DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS EM UM BAIRRO NA CIDADE DE BAURU, SP, BRASIL: ADEQUABILIDADE EM FUNÇÃO DO PORTE



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Transcrição:

Categoria Trabalho Acadêmico / Artigo Completo Eixo Temático Planejamento e Gestão das Florestas Urbanas DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS EM UM BAIRRO NA CIDADE DE BAURU, SP, BRASIL: ADEQUABILIDADE EM FUNÇÃO DO PORTE Gerbasi., M.B.¹; Luqueze,F. O¹, Fassio, R. C¹, Dominiquini, R.¹, Pires, E. F. 2, Fontes, M. S. G. de C 2, ¹ Graduando, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP). mb.gerbasi@gmail.com; feoluque@gmail.com; renata_fassio@hotmail.com; raeldominiquini@hotmail.com 2 Prof. Dr, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Docente. emilia@faac.unesp.br; sgfontes@faac.unesp.br RESUMO A busca pela qualidade ambiental urbana tem contribuído para o desenvolvimento de ferramentas de avaliação do espaço urbano, com o fim de criar subsídios de intervenção e de planejamento. Neste contexto, se insere a avaliação da arborização, uma vez que desempenha funções importantes no espaço urbano. Este trabalho busca contribuir para essa questão com o diagnóstico de alguns aspectos da arborização de vias em um bairro de Bauru-SP. A metodologia adotada foi o inventário quali quantitativo das espécies seguido do diagnóstico (que avalia a compatibilidade entre porte, presença da rede de energia e largura das calçadas). Os resultados permitiram classificar a adequação/inadequação das espécies, sendo que 34,5% foram consideradas inadequadas (15,5% na relação calçada/porte e 19% na relação rede de energia/porte). Os resultados evidenciam a necessidade de um plano de arborização para o bairro, de modo a auxiliar o manejo e o plantio de novos indivíduos. PALAVRAS CHAVE: arborização urbana, planejamento arbóreo, qualidade ambiental.

ABSTRACT The quest for urban environmental quality has contributed to the development of urban space assessment tools in order to create subsidies to urban planning. In this context includes the assessment of urban trees, as it plays important role in urban space. This paper seeks to contribute to this issue and it shows a diagnosing the trees in a neighborhood of Bauru-SP. The method was qualitative quantitative inventory of the species and a diagnosis based on the relationship between size, power wiring of low voltage and sidewalk s width. The results allowed to classify the adequacy/inadequacy of the arboreal species, in which 34.5% were considered inadequate (15.5% on the sidewalk/size ratio and 19% in relation wiring/size). The results highlight the need for a neighborhood urban trees plan to assist the management and the planting of new individuals. KEY-WORDS: urban trees, arboreal planning, environmental quality. 1. INTRODUÇÃO Os primeiros registros de emprego de arborização em área urbana vem de Antuérpia, Bélgica, sob uma determinação do conselho municipal de 1578 para o plantio de três linhas de árvores junto as fortificações da cidade. Anterior a essa determinação, a catedral da cidade já contava com uma área arborizada em uma das suas laterais (SEGAWA, 1996). Em fins do século XVI e início do XVII surgem diversos boulevards parisienses compostos por filas de arbóreas. Desde esse período até o século XIX a prática do plantio de árvores em área urbana era justificada pelo prazer do passeio ao ar livre. Mais tarde, no século XIX, a arborização passa a ser valorizada também por influência das ideias de algumas correntes do Movimento Higienista, que atribuíam a vegetação importância para a salubridade do meio. No contexto das cidades contemporâneas, a arborização, além de proporcionar prazer, é importante por mitigar alguns desequilíbrios ambientais em função dos seus efeitos positivos no meio urbano e consequentemente na qualidade de vida da população. De acordo com Bueno Sousa (2009), a arborização urbana é o conjunto ou sistema dos espaços verdes de uma cidade: as praças (quando com vegetação), os jardins públicos, os parques urbanos e a arborização viária.

Este trabalho tem como foco específico a arborização viária, escolhida pelos benefícios que dissemina por todo ambiente urbano, e por ser responsável pela estruturação de um continuun verde que conecta e expande os atributos de áreas de preservação, parques e praças arborizadas por toda a cidade. Muitos autores têm demonstrado os benefícios da arborização. Robinette (1972), por exemplo, mostra exemplos das funções ambientais das plantas, tais como o controle da radiação solar, do vento, da precipitação, da temperatura e outros. Wilmers (1988) aponta que as áreas verdes podem diminuir dois grandes problemas do clima urbano: a ilha de calor e a poluição. Bueno-Bartholomei (2003); Paiva (2006); Falcón (2007); Takamune & Fontes (2013); Giacomelli (2013), entre outros, também mostram benefícios da vegetação em relação à influência microclimática. De acordo com Falcón (2007), a umidade relativa de ruas com árvores é até 10% maior do que as ruas não arborizadas. Este fato ocorre devido à evapotranspiração das árvores, que gera umidade e absorve calor. Para além dos benefícios para o microclima, a arborização viária contribui como fonte de alimentação da avifauna, ampliando a diversidade de espécies (que normalmente se restringe a pardais, pombas e rolinhas), e na disseminação de sementes. Apesar do reconhecimento dos benefícios da arborização, a falta de planejamento por parte do poder público e o desconhecimento da população sobre o assunto, resulta no emprego frequente de espécies inadequadas. Não obstante, a partir do emprego inadequado de determinadas espécies surgem problemas como interferência com a rede de energia elétrica e insegurança para o trânsito de pessoas nos passeios (pela queda de frutos e flores e/ou pelo estrago das calçadas ocasionado por raízes superficiais e agressivas, por exemplo). Segundo Galvão et al. (2009), esses problemas têm contribuído para diminuição de implementação de árvores no ambiente urbano. Considerando a necessidade crescente de melhoria da qualidade de vida e sustentabilidade urbana, é importante o incremento de áreas verdes, inclusive em vias públicas. Nesse contexto, os métodos de diagnóstico da arborização viária podem trazer subsídios valiosos para seu manejo,

mostrando quais são os problemas correntes e indicando soluções, especialmente para bairros em que o conjunto arbóreo foi formado pela iniciativa da população, sem orientação especializada. Este trabalho objetiva contribuir para essa questão ao inventariar e diagnosticar a arborização de ruas em um bairro da área urbana do município de Bauru-SP (Figura 1). A pesquisa visa contribuir para um projeto mais amplo, de Extensão Universitária, intitulado Bairro verde, que tem como meta principal o incentivo a arborização de diversos bairros da cidade. Figura 1 : Localização de Bauru no Estado de São Paulo. Fonte: <http://www.bauru.sp.gov.br/cidade/dados_geograficos.aspx> [Acessado em: 20 de julho de 2014] 2. MATERIAIS E MÉTODOS O método utilizado na pesquisa foi o levantamento quali quantitativo das espécies arbóreas, considerando todos os indivíduos presentes na área, e não apenas uma amostragem. O bairro selecionado foi o Jardim Panorama (Figura

2), em Bauru (Lat. 22 18 54 S e Long. 49 03 39 O), cidade de porte médio (de 362.062 hab.) localizada no Centro Oeste Paulista. Figura 2: Vista aérea do bairro Jardim Panorama (Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1589155) [Acessado em: 20 de julho de 2014] O clima local é do tipo Aw - clima tropical com verão marcado pelas altas temperaturas e chuvas e inverno ameno e seco, de acordo com classificação climática de Köppen. A temperatura média anual é em torno 22,52 C, sendo que a temperatura média do mês mais quente é 24,98 C (Fevereiro) e do mês mais frio é 19,32 C (Junho), segundo dados climáticos históricos extraídos do site do IPMet-Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Universidade Estadual Paulista em Bauru (www.ipmet.unesp.br). A Lei de Zoneamento Urbano de Bauru (Lei 2339/82, de 15 de fevereiro de 1982) situa o bairro Jardim Panorama entre as zonas, ZR2 (Zona Estritamente Residencial) e ZS (Zona Predominantemente de Serviços). Trata-se de um bairro relativamente novo, uma vez que seu loteamento ocorreu entre os anos 1970-1979. Na época de sua formação, o bairro foi dividido em 388 lotes e a porcentagem destinada a praças e áreas verdes foi de 10%, segundo Constantino e Rigitano (1999). O trabalho teve início com a catalogação das espécies existentes além do registro da largura das calçadas e posicionamento da rede elétrica de baixa tensão.

A catalogação foi feita tendo por base o mapa cadastral, cedido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Bauru (SEMMA), com a localização de cada árvore nas quadras. Percorreu-se as 36 ruas do bairro e cada indivíduo arbóreo, presente no mapa, recebeu um número para que fosse possível relacioná-lo a outros dados (registros fotográficos mostrando sua estrutura geral, tipo de folhas, sementes e frutos - se disponíveis, e informações sobre seu tamanho). A largura das calçadas e existência de posteamento de energia também foram acrescidos no mapa. Posteriormente, identificou-se as espécies (através dos registros de sua estrutura, características da folhagem, sementes e frutos) utilizando-se os manuais de Lorenzi (2002) e Lorenzi et al. (2003). Com a organização dos dados em forma de tabela (contendo nome popular, nome científico, família, quantidade de indivíduos, e principalmente, porte), foi possível relacionar as informações sobre cada indivíduo com sua posição no mapa e avaliá-los como adequados ou inadequados para sua localização. Além desses levantamentos, também foi estudada a legislação local, como a Lei de arborização 4368 e a Lei de Zoneamento de Bauru. A lei de arborização urbana de Bauru é datada em 1999 e é, portanto, posterior a criação do bairro Jardim Panorama. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos levantamentos de campo foi identificada a existência de uma quantidade significativa de árvores. Contudo, parte dessa arborização tem problemas quanto à adequação em função da relação calçada/porte, relação fiação/porte e sob os dois aspectos. O inventário e a análise dessa adequabilidade são apresentados a seguir. 3.1. INVENTÁRIO Os levantamentos de campo permitiram identificar a existência de 573 espécies arbustivas e arbóreas, plantadas em calçadas com dimensões entre 2,4 metros a 2,9 metros de largura. A Tabela 1 apresenta a classificação das espécies encontradas a partir do nome popular, científico, família porte,

quantidade e frequência da espécie. Os resultados mostram predominância das espécies Licania tomentosa (29,14%); Lagerstroemia indica (10,99%); Tibouchina granulosa (10,47%) e Murraya paniculata (8,73%). A espécie predominante Licania tomentosa, conhecida popularmente como Oiti, possui porte médio, apresenta crescimento rápido e copa frondosa e, por isso, tem sido largamente usada na arborização urbana de Bauru. De acordo com Ferreira et al. (2001), o uso em grande escala desta espécie deve ser evitado, devido a sua suscetibilidade para desenvolver uma doença causada por um tipo de fungo. A segunda espécie mais utilizada, Resedá (Lagerstroemia indica), é uma árvore de porte pequeno, com floração de cor intensa, sendo adequada para uso paisagístico, em composições de parques e jardins e para arborização de ruas. A Falsa-murta (Murraya paniculata), outra espécie que aparece com frequência no levantamento, é na verdade uma arbustiva conduzida como arbórea, largamente utilizada em calçadas em diversas cidades brasileiras (LORENZI, et al; op. cit.). Já a Quaresmeira (Tibouchina granulosa), segundo Lorenzi (op. cit.) é uma árvore nativa do Brasil e, por seu porte, é indicada para paisagismo e arborização de ruas sob redes de fiação elétrica aérea. Verifica-se que a população arbórea, não foi planejada, uma vez que as quatro espécies citadas acima representam 59,33% do total de indivíduos encontrados (Figura 3). Foram encontradas outras 19 espécies com apenas um ou dois indivíduos.

Nome popular Nome científico Família Porte Quant. Freq.(%) Oiti Licania tomentosa Chrysobalanaceae Médio 167 29,14% Resedá Lagerstroemia indica Lythraceae Pequeno 63 10,99% Falsa-murta Murraya paniculata Rutaceae Pequeno 50 8,73% Quaresmeira Tibouchina granulosa Melastomataceae Médio 60 10,47% Salgueiro chorão Salix x pendulina Salicaceae Médio 27 4,71% Caesalpinia Sibipiruna peltophoroides Fabaceae Grande 19 3,32% Nectandra megapotamica Lauraceae Médio 14 2,44% Canelinha Escova de garrafa Callistemon spp Myrtaceae Pequeno 9 1,57% Munguba/ cacau selvagem Pachira aquatica Bombacaceae Grande 8 1,40% Jerivá Syagrus romanzoffiana Arecaceae Grande 8 1,40% Chapéu de sol Terminalia catappa Combretaceae Grande 8 1,40% Pata de vaca Bauhinia blakeana Fabaceae Médio 8 1,40% Flamboyant Delonix regia Fabaceae Grande 7 1,22% Canela branca Nectandra membranacea Lauraceae Grande 7 1,22% Ipê branco Tabebuia roseo-alba Bignoniaceae Grande 7 1,22% Língua de sogra Albizia lebbeck Leguminosae Médio 5 0,87% Pinheiro de buda Podocarpus macrophyllus Podocarpaceae Médio 5 0,87% Caesalpinia Flamboyanzinho pulcherrima Fabaceae Pequeno 4 0,70% Falso barbatimão Cassia leptophylla Leguminosae Médio 3 0,52% Mussaenda erythrophylla Rubiaceae Pequeno 3 0,52% Mussaenda vermelha Pingo de ouro Duranta erecta aurea Verbenaceae Pequeno 3 0,52% Nêspereira Eriobotrya japonica Rosaceae Pequeno 3 0,52% Mussenda rosa Mussaenda alicia Rubiaceae Pequeno 2 0,35% Ipê amarelo da selva Tabebuia alba Bignoniaceae Grande 2 0,35% Ipê roxo Tabebuia avellanedae Bignoniaceae Grande 2 0,35% Espirradeira Nerium oleander Apocynaceae Pequeno 2 0,35% Tília americana Tília americana Tiliaceae Grande 2 0,35% Alfarrobeira Ceratonia siliqua Fabaceae Grande 2 0,35% Árvore guarda-chuva Schefflera actinophylla Araliaceae Médio 1 0,17% Ipê rosa Tabebuia heptaphylla Bignoniaceae Grande 1 0,17% Areca bambu Dypsis lutescens Arecaceae Médio 1 0,17% Tulipeira Spathodea campanulata Bignoniaceae Grande 1 0,17% Cipreste italiano Cupressus sempervirens Cupressaceae Grande 1 0,17% Laranjeira Citrus sinensis Rutaceae Médio 1 0,17% Acerola Malpighia emarginata Malpighiaceae Pequeno 1 0,17% Euphorbia leucocephala Euphorbiaceae Pequeno 1 0,17% Cabeleira de velho Rosa Rosa x grandiflora Rosaceae Pequeno 1 0,17% Alfeneiro Ligustrum lucidum Oleaceae Médio 1 0,17% Hibisco Hibiscus rosa-sinensis Malvaceae Pequeno 1 0,17% Chuva de ouro Cassia fistula Fabaceae Médio 1 0,17% Mamoeiro Carica papaya Caricaceae Médio 1 0,17% Espécie não reconhecida 60 10,47% Total 573 100,00% Tabela 1: Espécies de maior frequência nas vias públicas do Bairro Jardim Panorama, na cidade de Bauru, SP.

Figura 3: Porcentagem das espécies de maior frequência nas vias públicas do Bairro Jardim Panorama, na cidade de Bauru, SP. 3.2. ADEQUABILIDADE EM RELAÇÃO À CALÇADA LARGURA E SUPORTE À REDE ELÉTRICA A análise da adequabilidade da população arbórea levou em consideração o porte e sua relação com largura das calçadas e o suporte à rede elétrica (fiação de baixa tensão). A quadra de número 22 (Figura 4), localizada entre as ruas Ponciano Ferreira de Menezes, Benedito Moreira Pinto, Nelson Yoshiura e Abrahão Rahal, foi utilizada como modelo para exemplificação do método visual de análise. De acordo com a figura 2, é clara a visualização da adequação/inadequação do porte em relação à fiação elétrica. N Figura 4: Detalhe do mapa com a localização das arbóreas.

Os indivíduos de porte médio e pequeno são predominantes e representam 40,7% e 43,8% do total, respectivamente; apenas 15,5% das árvores encontradas são de grande porte (Figura 5 e Figura 6). Segundo o Manual Técnico de Arborização Urbana, da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura da Cidade de São Paulo (2005), para o plantio de árvores em vias públicas, os passeios deverão ter a largura mínima de 2,40m em locais onde não é obrigatório o recuo das edificações em relação ao alinhamento, e de 1,50m nos locais onde o recuo for obrigatório. Assim, o bairro se encontra de acordo com essas recomendações, considerando que a largura mínima encontrada nas calçadas foi de 2,40m. Como a largura máxima encontrada foi de 2,90m, o plantio de árvores de grande porte é inadequado, já que estas são indicadas apenas para calçadas com largura superior a 3,00m, e que não apresentem rede elétrica aérea ou subterrânea (PIVETTA e SILVA FILHO, 2002). Segundo Pivetta e Silva Filho (op. cit.) a rede de energia elétrica aérea deve ser implantada, preferencialmente, nas calçadas oeste e norte e, sob elas, árvores de pequeno porte e nas calçadas leste e sul, árvores de porte médio, portanto 46,7% dos indivíduos de médio porte se encontram em estado inadequado por estarem sob a rede elétrica. Unindo os aspectos analisados em relação à adequabilidade geral, 65,6% são adequadas e atendem as normas e especificações dos órgãos que regulamentam o planejamento da arborização urbana. Entretanto, existe uma porcentagem significativa de inadequação (34,5%), que evidencia a falta de planejamento. A identificação das espécies inadequadas poderá servir de guia para manejo da arborização, de modo que, havendo necessidade de serem removidas possam ser substituídas por outras de espécies adequadas.

Figura 5: Mapa do Bairro Jardim Panorama, na cidade de Bauru, SP, com a locação das árvores encontradas nas vias públicas, e seus respectivos portes. N

Figura 6: Frequência de portes arbóreos no Bairro Jardim Panorama, da cidade de Bauru, SP. 4. CONCLUSÃO Os resultados obtidos evidenciam que a falta de planejamento compromete a qualidade da arborização do bairro. Os problemas relacionados à inadequação em função do porte comprometem a acessibilidade das calçadas, entre outros problemas não abordados neste trabalho. Logo, existe a necessidade de um plano de arborização do bairro, para auxilio no manejo e plantio de novos indivíduos, para execução a curto, médio e longo prazos. A partir da contribuição deste trabalho, esse plano deve contar com o apoio dos moradores do bairro, dentro de um processo de planejamento participativo. Etapa que será seguida dentro do projeto maior intitulado Bairro verde. A metodologia utilizada neste trabalho servirá, ainda, de base para levantamentos quali quantitativos da arborização de outros bairros da cidade de Bauru e também poderá contribuir para o desenvolvimento de estudos similares no país.

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUENO SOUSA, M. A. de L. Maximização das funções ecológicas, ambientais e estéticas das árvores no planejamento da arborização urbana. In: workshop sobre Arborização Urbana Vale do Ribeira, 1. Registro: UNESP, 2009. BUENO-BARTHOLOMEI, C. L. Influência da vegetação no conforto térmico urbano e no ambiente construído. Tese (doutorado). Universidade Estadual de Campinas, SP, 2003. CONSTANTINO, N.R.T., RIGITANO, M.H. Contribuição ao Estudo da Paisagem Urbana de Bauru. V SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO Cidades: temporalidades em confronto - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 1998. FALCÓN, A. Espacios verdes para uma ciudad sostenible. Planificatión, proyecto, mantenimieto y gestión. Barcelona: Editora Pili, 2007 FERREIRA, F.A., GASPAROTTO, L., LIMA, M.I.P.M. Uma ferrugem, causada por Phakopsora tomentosae sp. nov, em Manaus-AM. Fitopatologia brasileira, v.26, n.2, 2001. GALVÃO, J., MARTINS, M. e BRITO, J. Análise da compatibilização da arborização com os equipamentos urbanos no centro de Timon - MA. IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica, Belém, 2009. Disponível em: http://connepi2009.ifpa. edu.br/ connepi-anais/artigos/47_2769_ 332.pdf. [Acesso em 10 junho 2014]. GIACOMELI, D. C. Caracterização da arborização viária e sua influência no microclima urbano na escala do pedestre. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2013. LORENZI, H.; SOUZA, H.M. de; TORRES, M.A.V.; BACHER, L.B. Árvores Exóticas no Brasil: madeiras, ornamentais e aromáticas. 1.ed. Nova Odessa: Platarum, 2003.

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