OS DIREITOS CULTURAIS. Declaração de Friburgo



Documentos relacionados
Declaração de Pequim adotada pela Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres: Ação para Igualdade, Desenvolvimento e Paz (1995)

DECLARAÇÃO FINAL Quebec, 21 de setembro de 1997

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

UNESCO Brasilia Office Representação no Brasil Declaração sobre as Responsabilidades das Gerações Presentes em Relação às Gerações Futuras

CUMPRIMENTO DOS PRINCIPIOS DE BOM GOVERNO DAS EMPRESAS DO SEE

Destacando que a responsabilidade primordial e o dever de promover e proteger os direitos humanos, e as liberdades fundamentais incumbem ao Estado,

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL

Educação para a Cidadania linhas orientadoras

Carta Internacional da Educação Física e do Esporte da UNESCO

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA REDAÇÃO FINAL PROJETO DE LEI Nº D, DE O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Declaração de Brasília sobre Trabalho Infantil

PROTEÇÃO DOS BENS AMBIENTAIS: PELA CRIAÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (OME). Brasília, 20/04/2012 Sandra Cureau

CLT.2002/WS/9 DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL

49 o CONSELHO DIRETOR 61 a SESSÃO DO COMITÊ REGIONAL

ORIENTAÇÃO PARA CONSTITUIÇÃO DE COOPERATIVAS

POLÍTICAS DE GESTÃO PROCESSO DE SUSTENTABILIDADE

Fórum Social Mundial Memória FSM memoriafsm.org

Declaração de Brighton sobre Mulheres e Desporto

Promover um ambiente de trabalho inclusivo que ofereça igualdade de oportunidades;

PROJETO de Documento síntese

Carta do Conselho da Europa sobre a Educação para a Cidadania Democrática e a Educação para os Direitos Humanos

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA JUVENTUDE SOCIALISTA AÇORES

Declaração sobre meio ambiente e desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992)

Princípios de Manila Sobre Responsabilidade dos Intermediários

Índice Descrição Valor

1904 (XVIII). Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

(Publicada no D.O.U em 30/07/2009)

Política de Responsabilidade Corporativa. Março 2013

e construção do conhecimento em educação popular e o processo de participação em ações coletivas, tendo a cidadania como objetivo principal.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

CÓDIGO BRASILEIRO DE ÉTICA PARA ARQUIVISTAS

Convenção 187 Convenção sobre o Quadro Promocional para a Segurança e Saúde no Trabalho. A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho,

Código de Ética e de Conduta

PROPOSTA DE LEI N.º 233/XII

DECLARAÇÃO DE POLÍTICA DE DIREITOS HUMANOS DA UNILEVER

Indicadores de Rendimento do Voluntariado Corporativo

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ELETROBRAS. Política de Responsabilidade Social das Empresas Eletrobras

NBA 10: INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE CONTAS. INTRODUÇÃO [Issai 10, Preâmbulo, e NAT]

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE

ROCK IN RIO LISBOA Princípios de desenvolvimento sustentável Declaração de propósitos e valores Política de Sustentabilidade do evento

CAPÍTULO 25 COERÊNCIA REGULATÓRIA

DIREITOS HUMANOS. Concepções, classificações e características A teoria das gerações de DDHH Fundamento dos DDHH e a dignidade Humana

Os 10 Princípios Universais do Pacto Global

Puerta Joven. Juventud, Cultura y Desarrollo A.C.

Convenção relativa à Luta contra a Discriminação no campo do Ensino

VICE-DIREÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO REGIMENTO INTERNO DA COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO

TERMO DE REFERÊNCIA SE-001/2011

DECRETO Nº 6.044, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2007.

IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA PROTECÇÃO DOS PRODUTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

(2006/C 297/02) considerando o seguinte: constatando que:

Questionário para Instituidoras

OIT DESENVOLVIMENTO DE EMPRESA SOCIAL: UMA LISTA DE FERRAMENTAS E RECURSOS

Serviços de Saúde do Trabalho

INSTITUTO LOGODATA DE PESQUISA HUMANA E TECNOLOGICA

Política Ambiental janeiro 2010

A MULHER E OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

APRESENTAÇÃO. Sistema de Gestão Ambiental - SGA & Certificação ISO SGA & ISO UMA VISÃO GERAL

JORNAL OFICIAL. Sumário REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA. Quarta-feira, 2 de julho de Série. Número 99

Declaração de Santa Cruz de la Sierra

CONVENÇÃO (111) SOBRE A DISCRIMINAÇÃO EM MATÉRIA DE EMPREGO E PROFISSÃO* A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho,

Cidadania Europeia. Debate Ser e Estar na Europa, Pintainho, Janeiro 2009

Segurança e Saúde dos Trabalhadores

Tendo em vista a resolução sobre a eliminação do trabalho infantil adotada pela Conferência Internacinal do Trabalho, em sua 83 a Reunião, em 1996;

PLANO TECNOLÓGICO DE EDUCAÇÃO. Artigo 1.º

CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE OS DIREITOS DO HOMEM Viena, de Junho de 1993

Estatuto do Fórum Internacional de Plataformas Nacionais de ONGs

1. Direitos das pessoas com Autismo e suas famílias. Beatriz Valério Direito da Família e Sucessões

Texto Final. Projeto de Lei n.º 68/XII (1.ª) (PSD e CDS-PP) Lei de Bases da Economia Social

Lei n.º 133/99 de 28 de Agosto

I Seminário Nacional de Controle Social A sociedade no acompanhamento da gestão pública Brasília, 25, 26 e 27 de Set/2009

DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO

EIOPA(BoS(13/164 PT. Orientações relativas ao tratamento de reclamações por mediadores de seguros

O que são Direitos Humanos?

UNIVERSIDADE LIVRE DO MEIO AMBIENTE

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

Código de Ética do IBCO

DECRETO Nº 6.617, DE 23 DE OUTUBRO DE

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

MMX - Controladas e Coligadas

PROPOSTA DE REVISÃO CURRICULAR APRESENTADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA POSIÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL

Exemplos de políticas de compra responsável para produtos florestais. Exemplo 1

Estratégias e programas para a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada


POLÍTICA DE SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E SAÚDE (SMS) Sustentabilidade

Transcrição:

OS DIREITOS CULTURAIS Declaração de Friburgo

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 2 considerandos 1 Princípios fundamentais 2 Definições Justificações Princípios e definições 3 Identidade e patrimônio culturais 4 Referências às comunidades culturais 5. Acesso e participação à vida cultural 6 Educação e formação Direitos culturais 7 Informação e comunicação 8 Cooperação cultural 9 Princípios de administração democrática 10 Inserção na economia 11. Responsabilidade dos atores públicos Implementação 12 Responsabilidade das Organizações internacionais

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 3 OS DIREITOS CULTURAIS Declaraçao de Friburgo (1) Recordando que a Declaração universal dos direitos do homem, os dois pactos internacionais das Nações Unidas, a Declaração universal da UNESCO sobre a diversidade cultural e os outros instrumentos universais e regionais pertinentes; (2) Reafirmando que os direitos do homem são universais, indivisíveis e interdependentes, e que os direitos culturais são equivalentes aos demais direitos humanos, uma expressão e uma exigência da dignidade humana; (3) Convencidos que as violações dos direitos culturais provocam tensões e conflitos de identidade sendo algumas das causas principais da violência, das guerras e do terrorismo; (4) Convencidos igualmente de que a diversidade cultural não pode ser protegida sem a efetiva implementação dos direitos culturais; (5) Considerando a necessidade de se ter em conta a dimensão cultural no conjunto dos direitos humanos atualmente reconhecidos; (6) Estimando que o respeito à diversidade e aos direitos é um fator determinante para a legitimidade e a coerência do desenvolvimento sustentável, baseado na indivisibilidade dos direitos humanos; (7) Constatando que os direitos culturais têm sido reivindicados principalmente no contexto dos direitos das minorias e das populações autóctones. e que é essencial garanti-los de maneira universal e, em particular, às pessoas mais desfavorecidas; (8) Considerando que o esclarecimento da posição dos direitos culturais no sistema dos direitos humanos, assim como a compreensão de sua natureza e das conseqüências de suas violações, são o melhor meio de impedir que eles sejam utilizados em favor de um relativismo cultural, ou como pretexto de contrapor as comunidades ou os povos, uns aos outros;

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 4 (9) Estimando que os direitos culturais enunciados na presente Declaração estão atualmente reconhecidos de maneira dispersa em grande quantidade de instrumentos relativos aos direitos humanos e que é importante reuni-los para assegurar sua visibilidade e coerência, e para favorecer sua eficácia, Apresentamos aos atores dos três setores, público (os Estados e suas instituições), civil (as Organizações não governamentais e outras associações e instituições sem fim lucrativo) e privado (as Empresas), esta Declaração dos direitos culturais, tendo em vista favorecer o seu reconhecimento e a sua implementação em nível local, nacional, regional e universal Artigo 1 (Princípios fundamentais) Os direitos enunciados na presente Declaração são essenciais à dignidade humana; constituem parte integrante dos direitos do homem, e devem ser interpretados de acordo com os princípios de universalidade, indivisibilidade e interdependência. Conseqüentemente: a. estes direitos são garantidos sem discriminação de cor, sexo, idade, língua, religião, convicção, ascendência, origem nacional ou étnica, origem ou condição social, nascimento ou qualquer outra situação segundo a qual a pessoa define a sua identidade cultural; b. ninguém deve sofrer ou ser discriminado de maneira alguma pelo fato de exercer, ou não exercer, os direitos enunciados na presente Declaração; c. ninguém pode invocar estes direitos a fim de prejudicar outro direito reconhecido na Declaração universal ou em outros instrumentos relativos aos direitos humanos; d. o exercício destes direitos não poderá sofrer outras limitações que aquelas previstas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos; nenhuma disposição da presente Declaração pode violar os direitos mais favoráveis previstos em legislação e na prática de um Estado ou do direito internacional.

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 5 e. a implementação efetiva de um direito humano implica levar em consideração sua adequação cultural no âmbito dos princípios fundamentais acima enumerados. Artigo 2 (Definições) Para os fins da presente Declaração, a. o termo "cultura" abrange os valores, as crenças, as convicções, as línguas, os conhecimentos e as artes, as tradições, as instituições e os modos de vida pelos quais uma pessoa ou um grupo de pessoas expressa sua humanidade e os significados que dá à sua existência e ao seu desenvolvimento; b. a expressão "identidade cultural" é compreendida como o conjunto de referências culturais pelo qual uma pessoa, individualmente ou em coletividade, se define, se constitui, se comunica e se propõe a ser reconhecida em sua dignidade; c. por "comunidade cultural" entende-se um grupo de pessoas que compartilha as referências constitutivas de uma identidade cultural em comum, desejando preservá-la e desenvolvê-la. Artigo 3 (Identidade e patrimônio culturais) Toda pessoa, individualmente ou em coletividade, tem direito: a. de escolher e ter respeitada sua identidade cultural, na diversidade dos seus modos de expressão; este direito exerce-se, especialmente, em conexão com as liberdades de pensamento, consciência, religião, opinião e expressão; b. de escolher e ter respeitada sua própria cultura, assim como as culturas que em suas diversidades constituem o patrimônio comum da humanidade; isso implica particularmente o direito ao conhecimento dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, valores essenciais desse patrimônio;

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 6 c. de ter acesso, particularmente pelo exercício dos direitos à educação e à informação, aos patrimônios culturais que constituem expressões das diferentes culturas bem como dos recursos para as gerações presentes e futuras. Artigo 4 (Referência às comunidades culturais) a. toda pessoa tem a liberdade de poder identificar-se, ou não, a uma ou a várias comunidades culturais, sem consideração de fronteiras, e modificar esta escolha; b. Ninguém pode ser obrigado a se identificar ou ser assimilado a uma comunidade cultural contra a sua vontade. Artigo 5 (Acesso e participação à vida cultural) a. toda pessoa, individualmente e em coletividade, tem o direito ao acesso e à livre participação da vida cultural, sem consideração de fronteiras, através das atividades de sua escolha. b. Este direito compreende particularmente: a liberdade de expressar-se, em público ou em privado, em seu idioma ou nos idiomas de sua escolha; a liberdade de exercer, conforme os direitos reconhecidos na presente Declaração, suas próprias práticas culturais e prosseguir um modo de vida associado à valorização de seus recursos culturais, particularmente no domínio da utilização, da produção e da divulgação de bens e de serviços; a liberdade de desenvolver e de compartilhar conhecimentos, expressões culturais, de conduzir pesquisas e de participar das diferentes formas de criação, bem como de seus benefícios; a proteção dos interesses morais e materiais ligados aos trabalhos que são fruto da sua atividade cultural.

Artigo 6 Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 7 (Educação e formação) No âmbito geral da educação, toda pessoa, individualmente ou em coletividade, tem o direito, ao longo de sua existência, à educação e à formação que, atendendo às suas necessidades educativas fundamentais, contribuem ao livre e pleno desenvolvimento da sua identidade cultural, com respeito aos direitos do outro e à diversidade cultural. Este direito compreende, em particular: a. o conhecimento e a aprendizagem dos direitos humanos; b. a liberdade de dar e receber um ensino em sua língua e em outras línguas, assim como um saber relativo à sua cultura e outras culturas; c. a liberdade dos pais de fazer assegurar uma educação moral e religiosa às suas crianças, em conformidade com suas próprias convicções, e no respeito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, reconhecida à criança de acordo com suas capacidades; d. a liberdade de criar, dirigir e aceder a instituições educativas diferentes daquelas dos poderes públicos, sob a condição de que as normas e os princípios internacionais reconhecidos em matéria de educação sejam respeitados e que estas instituições estejam em conformidade com as regras mínimas prescritas pelo Estado. Artigo 7 (Informação e comunicação) No âmbito geral da liberdade de expressão, inclusive artística, das liberdades de opinião e informação, do respeito à diversidade cultural, toda pessoa, individualmente ou em coletividade, tem o direito à informação livre e pluralista que contribua ao pleno desenvolvimento de sua identidade cultural com o respeito aos direitos de outrem e à diversidade cultural. Este direito, que se exerce sem considerações de fronteiras, compreende especialmente:

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 8 a. a liberdade de pesquisar, receber e transmitir informações; b. o direito de participar de uma informação pluralista, em seu idioma ou nos idiomas de sua escolha; de contribuir à sua produção ou difusão através de todas as tecnologias da informação e da comunicação; c. o direito de responder às informações errôneas sobre as culturas, respeitando os direitos enunciados na presente declaração. Artigo 8 (Cooperação cultural) Toda pessoa, individualmente ou em coletividade, tem o direito de participar, de acordo com os procedimentos democráticos: do desenvolvimento cultural das comunidades das quais ela é membro; da elaboração, implementação e avaliação das decisões que a ela se referem e que têm impacto sobre o exercício dos seus direitos culturais; do desenvolvimento da cooperação cultural em seus diferentes níveis. Artigo 9 (Princípios de administração democrática) O respeito, a proteção e a implementação dos direitos enunciados na presente Declaração implicam obrigações para toda pessoa e toda coletividade; os atores culturais dos três setores, público, privado ou civil, têm particularmente a responsabilidade, no âmbito de uma administração democrática, de interagir e, se necessário, tomar iniciativas para: a. velar pelo respeito dos direitos culturais, e desenvolver meios de consultação e participação, a fim de assegurar a realização, em especial, das pessoas mais desfavorecidas, devido à sua situação social ou por pertencer a uma minoria; b. assegurar, em particular, o exercício interativo do direito a uma informação adequada, de maneira que os direitos culturais possam

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 9 ser considerados por todos os atores na vida social, econômica e política; c. formar o seu pessoal e sensibilizar o seu público à compreensão e ao respeito ao conjunto dos direitos humanos e, particularmente, os direitos culturais; d. identificar e ter em consideração a dimensão cultural de todos os direitos humanos, a fim de enriquecer a universalidade pela diversidade e favorecer a apropriação destes direitos por qualquer pessoa, individualmente ou em coletividade. Artigo 10 (Inserção na economia) Os atores públicos, privados e civis devem, no âmbito de suas competências e suas responsabilidades específicas: a. velar para que os bens e serviços culturais, portadores de valor, de identidade e de sentido, bem como todos os outros bens, desde que tenham uma influência significativa sobre os modos de vida e outras expressões culturais, sejam concebidos, produzidos e utilizados de forma a não violar os direitos enunciados na presente Declaração; b. considerar que a compatibilidade cultural dos bens e serviços é muitas vezes determinante para as pessoas em situação desfavorável, devido à sua pobreza, seu isolamento ou de sua pertença a um grupo discriminado. c. considerar que a compatibilidade cultural dos bens e serviços é freqüentemente determinante para as pessoas em situação desfavorecida devido à sua pobreza, seu isolamento ou sua adesão a um grupo discriminado. Artigo 11 (Responsabilidade dos atores públicos) Os Estados e os diversos atores públicos devem, no âmbito das suas competências e responsabilidades específicas:

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 10 a. integrar em suas legislações e em suas práticas nacionais os direitos reconhecidos na presente Declaração; b. respeitar, proteger e realizar os direitos enunciados na presente Declaração em condições de igualdade, e empregar ao máximo os seus recursos disponíveis para assegurar seu pleno exercício; c. assegurar a toda pessoa, individualmente ou em coletividade, que alega a violação de direitos culturais, o acesso a recursos efetivos, especialmente os jurisdicionais; d. reforçar os meios de cooperação internacional necessários a esta implementação e intensificar sua interação nas organizações internacionais competentes. Artigo 12 (Responsabilidade das Organizações internacionais) As Organizações internacionais devem, no âmbito de suas competências e responsabilidades específicas: a. assegurar, no conjunto das suas atividades, que os direitos culturais e a dimensão cultural dos outros direitos humanos sejam considerados de maneira sistemática; b. velar por sua inserção coerente e progressiva em todos os instrumentos relevantes e seus mecanismos de controle; c. contribuir ao desenvolvimento de mecanismos comuns de avaliação e de controle transparentes e efetivos. Adotada em Fribourg, 7 de maio de 2007.

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 11 O grupo de trabalho denominado Grupo de Friburgo, responsável pela redação, está composto nesta data por: Taïeb Baccouche, Instituto árabe de direitos humanos e Universidade da Tunísia ; Mylène Bidault, Universidades de Paris X et de Genébra ; Marco Borghi, Universidade de Fribourg ; Claude Dalbera, consultante, Ouagadougou ; Emmanuel Decaux, Universidade de Paris II ; Mireille Delmas-Marty, Collège de France, Paris ; Yvonne Donders, Universidade de Amsterdam ; Alfred Fernandez, OIDEL, Genébra ; Pierre Imbert, exdiretor dos direitos humanos do Conselho da Europa, Estrasburgo ; Jean- Bernard Marie, CNRS, Universidade R. Schuman, Estrasburgo ; Patrice Meyer-Bisch, Universidade de Fribourg ; Abdoulaye Sow, Universidade de Nouakchott ; Victor Topanou, Cátedra UNESCO, Universidade d Abomey Calavi, Cotonou. Muitos outros observadores e analistas contribuíram na elaboração do texto. Uma lista com as pessoas e instituições que colaboraram, nesta data, para a realização desta Declaração é acessível no site do Observatório da diversidade e dos direitos culturais: www.unifr.ch/iiedh/fr/recherches/cultural A Declaração é endereçada a todas as pessoas que, a título pessoal ou institucional, desejem a ela aderir. Favor enviar uma mensagem de adesão com suas referências, precisando se sua adesão é a título pessoal ou institucional ao : Institut interdisciplinaire d éthique et des droits de l'homme, 13, ave. Beauregard CH-1700 Fribourg iiedh@unifr.ch As informações suplementares, comentários, documentos de Sínteses, documentos de trabalho e programas de pesquisa podem ser encontrados no site do Observatório.

Os direitos culturais, Declaração de Friburgo page 12 Por que uma Declaração de direitos culturais? No momento em que os instrumentos relativos aos direitos humanos se multiplicam com abundância, sem que haja sempre uma coerência assegurada, pode parecer inoporturno propor um novo texto. Mas, devido à permanência de violações, ao fato das guerras atuais e potenciais terem em grande parte as suas sementes nas violações dos direitos culturais, ao número de estratégias de desenvolvimento reveladas inadequadas por causa da ignorância desses mesmos direitos, constatamos que a universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos sofrem da marginalização dos direitos culturais. O recente desenvolvimento da proteção da diversidade cultural não pode ser compreendido, sob pena de relativismo, sem uma ancoragem no conjunto indivisível e interdependente dos direitos humanos, mais especificamente sem um esclarecimento da importância dos direitos culturais, A presente Declaração reúne e esclarece os direitos que já são reconhecidos, mas de maneira dispersa em numerosos instrumentos. Um esclarecimento é necessário para demonstrar a importância crucial destes direitos culturais, bem como as dimensões culturais dos outros direitos humanos. O texto proposto é uma nova versão, profundamente alterada, de um projeto redigido para a UNESCO 1 pelo grupo de trabalho internacional, gradualmente chamado "grupo de Fribourg", pois é organizado pelo Instituto interdisciplinar de ética e dos direitos humanos da Universidade de Fribourg, na Suíça. Procedente de um amplo debate com atores de origens e de estatutos muito variados, esta Declaração é confiada aos que se propõem a participar do desenvolvimento dos direitos, das liberdades e responsabilidades que enuncia. 1 Os direitos culturais. Projeto de declaração. P. Meyer-Bisch (éd.), 1998, Paris/Fribourg, Unesco/Edições universitárias.