INVESTIGAÇÃO DA PRESENÇA E CONTAMINAÇÃO DE MOLUSCOS DO GÊNERO BIOMPHALARIA NA ÁREA CENTRAL DO MUNICÍPIO DE IAPU/ MG

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INVESTIGAÇÃO DA PRESENÇA E CONTAMINAÇÃO DE MOLUSCOS DO GÊNERO BIOMPHALARIA NA ÁREA CENTRAL DO MUNICÍPIO DE IAPU/ MG RESEARCH OF THE PRESENCE AND CONTAMINATION OF MOLLUSCS BIOMPHALARIA S GENDER IN THE CENTRAL AREA OF THE MUNICIPALITY OF IAPU/ MG Andrade, Filipe Renault de¹; Soares, Poliana Fernandes de Lima¹; Valadão, Analina Furtado²; Moreira, Mary Lucy³ RESUMO O objetivo desse trabalho foi verificar a ocorrência e contaminação de moluscos do gênero Biomphalaria no córrego Santo Estevão em uma extensão de 2,5 Km dentro da região central do município de Iapu, Minas Gerais, Brasil. Foram realizadas 6 coletas, pelo método de "hand net", com intervalos aproximados de 2 meses, onde os moluscos coletados foram remetidos ao laboratório. A analise da contaminação por Schistosoma mansoni foi realizada pela verificação de liberação de cercaria pelo método de exposição à luz artificial e a identificação morfológica foi feita com base na comparação dos caracteres morfológicos da concha, manto e do aparelho reprodutor masculino e feminino. Os moluscos encontrados pertencem à espécie Biomphalaria straminea e não estavam contaminados com Schistosoma mansoni, já que não houve liberação de cercarias durante a exposição à luz artificial. Palavras-chave: Moluscos, Esquistossomose mânsonica, Iapu, Cercarias. ABSTRACT The aim of this study was to check the occurrence and contamination of molluscs of the genus Biomphalaria stream in Saint Stephen in an extension of 2.5 km within the region's central city of Iapu, Minas Gerais, Brazil. 6 samples were performed by the method of "hand net", with approximate intervals of 2 months, where the snails collected were sent to the laboratory. The analysis of the contamination of Schistosoma mansoni was performed by checking for the release of cercariae by the method of exposure to artificial light and morphological identification was based on comparison of morphological characters of the shell, and mantle of the male reproductive system and female. Molluscs found belong to the species Biomphalaria straminea and were not infected with Schistosoma mansoni, since there was no release of cercariae during exposure to artificial light. Keywords: Mollusca, Schistosomiasis, Iapu, cercariae. INTRODUÇÃO A esquistossomose mansônica é uma doença milenar que apresenta mais de 200 milhões de casos dispersos por 76 países, sendo que a maioria destes encontram-se nos continentes Africano, Asiático e Americano.Também conhecida como barriga d agua, xistosa, xistossomose, doença de manson, bilharzíase ou doença do caramujo, ela ainda é um grave ¹Graduados pelo Curso de Farmácia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais UnilesteMG ²Farmacêutica doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais; Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG ³Farmacêutica mestre; Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-MG. Contato: marylmoreira@ig.com.br

17 problema de Saúde Pública no Brasil, que apresenta aproximadamente 6 milhões de casos em seu território com áreas de concentração nos estados do Nordeste e Minas Gerais (FUNASA, 2003; KATZ; ALMEIDA, 2003; SOARES, et al, 2003; BARBOSA et al, 2004; COURA; AMARAL, 2004; COUTO, 2005; TELES, 2005;). O agente responsável por esta parasitose é um Helminto da classe Trematoda e família Schistomatidae, são de maior interesse médico. Essa família é dividida em duas sub-famílias, sendo que a Schistosomatina, que são caracterizados pelo dimorfismo sexual e por possuir parasitas de homens e animais. Dentro da subfamília Schistomatina temos o gênero Schistossoma, que abrigam 6 espécies: S. haemetobium, S. intercalatum, S, japonicum, S. mekongi e S. malayensis, mas a que se apresenta como um problema de Saúde Pública brasileira é a S. mansoni, já que é a única presente no território brasileiro, e está distribuída amplamente (COURA; AMARAL, 2004; NEVES, 2006). O ciclo de vida do Schistosoma mansoni envolve duas fases, uma fase sexuada, as qual apresenta um hospedeiro vertebrado (homem), e uma fase assexuada, em hospedeiros invertebrados (Biomphalaria), ocorrendo em ambientes distintos, como o meio interno de seus hospedeiros e a água (SOUZA et al, 1998; CARVALHO; PASSOS; CALDEIRA, 2005; NEVES, 2006). A região do Vale do Rio Doce, onde o município de Iapu encontra-se inserido, é uma área de grande destaque dentro do estado de Minas Gerais, apresentando grande incidência da parasitose e elevada presença de moluscos transmissores (SOUZA et al, 2001). Dentre as doenças presentes no município de Iapu, as parasitárias chamam a atenção, principalmente entre as crianças de 1 a 4 anos, representando valores próximos de 25,7% das internações totais, ficando atrás apenas das patologias do trato respiratório (DATASUS, 2007). Entre as parasitoses presentes no município, destaca-se a esquistossomose, o qual existem vários fatores predisponentes na região e já ocorreram relatos da presença de moluscos transmissores na cidade, planorbídeos pertencentes ao gênero Biomphalaria da espécie B.glabrata, principal transmissor da esquistossomose mansônica no Brasil (SOUZA et al., 2001). A patogenicidade da esquistossomose depende de fatores como a linhagem, quantidade de parasitos, o estado nutricional e imunológico do indivíduo. Na fase aguda da doença o indivíduo apresenta sintomas gerais de patologias parasitárias como diarréia e

18 vômitos e na forma crônica temos principalmente dois estágios, a hepato-intestinal e a mais grave que é a hepatoesplênica (KATZ; ALMEIDA, 2003). A presença de moluscos transmissores está associada à distribuição de diversas doenças parasitárias, como é o caso da esquistossomose mansônica. A endemia foi, provavelmente, introduzida no Brasil pelo tráfico de escravos, estabeleceu-se e dispersou-se a partir de fatores como a migração interna de pessoas contaminadas, turismo rural e pela presença das espécies Biomphalaria glabrata (Say, 1818), B. straminea (Dunker, 1848) e B. tenagophila (Orbigny, 1835), que são os únicos hospedeiros intermediários presentes no território brasileiro (VALADÃO; ANDRADE, 1991; SILVEIRA; JUNIOR; MACHADO, 1997; FUNASA, 2003; ENK; CARVALHO; SHALL, 2004;). O diagnóstico e tratamento da esquistossomose são relativamente simples. Medidas de tratamento maciço ou individual dos doentes em conjunto com medidas de saneamento básico, tratamento de água, conscientização da população, proteção individual são de grande importância para o controle epidemiológico ou até mesmo a erradicação da parasitose. Devido a estes fatores torna-se de extrema importância a procura de novas áreas potenciais em contaminação(katz; ALMEIDA, 2003; COURA; AMARAL, 2004). Este trabalho teve como objetivo verificar a ocorrência e contaminação de moluscos do gênero Biomphalaria no córrego Santo Estevão na área central da cidade de Iapu, Minas Gerais, Brasil. METODOLOGIA O estudo foi realizado no município de Iapu, uma pequena cidade do Leste do Estado de Minas Gerais, pertencente à microrregião de Caratinga/MG e próxima à região metropolitana do Vale do Aço, fora de aglomerados urbanos. Segundo o IBGE (2000) a cidade apresenta uma população estimada de 9.489 habitantes e uma área de unidade territorial de 337 Km 2 (DATASUS, 2007). O córrego Santo Estevão, onde as coletas foram realizadas, banha grande parte do município de Iapu. Neste estudo foi investigado apenas o trecho que corta a região central do município compreendendo uma extensão de 2,5 Km, ou seja, que atravessa o interior da cidade onde pessoas estão bem próximas e expostas à contaminação. As coletas de caramujos foram realizadas de forma a fornecer informações sobre a abundância das espécies de moluscos, o que permitiu a avaliação de possível dominância entre as espécies.

19 Foram selecionados 5 pontos de coleta no trecho do córrego Santo Estevão que atravessa a região central do município. Foram levados em consideração os locais mais habitados. Foram realizadas 6 coletas em cada ponto, entre abril de 2008 e março de 2009, com intervalos de aproximadamente 2 meses, com o objetivo de verificar as variações das concentrações de caramujos em todos os períodos do ano. Os pontos foram selecionados com o objetivo de avaliar toda a extensão do córrego na sua parte urbana, os pontos 1 e 5, ficam nas duas extremidades da parte urbana da cidade, em locais onde a presença de vegetação nas margens é elevada e a concentração de casas é pequena. Os pontos 2, 3 e 4 encontram-se em locais onde a concentração popular é elevada. Foi usado o método de "hand net" (conchadas), utilizou-se uma concha com 25 cm de altura, com perfurações de 0,5 cm de diâmetro, nas laterais e no fundo, adaptada a uma haste de madeira com cerca de l,20 m de comprimento. Foram feitas coletas em toda parte urbana do córrego. Em cada área foram realizadas 10 conchadas, de modo a abranger o máximo da heterogeneidade ambiental observada. As coletas foram realizadas a cada dois meses, no período de um ano. Para remessa ao laboratório, os moluscos coletados em cada ponto foram acondicionados em sacos plásticos devidamente identificados com numero de cada ponto de coleta. No laboratório os moluscos foram colocados em recipientes com água desclorada para a revitalização. Cada ponto de coleta foi considerado um lote e cada lote de moluscos foi colocado em vasilha plástica separada e corretamente identificada com o ponto da coleta e a data. Para cada lote foram realizadas a contagem e separação dos exemplares. Moluscos do gênero Biomphalaria sp. foram separados dos demais e em seguida foi feita a mensuração do diâmetro dos exemplares Biomphalaria sp. Após mensuração, os moluscos do gênero Biomphalaria foram colocados, individualmente, em recipientes plásticos contendo água desclorada e aquecida a 28 C, e expostos à luz artificial por 30 a 40 minutos. Decorrido esse período, os moluscos e a água foram examinados com o auxílio de lupa, para verificar a presença de cercárias. Amostras dos moluscos coletados em cada ponto foram separadas para estudos morfológicos. Os moluscos foram anestesiados em uma solução de fenobarbital 200mg/mL diluído em 99,2 ml de água destilada por um período de 8 a 12 horas, ate que ficassem completamente relaxados e imóveis. Em seguida os moluscos foram imersos em água a 70ºC, por um período de 30 a 45 segundos e colocados imediatamente em água fria. Após este procedimento os moluscos foram retirados da concha com o auxílio de pinça e estocados no

20 fixador de Raillet-Henry modificado (930 ml de água destilada, 6 g de cloreto de sódio, 50 ml de formol, 20 ml de ácido acético e ½ giz escolar) por 24 horas, substituindo a solução fixadora no final deste período por nova solução até a identificação. A identificação morfológica foi realizada com base na comparação dos caracteres morfológicos externos da concha e morfologia interna que compreende o manto e o aparelho reprodutor masculino e feminino, conforme estabelecido por Paraense (1975). RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da análise morfológica da concha, do sistema reprodutor masculino e feminino e do túbulo renal pode-se constatar que todos os moluscos encontrados eram pertencentes a espécie Biomphalaria straminea já que a superfície ventral do tubo renal era lisa e sem crista, a parede dorsal da vagina apresentava uma série de ondulações transversais e a bainha do pênis era relativamente larga e maior que em tamanho que o prepúcio como demonstrado na figura 1. Esse achado está em contraste com o relatado por Souza em 2001, que em sua revisão literária demonstrou apenas a presença de Biomphalaria glabrata no município de Iapu, não necessariamente nos mesmos pontos (PARAENSE, 1975; CALDEIRA et al., 2004; CARVALHO; PASSOS; CALDEIRA, 2005). O número total de caramujos coletados no córrego Santo Estevão em sua parte urbana no município de Iapu foi 96 e o resultado da análise morfológica dos mesmos demonstrou que todos eles pertenciam a espécie Biomphalaria straminea (100%). Estes, como descrito por Borges, são os moluscos transmissores que apresentam maior distribuição geográfica, estando presente em quase todo o território brasileiro (BORGES; LEMOS; FERRETE, 2008). A tabela I fornece o número de caramujos coletados por ponto, por coleta e o número total.

21 Tabela 1 Número de Espécimes de Biomphalaria straminea (Dunker 1848) capturados no Córrego Santo Estevão em sua parte urbana no município de Iapu, Minas Gerais de abril de 2008 a março de 2009, distribuídos por ponto e por coleta. Coleta 1 Caramujos capturados (Biomphalaria straminea) Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto nto 5 1 Abril/2008 7 17 16 3 1 2- Junho/2008 3 4 8 0 0 3- Setembro/ 2008 4 0 17 0 4 4- Novembro/ 2008 3 0 3 0 0 5- Janeiro/ 2009 0 0 0 0 0 6- Março/ 2009 0 0 6 0 0 Total por ponto 17 21 50 3 5 Total de caramujos 96 FONTE: Dados da pesquisa, 2008/2009. Po Através da análise da tabela pode-se verificar uma grande variação nas quantidades de caramujos coletados durante todo o período de pesquisa. Todos os pontos apresentaram uma expressiva diminuição da quantidade de moluscos a partir de novembro de 2008 (coleta número quatro), este fato pode estar relacionado com a retirada de parte da vegetação das margens do córrego pela Prefeitura Municipal de Iapu e o início do período chuvoso. Pôde-se verificar também que após quantidades elevadas de chuvas o córrego passa a apresentar correnteza elevada e consequentemente há um arraste dos moluscos, com isso o número de planorbídeos coletados diminuía, como no caso das coletas de novembro de 2008, janeiro e março de 2009. As menores quantidades de moluscos coletados foram nos pontos 4 e 5. Isto pode estar relacionado com a incidência elevada de poluição, já que a água encontrava-se escura e densa devido ao acúmulo de lixo doméstico descartado durante toda extensão urbana do córrego, aliado ao fato que o ponto 5 encontra-se próximo a uma cachoeira. Assim a correnteza é forte neste local e a fixação dos moluscos na vegetação é dificultada. O ponto 3 foi o que apresentou maior incidência dos moluscos, esta alta concentração pode estar relacionada com a presença de matéria orgânica e presença de vegetação, o que contribuiu para a alimentação e fixação destes moluscos, como relatado por Júnior e Santos (1986).

22 1 2 3 Figura 1 Caracteres internos de Biomphalaria straminea (Dunker 1848): (1)Pênis,(2) manto e (3)vagina. Pênis com a bainha relativamente larga e maior que o prepúcio, manto com superfície ventral do tubo renal lisa e sem crista e parede dorsal da vagina com uma série de ondulações transversais. FONTE: Dados da pesquisa, 2008. A espécie Biomphalaria straminea é conhecida pela sua boa plasticidade e grande capacidade de adaptação a ambientes com variações de certos parâmetros ambientais, como ph, turbidez, dureza, que são fatores limitantes a certas espécies 5, além de serem mais resistentes à infecção por S. mansoni e ter uma maior taxa de fecundidade. Devido a estes parâmetros já existem estudos de interações populacionais que demonstram a substituição de Biomphalaria glabrata (SAY, 1918) por Biomphalaria straminea (DUNKER, 1848) justificados com a hipótese da superioridade competitiva da segunda sobre a primeira, o que pode ter acontecido no município de Iapu (VALADÃO; ANDRADE 1991; PASSOS; SOUZA, 2000; KLOOS et al., 2001). Mesmo o Biomphalaria straminea (Dunker, 1848) sendo menos susceptível à infecção pode S. mansoni, ele apresenta grande relevância, principalmente na região nordeste onde é a principal espécie transmissora e responsável pela manutenção dos casos de esquistossomose (KLOOS et al., 2001). A análise da contaminação dos planorbídeos coletados feita por exposição à luz artificial demonstrou que nenhum se encontrava contaminado, já que não houve liberação de cercárias na água quando os mesmos foram colocados em condições ideais de temperatura e luminosidade. Este resultado pode estar associado, como relatado por Guimarães (1997), com o fato de o Biomphalaria straminea poder fagocitar as cercárias e provocar um encapsulamento das mesmas em seus órgãos, aumentando assim o período pré-patente e em alguns casos provocando a morte das mesmas. Esta espécie de Biomphalaria é também mais

23 resistente à infecção por miracídios, mas mesmo assim medidas preventivas devem ser tomadas para impedir a contaminação dos moluscos e consequentemente da população de moluscos. Ações governamentais como saneamento básico, instalação de água tratada e esgoto nas casas, educação sanitária e tratamento das pessoas contaminadas devem ser tomados para diminuir a incidência de esquistossomose no município, além da pesquisa dos possíveis focos de contaminação (GUIMARÃES et al.,1997; KATZ; ALMEIDA, 2003). CONCLUSÃO A pesquisa da presença e contaminação de moluscos é de extrema importância para a investigação dos focos de contaminação de esquistossomose visto que se há relatos de casos desta e outras patologias parasitárias no município de Iapu. A ocorrência de Biomphalaria straminea é mais vantajosa para o município de Iapu em comparação com Biomphalaria glabrata, visto que o primeiro tem uma menor probabilidade de transmissão da esquistossomose do que o segundo, mas mesmo assim medidas preventivas que envolvam a participação popular também devem ser tomadas para a diminuição do número de parasitoses na cidade, sendo necessária a divulgação de informações que envolvam melhoria de hábitos de higiene pessoal, uso de calçados, utilização apenas de água tratada para o consumo ou uso doméstico e não entrar em contato com águas potencialmente contaminadas. A investigação e rastreamentos dos focos de contaminação é uma grande necessidade no município, já que o córrego não se encontrava contaminado. REFERÊNCIAS BARBOSA, C. S.; ARAÚJO, K.C.; ANTUNES, L.; FAVRE, T.; PIERI, O. S. Spatial Distribuition of Shitosomiasis Foci on Itamaracá Island, Brazil. Memorial Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 99, n. 1, p. 79-83, 2004. BORGES, E. A.; LEMOS, J. C.; FERRETE, J. A. Fauna de moluscos (Biomphalaria) vetores da esquistossomose mansônica nos cursos D Água do assentamento de reforma agrária ezequias dos reis, no Município de Araguari MG. Revista Horizonte Científico, v. 1, n. 8, 2008. CALDEIRA, R.L.; PASSOS, L.K.J.;LIRA, P.M.; CARVALHO, O.S. Diagnostic Snail and Schistossoma mansoni: DNA obtained from Traces of Shell Organic Materials. Memorial Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 99, n. 5, p. 499 502, ago. 2004.

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25 KLOOS, H.; SOUZA, C.; GAZZINELLI, A.; FILHO, B.S.S.; TEMBA, P.C.; BETHONY, J.; PAGE, K.; GRZYWACZ, C.; LEWIS, F.; MINCHELLA, D.; LOVERDE, P.; OLIVEIRA, R.C. The Distribution of Biomphalaria spp. In Different Habitats in Relation to Physical, Biological, Water Contact and Cognitive Factors in a Rural Area in Minas Gerais, Brazil. Memorial Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 96, p. 57-66, 2001. NEVES, D. P. Parasitologia Dinâmica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2006. PARAENSE, W. L. Estado atual da siatemática dos Planorbídeos Brasileiros. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v. 55, p. 105-128, nov.1975. PASSOS, L. K. J.; SOUZA, C. P. Susceptibility of Biomphalaria tenagophila and Biomphalaria straminea to schistosoma mansoni infection detected by low stringency polymerase chain reaction. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 42, n. 5, p. 291-294, set./out. 2000. SILVEIRA, E.P.; JUNIOR, O.M.; MACHADO, M.I. Ocorrência de Biomphalaria straminea (pulmonata:planorbidae) na estação de aqüicultura do Ibama em uberlândia,mg. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 30, n. 5, p. 401-403, set./out. 1997. SOARES, L.C.B.;DIAS, L.C.S.;KANAMURA, H.Y.; OLIVEIRA,E.J.; CIARAVO, R.M. Schistosomiasis mansoni: Follow-up of Control Program Based on Parasitologic and Serologic Methods in a Brazilian Community of Low Endemicity. Memorial Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 98, n. 6, p. 853-859, set. 2003. SOUZA, C. P.; CALDEIRA, R.L.; DRUMMOND, S. C.; MELO, A. L.; GUIMARÃES, C. T.; SOARES, D. M.; CARVALHO, O. S. Geographical Distribution of Biomphalaria Snails in the State of Minas Gerais, Brazil. Memorial Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 96, n. 3, p. 293-302, abr. 2001. SOUZA, C. P.; LIMA, L. C.; PASSOS, L. K. J.; FERREIRA, S. S.; GUIMARÃES, C. T.; VIEIRA, L. B. F.; JUNIOR, R. M. Moluscos límnicos da microrregião de Belo Horizonte, MG, com ênfase nos vetores de parasitoses. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 31, n. 5, p. 449-456, set./out. 1998. TELES, H.M.S. Distribuição geográfica das espécies dos caramujos transmissores de Schistosoma mansoni no Estado de São Paulo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 38, n. 5, p. 426-432, set./out. 2005.

26 VALADÃO, R.; ANDRADE, R. M. Interações de planorbídeos vetores de esquistossomose mansoni e o problema da expansão de endemia na região amazônica. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 25, n. 5, p. 353-358, out. 1991. Recebido em: 10/09/10 Publicado em: 15/12/10