ANAIS PAPÉIS DE UM ESCRITÓRIO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: COMPARAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE PRIVADA E PÚBLICA



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Transcrição:

PAPÉIS DE UM ESCRITÓRIO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: COMPARAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE PRIVADA E PÚBLICA ANDRÉ LUIS DE SÁ NUNES ( andre.sanunes@gmail.com ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR ALVARO AUGUSTO DOSSA ( alvaroaugusto@gmail.com ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR ANDRÉA PAULA SEGATTO ( aps@ufpr.br, andreapsegatto@gmail.com ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR RESUMO O presente artigo busca avaliar os mecanismos de transmissão de tecnologia entre universidades e empresas privadas, atualmente empregados em duas das principais instituições de ensino do Estado do Paraná, a UFPR e a PUC-PR. Após o desenvolvimento do referencial teórico sobre os papéis esperados para tais mecanismos, foram elaboradas considerações acerca das diferenças observadas nos casos pesquisados, o que permitiu observar uma melhor estruturação da PUC-PR frente a UFPR em relação ao tema. A análise dos casos permitiu, na última seção do artigo, a apresentação de recomendações de estudos futuros para aperfeiçoamento desses mecanismos e do conhecimento sobre o tema. Palavras-chave: Escritório de Transferência de Tecnologia; Universidade Pública; Universidade Privada, Mecanismos de Transmissão de Tecnologia. 1. INTRODUÇÃO Este artigo visa estudar os mecanismos de transmissão de tecnologia da universidade para o mercado por meio da cooperação com as empresas. As instituições que realizam esta ligação eram, e ainda são em alguns casos, as fundações de apoio criadas pelo governo federal para auxiliar as universidades e institutos de pesquisa. Atualmente, foram criados, pela Lei da Inovação, os Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETTs), para que sejam os mecanismos de interação com o mercado, recebendo contratos e verbas diretamente para a universidade e institutos de pesquisa, sem a necessidade de um intermediário para tal. Considerando a teoria de Sistemas Nacionais de Inovação (SNI), diversos são os atores que devem interagir para o desenvolvimento da capacidade inovativa e tecnológica de uma nação, entre eles, as universidades. Dessa forma, essas instituições são vistas como grande fonte de conhecimento e produtos para a sociedade, e dessa forma, para o mercado. A intensidade do processo de transformação do conhecimento gerado na universidade em produtos e processos que beneficiem a sociedade depende da política de proteção do conhecimento vigente na universidade (JOHNSON; EDQUIST; LUNDVALL, 2004) Em estudos anteriores, é percebido que as instituições acadêmicas não tinham familiaridade com o processo produtivo e com a comercialização e, como conseqüência disso, caso os resultados da pesquisa universitária não sejam adequadamente protegidos, nenhuma empresa se interessará em investir recursos no seu desenvolvimento, produção e comercialização (FUJINO; STAL; PLONSKI, 1999). 1/16

Porém, atualmente, depois de várias discussões e aprendizado sobre o tema, percebese que as universidades se conscientizaram da necessidade de proteger o conhecimento, via patentes, para que os resultados da pesquisa cheguem ao mercado e, sobretudo, para decidir a quem e como licenciar os direitos de exploração, pois, não sendo produtoras nem fornecedoras de serviços, não lhes compete explorar, por si só, tais resultados (FUJINO; STAL, 2007). Fujino, Stal e Plonski (1999) afirmam que a proteção do conhecimento na universidade, que é uma incontestável fonte geradora de conhecimento, é tema que merece reflexão e urge ser discutido, sob risco de a universidade perder o reconhecimento público de que ela produz resultados positivos para a sociedade. Porém, a cultura organizacional das universidades públicas brasileiras é sustentada, de um lado, por valores ideológicos que defendem o acesso irrestrito aos resultados de toda pesquisa desenvolvida e, de outro, por normas que mantêm uma hierarquia administrativa burocrática, balizada por marcos regulatórios de interpretações dúbias. A parceria com a empresa está no centro do debate sobre a propriedade intelectual na universidade e sobre a necessidade de uma legislação que regulamente as relações entre os setores público e privado quanto à transferência de tecnologia. A necessidade de participar mais ativamente do processo de inovação tecnológica nacional e de prover um maior retorno à sociedade dos recursos governamentais aplicados em P&D tem levado as universidades brasileiras a desenvolver estratégias de gestão para incrementar sua relação com o setor produtivo e o governo federal a criar leis e regulamentações para que este processo de transmissão de tecnologia seja feita com vantagens econômicas e comerciais para todas as partes envolvidas. Entre os mecanismos para transmissão da tecnologia, os escritórios de transferência de tecnologia (ETTs) têm se constituído numa experiência que vem sendo implementada internacionalmente, com o objetivo de promover a interação da universidade com o setor produtivo, em especial com empresas e governo. Sua criação deriva da necessidade de tornar mais efetiva a atuação das universidades, por meio da profissionalização da gestão da transferência dos resultados de pesquisa, particularmente no que se refere à comercialização de tecnologia e licenciamento de patentes (SANTOS; SOLLEIRO; LAHORGUE, 2004). O presente artigo tem como objetivo identificar os papéis desempenhados pelo Escritório de Transferência de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná e pela Agência de Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Por meio de entrevista semiestruturada com as pessoas que mais ativamente trabalham nessas entidades, pretende-se levantar as principais atividades e funções que o ETT possui como atribuição e, também, explorar a maneira como são realizadas as atividades principais de patenteamento, licenciamento, busca de financiamento, comercialização de tecnologias, consultorias e getão dos ativos intelectuais, assim, como os detalhes da estrutura organizacional destes Núcleos de Inovação Tecnológica. A próxima seção apresentará o referencial teórico que fundamenta os conceitos de transferência de tecnologia, o papel esperado dos mecanismos dessa transferência (ETTs notadamente), além de alguns estudos comparativos já realizados. A sessão seguinte apresenta a metodologia empregada, seguida pela apresentação e análise dos dados encontrados. Por fim, são feitas as considerações finais do artigo, apresentando sugestões de novos trabalhos bem como as limitações do presente estudo. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Segundo Dosi (1988, p. 223), tecnologia é entendida como: Conhecimentos científicos ou princípios conhecidos, descritos em manuais, ensinados nas universidades ou 2/16

nas escolas técnicas, amplamente difundidos, disponíveis para todos (desde que se disponha de certa base de competências para incorporar os novos conhecimentos). Conhecimentos específicos relacionados a determinada maneira de fazer as coisas e às experiências anteriores do fornecedor ou do usuário, adquiridos pela prática, protegidos implicitamente (rotinas, experiências, conhecimento tácito) ou explicitamente (patentes). A tecnologia também é delineada em termos de habilidades, competências e conhecimentos necessários para a execução de tarefa específica, bem como da utilização de técnica para a produção ou fabricação de componente ou produto específico (SAAD, 2000). 2.1 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA Segundo Santos, Solleiro e Lahorgue (2004), as universidades inicialmente transferiam tecnologia por meio da publicação dos resultados de pesquisa em periódicos científicos. Depois outras formas foram agregadas, como consultoria técnica e disponibilização a terceiros do resultado de pesquisa, visando ou não a sua comercialização. Kruglianskas e Fonseca (1996) definem a transferência de tecnologia como um processo no qual um conjunto de conhecimentos, habilidades e procedimentos, que podem ser aplicados aos problemas de administração ou produção, são transferidos entre organizações, por meio de transação econômica, ampliando a capacidade de inovação da empresa receptora. Também considerando a transferência de tecnologia como um processo, Friedman e Silberman (2003) a definem como um processo pelo qual uma invenção ou uma propriedade intelectual decorrente da pesquisa acadêmica é licenciada ou transferida por meio dos direitos de uso para uma entidade com fins de lucro e conseqüentemente comercializada (FRIEDMAN; SILBERMAN, 2003, p. 18 apud SANTOS; SOLLEIRO; LAHORGUE, 2004). Para o presente estudo, a transferência de tecnologia focalizada é entre universidade e empresas, realizada por meio de instituições mediadoras, as quais são os objetos de pesquisa deste artigo: os escritórios de transferência de tecnologia e as fundações de apoio. Analisando a realidade de uma universidade, de uma fundação ou de um escritório de tecnologia, conceitua-se transferência de tecnologia como qualquer processo pelo qual o conhecimento básico, a informação e as inovações se movem de uma universidade, de um instituto ou de um laboratório governamental para um indivíduo ou para empresas nos setores privados e semi-privados (PARKER; ZILBERMAN, 1993, p. 89 apud SANTOS; SOLLEIRO; LAHORGUE, 2004). Toma-se, então, como referência, a conceituação feita pela AUTM (2008), na qual transferência de tecnologia é o termo usado para descrever a transferência formal de invenções e inovações resultantes de pesquisas científicas conduzidas das universidades até o setor comercial. Para realizar a transferência com êxito, um caminho que as universidades utilizam é por meio do patenteamento e licenciamento de novas invenções. Os principais passos nesse processo seriam: descobrimento das invenções; patenteamento da invenção concomitante com a publicação da pesquisa acadêmica; licenciamento dos direitos das invenções para a indústria para que seja feita a produção e comercialização. Segundo a AUTM (2008) a transferência de tecnologia universidade-empresa é importante para o país, pois: Facilita a comercialização dos resultados de pesquisas sob financiamento público, trazendo retorno mais rápido e efetivo para a população; Recruta, retém e remunera alunos universitários; Induz fortes laços entre a universidade e as empresas; Gera renda e promove o crescimento econômico. Além disso, conforme a AUTM (2008), a transferência de tecnologia proporciona oportunidades para vários públicos: 3/16

Para a universidade, a transferência de tecnologia dá à comunidade acadêmica a oportunidade de ter um impacto positivo no mercado, nos produtos e na economia; Para as indústrias, a transferência de tecnologia fornece a oportunidade de alcançar as novas descobertas encontradas nos laboratórios acadêmicos e transformá-los em lucros para a empresa; Para o público em geral, a transferência de tecnologia concede a oportunidade de se beneficiar dos avanços extraordinários feitos pelos pesquisadores. O benefício público com a parceria universidade-empresa no processo de transferência de tecnologia se dá principalmente pela redução do tempo para conduzir uma nova descoberta científica no meio acadêmico até a sua comercialização através das empresas. O processo ocorre de forma mais rápida e freqüente, pois a parceria universidade-empresa possibilita que os criadores da tecnologia ou descoberta inicial participem do desenvolvimento do produto ou processo até fases mais avançadas, próximas da comercialização (AUTM, 2008). 2.2 ESCRITÓRIOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA (ETT) Para não haver um intermediário na relação com a sociedade, as universidades e institutos de pesquisa criaram os escritórios de transferência de tecnologia, sendo núcleos das próprias instituições e sendo responsáveis pela comercialização dos resultados das produções científicas e como gestores dos recursos recebidos para pesquisas internas. O potencial de gerar abundantes pesquisas nas faculdades é uma das principais razões que várias universidades por todo o país estabeleceram seus próprios escritórios de transferência de tecnologia para tratar das invenções dos estudantes e dos professores/pesquisadores. (SONG; BALAMURALIKRISHNA, 2001). Os escritórios de transferência de tecnologia (ETTs) se desenvolvem em períodos de tempo que são dependentes de vários fatores, incluindo apoio dos campi e liderança institucional. Uma vez que o pessoal se dedica a um esforço de transferência de tecnologia, a organização foca em desenvolver relacionamentos e compreensão relativa à administração da inovação com três grupos críticos: liderança do campus; competências, pesquisadores e estudantes; e a comunidade empresarial. O pessoal do escritório trabalha com estas entidades para criar práticas, infra-estrutura e uma cultura positiva para inovação (AUTM, 2006). Os ETTs fazem parte de um sistema local de inovação e funcionam dentro da estrutura acadêmica. Surgiram e intensificaram-se no contexto de formulação de políticas de planejamento de Ciência & Tecnologia e interação universidade-empresa-governo (TERRA, 2001). Nos Estados Unidos esse fenômeno foi observado mais fortemente a partir de 1980, porém o surgimento destes no Brasil veio uma década mais tarde. Em alguns casos, organizações não denominadas ETTs incorporam essa função dentro das universidades, desenvolvendo também outras ações de apoio institucional como eventos, atividades de extensão entre outras (GARNICA; FERREIRA JR; FONSECA, 2005). Para o presente trabalho, utilizaremos o conceito de ETT desenvolvido pela OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico: Escritórios de Transferência de Tecnologia ou de Licenciamento são aquelas organizações ou partes de uma organização que ajudam, nas organizações públicas de pesquisa, a identificar e administrar seus ativos intelectuais, incluindo a proteção da propriedade intelectual e transferindo ou licenciando os direitos a terceiros visando a um desenvolvimento complementar. Uma instituição pública de pesquisa pode ter um único ETT centralizado, pode ter vários ETTs associados (p. ex. para diferentes unidades ou departamentos) ou pode recorrer a um ETT externo que possui vários outros clientes (OCDE, 2003 apud Santos; Solleiro; Lahorgue, 2004). 4/16

De acordo com Santos, Solleiro e Lahorgue (2004), em algumas universidades, o papel desempenhado pelos ETTs não se restringe apenas às atividades ligadas à gestão da propriedade intelectual, caracterizando-se por objetivos mais amplos, abrangendo também atividades de gestão de projetos e de consultorias tecnológicas. Para os autores é o caso da experiência brasileira, em que a abrangência das atividades desenvolvidas pelos ETTs, em geral, é mais ampla, observando-se desde a gestão de projetos e de consultorias até a comercialização de tecnologias e patentes. Os escritórios de transferência de tecnologia estão ocupados com esforços para disseminar a tecnologia criada na instituição para o benefício público. Para atingir esse objetivo, a instituição deve efetivamente capturar, proteger e gerenciar a propriedade intelectual (AUTM, 2006). Conforme Santos, Solleiro e Lahorgue (2004), os objetivos principais de um ETT são, em linhas gerais: estabelecer contatos com empresas em busca de oportunidades de realizar contratos; identificar tecnologias existentes dentro da universidade e oferecê-las a empresas; apoiar a negociação e elaboração de contratos de transferência de tecnologia; realizar estudos de viabilidade econômica dos inventos gerados na universidade, com a perspectiva de apoiar a solicitação de patentes e seu posterior licenciamento a empresas; realizar o monitoramento dos projetos contratados; buscar o financiamento para projetos em fontes governamentais; realizar o marketing institucional. De um modo geral, para Santos, Solleiro e Lahorgue (2004), as atividades de um ETT envolvem: buscar e receber relatórios de invenções de pesquisadores; decidir sobre o patenteamento de invenções desenvolvidas com financiamento externo; depositar patentes; comercializar patentes para a indústria, negociar e administrar acordos de licenciamento. O ETT também é responsável pelo monitoramento da tramitação legal das patentes. O principal esforço do ETT é encontrar empresas que tenham a capacidade, interesse e recursos para transformar tecnologias embrionárias em produtos úteis. Além de suas responsabilidades primárias nas funções de licenciamento, de facilitar o registro de patentes, de avaliar economicamente as patentes, bem como de captar possíveis licenciantes e executar contratos de licenciamento, muitos ETTs têm adotado um modelo empreendedor, ajudando os pesquisadores a criar suas próprias empresas start-up (PARKER; ZILBERMAN, 1993 apud SANTOS; SOLLEIRO e LAHORGUE, 2004). Um escritório de sucesso pode ser julgado por várias maneiras. Muitas instituições definiriam sucesso por meio do critério do benefício público. Os escritórios que retornassem o suporte governamental e os recursos privados para o público na forma de produtos e serviços que beneficiem a comunidade local são tomados com muita importância por aquela comunidade e seus colegas de transferência de tecnologia. (AUTM, 2006) 2.2.1 Estudos Anteriores Sobre Papéis Desempenhados Por Etts Brasileiros No trabalho de Santos (2002), foram identificados 25 escritórios de assessoria tecnológica ou estruturas equivalentes, em funcionamento nas universidades brasileiras. De acordo com a pesquisa, verificou-se que os serviços prestados não são semelhantes. A lista com todos os serviços é: atendimento a demandas tecnológicas, gestão de serviços tecnológicos, negociação de projetos, elaboração de convênios e contratos, registro da propriedade intelectual, comercialização de tecnologias e patentes, treinamento de recursos humanos e promoção de eventos de difusão tecnológica. A estrutura organizacional dos escritórios também é variada: a maioria (72%) não possui dotação orçamentária própria; 28% geram recursos próprios; a estrutura não é centralizada em 60%, é centralizada em 20% e em 20% é centralizada apenas em parte; a 5/16

maioria (76%) usa uma fundação de apoio para desenvolver suas atividades; 52% utilizam mecanismos de acompanhamento de projetos (SANTOS, 2002). Lacerda (2002) relata que em 2001, a FINEP Financiadora de Estudos e Projetos financiou um projeto piloto para levantar as empresas que haviam interagido com Universidades entre 1999 e 2001. Este projeto foi coordenado pelo EITT-Escritório de Interação e Transferência de Tecnologia, da UFRGS, e teve a participação de outras 13 universidades. O objetivo era de criar uma entidade que congregasse as unidades de transferência de tecnologia de instituições de ensino e pesquisa brasileiras. A pesquisa concluiu que a interação universidade/empresa inicia-se por parte da empresa, mostrando a necessidade de mudança da postura das instituições de pesquisa e com a mudança de atuação dos escritórios, que devem se tornar mais pró-ativos, para incentivar a interação com o setor privado e negociar suas tecnologias. Lacerda (2002) conclui em sua pesquisa que as instituições brasileiras criaram seus Escritórios de Transferência de Tecnologia, porém a transferência de tecnologia não é feita de forma eficiente, principalmente devido à falta de legislação nacional, o que acarreta lentidão e ineficiência nos processos de negociação. Além disso, afirma que a promulgação de lei pelo governo ou de normas que orientem as instituições é o passo mais importante para viabilizar a transferência de tecnologia no Brasil. 2.2.2 Comparações de ETTs Nacionais com Internacionais Santos, Solleiro e Lahorgue (2004) afirmam que os escritórios de transferência de tecnologia (ETTs) são uma experiência de sucesso internacionalmente e que está sendo implementada nacionalmente. Nos países desenvolvidos, a criação destes núcleos de apoio é estimulada por políticas nacionais de inovação, que valorizam o alto potencial de contribuição ao desenvolvimento econômico. Por outro lado, no Brasil, estes núcleos vêm sendo criados por decisão das próprias instituições, visto que recebem pouco estímulo governamental para aperfeiçoar a relação com o setor produtivo, além de não possuir legislação específica que garanta uma uniformidade na operacionalização dos procedimentos, como em outros países, o que gera uma grande diversidade de serviços e estruturas dos escritórios brasileiros. Conforme Lacerda (2002), nos EUA o trabalho do ETT se baseia em elaboração e negociação de patentes, comercialização de tecnologia ou incentivo a novos spin-off, visto que o vínculo entre a universidade e a empresa já foi criado e existe nas empresas a cultura de investir em tecnologia e em pesquisa e desenvolvimento. Por outro lado, no Brasil, além destes aspectos, o escritório deve facilitar, incentivar e promover a interação universidadeempresa-governo (SANTOS, 2002). Chamas (2001 apud STAL; FUJINO, 2005) cita alguns programas governamentais regionais que criaram organizações que auxiliam na criação de escritórios de transferência de tecnologia nas universidades, gerando possibilidades de parcerias entre instituições e evitando a concorrência predatória entre elas: Na Alemanha (Bayern Patent Die Bayerische Hoschschul- Patentinitiative), Reino Unido (British Technology Group) e Espanha (Oficina de Transferencia de Tecnología), Japão (University Intellectual Property Headquarters) e Coréia do Sul (Regional Consortium of Technology Licensing Offices). Em sua pesquisa comparativa de ETTs, Santos, Solleiro e Lahorgue (2004) estudaram escritórios de quatro países - Estados Unidos (88), França (75), Espanha (25) e o Brasil (25) e levantaram informações sobre as principais atividades e serviços prestados pelos ETTs em cada país. As conclusões tiradas do estudo são: - Grande diversidade na concepção dos ETTs brasileiros. Nos países desenvolvidos, a designação reflete políticas governamentais, como é no caso americano, a Bayh-Dole Act, e no caso espanhol, o Plan Nacional de I+D, o que gera uma uniformidade e manutenção na 6/16

designação dos ETTs nesses países. Já no Brasil, o conceito de ETT adotado pelas instituições universitárias brasileiras é variado, e que enquadram instituições que não possuem os mesmos objetivos. - Diferenças nas atividades desenvolvidas pelos ETTs. Os ETTs brasileiros cumprem três funções básicas: administrar a interação universidade-empresa, registrar a propriedade intelectual e transferir tecnologia por meio do licenciamento de tecnologias e patentes. No Brasil há um grave problema na terceira função, pois não se comercializa tecnologias patenteadas, o que não auxilia para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. 2.3 REGULAMENTAÇÃO DOS ETTS NO BRASIL Segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), no final da década de 90, foram discutidas as ações na área de propriedade intelectual e transferência de tecnologia no Brasil, devido à sua importância econômica e tecnológica para o país. Nestes estudos, foi constatado um elevado nível de desconhecimento da propriedade industrial, seus princípios, legislação e demais instrumentos normativos, além da falta de estruturas técnicas para prestação de serviços especializados nesta área, o que contribui para distanciar as empresas dos centros geradores de conhecimento e constitui um obstáculo ao ambiente empresarial. Para reduzir este distanciamento, decidiu-se, segundo o MCT, apoiar projetos destinados a promover o estabelecimento de escritórios técnicos para facilitar a relação entre empresas e instituições de pesquisa e desenvolvimento na identificação de resultados de pesquisa passíveis de aplicação comercial pelas empresas e na divulgação de patentes concedidas com potencial para a inovação tecnológica. Este apoio resultou na criação dos hoje denominados Escritórios de Transferência de Tecnologia. Desde 2002, conforme o MCT, o fomento à propriedade intelectual concentrou-se em dois focos: a criação e o fortalecimento de núcleos de apoio ao patenteamento, especializados no fornecimento de serviços de assistência técnica e informação sobre PI; e o estabelecimento de escritórios de transferência de tecnologia para apoiar a relação entre empresas e instituições de P&D. Lacerda (2002) verificou algumas características das atitudes tomadas por universidades e institutos de pesquisa para possibilitar a transferência de tecnologia: forte tendência para transferência de tecnologia por meio de consultorias e prestação de serviços; processos de licenciamento incipientes; poucas instituições definiram normas institucionais claras para suprir a falta de legislação federal. 2.3.1 Lei da Inovação Em dezembro de 2004 foi sancionada a Lei da Inovação, Lei N o 10.973 de 2/12/2004, regulamentada pelo Decreto Nº 5.563, de 11/10/2005, que estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País. O Art.16 desta lei dispõe que as Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) deverão dispor de Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), com a finalidade de gerir sua política de inovação, com as seguintes competências mínimas: Zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia. Avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos de pesquisa para o atendimento das disposições desta Lei; Avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invenção; Opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas na instituição, passíveis de proteção intelectual; 7/16

Acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade intelectual da instituição. Segundo o MCT, essas competências parecem próximas às previstas para os núcleos e escritórios de transferência de tecnologia apoiados por esse ministério até a promulgação da Lei da Inovação. Para efeitos desta lei, conceitua-se: Agência de fomento: órgão ou instituição de natureza pública ou privada que tenha entre os seus objetivos o financiamento de ações que visem a estimular e promover o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação; Instituição Científica e Tecnológica - ICT: órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico; Núcleo de inovação tecnológica: núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a finalidade de gerir sua política de inovação; Instituição de apoio: instituições criadas sob o amparo da Lei n o 8.958, de 20 de dezembro de 1994, com a finalidade de dar apoio a projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico; Na Lei da Inovação, em seu Art. 6 o, é facultado à ICT celebrar contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação por ela desenvolvida. Enquanto que no Art. 8 o, é facultado à ICT prestar a instituições públicas ou privadas serviços compatíveis com os objetivos desta Lei, nas atividades voltadas à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. As obrigações das ICTs com o governo federal são definidas no Art. 17 o da lei, no qual esclarece que a ICT, por intermédio do Ministério ou órgão ao qual seja subordinada ou vinculada, manterá o Ministério da Ciência e Tecnologia informado quanto: I - à política de propriedade intelectual da instituição; II - às criações desenvolvidas no âmbito da instituição; III - às proteções requeridas e concedidas; e IV - aos contratos de licenciamento ou de transferência de tecnologia firmados. Segundo Stal e Fujino (2005, p.13), a Lei de Inovação estimula e fixa regras mais claras para uma maior cooperação entre universidades e empresas, mas (...) o impacto positivo se dará basicamente sobre as universidades, facilitando a contratação de grupos de pesquisa pelas empresas e estimulando pesquisadores universitários a empreenderem novos negócios, com base em resultados da pesquisa acadêmica. 3. METODOLOGIA A metodologia empregada neste artigo é a de Estudo de Caso, mais especificamente, como estudo de casos múltiplos, considerando que cada organização estudada é um caso, de acordo com as definições de Collis e Hussey (2005). Também se considera o presente estudo como uma pesquisa exploratória-descritiva, ou seja, um estudo que objetiva encontrar padrões e idéias mas foca o ganho de familiaridade com o campo estudado, ganhando conhecimento para investigações mais rigorosas. Contudo, também é descritivo, pois de acordo com Cooper e Schindler (2003) tais estudos têm entre seus objetivos, as descobertas de associações entre diferentes variáveis e Newman (2000) acrescenta podem criar um grupo de categorias ou tipos de classificação. A pesquisa é qualitativa permitindo maior subjetividade e envolvendo o exame e reflexão das percepções para obter um maior entendimento das atividades sociais. Na coleta de dados, utilizou-se de entrevistas semi-estruturadas, que segundo as definições de Flick (2004), permite coletar dados onde os pontos de vista dos sujeitos entrevistados são mais bem 8/16

expressos, do que em uma situação de entrevista padronizada ou questionário. O método também apresenta limitações quanto ao poder de generalização das informações encontradas, além de possuir a complexidade inerente ao manuseio do guia de entrevista (FLICK, 2004). Foram escolhidas as instituições UFPR e PUC/PR por conveniência bem como pela representatividade que essas entidades possuem no campo das instituições de pesquisa, tanto pública como privada, o que indicam casos interessantes para serem analisados.a entrevista no ETT da UFPR foi realizada com a atual bolsista responsável pela manutenção das atividades do órgão, sendo a mais antiga funcionária em atividade dentro da entidade. Já para o caso da agência da PUC, foi entrevistado o responsável pela agência, superior hierarquicamente aos funcionários do órgão. As entrevistas foram gravadas, com autorização dos participantes, e, posteriormente, foram transcritas e analisadas. Também foram utilizados dados secundários na forma de documentos, consultas a sítios eletrônicos e formulários. Por fim, ressalta-se a utilização de triangulação de dados, necessária devido a utilização de diversas fontes de informação, aumentando assim a confiabilidade da pesquisa (COLLIS; HUSSEY, 2005). 4. ANÁLISES 4.1. ETT DA UFPR Conforme o sítio eletrônico da Universidade Federal do Paraná, na página sobre o Portal de Relacionamento, o qual atualmente abriga o Escritório de Transferência de Tecnologia, a universidade coloca a disposição da comunidade o ETT na busca constante pela qualidade dos serviços prestados à sociedade, atendendo empresários e dirigentes de instituições governamentais e não-governamentais na efetivação de parcerias e visando o desenvolvimento de produtos que beneficiem direta ou indiretamente a comunidade com o desenvolvimento regional. Em relação aos objetivos do Escritório de Transferência de Tecnologia da UFPR, o Portal de Relacionamentos apresenta a seguinte descrição: O objetivo do Portal de Relacionamento é unir a capacidade científica e tecnológica de nossos pesquisadores, que é o nosso maior patrimônio, com a visão das necessidades de mercado e da comunidade em geral, com a finalidade de acelerar, através da inovação, o desenvolvimento ao qual o nosso Estado do Paraná faz jus. (UFPR, 2008) Por meio da entrevista realizada com a pessoa responsável pelas atividades do Escritório de Transferência de Tecnologia da UFPR, pode-se constatar que as principais funções desempenhadas atualmente pelo núcleo são: Realizar a ligação entre a Universidade e o setor privado; Elaborar convênios de parcerias entre UFPR e empresas; Divulgar os trabalhos e pesquisas desenvolvidas na UFPR para as empresas; Instruir a comunidade acadêmica (alunos, professores, pesquisadores) sobre a importância da transferência de tecnologia para a sociedade, por meio da parceria público-privado; Atender a comunidade sobre orientações e esclarecimentos relacionados à propriedade intelectual, desenvolvimento tecnológico e comercialização de inovações. Conforme mencionado na entrevista, o Portal de Relacionamento era vinculado à Pró- Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças. Porém, atualmente o Escritório de Transferência de Tecnologia está ligado diretamente ao gabinete do reitor da Universidade. Este fato contradiz o que é encontrado na literatura de outros Escritórios de Tecnologia que se vinculam à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, isso, contudo, pode ser um diferencial 9/16

que gere vantagens competitivas, visto que conta com a supervisão direta do reitor, o que pode facilitar futuras negociações e flexibilizar alguns processos. Foi mencionado, durante a entrevista, que o ETT possui um bom relacionamento com a fundação de apoio da UFPR (a FUNPAR); com outras ETTs de diversas instituições de ensino, por meio da Rede de Propriedade Intelectual Paranaense e do INPI Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. Outro ponto importante mencionado e explicado durante a entrevista é em relação ao atual processo de criação da AGITEC Agência de Inovação Tecnológica da UFPR, apenas aguardando a aprovação do conselho administrativo da Universidade para entrar em operação. Este núcleo, de acordo com as orientações do entrevistado, irá englobar o núcleo de propriedade intelectual, o escritório de transferência de tecnologia e a incubadora tecnológica da UFPR. Com esta nova estrutura, a agência irá desempenhar os papéis citados na literatura como idéias para os ETT, sendo comparados com aquelas estruturas existentes nos países desenvolvidos e que são sugestionados na Lei da Inovação como NIT. Foi solicitado para que o entrevistado mencionasse o que deveria ser feito para tornar o ETT da UFPR um caso de sucesso nacional. A resposta obtida foi: Tornar a Agência uma referência interna, com exclusividade para negociar a transferência de tecnologia e os contratos de parcerias. Com isso, percebe-se a falta de integração do Escritório de Transferência de Tecnologia com outros setores da Universidade, pois não há uma comunicação entre eles, nem o apoio dos gestores da UFPR, bem como a falta de confiança e adesão dos próprios pesquisadores em utilizar a estrutura do ETT na realização dos contratos de parcerias com as empresas privadas. Visto que o objetivo declarado do Portal de Relacionamento (ETT da UFPR) é servir como porta de entrada da Universidade e ser o canal centralizador de comunicação com as empresas, nota-se que não está sendo cumprida tal finalidade, muito pela falta de apoio interno dos gestores e pesquisadores. Outro motivo encontrado pela pouca atuação do ETT é a quantidade de funcionários encarregados. Há um coordenador do escritório, que é um professor da UFPR, e, por isso, não pode dispor de todo o tempo para resolver problemas do ETT, deixando muitos assuntos pendentes e sem solução; e há, também, um bolsista, formado em jornalismo, que auxilia nos processos, sendo tal pessoa a principal responsável pelo funcionamento do ETT, e entre outras responsabilidade, apresenta a elaboração do Catálogo de Inovação Tecnológica, contendo todos os laboratórios e pesquisas da Universidade como uma de suas principais realizações; é esta pessoa que realiza os contatos com as empresas que desejam comercializar inovações, mas atua, contudo, de forma passiva, aguardando o contato da empresa, não tendo a iniciativa de procurar prováveis consumidores das inovações. Também são funções deste bolsista a elaboração dos contratos de transferência de tecnologia e manutenção da atualização das noticias (clipping) sobre o tema no sítio da internet. Com isso, pode-se notar a baixa importância dada ao Escritório no que diz respeito a recursos humanos, pois não há nenhum funcionário fixo, específico para este núcleo, nem há pessoas capacitadas em inovação tecnológica, com conhecimento de negociação de tecnologias para fazer parte deste núcleo. Muito disso, conforme citado na entrevista, é motivado pela grande burocracia dentro da UFPR e da baixa agilidade na contratação e designação de funcionários para o ETT. 4.2. AGÊNCIA DE INOVAÇÃO DE PUC-PR Conforme o sítio eletrônico da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a Agência PUC de Inovação foi criada em cooperação com a sua mantenedora, a Associação Paranaense de Cultura (APC), para aumentar a atuação da Universidade como agente de promoção do desenvolvimento sócio-econômico, desde a produção de conhecimento científico e 10/16

tecnológico até a sua transferência para o setor produtivo, mediante alianças e parcerias estratégicas entre a Universidade e as Empresas. A Agência conta com os Ativos de Inovação Tecnológica da universidade, apoio e suporte do Complexo APC, contando com mais de 4000 colaboradores da APC, por meio da parceria com seis institutos da PUCPR abrangendo todas as áreas de conhecimento, parcerias com mais de 1300 pesquisadores e professores da universidade, contando com infra-estrutura para educação, treinamentos, lazer e, principalmente, do complexo tecnológico (PUCTEC) destinado a iniciativas de parceria e alianças estratégicas com as empresas em empreendimentos inovadores e intensivos em tecnologia. A Agência PUC de Inovação disponibiliza em seu sítio na Internet a descrição de sua Missão Organizacional: Ser instrumento de promoção da qualidade e da excelência no Ensino, na Pesquisa e na Extensão, por meio da integração de ativos de inovação e do conhecimento que adicionem valor a essas atividades, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento sócio-econômico da região de atuação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. (PUCPR, 2008) E, também, de suas diretrizes de atuação: Alinhar-se a missão da PUCPR/APC. Buscar a transferência de conhecimento para o setor empresarial, com oferta de soluções multidisciplinares e de altíssimo valor agregado. Atrair empresas e/ou respectivas áreas de P&D por meio de alianças e parcerias estratégicas com a Universidade. Desenvolver parcerias com órgãos governamentais e do terceiro setor. Incrementar recursos complementares que poderão viabilizar novos investimentos para a busca da excelência no Ensino, na Pesquisa e na Extensão. Otimizar recursos dispersos na organização, buscando integrar as competências internas orientando-as adequadamente para as necessidades da sociedade em geral e, consequentemente, criando novos valores para o conhecimento disponível. Incrementar o processo de inclusão de toda a comunidade universitária em atividades demandadas pelo mercado e, por conseqüência, na permanente capacitação do capital humano nas relações com a sociedade. Contribuir para o processo de melhoria contínua da qualidade do ensino e da pesquisa, tendo em vista a disponibilidade de novos espaços de participação do corpo docente e discente em projetos de integração universidade-empresa. Abrir novos temas de pesquisa pelo incremento na demanda por novos conhecimentos orientados ao mercado. Quanto à estrutura da Agência, verificou-se que ela está diretamente ligada à Mantenedora da PUCPR, que é a APC, possibilitando maior flexibilidade e agilidade nos processos de inovação tecnológica. Na entrevista realizada com o coordenador da Agência PUC, foi informado que ela possui apenas 1 ano de existência, porém, as parcerias Universidades-empresas são realizadas há 10 anos aproximadamente dentro da PUC-PR. Atualmente a Agência possui em torno de 7 funcionários diretos e mais 1 ou 2 em cada um dos seis núcleos integrantes, totalizando algo em torno de 18 funcionários. Nesta conta não estão contabilizados os funcionários externos à Agência, que fazem parte da PUCPR ou da APC ou de outros órgãos que dão suporte ao funcionamento dos núcleos. A sua estrutura engloba o Núcleo de Propriedade Intelectual, o Núcleo Jurídico, o Núcleo de Captação de Recursos, o Núcleo de Captação Interna de Tecnologia e os Núcleos das diversas áreas do conhecimento. 11/16

Percebe-se que a Agência PUC de Inovação possui uma estrutura mais complexa do que um Escritório de Transferência de Tecnologia, pois agrega todos os serviços para o relacionamento Universidade-Empresa além da transferência de tecnologia, realizando, também, a questão burocrática de registro de patentes, a constante busca de pesquisas internas e de produtos que sejam comercializáveis em desenvolvimento dentro da PUCPR e conta com uma equipe que realiza o contato com as empresas da região de atuação para manter um relacionamento ativo objetivando a parceria para comercialização das inovações geradas. Nota-se, assim, que os objetivos da Agência PUC estão mais relacionados com as atividades desempenhadas pelos escritórios de transferência de tecnologia americanos, visto na revisão de literatura, que possuem uma abrangência maior de serviços e papéis a serem desempenhados. Conforme a entrevista realizada, percebeu-se que a criação da Agência deveu-se a necessidades internas de integrar os diversos núcleos que se relacionavam com as empresas de maneira isolada e descentralizada, para facilitar e agilizar este processo de parceria Universidade-Empresa. Houve também uma necessidade de caráter comunitário e social, pois a PUC é uma instituição filantrópica, e, com isso, necessitava de um órgão que melhorasse o relacionamento com a sociedade, e, segundo o entrevistado, a Agência seria um canal apropriado para isto. Outro incentivo para a criação da Agência foi governamental, por meio das Leis que estimularam a inovação tecnológica no país, como a Lei do Bem e a Lei da Inovação. O coordenador da Agência PUC de Inovação, em sua entrevista, citou as principais funções e vantagens que a agência possui: Realiza a ligação entre os pesquisadores e as empresas; Dispõe de um conjunto de serviços para os pesquisadores, como suporte gerencial, administrativo e executivo; Dispõe de um conjunto de serviços para as empresas, como capacitação e treinamento, recrutamento de talentos e disponibilidade de um Parque Tecnológico na Universidade; Realiza a proteção das inovações e propriedades intelectuais, por meio de patentes, licenciamentos e outros mecanismos; Atendem pesquisadores de fora da PUCPR, oferecendo toda a estrutura da Agência para o desenvolvimento científico-tecnológico; Todos os contratos com empresas são de desenvolvimento de pesquisa conjunta, ou seja, parcerias para gerar inovação. 4.3. COMPARATIVO PÚBLICO-PRIVADO Na literatura é descrita a necessidade das Universidades possuírem um Núcleo de Propriedade Intelectual (NPI), que, em muitos casos, está vinculado ao Escritório de Transferência de Tecnologia. Contudo, nas entrevistas realizadas percebe-se uma tendência para a criação de agências de inovação que englobam todas as funções, tanto dos ETTs, como dos NPIs, em uma estrutura maior, com mais recursos, competências e habilidades. Isto é confirmado no ETT da UFPR quando é citado, pelo entrevistado, que está sendo criada a AGITEC Agência de Inovação Tecnológica que irá englobar o ETT e o NPI que, atualmente, trabalham separados. Da mesma forma, na PUC-PR, a atual Agência de Inovação foi criada para agrupar os diversos núcleos de relacionamentos com empresas, entre eles o ETT e o NPI. Outro ponto que merece destaque é em relação às Normas da própria instituição para a Transferência de Tecnologia. Como visto na literatura, são raros os casos de Universidades que possuem um regimento interno para tratar tal assunto, o que foi comprovado nas duas 12/16

instituições pesquisadas, as quais afirmaram seguir apenas as legislações governamentais, não possuindo nenhuma norma da Universidade para o assunto de transferência de tecnologia. No quadro 1 estão expostas as principais características dos Escritórios de Transferência de Tecnologia pesquisadas na literatura, e as características encontradas no Escritório de Transferência de Tecnologia da UFPR e na Agência de Inovação da PUCPR, de acordo com as entrevistas realizadas com seus responsáveis e a partir da análise de documentos, manuais e informações dos respectivos sítios eletrônicos. Pretende-se, assim, realizar uma síntese do que foi apresentado na revisão bibliográfica e facilitar a comparação com as informações coletadas nas duas instituições pesquisadas. Percebe-se que a falta de legislação governamental para a transferência de tecnologia não foi um problema citado durante a entrevista. O que pode ser notado é que, após a Lei da Inovação, os Núcleos de Inovação Tecnológica das Universidades Públicas se tornaram mais eficientes e com maior disponibilidade de acesso a editais de financiamento, enquanto que os NIT das Universidades Privadas tiveram maiores dificuldades para acesso a financiamento público, e objetivaram a captação de recursos de suas associações mantenedoras. Nota-se que a principal diferença entre os NIT públicos e privados estudados é a questão da estruturação e passividade na interação com as empresas. A PUC possui uma agência estruturada que engloba os diversos núcleos que realizam a transferência de tecnologia, enquanto que a UFPR possui o ETT e o NPI realizando atividades isoladas e interagindo de forma individual com as empresas, não ocorrendo o compartilhamento de informações. Em relação à interação com as empresas, a PUC, por meio de sua Agência de Inovação é muito ativa neste quesito, sendo que elaborou um portfólio com todas as competências e os projetos desenvolvidos na Universidade e realiza o contato freqüente com empresas para oferecer as tecnologias existentes. Enquanto que a UFPR, por meio do seu ETT, elaborou um catálogo com alguns dos laboratórios científicos da Universidade, sem maiores descrições sobre as pesquisas sendo realizadas e com boa parte de suas pesquisas não apresentadas, e sem a clara definição de suas competências. Além disso, o ETT da UFPR não realiza o contato direto e ativo com as empresas para oferecer as tecnologias e captar novas oportunidades de comercialização, ficando passivo no aguardo do contado por parte das empresas interessadas em desenvolvimento conjunto de inovações. Em alguns itens dos objetivos encontrados na literatura, as duas instituições pesquisadas não forneceram informações suficientes para que alguma afirmação seja feita. São eles: Realizar estudos de viabilidade econômica dos inventos gerados na universidade, com a perspectiva de apoiar a solicitação de patentes e seu posterior licenciamento a empresas; Realizar o monitoramento dos projetos contratados; Após uma análise geral é possível perceber que os dois núcleos estudados apresentam a característica principal de interação entre a Universidade e as Empresas, realizando contratos de transferência de tecnologia e de pesquisa conjunta. O que as diferencia, principalmente, é que o ETT da UFPR apresenta todos os problemas citados na literatura (Lacerda, 2002; Santos, Soleiro e Lahorgue, 2004): passividade, não comercialização das patentes, falta de identificar as tecnologias e competência internas para oferecer ao setor produtivo; não utilização da fundação de apoio; falta de estruturação interna; falta de centralização da comunicação com as empresa e falta de divulgação. Enquanto que a Agência de Inovação da PUCPR apresenta um modelo mais parecido com o americano citado na literatura, que engloba todas as atividades do ETT e do NPI para realizar a transferência de tecnologia, 13/16

Quadro 1 Características dos ETTs Segundo a Literatura e as Instituições Pesquisadas Método de atuação Estrutura Funções Atividades Objetivos Dificuldades LITERATURA ETT UFPR Agência - PUCPR Consultorias; Prestação de serviços; Licenciamento. Convênios de parcerias UFPR Empresas Desenvolvimento de Pesquisa Conjunta Orçamento e Recursos próprios; Estrutura centralizada; Usa a fundação de apoio para suas atividades; Utiliza mecanismos de acompanhamento de projetos. Administrar a interação universidade-empresa; Registrar a propriedade intelectual; Transferir tecnologia por meio do licenciamento de tecnologias e patentes. Buscar e receber relatórios de invenções de pesquisadores; Decidir sobre o patenteamento de invenções com financiamento externo; Depositar patentes; Comercializar patentes para a indústria, negociar e administrar acordos de licenciamento; Monitoramento da tramitação legal das patentes; Encontrar empresas que que queiram e possam transformar tecnologias embrionárias em produtos. Estabelecer contatos com empresas em busca de oportunidades de realizar contratos; Identificar tecnologias existentes dentro da universidade; Apoiar a negociação e elaboração de contratos de transferência de tecnologia; Realizar estudos de viabilidade econômica dos inventos gerados na universidade, podendo apoiar a solicitação de patentes e seu posterior licenciamento; Realizar o monitoramento dos projetos contratados; Buscar financiamento para projetos em fontes governamentais; Marketing institucional. Falta de legislação; Passividade dos Núcleos de Inovação. Orçamento próprio (projetos CNPQ/FINEP); Estrutura centralizada - gabinete do reitor; Apenas 1 (um) contrato de transferência de tecnologia; Não utiliza a fundação de apoio; Não faz o acompanhamento dos projetos; Possui poucos funcionários (apenas 2). Não centraliza a interação U-E; O registro de PI é feito por outro núcleo; Transferência de Tecnologia por meio de patentes. Apenas recebe invenções de pesquisadores internos; Deposita patentes com o auxílio do NPI; Monitoramento das patentes feito pelo NPI; Não realiza a comercialização das patentes; Não procura empresas para comercialização; Estabelece contatos com empresas de forma passiva; Não identifica as tecnologias em desenvolvimento dentro da Universidade; Elabora os contratos de transferência de tecnologia; Buscar o financiamento para projetos em fontes governamentais; Passividade dos Núcleos de Inovação; Falta de divulgação e apoio interno Orçamento Dependente da PUC; Estrutura centralizada - mantenedora; Recebe total apoio da Mantenedora; Acompanhamento dos projetos desenvolvidos por meio do Portfólio; Possui cerca de 18 funcionários Centralizador da interação U-E; Registro de PI; Transferência de Tecnologia por meio de licenciamento e patentes Busca e recebe invenções de pesquisadores internos e externos; Deposita e comercializa patentes; Monitora a tramitação legal das patentes; Procura empresas para comercialização de tecnologias; Oferece Parque Tecnológico; Estabelece contatos com empresas; Identifica tecnologias em desenvolvimento dentro da Universidade; Elaboração de contratos de transferência de tecnologia; Busca financiamentos governamentais Divulgação interna e externa; Lei da Inovação para favorece IES públicas 14/16

contratos de licenciamento e depósito e comercialização de patentes e é o único e centralizador órgão de contato da Universidade com as empresas. Além de possuir uma equipe responsável pela identificação das tecnologias e competências existentes na Universidade e outra que as oferece para o mercado e ter forte ligação e interação com a associação mantenedora que presta o auxílio financeiro, jurídico e administrativo necessário. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo buscou apresentar os mecanismos de transferência de tecnologia que as universidade estudadas (UFPR e PUC-PR) utilizam em seu contato com o mercado, realizados por meio da cooperação com as empresas. A revisão bibliográfica feita mostrou que as questões referentes aos Escritórios de Transferência de Tecnologia das universidades ainda são relevantes, sobretudo para as instituições públicas de pesquisa no Brasil. Mesmo a Lei da Inovação tendo papel importante no estabelecimento de regras e diretrizes, ainda não traz com clareza as definições que as universidades buscam e precisam nessa atuação com o mercado. A falta de padrão nos nomes, atividades, objetivos e formas de atuação dificulta a interação entre o setor produtivo e as instituições de pesquisa no Brasil todo. Considera-se, contudo, que a Lei da Inovação foi uma evolução nesse sentido, ao menos para as instituições públicas de pesquisa. Pesquisas que trabalhem a influência dessa legislação na pesquisa de universidades privadas em relação à capacidade de cooperação com o mercado, bem como de recebimento de recursos públicos de fomento à pesquisa são recomendadas. Fica claro com o estudo, que o órgão responsável pela transferência de tecnologia na UFPR carece de maior atenção por parte da universidade, já que diversos dos objetivos e funções que o ETT deveria realizar, como por exemplo, o mapeamento de todas as competências e grupos de pesquisa da UFPR estão atualmente estagnados. Contudo, tendo em vista a recente mudança no comando dessa universidade, bem como o processo recente de desenvolvimento da Agência de Inovação da UFPR (e indicada pela Lei de Inovação), trazem uma perspectiva de futuro interessante. Dessa forma, como parte de recomendações futuras de estudo, sugere-se uma avaliação, em alguns anos, da situação e atuação que essa nova entidade, que compilará ETT, NPI e Incubadora, apresentará. Tendo em vista que o presente artigo apresenta como um de seus limitadores, a não possibilidade de generalizações estatísticas, sugere-se que se faça um estudo de maior abrangência (quantitativo), mapeado as universidades públicas e privadas que possuem ETTs e Agências de Inovação para que se possa confirmar ou não os dados encontrados na UFPR e na PUC-PR. Outra limitação que precisa ser ressaltada é o baixo número de indivíduos entrevistados, sendo que a coleta de informações de esferas diferentes das entidades, como por exemplo, da reitoria da UFPR e da diretoria da Associação Paraense de Cultura, poderiam trazer ganhos interessantes para o artigo. Por fim, recomenda-se também um estudo a respeito das implicações que essas diferenças entre os mecanismos de transferência de tecnologia de universidades públicas e privadas apresentam na condução dos papeis sociais esperados dessas organizações no contexto de desenvolvimento do sistema nacional de inovação do Brasil. Ademais, a situação a respeito das fundações de apoio das universidades em relação a atuação delas nessas cooperações carecem de maior aprofundamento, buscando identificar como se caracterizam e interagem com as agências de inovação atualmente. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15/16

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