Desinfecção solar da água contaminada com cianobactérias usando colectores parabólicos compostos



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Transcrição:

Desinfecção solar da água contaminada com cianobactérias usando colectores parabólicos compostos Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente Lídia Julieta Caldas Salgado Dissertação de Mestrado submetida à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Dissertação realizada sob a supervisão de: Doutor Rui Alfredo da Rocha Boaventura (Orientador) Departamento de Engenharia Química, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Doutor Vítor Manuel de Oliveira e Vasconcelos (Co-orientador) Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto Julho 2010

Resumo Nos tempos que correm a eutrofização das águas tem vindo a ser uma presença comum nas águas do nosso planeta, muito largamente dependente das actividades do homem. O aumento de nutrientes presentes nas águas leva a um crescimento anormal de algas que podem provocar florescências. O presente trabalho incidirá no estudo das algas denominadas de cianobactérias. Estes microrganismos libertam toxinas para a água que provocam malefícios no ambiente, na saúde humana e animal, podendo mesmo em alguns casos levar à morte. Estas toxinas são denominadas de cianotoxinas e a que se irá destacar neste trabalho será a microcistina. A eficiência da remoção destes microrganismos nas estações de tratamento é ainda pouco eficiente, face ao recurso aos métodos convencionais. Existe assim uma forte necessidade de se testarem métodos alternativos que consigam remover eficazmente as cianotoxinas das águas. Apontase como alternativa o recurso à desinfecção através da luz solar. No que concerne a processos de eliminação de cianotoxinas através da luz solar, apresentamse a fotólise e fotocatálise. Estes dois processos podem ocorrer também através da utilização de luz UV-Visível de lâmpadas artificiais que mostram ser a solução mais indicada para tratamento de grandes volumes de água. A fotólise nem sempre mostra ser um processo eficaz. A fotocatálise recorre ao uso de catalisadores que aceleram a reacção. O catalisador utilizado no presente trabalho é o dióxido de titânio que mostra ser bastante eficiente neste processo de desinfecção, contudo existe a desvantagem da sua remoção no fim da desinfecção das águas. Quando estes dois processos se realizam através da luz solar, as instalações usadas são constituídas por Colectores Parabólicos Compostos (CPC s) que são conhecidos por serem colectores de baixa concentração. Este tipo de colectores têm temperaturas mais reduzidas que os outros tipos de colectores existentes, que se conhecem por colectores de calhas parabólicas. O alvo de estudo incidirá na eficiência da remoção de cianobactérias e microcistinas das águas, através da luz UV-Visível de um reactor com uma lâmpada, testando-se o processo quando há adição de dióxido de titânio e quando não há nenhuma adição. Seguir-se-á a análise da eficiência da desinfecção da água face à exposição à luz solar em colectores compostos parabólicos, em ambos os processos, fotólise e fotocatálise. A fotocatálise mostrou ser um processo mais eficaz que a fotólise, contudo tem o problema da remoção do TiO 2 no final do tratamento. A fotólise e fotocatálise recorrendo a luz solar não se mostrou de fácil aplicação comparativamente com o recurso que se fez à lâmpada UV-Visível.

Abstract Nowadays the eutrophication of the waters has been a common presence in the waters of our planet, although highly dependent on human activities. The increase of nutrients present in the water leads to anormal growth of algae which could cause the blooms. Cyanobacteria as these algae are called will be the focusof this study. These organisms release toxins into the water causing dangerous harm to the environment, to the human and animal health, and in some cases may even lead to death. These toxins are called cyanotoxins, are known various kinds, in which we the Microcystis-LR toxin that will be the subject of this paper. The removal efficiency of these microorganisms in the treatment plants is still not satisfactory compared to the use of conventional methods. Therefore, there is a strong need to test alternative methods that have the ability to effectively remove cyanotoxins from water. It's pointed out, as an alternative the use of disinfection by sunlight. Regarding the process of elimination of cyanotoxins through the sunlight, we present the photolysis and photocatalysis. These two processes may also occur through the use of artificial UV light bulbs that turn out to be the most suitable solution for treating large volumes of water. The photolysis is not always shown to be an efficient process. The photocatalysis refers to the use of catalysts which accelerate the reaction. The catalyst used in this study is titanium dioxide that proves to be quite efficient in these processes, however there is disadvantage of removal of the catalyst at the end of the process. When these two processes take place through the sunlight, the plants used are composed of Compounds Parabolic Collector (CPC s) that are known to be collectors of low concentration. Such collectors have lower temperatures than the other types of existing sewers, which are known as parabolic trough collectors. The aim of these study will focus on the removal efficiency of cyanobacteria and microcystins of water through the UV reactor with a lamp, testing the process with and without addition of titanium dioxide. It will follow by the analysis of efficiency of disinfection of water from exposure to sunlight in compound parabolic collectors, in both cases, photolysis and photocatalysis. The photocatalysis proved to be more effective than photolysis, however, has the problem of removal of TiO2 at the end of treatment. The photolysis and photocatalysis using sunlight was not easy to apply compared with the feature that made the lamp UV-Visible.

Aos meus pais, irmã e sobrinha.

Agradecimentos A elaboração deste trabalho contou com o apoio de várias pessoas às quais ao concluir este trabalho, é com profundo reconhecimento que agradeço: - Ao Professor Doutor Rui Boaventura, orientador científico desta dissertação, pelo suporte desta tese. - Ao Professor Doutor Vítor Vasconcelos, co-orientador científico desta dissertação pelo apoio e interesse. - Ao Doutor Vítor Vilar pela orientação, apoio e disponibilidade sempre prestados. - À Engenheira Lívia Xerez pela orientação, pelo conhecimento no assunto em causa, suporte, apoio, compreensão, disponibilidade, incentivo, ajuda, sinceridade, companhia, carinho e amabilidade, que foram cruciais para a realização desta tese e a quem eu devo uma profunda gratidão e reconhecimento. Por todos os conhecimentos que adquiri graças a ela, tanto ao nível profissional como a nível pessoal. Por fim, pela amizade que desenvolvemos com o decorrer desta tese. - Aos meus pais, irmã, sobrinha e cunhado por acreditaram em mim, pela força e por ser por eles que luto diariamente. - À Engenheira Joana Azevedo do Laboratório de Ecotoxicologia Genómica e Evolução do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto pelos conhecimentos e apoio dados. - Aos colegas em geral do Laboratório de Ecotoxicologia Genómica e Evolução pela companhia e boa disposição oferecidas ao longo da execução desta tese. - Aos colegas em geral do Laboratory of Separation and Reaction Engineering da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto pela companhia e boa disposição oferecidas ao longo da execução desta tese. - Aos colegas de mestrado pelo apoio, interesse e amizade. - A todos os meus amigos que sempre me deram força e ajudaram a descomprimir nas horas vagas.

Índice 1. Introdução... 11 1.1. Enquadramento e objectivos... 11 1.2. Estrutura e Organização... 13 2. Cianobactérias e toxinas... 14 2.1. Cianobactérias... 14 2.2. Toxinas produzidas por cianobactérias... 16 2.3. Ambiente... 18 2.4. Saúde Pública... 19 2.5. Toxicidade nos animais... 21 2.6. Métodos de detecção e análise das cianotoxinas... 23 3. Métodos para remover cianobactérias de água potável... 25 3.1. Tratamentos físicos... 25 3.2. Tratamentos químicos... 25 3.3. Efeitos da radiação solar nos microrganismos... 27 4. Fotólise e Fotocatálise... 29 4.1. Fotólise... 29 4.2. Fotocatálise... 31 4.3 Colectores Solares... 36 5. Materiais e Métodos... 38 5.1. Descrição do equipamento... 38 5.2. Métodos utilizados... 40 5.3. Procedimento Experimental... 44 6. Resultados e Discussão... 51 6.1. Desinfecção com lâmpada UV-Visível... 51 6.2. Desinfecção solar através de colectores parabólicos compostos... 53 7. Conclusão... 74 8. Referências... 76

Índice de Figuras Figura 1. Carta de qualidade da água em função da abundância máxima de cianobactérias em águas doces portuguesas.... 15 Figura 2. Microcystis aeruginosa... 17 Figura 3. Florescência de cianobactérias... 19 Figura 4. Reactor de laboratório com lâmpada UV-Visível da FEUP... 38 Figura 5. Instalação piloto com CPC da FEUP.... 39 Figura 6. Câmara de Neubaeur.... 40 Figura 7. Área de contagem de câmara de Neubaeur.... 41 Figura 8. Instalação do Waters Sep-Pak Vacuum Manifold Millipore e das colunas StrataTM from phenomenex.... 42 Figura 9. Fotografia do rotoevaporador BUCHI 461 Water Bath juntamente com a bomba de vácuo BUCHI Vacuum Pump V-700 e com o minichiller.... 43 Figura 10. Recta de calibração do HPLC.... 44 Figura 11. Cultura de microcystis aeruginosa.... 45 Figura 12. Número de células por mililitro durante 40 minutos de fotólise e fotocatálise... 52 Figura 13. Número de células por mililitro por quantidade de energia UV acumulada (kj UV /L) dos processos de fotólise e fotocatálise solar... 55 Figura 14. Número de células por militro por quantiadade de enrgia UV acumulada (kj UV /L) nos processos de fotocatálise com 30 e 50 mg/l de TiO 2... 57 Figura 15. Número de células por mililitro por quantidade de energia UV acumulada (kj UV /L) dos processos de fotólise e fotocatálise solar... 59 Figura 16. Número de células por mililitro por quantidade de energia UV acumulada (kj UV /L) dos processos de fotólise e fotocatálise solar... 60 Figura 17. Número de células por mililitro por quantidade de energia UV acumulada (kj UV /L) dos processos de fotocatálise das três experiências realizadas... 61 Figura 18. Concentração de microcistina-lr (µg/l) por quantidade de energia UV acumulada (kj UV /L) na água filtrada e nos filtros da fotocatálise.... 64 Figura 19. Concentração de microcistina-lr (µg/l) por quantidade de energia UV acumulada (kj UV /L) na água filtrada e nos filtros da fotocatálise... 66 Figura 20. Cromatogramas de HPLC-DAD de um padrão de microcistina-lr... 67 Figura 21. Cromotogramas de HPLC-DAD de um padrão de microcistina-lr e cromotogramas dos Filtros A e D da Fotocatálise... 68

Figura 22. Cromatograma de HPLC-DAD de um padrão de microcistina-lr e cromotogramas da água filtrada da amostra 2 e do Filtro 4, ambos da Fotólise... 69 Figura 23. Espectro característico da Microcistina-LR..... 70 Figura 24. Cromatograma de HPLC-DAD do meio 2 Água filtrada da fotólise e espectros relativos aos três picos assinalados..... 71

Índice de Tabelas Tabela 1. Resumo das experiências de Fotolise e Fotocatálise através da lâmpada UV-Visível... 46 Tabela 2. Resumo das experiências de Fotolise e Fotocatálise através da luz solar.... 47 Tabela 3. Metodologia do Método de Extracção da Fase Sólida SPE.... 48 Tabela 4. Programa Gradiente.... 49 Tabela 5. Tempo, T :C e ph das amostras de Fotólise com lâmpada UV-Visível.... 51 Tabela 6. Tempo, T: C e ph das amostras de Fotocatálise com lâmpada UV-Visível.... 52 Tabela 7. Hora, tempo, intensidade de radiação, ph e T :C das amostras de Fotólise através do uso de CPC s.... 54 Tabela 8. Hora, tempo, intensidade de radiação, ph e T :C das amostras de Fotocatálise através do uso de CPC s.... 55 Tabela 9. Hora, tempo, intensidade de radiação, volume, ph e Tº C das amostras de Fotólise através do uso de CPC s... 56 Tabela 10. Hora, tempo, intensidade de radiação, volume, ph e Tº C das amostras de Fotólise através do uso de CPC s... 58 Tabela 11. Hora, tempo, intensidade de radiação, volume, ph e T :C das amostras de Fotocatálise através do uso de CPC s.... 58 Tabela 12. Dados referentes às amostras da Fotólise.... 62 Tabela 13. Dados referentes às amostras da Fotólise... 62 Tabela 14. Dados referentes às amostras de Fotocatálise... 64 Tabela 15. Dados referentes às amostras de Fotocatálise... 65 Tabela 16. Reaparecimento celular na instalação piloto.... 72 Tabela 17. Reaparecimento celular no laboratório.... 73

Símbolos e Abreviaturas Abreviaturas Significado BC Bandas de Condução BET Brunauer, Emmett and Teller BV Bandas de Valência CAG Carvão Activado Granular CPC Colector Parabólico Composto E. coli Escherichia coli ELISA Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto HPLC-MS High Performance Liquid Chromatography-Mass Spectrometr HPLC-PDA High Performance Liquid Chromatography-Photo Diode Array HPLC-UV High Performance Liquid Chromatography-Ultraviolet LC/MS Liquid Chromatography-Mass Spectrometry LEGE Laboratório de Ecotoxicologia Genómica e Evolução LSRE Laboratory of Separation and Reaction Engineering MC-LA Microcistina-LA MC-LR Microcistina-LR MC-RR Microcistina-RR MC-YR Microcistina-YR OMS Organização Mundial de Saúde OI Osmose Inversa PM Peso Molecular POA Processos de Oxidação Avançados PTCs Parabolic-Trough Collectors SPE Solid Phase Extraction UV Ultravioleta

1. Introdução 1.1. Enquadramento e objectivos As cianobactérias são microrganismos procariontes e autotróficos que utilizam água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz para se desenvolverem. Quando se reúnem condições tais como ambientes de água doce, salgada ou salobra, em que o ph se situe entre os valores de 6 e 9 pois a maioria das espécies apresenta um melhor crescimento em águas neutro alcalinas, temperatura entre 15 :C a 30 :C, elevadas concentrações de nutrientes principalmente azoto e fósforo e condições estáveis, as cianobactérias podem crescer excessivamente e formar florescências. Em reservatórios de água para a produção de água para consumo humano as florescências originam muitos problemas para o abastecimento de água potável. Algumas das consequências da eutrofização artificial é a redução do oxigénio dissolvido, a perda de biodiversidade aquática, a morte de várias espécies de peixes e de outros animais, aumento dos custos de tratamento e o aumento da proliferação de microalgas e cianobactérias. Este aumento da proliferação de florescências caracteriza-se pelo acentuado crescimento destes microrganismos na superfície da água, formando uma densa camada de células com vários centímetros de profundidade. Nestes ambientes tem sido observado um aumento do domínio de espécies de cianobactérias. Isto leva a que se observem consequentemente uma maior ocorrência de espécies de cianobactérias nas proximidades dos centros urbanos. Conhecem-se vários tipos de cianotoxinas, contudo as que apresentam maior perigosidade são as Microcitinas, Nodularinas, Anatoxinas, Cilindrospermopsinas e Saxitoxinas. As cianotoxinas trazem diferentes tipos de efeitos na saúde e podem ser classificados como hepatotóxicos, neurotóxicos, dermatotóxicos ou promotores da inibição geral da síntese de proteínas de acordo com seu mecanismo de acção. As mais conhecidas são as microcistinas e será sobre estas toxinas que incidirá este trabalho. Normalmente são encontradas em águas doces. Caracterizam-se por ser hepatotoxinas. São conhecidas 90 tipos de microscistinas com diferentes variações estruturais, onde se identificam como as mais conhecidas as Microcistina-RR (MC-RR), Microcistina-YR (MC-YR), Microcistina-LR (MC- LR) e Microcistina-LA (MC-LA) (Carneiro, 2008). Nas estações de tratamento de águas, os processos existentes não são ainda suficientes para a remoção das cianotoxinas nas águas. Por isso, tem-se apostado nas investigações relacionadas com a desinfecção solar, visto que é um método que tem a capacidade de eliminar certos agentes patogénicos e apresenta custos reduzidos. No presente trabalho serão abordados os processos de fotólise e fotocatálise. Denomina-se de 11

fotólise, ao processo alternativo que recorre a radiação (UV) para desinfecção da água, onde se dá uma interacção irreversível da luz com a molécula causando-lhe uma destruição total ou parcial. Muito dos trabalhos de fotólise não se mostram muito aplicáveis para a remoção de microcistina nos processos de tratamento de águas. A fotocatálise heterogénea consiste na activação de um catalisador (também conhecido por semicondutor) por luz solar ou artificial. O catalisador mais frequentemente usado é o TiO 2 (dióxido de titânio) e o que será usado durante as experiências realizadas no âmbito deste trabalho. Existem dois tipos de colectores solares, o de calhas parabólicas e o outro é o conhecido colector não-concentrador, que é conhecido por ter uma temperatura mais reduzida que os outros colectores. Um dos tipos de colector de baixa concentração é o chamado colector parabólico composto CPC s, que será o utilizado neste trabalho. O objectivo geral deste trabalho é promover a desinfecção de águas contaminadas com cianobactérias utilizando um fotocatalisador e luz solar. Usar-se-á tecnologia baseada na geração fotocatalítica de radicais hidroxilo combinando a luz solar com dióxido de titânio. Os objectivos específicos são: 1. Desinfectar águas intencionalmente contaminadas com cianobactérias da espécie Microcystis aeruginosa previamente cultivadas em meio Z8 descrito por Kotai (1972). 2. Avaliar a foto-eficiência do catalisador dióxido de titânio (TiO 2 ) na eliminação de cianobactérias (Microcystis aeruginosa) e da toxina por esta produzida (microcistina-lr), utilizando uma instalação piloto com colectores parabólicos compostos em condições de radiação solar natural. 12

1.2. Estrutura e organização 1. Introdução Breve exposição dos temas da presente tese. Definição dos objectivos e estrutura da tese. 2. Cianobactérias e toxinas Definição teórica de cianobactérias e cianotoxinas, bem como exposição dos problemas ambientais, humanos e nos animais causados pela problemática das cianobactérias nas águas. 3. Métodos para remover cianobactérias de água potável Exposição sobre os métodos convencionais no tratamento de águas aplicados à remoção de cianobactérias. Demonstração dos efeitos da luz solar nos microrganismos. 4. Fotólise e fotocatálise Abordagem teórica sobre os processos de desinfecção implementados nesta tese. Exemplos de alguns estudos feitos anteriormente. 5. Materiais e Métodos Apresentação dos equipamentos, metodologias e procedimento utilizados. 6. Resultados e Discussão Exposição dos resultados obtidos 7. Conclusão Exposição das conclusões do trabalho 13

2. Cianobactérias e toxinas 2.1. Cianobactérias As cianobactérias ou algas azuis ou ainda cianofíceas (do grego: cyano, azul + bacteria, bactéria) são microrganismos procariontes e autotróficos que não possuem qualquer tipo de membrana nuclear a circunscrever o seu material genético e produzem o seu próprio alimento através da fotossíntese. Crê-se que há cerca de 3,5 biliões de anos estes organismos possam ter sido os responsáveis pelo aparecimento de oxigénio na atmosfera primitiva da Terra. Podem ser encontradas tanto na forma unicelular, como em colónias de seres unicelulares, ou ainda apresentarem-se em células organizadas em forma de filamentos. Necessitam de água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz. Apresentam uma distribuição ubíqua. As cianobactérias possuem a capacidade de produzirem toxinas, denominadas cianotoxinas, podem ser classificadas de Hepatotóxicas, Neurotóxicas, Dermatotóxicas ou Promotoras da inibição da síntese de proteínas. As mais perigosas são as Microcistinas, Nodularinas, Anatoxinas, Cilindrospermopsinas e Saxitoxinas (Carneiro et al, 2007). São organismos problemáticos pois, para além de terem a capacidade de produzir grandes quantidades de biomassa ainda conseguem sintetizar outras substâncias tóxicas. Valores de ph elevados, escassez de dióxido de carbono dissolvido e elevada quantidade de fósforo são factores favoráveis à produção de biomassa de cianobactérias e de algas. Conhecem-se espécies capazes de sobreviver longos períodos na escuridão em ambiente natural. São frequentemente os primeiros organismos a colonizar áreas básicas das rochas e dos solos. Ao nível da reprodução são assexuadas. Algumas cianobactérias apresentam uma capacidade distinta para a nutrição heterotrófica. Há registos de cianobactérias muito pequenas (0,2 2 µm), tendo sido reconhecida como uma fonte potencial significativa na produção primária, em vários ambientes aquáticos. A morfologia básica das cianobactérias compreende formas unicelulares, coloniais e multicelulares filamentosas, podendo estas serem ou não ramificadas e portadoras ou não de células especializadas, os heterocistos. (Mur et al. (1999)). Actualmente, encontram-se identificados cerca de 150 géneros de cianobactérias englobando perto de 2000 espécies, de entre as quais pelo menos 40 são consideradas como produtoras de toxinas as cianotoxinas. Quando se reúnem condições tais como, ambientes de água doce, salgada ou salobra, em que o ph se situe entre os valores de 6 e 9 pois a maioria das espécies apresenta um melhor crescimento em águas neutro alcalinas, temperatura entre 15:C a 30 :C, elevadas concentrações de nutrientes principalmente azoto e fósforo e condições estáveis, as cianobactérias podem crescer excessivamente 14

e formar florescências. Em reservatórios de água para a produção de água para consumo humano as florescências originam muitos problemas para o abastecimento de água potável. No entanto, as crescentes preocupações relacionadas com as cianobactérias devem-se ao facto de estas produzirem toxinas (Codd, 2000); (Veiga, 2008). Em Portugal não existem referências directas de casos de toxicidade de cianobactérias em termos humanos. Apesar de ocorrerem mortes de peixes em grande massa, não está provado que seja devido a cianotoxinas. Mas apesar de não haver esse registo sabe-se que há uma ligação com as toxinas das cianobactérias. (Vasconcelos, 1995). Na figura 1 é representada a qualidade da água em função da abundância máxima de cianobactérias nas águas doces portuguesas (Vasconcelos, 1995). Figura 1. Carta de qualidade da água em função da abundância máxima de cianobactérias em águas doces portuguesas (Vasconcelos, 1995) 15

2.2. Toxinas produzidas por Cianobactérias As cianobactérias são conhecidas por ter uma grande capacidade de produzirem gosto e odor desagradáveis à água, além de potentes toxinas (Carneiro et al, 2008). Sendo a água contaminada o principal meio de exposição do ser humano às cianotoxinas. A estas toxinas dá-se o nome de cianotoxinas. Os géneros de cianobatérias mais conhecidos intitulam-se de Microcystis, Anabaena, Cylindrospermopsis, Oscillatoria, Planktothrix e Aphanocapsa, sendo as mais perigosas as Microcistinas, Nodularinas, Anatoxinas, Cilindrospermopsinas e Saxitoxinas, visto serem substâncias que quando ingeridas ou simplesmente, o contacto com a água contaminada, produzem efeitos nefastos nos seres vivos terrestres, aquáticos e humanos. Uma determinada estirpe de cianobactérias pode produzir mais que uma variante de cianotoxina, contudo nem todas as cianobactérias produzem cianotoxinas e nem todas são tóxicas (Fernandes, 2008). As cianotoxinas podem ter diversos tipos de efeitos na saúde e podem ser classificados por, hepatotóxicos, neurotóxicos, dermatotóxicos ou promotores da inibição geral da síntese de proteínas, de acordo com seu mecanismo de acção (Campinas et al, 2002); (Carneiro et al, 2008). Segundo as suas estruturas químicas, as toxinas de cianobactérias são classificadas como alcalóides, peptídeos cíclicos ou Lipopolissacarídeos, com pesos moleculares que variam entre 165 e 1000 (Campinas et al, 2002); (Carneiro et al, 2008). O crescimento e produção de cianobactérias são directamente afectados pelas condições ambientais, tais como a idade das culturas, temperatura, luz, nutrientes, salinidade, ph e concentrações de micronutrientes. A maioria das toxinas é produzida sob condições que são favoráveis ao seu crescimento. Por exemplo, Planktothrix é um género de cianobactérias que prefere baixas intensidades de luz para o crescimento, Anabaena moderadas e Aphanizomenon elevadas intensidades de luz (Sivonen et al, 1999). 2.2.1. Microcistinas As cianotoxinas mais conhecidas são as microscistinas, que normalmente são encontradas em águas doces. Caracterizam-se por ser hepatotoxinas e também peptídeos cíclicos formados por sete aminoácidos (heptapeptídeos cíclicos) de pesos moleculares (PM s) entre 800 e 1100. São conhecidas 90 tipos de microscistinas com diferentes variações estruturais, onde se identificam como as mais conhecidas as Microcistina-RR (MC-RR), Microcistina-YR (MC-YR), Microcistina-LR (MC-LR) e Microcistina-LA (MC-LA) (Sivoneon et al, 1999), (Carneiro et al, 2008). 16

É na fase exponencial de crescimento que a quantidade de microcistina aumenta, contudo a libertação para a água de toxinas dissolvidas dá-se mais na fase de velhice, morte ou lise das células, apesar de também poder haver morte ou lise durante a fase exponencial de crescimento (Sivonen et al, 1999). Figura 2. Microcystis aeruginosa Fonte: http://www-cyanosite.bio.purdue.edu/images/images.html Consultado em: 2/07/2010. 2.2.2. Neurotoxinas, Hepatoxinas, Dermotoxinas e Citotoxinas As cianotoxinas podem classificar-se, de acordo com a sua toxicidade nos mamíferos, em neurotoxinas, hepatotoxinas e dermotoxinas. As Neurotoxinas apresentam um elevado grau de toxicidade e estruturalmente são classificadas como alcalóides. O seu alvo é o sistema neuromuscular, visto que interferem nos neurónios e nas células musculares (Vasconcelos, 1995). São conhecidas a saxitoxina, a anatoxina-a e as anatoxina-a(s). A saxitoxina actua ao nível dos canais de sódio dos axónios, bloqueando-os e impedindo a propagação do impulso nervoso (Andrade, 2007). As anatoxinas agem sobre a fenda sináptica. A anatoxina-a simula a acetilcolina, ligando-se ao seu receptor (Andrade, 2007), que provocam a despolarização duradoura que resulta em bloqueio da ligação neuro-muscular e consequente relaxamento (Fernandes, 2008). A anatoxina-a, interfere com o funcionamento do sistema nervoso o que leva à morte em poucos minutos devido à paralisia dos músculos respiratórios. (Campinas et al., 2002). A anatoxina-a(s) inibe a acção da acetilcolinesterase, impedindo a degradação da acetilcolina. (Andrade, 2007). Apresenta uma sintomatologia que provoca 17

salivação (Fernandes, 2008). Nas duas resulta duma grande estimulação muscular que leva até à fadiga e posterior paralisação. As mortes resultam da paragem respiratória e/ou cardíaca. As hepatotoxinas são péptidos cíclicos, que actuam por inibição das fosfatases proteicas PP1 e PP2. São hidrofílicas, pois não atravessam as membranas celulares, sendo assim transferidas para o fígado através de transportadores iónicos presentes nos canais biliares e no intestino delgado, onde provocam atrofio sobre a estrutura dos hepatócitos, impedindo o contacto entre eles e levando a que ocorram hemorragias que fazem aumentar o peso do fígado e que poderão ser fatais (Fernandes, 2008) e têm como órgão alvo o fígado, órgão no qual provoca, destruição interna levando a uma situação extrema, à hemorragia intra-hepática, choque hipovolémico e morte. A sua produção foi detectada em Microcystis, Anabaena, Nodularia, Nostoc, Oscillatoria e Cylindrospermopsis (Andrade, 2007). As dermotoxinas são lipopolissacarideos existentes na membrana externa da parede celular das cianobactérias. Basta um simples contacto com a pele ou com as mucosas corporais para que se desenvolva uma reacção alérgica. As dermotoxinas apresentam uma produção ubíqua dentro das cianobactérias, contudo, o seu grau de toxicidade não é tão elevado como o de outros lipopolissacáridos, desaparecendo os sintomas se o contacto for cessado. (Andrade, 2007) As citotoxinas inibem a síntese proteica causando alterações citológicas essencialmente no fígado, podendo também atingir o baço, os rins, os pulmões e coração. (Fernandes, 2008). 2.3. Ambiente O ser humano tem grande necessidade de usar os recursos hídricos para diversas actividades, tais como abastecimento público, indústria, agricultura, rega, navegação, recreio, entre outras. Apesar destas actividades dependeram geograficamente da localização onde estão inseridas, todas elas provocam danos na qualidade dos recursos hídricos. Estas actividades antropogénicas causam contaminação da água com impactos que aceleram os processos de eutrofização, que provoca um enriquecimento artificial dos ecossistemas através do aumento das concentrações de nutrientes na água, principalmente compostos nitrogenados e fosfatados, aliados a um aumento de temperatura, que resultam num aumento dos processos naturais da produção biológica em rios, lagos, e albufeiras. As descargas de esgoto doméstico e industrial dos centros urbanos e das regiões onde predomina a agricultura, tal como o uso intenso de fertilizantes são as principais fontes de eutrofização dos recursos hídricos. Algumas das consequências da eutrofização artificial é a redução do oxigénio 18

dissolvido, a perda de biodiversidade aquática, a morte de várias espécies de peixes, aumento dos custos de tratamento e o aumento da proliferação de microalgas e cianobactérias. (Veiga, 2008) Estes aumentos das florescências de cianobactérias caracterizam-se pelo acentuado crescimento destes microrganismos na superfície da água, formando uma densa camada de células com vários centímetros de profundidade. Nestes ambientes tem sido observado um aumento do domínio de espécies de cianobactérias. Isto leva a que se observem consequentemente uma maior ocorrência de espécies de cianobactérias nas proximidades dos centros urbanos (Azevedo et al., 1994). Figura 3. Florescência de cianobactérias Fonte: http://www.medonline.com.br/med_ed/med3/fig6.jpg Consultado em: 1/07/2010 A formação de camadas de células na superfície da água dificulta as trocas de ar, altera a viscosidade do meio, faz com que haja uma diminuição da zona eufótica, altera o odor e o sabor da água e ainda pode provocar situações de anóxia, devido à morte massiva das cianobactérias, contudo existem outros factores que podem provocar situações de anóxia (Fernandes, 2008). 19

2.4. Saúde Pública As toxinas das cianobactérias libertam-se das células e logo se difundem nas águas dos rios e dos lagos com a ajuda das fortes correntes e da acção do vento. Só recentemente é que se identificaram os riscos associados a cianobactérias tóxicas nas águas destinadas à produção de água para consumo humano, sendo ainda um grande desafio a sua remoção nos tratamentos de água. A monitorização das cianobactérias e cianotoxinas é uma prática pouco comum em muitos países; contudo quando estas são detectadas devem ser tomadas medidas de controlo ao longo dos pontos críticos do sistema de abastecimento da água. Uma das prioridades na avaliação da eficiência dos sistemas de tratamento de água é a remoção de cianotoxinas. (Veiga, 2008) Normalmente o consumo de toxinas de cianobactérias em águas de abastecimento deve-se ao desconhecimento da presença destas. Contudo, ainda há casos em que existe deficiência na operação dos sistemas de tratamento da água. A ocorrência de intoxicações agudas por microcistina apresenta uma grande dispersão geográfica. Foram assim já descritas intoxicações causadas por cianobactérias em países como Austrália, Inglaterra, China e África do Sul. No Brasil foi registado em 1988, o caso em que 200 pessoas foram intoxicadas pelo consumo de água de um reservatório em Itaparica (Bahia), nas quais 88 pessoas morreram (Kuiper-Goodman et al., 1999). Contudo só em 1996 é que foi confirmado o primeiro caso de mortes humanas relacionadas com cianotoxinas, quando 123 pacientes renais crónicos que foram submetidos a sessões de hemodiálise numa clínica brasileira da cidade de Caruaru, passaram a apresentar um quadro clínico compatível com uma grave hepatotoxicose. Desses, 54 pacientes vieram a falecer até 5 meses após o início dos sintomas. As análises confirmaram a presença de microcistina e cilindrospermopsina, no carvão activado utilizado no sistema de purificação de água da clínica, e de microcistina em amostras de sangue e fígado dos pacientes intoxicados. Além disso, as contagens das amostras do fitoplâncton do reservatório que abastecia a cidade demonstraram uma dominância de géneros de cianobactérias comummente relacionados com a produção de cianotoxinas (Kuiper-Goodman et al., 1999). Foram detectadas ainda outras evidências que levam a crer que a exposição a microcistina provocaram doenças em seres humanos, tal como em 1931 nos Estados Unidos da América, em que 15% da população apresentou gastroenterite aguda durante 2 semanas após a ingestão de água contaminada com microcistinas após tratamento deficitário. Esta mesma toxina causou também pneumonia, dores de cabeça, dores abdominais, vómitos e diarreia em soldados ingleses que treinaram em águas contaminadas (Kuiper-Goodman et al., 1999). 20