apenas fósforo e potássio apresentaram resultados superiores no tratamento com efluente, provavelmente pela menor massa seca das inflorescências produzidas com efluentes. Tabela 3 - Macronutrientes e sódio (g.kg-1) nas plantas de Gypsophila paniculata Tratamentos N n.s.*
P K Ca n.s.* Mg n.s.* S n.s.* Na n.s.* Água + Sol. Fert. 31,4 3,04 a 29,4 a 15,02 4,4 4,57 1,2 Efl. O3 + Sol. Fert. 29,10 3,62 b 35,19 b 13,77 4,51 4,43 1,59 * n.s. - diferenças não-significativas pelo teste F a 5% de probabilidade.
Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Tabela 4 - Médias de conteúdo de micronutrientes nas plantas de Gypsophila paniculata Tratamento B n.s.* Cu n.s.* Fe n.s.* Mn n.s.* Zn n.s.* Água + Sol. Fert. 30,5 7,1 119,6 43,2 2,6 Efl. O3 + Sol. Fert. 27,7 6, 123,2 44,2 31,0 * n.s. - diferenças não-significativas pelo teste F a 5% de probabilidade. Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Experimento 2 - Crisântemo Os resultados de massa seca da parte aérea das plantas de crisântemo não mostram diferenças significativas entre os tratamentos. Nas tabelas 5 e 6 estão os resultados do conteúdo de macro e micronutrientes, e sódio. Não houve diferenças significativas entre tratamentos na análise de variância. Tabela 5 - Macronutrientes e sódio (g.kg-1) nas plantas de crisântemo. Tratamento N n.s.1 P n.s. K n.s. Ca n.s. Mg n.s. S n.s. Na n.s. Água + Sol. Fert. 19,94 2,05 35,2,6 2,39 1,16 1,33 Efl. O3 + Sol. Fert. 21,4 2,74
34,26 9,40 2,37 1,25 1,70 1 n.s. - diferenças não-significativas pelo teste F a 5% de probabilidade. Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Tabela 6 - Micronutrientes nas plantas de crisântemo. Tratamento B n.s. Cu Fe n.s. Mn n.s. Zn n.s. Água + Sol. Fert. 53,1 5,21 a 317,27 36,2 12,76 Efl. O3 + Sol. Fert. 4,02 3,94 b
315,40 49,6 13,71 * n.s. - diferenças não-significativas pelo teste F a 5% de probabilidade. Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CONCLUSÕES Ambas as espécies produziram flores de padrão adequado à comercialização. O número de ramos das inflorescências de Gypsophila paniculata não foi afetado pelos tratamentos. Ambos apresentaram inflorescências com padrão adequado à comercialização. A produção de matéria seca de Gypsophila sp. teve resultado inferior no tratamento com efluente, com necessidade de balanceamento da solução fertilizante. A composição química das plantas de Gypsophila sp. foi afetada significativamente para fósforo e potássio, com maiores concentrações no tratamento com efluente. A cultura do crisântemo não apresentou diferenças significativas entre os tratamentos, tanto para massa seca da parte aérea quanto para o conteúdo de macronutrientes, sódio e microtrientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARMELLO, Q.A.C. Cultivo hidropônico de plantas. Piracicaba: ESALQ - Div. de Biblioteca e Documentação, 1997. 27 p. (Série Produtor Rural, 1). LEDIC, I.L. (ed.). Curso de hidroponia. Uberaba: PIAR. 1997. 70 p. LEÓN SUEMATSU, G.; MOSCOSO CAVALLINI, J. Tratamento e uso de águas residuárias. Trad. GHEYI, H.R.; KÖNIG, A.; CEVALLOS, B.S.O. e DAMASCENO, F.A.V. Campina Grande, Universidade Federal da Paraíba, 1999. 109 p.