PERFIL DOS ACADÊMICOS EVADIDOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA CÂMPUS ALEGRETE: ALGUMAS REFLEXÕES



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AUTORA: Djenane Sichieri Wagner Cunha - djenanewagner@uol.com.br. INSTITUIÇÕES: Faculdade de Educação São Luís e Universidade Interativa COC

Transcrição:

ISSN 2316-7785 PERFIL DOS ACADÊMICOS EVADIDOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA CÂMPUS ALEGRETE: ALGUMAS REFLEXÕES Jéssica Alana da Costa Rodrigues Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete jessicaacostarodrigues@gmail.com Calinca Jordânia Pergher Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete calinca.pergher@iffarroupilha.edu.br Marcia Viaro Flores Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete marcia.flores@iffarroupilha.edu.br Roger Oliveira de Lima Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete roginholima17@gmail.com Resumo O presente trabalho traz um recorte de uma pesquisa intitulada A evasão dos acadêmicos dos cursos de Licenciatura do Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete, que busca apresentar alguns dados sobre o perfil dos evadidos do Curso de Licenciatura em Matemática. A pesquisa surge da necessidade de se saber quais as causas que levam aos altos índices de evasão do curso, para que no futuro sejam adotadas políticas que possam diminuir esses números. A abordagem metodológica tem enfoque qualitativo com características de estudo de caso e pesquisa participante. O instrumento utilizado foi um questionário semiestruturado, aplicado aos ex-alunos do curso que se dispuseram a participar da investigação.as descobertas obtidas é que o perfil dos evadidos é diversificado, porém, apresenta algumas características em comum no que trata da faixa etária, sexo, renda, motivos de escolha do curso e da instituição, sendo estas caracterísicas mapeadas e analisadas neste texto. Palavras-chave: Evasão; Licenciatura em Matemática; Perfil.

Introdução Este texto tem sua origem na pesquisa A evasão dos acadêmicos dos cursos de Licenciatura do Instituto Federal Farroupilha Câmpus Alegrete: Possíveis causas. O recorte realizado busca apresentar alguns dados do perfil dos evadidos no curso de Licenciatura em Matemática. Cabe situar que a pesquisa emergiu da necessidade de investigar as causas da evasão escolar nos cursos de licenciatura no Instituto Federal Farroupilha Câmpus Alegrete, tendo em vista os altos índices de abandono nos três cursos, o que tem reduzido de forma considerável o número de alunos do primeiro semestre com relação aos semestres seguintes, sendo essa evasão gradual e contínua. Exemplificando melhor essa afirmação em números, no período pesquisado (2011 a 2013) o percentual de abandono foi em torno de 50%. Sabe-se que historicamente os cursos de licenciatura, de um modo geral, apresentam baixa procura e grande evasão, especialmente nas áreas naturais e exatas, como é o caso dos cursos ofertados no Câmpus: Licenciaturas de Ciências Biológicas, Matemática e Química. Foi empreendido um esforço para mapear quem e quantos eram os evadidos, e logo após foi realizada a pesquisa de campo aplicando um questionário semiestruturado aos exalunos que se dispuseram a participar da investigação. De um universo de 114 evadidos, conseguimos um percentual de 32% que concordaram em responder o questionário. Desse universo, oito pesquisados, são ex-alunos da Licenciatura em Matemática. Será o perfil desses oito evadidos que buscaremos apresentar e analisar nesse artigo. Referencial teórico e metodológico A criação dos cursos de licenciaturas nos Institutos Federais é uma realidade recente que vem crescendo gradativamente. Com isso, vem aumentando, também, os desafios que se impõe à formação docente, exigindo esforços na busca de uma formação sólida, de profissionais capacitados para atuar e atender as demandas do mundo do trabalho. 2

Atualmente, nosso Câmpus oferta três cursos de Licenciatura, sendo estes: Ciências Biológicas, Matemática e Química e os índices de evasão já no segundo e terceiro semestres do curso são alarmantes, o que vem trazendo grande preocupação aos professores e a gestão do IFFarroupilha Câmpus Alegrete. O intuito da pesquisa realizada foi o de investigar as causas desses altos índices de evasão para, a partir dela, pensar propostas, projetos, linhas de ação, apontando alternativas junto com toda equipe que atua diretamente com esses cursos, buscando reduzir tais índices. A evasão nos cursos superiores não é uma realidade exclusiva do nosso Câmpus. A evasão nas licenciaturas, a profissão e a carreira docente no Brasil tem enfrentado inúmeros desafios, o que provavelmente justifica a pequena procura pelos cursos de licenciatura e quem sabe a grande evasão nos mesmos. Questões como a não atratividade dos salários e planos de carreira; as condições de trabalho e a realidade das salas de aula hoje são fatores determinantes na escolha em ser ou não ser docente. Estes fatores exigem cada vez mais a necessidade de constituição de políticas públicas para dar conta desse contexto, um modo de diagnosticar melhor essa problemática é através da realização de estudo de caso. Pois como afirma Souza: Uma miríade de variáveis que também impactam a política pública e somente estudosdecaso específicos podem identificá-la. A correta identificação dessas variáveis e da sua influência na implementação das políticas públicas é o pontochave para corrigir seus possíveis problemas. (2005, p.19). Sabemos que a formação inicial é apenas o primeiro passo na formação do educador que vai se constituindo permanentemente. Formação esta que precisa de uma base sólida, consistente, contextualizada que dê conta dos desafios que esse futuro docente irá encontrar no exercício da sua profissão. No entanto, [...] é fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de professores que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do 3

poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. (FREIRE, 1998, p. 43). Quando falamos em formação de professores, a preocupação central deveria ser esse pensar criticamente a prática para melhorá-la, recriá-la, reinventá-la de acordo com cada realidade, a cada nova situação. Pensar, esse, que precisa ser aprendido e vivenciado num espaço dialógico, de amorosidade, de trocas e aprendizados que vai se consolidando no decorrer do curso, mas que os transcende. Mas para isso, é preciso que os licenciandos ingressem e permaneçam nos cursos para que possam ir constituindo-se docentes, percebendo as diversas possibilidades da profissão. Professores, esses, que ao cumprirem a sua formação inicial, poderão contribuir significativamente na própria região de origem, tendo em vista a grande falta de profissionais capacitados na área. Além disso, trabalhamos na instituição pautados na perspectiva de Ferry (2004), acreditando que a formação é um trabajo sobre si mismo, é um formar-se através de reflexões das vivências e dispositivos de formação. Neste sentido, dispositivos de formação são ferramentas que provocam movimentos e (re)significações de saberes fazendo com que o indivíduo passe por um processo de ponerse en forma e, como condição à formação é preciso lugar, tempo e relação com a realidade. Só há formação no momento em que há reflexão, e esta reflexão caracteriza-se como um trabalho sobre si mesmo Reflexionar es al mismo tiempo reflejar y tratar de comprender, y en ese momento si hay formación. Entonces sólo hay formación cuando uno puede tener un tiempo y un espacio para este trabajo sobre sí mismo. (...) Tiempo y lugar para la formación, tiempo y lugar para el trabajo sobre sí mismo, que no puede confundirse con el trabajo profesional que es un trabajo para otros. (Ibid. p.56) Refletir sobre o trabalho, a prática, a gestão, as relações e o viver em sociedade, as políticas públicas, é parte primordial da formação docente, no sentido que, ao fazer este movimento de pesquisa buscamos encontrar os motivos de nossas atitudes presentes, e reestruturar desejos e ações futuras. 4

A abordagem metodológica da pesquisa tem enfoque qualitativo, com características de:estudo de caso, por ter centrado seu foco em apenas um campus do IFFarroupilha, onde as questões como e por quê serão norteadoras no processo de investigação; e pesquisa participante, uma vez que propõe interação entre pesquisadoras, acadêmicos e ex-alunos, havendo envolvimento entre os membros para a compreensão das situações investigadas (GIL, 2006). Uma pesquisa de cunho qualitativo é aquela que responde a questões muito particulares, que trabalha com o universo de significados, aspirações, relações e processos. Não significa que a abordagem qualitativa em uma pesquisa não levará em conta os dados quantitativos, estes em conjunto com os dados qualitativos se complementarão, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia. (Minayo, 2001). Utilizou-se de questionário semiestruturado como instrumento para coleta de dados, que foi aplicado aos ex-alunos dos três cursos, entre o período de 2011 a 2013. A seguir apresentaremos os dados oriundos dos questionários aplicados aos ex-alunos do curso de licenciatura em Matemática. Discussão dos resultados Alguns dos resultados que nos propomos apresentar buscam mapear o perfil do estudante evadido do Curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal Farroupilha Câmpus Alegrete. Do total de 113 evadidos, 35 são evadidos do curso de matemática, dos evadidos no curso de matemática obtivemos um número total de oito entrevistados, que representa uma amostra de 22,85%, uma amostra considerada pequena. Cabe destacar que houve grande dificuldade para encontrarmos os ex-alunos. Muitos já não residem na região da Fronteira Oeste, onde se localiza o Câmpus, ou no Estado do Rio Grande do Sul, onde se localiza o Instituto; além disso, muitos receberam os questionários por e-mail, entretanto optaram por não participar da pesquisa. 5

A seguir apresentamos questões que compõem o primeiro bloco do questionário aplicado,bem como, a tabulação e análise das respostas obtidas. Esse primeiro bloco buscou mapear quem são os evadidos. A primeira pergunta refere-se à faixa etária dos ex-alunos do curso. Constatou-se conforme o gráfico um que a maior parte situasse na faixa etária entre 26 a 30 anos, esse primeiro indicador de perfil dá conta que esses ex-alunos quando procuraram o curso poderiam estar há alguns anos longe da escola. Ou, quem sabe, poderiam ser alunos oriundos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Gráfico 1 Faixa etária dos entrevistados Faixa etária 12% 25% 20 a 25 anos 26 a 30 anos 31 a 40 anos 40 anos ou mais 50% Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014). Na segunda questão, procuramos saber da cidade de origem desses alunos e também da sua cidade de residência atual. Notamos que em relação à cidade de origem, temos a maioria em cidades próximas à localização do Câmpus, a saber, Alegrete, Manoel Viana e São Francisco de Assis. Quando se trata da cidade onde residem atualmente, temos 62% residindo em Alegrete, 25% em Manoel Viana e em São Francisco de Assis. Um 6

segundo indicador de perfil é que os evadidos são da região e da Fronteira Oeste, e que a localização do Câmpus para eles é adequada. Gráfico 2 Cidade de origem dos entrevistados Cidade de origem 25% 37% Alegrete Cruz Alta Manaus Manoel Viana São Francisco de Assis 12% Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014). Dando continuidade à análise do perfil do evadido, as próximas considerações são sobre o sexo, o estado civil e se o entrevistado tem ou não filhos. Para a questão sobre sexo, percebemos uma predominância feminina, pois temos 75% do sexo feminino contra 25% do sexo masculino. O dado de que a maioria dos evadidos são mulheres demonstra que há necessidade de pensarmos um currículo e políticas de gênero, para auxiliarmos as mulheres, muitas delas mães, a se manterem estudando. Para o estado civil, temos 37% casados e 63% solteiros, sendo que 50% têm filhos. O gráfico três nos mostra um cenário sobre as profissões ocupadas pelos evadidos. Notamos que temos várias profissões citadas, sendo de predominância o funcionário público com 37% dos entrevistados. Destacamos que o público evadido é de trabalhadores que estudavam e trabalhavam, ou seja, tinham dupla jornada. 7

Gráfico 3 Profissão do pesquisados Profissão 12% 12% 37% Funcionário (a) Publico Dona (a) de casa Estudante Empresário (a) Operador (a) de caixa Instrutor (a) de trânsito Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014). Em relação à renda familiar 50% declararam ter renda familiar de um a dois salários mínimos e 50% declararam renda de dois a cinco salários mínimos. Outro indicador de perfil que merece destaque, pois possibilita percebermos que a faixa salarial da maioria dos entrevistados aponta que os mesmos possam ter dificuldades financeiras, e que esse seria um forte fator para auxiliar na escolha de uma desistência, uma vez que há custos para se manter no ensino superior. Nas próximas questões pesquisamos se o estudante evadido já havia cursado algum outro curso superior, pedindo que designasse qual. Surpreendentemente, 75% dos entrevistados já cursaram outro curso superior, sendo que destes, 50% cursaram 8

Administração, 16% Pedagogia e 16% Ciências Contábeis. Outro indicador que aponta que os entrevistados se enquadram num perfil que apresenta reincidência de desistência. Quando questionado sobre se, no momento, o evadido estava cursando outra graduação, tivemos um percentual de 37% para sim e de 63% para não. Dos que responderam sim, foram citados os cursos de Administração, na Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) e Zootecnia no próprio Câmpus. Para finalizar, esse bloco de questões que visa perfilar os alunos evadidos, perguntamos sobre os motivos que os levaram a escolher o Instituto Federal Farroupilha Câmpus Alegrete e o Curso de Licenciatura em Matemática como opção para sua graduação. Entre os motivos citados, apareceu o fato de ser uma instituição federal por 37% dos entrevistados, logo após 25% citam o fato do curso ser noturno e 25% o fato de ser a opção desejada. Ainda destacaram que na época parecia uma boa opção, conforme aponta o gráfico 4. Gráfico 4 Motivos que fizeram escolher o IFFCA e o Curso de Licenciatura em Matemática Por que você ingressou no Ensino Superior no IFFarroupilha - Campus Alegrete 37% Por ser uma Instituição Federal Por ser um curso desejado 25% O curso ser noturno 25% Na época parecia uma boa opção Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014). 9

Os motivos destacados demonstram que a busca por uma instituição federal e pelo curso ser noturno, que somam mais de 50% das respostam auxiliam a perceber que o público entrevistado provavelmente é um público mais humilde que precise trabalhar e que não tenha condições de pagar uma mensalidade. Conclusões Os dados apresentados, ainda que parciais, demonstram que o perfil dos evadidos do Curso de Licenciatura em Matemática do Câmpus Alegrete é diversificado, porém apresenta algumas características em comum. O primeiro fato que nos chamou a atenção é a faixa etária, que nos induz a pensar que estes alunos estavam a algum tempo fora dos bancos escolares. A localização geográfica onde esses alunos se encontram também traz a ideia de que o público que procura o Curso de Licenciatura em Matemática vem das cidades próximas ao instituto. Logo após, destaca-se também a predominância, nos evadidos, do sexo feminino, muitas delas mães com dificuldades em manter uma dupla jornada e precisando trabalhar para manter sua família. Aqui, percebemos a necessidade de ter um olhar diferenciado e políticas que contemplem essas necessidades que são cada vez mais freqüentes. Para finalizar, encontramos destacado pelos evadidos o motivo da escolha pelo curso, o fato de se ter uma instituição federal, fato esse, que sinaliza a importância de se ter um ensino público gratuito a nível superior. Consideramos que os dados obtidos pela pesquisa são potencializadores,através destes, poderemos desenhar um cenário que facilite identificar os motivos da evasão e através desta identificação projetar ações que possam diminuir esses índices nas atuais e futuras turmas do curso, vislumbrando de fato a garantia do direito educacional através do acesso, permanência e sucesso escolar. Referências 10

FERRY, Gilles. Pedagogia de la formación. Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico, 2004. FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia:saberes necessários à prática educativa. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998. GIL, A. C. Como formular um problema de pesquisa? In: Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. P. 23 30. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 19ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001. SOUZA, Celina. Políticas públicas: conceitos, tipologias e subáreas. Salvador, 2005 (digitado). 11