AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 24979-72.2009.8.06.0000/0 AGRAVANTES: JOSÉ SIMÃO FILHO E ANA LÚCIA SANTOS SIMÃO AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S.A RELATOR: DR. FRANCISCO MARTÔNIO PONTES DE VASCONCELOS (JUIZ CONVOCADO) EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL. PROCESSO CIVIL. LEI N.º 8.009/90. EXECUÇÃO. BEM DE FAMÍLIA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. NULIDADE DA HASTA PÚBLICA POR FALTA DE INTIMAÇÃO DO SENHORIO DIRETO. INOCORRÊNCIA. EDITAL DE PRAÇA PUBLICADO EM JORNAL DE GRANDE CIRCULAÇÃO. REMIÇÃO APÓS A ASSINATURA DO AUTO DE ARREMATAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRECLUSÃO TEMPORAL. 1. Não é dado ao Judiciário reconhecer a natureza de bem de família a imóvel objeto de execução, conferindo-lhe a blindagem prevista na Lei n.º 8.009/90, quando não há prova, mas meras alegações, de que o bem executado constitui o único imóvel dos recorrentes e que é utilizado para moradia permanente destes. 2. Não há falar em nulidade da praça por ausência de intimação no senhorio direto, se observado o comando do art. 687, C. Pr. Civil, com a publicação do edital em jornal de grande circulação local. 3. O direito de remir bem dado em hipoteca se encontra normatizado pelo art. 1.482, C. Civil. Não pode o executado, pois, intentar a remição após a assinatura do auto de arrematação, quando a pretensão estará alcançada pela preclusão temporal. 4. Agravo improvido. 5. Unânime.
AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 24979-72.2009.8.06.0000/0 AGRAVANTES: JOSÉ SIMÃO FILHO E ANA LÚCIA SANTOS SIMÃO AGRAVADO: BANCO DO BRASIL S.A RELATOR: DR. FRANCISCO MARTÔNIO PONTES DE VASCONCELOS (JUIZ CONVOCADO)
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acorda a Turma Julgadora da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, na conformidade da ata de julgamento, por decisão unânime, em conhecer do Agravo de Instrumento, mas para negar-lhe provimento, nos termos do voto do Relator. Fortaleza, 22 de fevereiro de 2010. Presidente (em exercício) Dr. Francisco Martônio Pontes de Vasconcelos Juiz convocado e Relator Procurador de Justiça RELATÓRIO
Trata-se de Agravo de Instrumento apresentado por José Simão Filho e Ana Lúcia Santos Simão, contra decisão proferida pelo Juízo da 8.ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, em sede de Ação de Execução proposta pelo Banco do Brasil S.A, ora Agravado. Aduzem os Recorrentes que no curso da ação promovida pelo banco exequente houve indevida arrematação de imóvel de propriedade daqueles, a despeito de tratar-se, é o que dizem, de bem de família. Alegam, ainda, que o senhorio direto do referido imóvel não foi intimado da praça na qual foi arrematado, providência exigida pela legislação de regência, mas desrespeitada pelo juízo processante. Por fim, dizem os recorrentes que têm interesse em remir o bem alienado, mas que tal direito lhe foi negado na alçada monocrática. Apresentados estes argumentos ao juízo da execução, o judicante entendeu por rejeitá-los (fl. 199). À vista disso, pedem os Agravantes que prolação recorrida seja reformada nesta instância revisora. Suspensividade deferida às folhas 79-81. Instado às contra-razões, o Recorrido rebateu a fundamentação recursal, concluindo pela manutenção do decisum impugnado, vendo-se, por outro lado, que o arrematante do imóvel interveio nos presentes autos pugnando, igualmente, pelo improvimento do recurso. manifestou. Notificado para prestar informações, o Juiz da causa não se
É o relatório, em suma. VOTO Nada obstante a entrega da liminar inaudita altera pars, examinando o feito novamente, desta feita em cognição exauriente da matéria fático-jurídica, entendo que a decisão combatida não carece de reforma. Colhe-se dos autos que Simão Santos Distribuidora de Aviamentos para Roupas LTDA., cujo quadro societário é composto pelos Agravantes, contraiu empréstimo junto ao Banco do Brasil S.A, ora Agravado, ofertando, como garantia hipotecária, dois bens imóveis, sendo um deles de propriedade dos sócios-avalistas. Sobrevindo situação de inadimplência em razão do não pagamento das parcelas pactuadas entre o banco e a sociedade empresarial, aquele ingressou com Ação de Execução de Título Extrajudicial (Cédula de Crédito Comercial) na 8.ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, em sede da qual, aos 2 (dois) de setembro último, o imóvel (pertencente aos sócios) dado em garantia foi arrematado em hasta pública. Inconformados com tal desfecho, os Recorrentes/Executados solicitaram ao Juiz da causa, sem sucesso, a anulação da garantia hipotecária e o consequente desfazimento de todos os atos posteriores dela decorrentes, ao argumento de que o imóvel alienado judicialmente
tem natureza de bem de família, não devendo, portanto, responder por dívida de qualquer natureza. Nos termos do art. 5.º, da Lei n.º 8.009/90, entende-se por bem de família "o único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente". Apesar da insistência dos Recorrentes na afirmação de que residiam no imóvel arrematado e que este era o único que possuíam, não cuidaram, como deveriam, em comprovar o alegado. Em caso semelhante, assim se pronunciou este órgão julgador: "Para que o bem tenha a proteção da Lei n 8.009/90, deve haver prova inequívoca de servir de moradia à entidade familiar, não sendo suficientes simples alegações" (Ap. Cível n.º 781346-87.2000.8.06.0001/1, Rel. Des. Celso Albuquerque Macêdo, unân., j. em 14.09.2009). Sem fincas no conteúdo probante, rejeito esta primeira vertente recursal. Noutro ponto, insurgem-se os Recorrentes aduzindo que a praça na qual o imóvel foi arrematado padece de nulidade, haja vista a ausência de intimação do senhorio direto, no caso, o Patrimônio de Nossa Senhora do Rosário. Mais uma vez sem razão.
Vê-se à fl. 37 destes autos que o edital de hasta pública foi devidamente publicado em jornal de ampla circulação local, conforme determina o art. 686, C. Pr. Civil, providência que acarretou a cientificação não só do senhorio direto, mas de qualquer credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada (art. 698, C. Pr. Civil). Importante ressaltar que o Patrimônio de Nossa Senhora do Rosário não praticou qualquer ato que buscasse a invalidação da alienação judicial do imóvel aforado. Ao revés, limitou-se a receber do arrematante o laudêmio que lhe era devido (v. recibo, fl. 96) pela transferência onerosa do bem. Superado mais este tópico, passo ao seguinte, onde os Recorrentes afirmam que o juízo monocrático incorreu em error in judicando ao negar-lhes o direito de remir o imóvel arrematado, nada obstante tenham manifestado interesse em fazê-lo. Dispõe o art. 1.482, C. Civil: "Realizada a praça, o executado poderá, até a assinatura do auto de arrematação ou até que seja publicada a sentença de adjudicação, remir o imóvel hipotecado, oferecendo preço igual ao da avaliação, se não tiver havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido. Igual direito caberá ao cônjuge, aos descendentes ou ascendentes do executado" (destaquei).
No caso dos autos, a assinatura do auto de arrematação (fl. 286) deu-se aos 3 de setembro de 2009. Já o pedido de remição do bem hipotecado, tardiamente dirigido ao Juiz da execução, somente fora feito dia 8 seguinte, extrapolado o limite temporal fixado na lei. Corroída, como visto, pela preclusão temporal, descarta-se esta última pretensão recursal. Por todo o exposto, conheço do Agravo para negar-lhe provimento, mantida, in totum, a decisão impugnada. É como voto. Fortaleza, 22 de fevereiro de 2010. Dr. Francisco Martônio Pontes de Vasconcelos Juiz convocado e Relator