Projeto A Vez do Mestre. Mudanças no Ensino Médio



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Transcrição:

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS Projeto A Vez do Mestre Mudanças no Ensino Médio Marcus dos Santos Moreira RIO DE JANEIRO, JULHO DE 2001.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS Projeto A Vez do Mestre MUDANÇAS NO ENSINO MÉDIO Marcus dos Santos Moreira Trabalho Monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Docência do Ensino Fundamental e Médio. Rio de Janeiro, julho de 2001.

Dedico esta obra a grande amiga e esposa Cássia da Silva Moreira, por me incentivar em todo momento no decorrer deste curso.

O ensino precisa perder seu caráter enciclopédico. A memória deve ser menos trabalhada do que o raciocínio. Paulo Renato Ministro da Educação Terezinha Azerêdo Rios

SUMÁRIO Resumo... 05 Introdução... 07 Parte 1 Histórico... 09 Parte 2 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação e A Reforma do Ensino Médio... 11 Conclusão... 17 Referências bibliográficas... 19 Anexo... 20

Resumo O ministério da Educação organizou em sua atual administração o Projeto de Reforma do Ensino Médio e está desempenhado em promover reformas na área educacional que permitam superar o quadro de extrema desvantagem em relação aos índices de escolarização e nível de conhecimento que apresentam os países desenvolvidos. As propostas de reforma curricular para o Ensino Médio se pautam nas constatações sobre as mudanças no conhecimento no que se refere à produção e as relações sociais de modo geral. A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias. O Ensino Médio portanto é a etapa final de uma educação de caráter geral tendo o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho como sujeito cidadão. Pensar um novo currículo para o ensino médio coloca em presença estes dois fatores: As mudanças estruturais que decorrem da chamada Revolução do Conhecimento alterando o modo de organização do trabalho e as relações sociais que deverá atender a padrões de qualidade que se condizem com as exigências desta sociedade.

Introdução O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, organizou, na atual administração, o projeto de reforma do Ensino Médio como parte de uma política mais geral que prioriza as ações na área da educação. O Brasil, como os demais países da América Latina, está desempenhado em promover reformas na área educacional que permitam superar o quadro de extrema desvantagem em relação aos índices de escolarização e de nível de conhecimento que apresentam os países desenvolvidos. As propostas de reforma curricular para o Ensino Médio se pautam nas constatações sobre as mudanças no conhecimento e seus desdobramentos, no que se refere à produção e às relações sociais de modo geral.

Nas décadas de 60 e 70, considerando o nível de desenvolvimento da industrialização na América Latina, a política educacional vigente priorizou, como finalidade para o Ensino Médio, a formação de especialistas capazes de dominar a utilização de maquinarias ou de dirigir processos de produção. Esta tendência levou o Brasil, na década de 70, a propor a profissionalização compulsória, estratégia que também visava a diminuir a pressão da demanda sobre o Ensino Superior. Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra ordem. O volume de informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos. A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação.

Histórico SE É NECESSÁRIO PENSAR EM REFORMAS CURRICULARES, LEVANDO EM CONTA AS MUDANÇAS QUE ALTERAM A PRODUÇÃO E A PRÓPRIA ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE QUE IDENTIFICAMOS COMO FATOR ECONÔMICO, NÃO É MENOS IMPORTANTE CONHECER E ANALISAR AS CONDIÇÕES EM QUE SE DESENVOLVE O SISTEMA EDUCACIONAL DO PAÍS. NO BRASIL, O ENSINO MÉDIO FOI O QUE MAIS SE EXPANDIU, CONSIDERANDO COMO PONTO DE PARTIDA A DÉCADA DE 80. DE 1988 A 1997, O CRESCIMENTO DA DEMANDA SUPEROU 90% DAS MATRÍCULAS ATÉ ENTÃO EXISTENTES. EM APENAS UM ANO, DE 1996 A 1997, AS MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO CRESCERAM 11,6%. É IMPORTANTE DESTACAR, ENTRETANTO QUE O ÍNDICE DE ESCOLARIZAÇÃO LÍQUIDA NESTE NÍVEL DE ENSINO, CONSIDERADA A POPULAÇÃO DE 15 A 17 ANOS, NÃO ULTRAPASSA 25%, O QUE COLOCA O BRASIL EM SITUAÇÃO DE DESIGUALDADE EM RELAÇÃO A MUITOS PAÍSES, INCLUSIVE DA AMÉRICA LATINA.

O PADRÃO DE CRESCIMENTO DAS MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO NO BRASIL, ENTRETANTO, TEM CARACTERÍSTICAS QUE NOS PERMITEM DESTACAR AS SUAS RELAÇÕES COM AS MUDANÇAS QUE VÊM OCORRENDO NA SOCIEDADE. AS MATRÍCULAS SE CONCENTRAM NAS REDES PÚBLICAS ESTADUAIS E NO PERÍODO NOTURNO. OS ESTUDOS DESENVOLVIDOS PELO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS, QUANDO DÁ AVALIAÇÃO DOS CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO, EM NOVE ESTADOS REVELAM QUE 54% DOS ALUNOS SÃO ORIGINÁRIOS DE FAMÍLIAS COM RENDA MENSAL DE ATÉ SEIS SALÁRIOS MÍNIMOS.

A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL E A REFORMA CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9394/96) vem conferir uma nova identidade ao Ensino Médio, determinando que o Ensino Médio é Educação Básica. A Constituição de 1988 já prenunciava essa concepção, quando, no inciso II do Art. 208, garantia como dever do Estado a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao Ensino Médio. Posteriormente, a emenda constitucional n.º 14/96 modificou a redação desse inciso sem alterar o espírito da redação original, inscrevendo no texto constitucional a progressiva universalização do Ensino Médio gratuito. A Constituição, portanto, confere a esse nível de ensino o estatuto de direito de todo cidadão. A alteração provocada pela Emenda Constitucional merece, entretanto, um destaque. O Ensino Médio deixa de ser obrigatório para as pessoas, mas a sua oferta é dever do Estado, numa perspectiva de acesso para todos aqueles que desejarem. Por sua vez, a LDB reitera a obrigatoriedade progressiva do Ensino Médio, sendo esta, portanto, uma diretriz legal, ainda que não mais constitucional.

A LDB confere caráter de norma legal à condição do Ensino Médio como parte da Educação Básica, quando por meio do Art. 21, estabelece que o Ensino Médio passa a integrar a etapa do processo educacional que a Nação considera como base para o acesso às atividades produtivas, para o prosseguimento nos níveis mais elevados e complexos de educação e para o desenvolvimento pessoal, referido à sua interação com a sociedade e sua plena inserção nela, ou seja, que tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (Art. 22, Lei n.º 9.394/96). Também explica que o Ensino Médio é a etapa final da educação básica, o que concorre para a construção de sua identidade. O Ensino Médio passa a ter a característica da terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a oportunidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental; aprimorar o educando como pessoa humana; possibilitar o prosseguimento de estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a cidadania; dotar o educando dos instrumentos que o permitam continuar aprendendo, tendo em vista o desenvolvimento da compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos produtivos (Art. 35, incisos I a IV). O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma educação de caráter geral, afinada com a contemporaneidade, com a construção de competências básicas, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como sujeito em situação o cidadão.

Nessa concepção, a Lei n.º 9.394/96 muda no cerne a identidade estabelecida para o Ensino Médio contida na referência anterior, a Lei n.º 5.692/71, cujo 2º grau se caracteriza por uma dupla função: preparar para o prosseguimento de estudos e habilitar para o exercício de uma profissão técnica. Na perspectiva da nova Lei, o Ensino Médio, como parte da educação escolar, deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (Art. 1º e 2º da Lei n.º 9394/96). Essa vinculação é orgânica e deve contaminar toda a prática educativa escolar. Em suma a Lei estabelece uma perspectiva para esse nível de ensino que integra, numa mesma e única modalidade, finalidades até então dissociadas, para oferecer de forma articulada, uma educação equilibrada, com funções equivalentes para todos os educandos: A formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa; O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

A preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; O desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos. Quando a LDB destaca as diretrizes curriculares específicas do Ensino Médio, ela se preocupa em apontar para um planejamento e desenvolvimento do currículo de forma orgânica, superando a organização por disciplinas estanques e revigorando a integração e articulação dos conhecimentos, num processo permanente de interdisciplinaridade e transdiciplinalidade. Essa proposta de organicidade está contida no Art. 36, segundo o qual o currículo do Ensino Médio destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. A organicidade dos conhecimentos fica mais evidente ainda quando o Art. 36 da LDB estabelece, em seu parágrafo 1º, as competências que o aluno, ao final do Ensino Médio, deve demonstrar:

moderna; I domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção II conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; III domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania; O perfil de saída do aluno do Ensino Médio está diretamente relacionado às finalidades desse ensino, conforme determina o Art. 35 da Lei: O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidade: I a consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudo: II a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

III a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. A denominação desse grau de ensino, que se situa entre o fundamental e o superior tem variado, conforme a lei vigente neste ou naquele período da educação brasileira. À época da Lei 4024/61, que vigorou na definição dos graus de escolaridade, no ano de 1971 (para os ensinos de 1º e 2º graus, o nome adotado para esse grau de ensino foi Ensino Médio, com duas ramificações, a saber: Ensino Secundário e Ensino Técnico. Com a reforma de 1971 (Lei 5692) o nome mudou para Ensino de 2º grau a assim se manteve até a Constituição de 1988, que voltou a consagrar a expressão Ensino Médio. É esta, pois, a que consta da atual LDB. Este grau de ensino tem gerado inúmeras controvérsias sobre sua natureza. Para uns, trata-se de um ensino destinado a ampliar a cultura geral do educando e, nesse sentido, subdividiu-se, antes da promulgação da Lei 4.024/61, em dois grandes ramos: o clássico, mais voltado para as letras, as ciências sociais e a filosofia, e o científico, mais endereçado às ciências exatas: Física, Química, Matemática e Biologia. Para outros, deveria voltar-se, de preferência, para a habilitação profissional, com ênfase maior para as disciplinas específicas e menor para a cultura geral. Foi a corrente que se impôs na reforma de 1971, obrigando todas as escolas desse grau de escolaridade a priorizarem a formação técnica sobre qualquer outra. Tal procedimento resultou num ruidoso fracasso dessa reforma, que nem formou técnicos qualificados para o mundo do trabalho, nem

desenvolveu o gosto pela cultura geral na juventude brasileira. Essa é inegavelmente uma das principais causas da crise, que se aprofundou nos últimos trinta anos, nesse grau de ensino. Nessa crise, prosperaram os cursinhos pré-universitários e se desqualificaram os cursos superiores, em função do despreparo cultural de seus alunos.

Conclusão O futuro do jovem e da jovem desse final de século será sempre um projeto em aberto, podendo incluir períodos de aprendizagem de nível superior ou não, intercalados com experiências de trabalho produtivo de diferente natureza, além das escolhas relacionadas à sua vida pessoal: construir família, participar, da comunidade, eleger princípios de consumo, de cultura e lazer, de orientação política, entre outros. O projeto de reforma do Ensino Médio situa o trabalho no projeto de vida como estratégia para tornar sustentável financeiramente um percurso educacional mais ambicioso destacando, também, a cidadania prevendo os dois pontos como princípios contextos, nos quais a capacidade de continuar aprendendo deve se aplicar, a fim de possa adaptar-se às condições em mudança na sociedade, especificamente no mundo das ocupações. A LDB neste sentido é clara: em lugar de estabelecer disciplinas ou conteúdos específicos, destaca competências de caráter geral, dentre as quais a capacidade de aprender é decisiva. O aprimoramento do educando como pessoa destaca a ética, a autonomia intelectual e o pensamento crítico. Em outras palavras, convoca a constituição de uma identidade autônoma. É possível concluir que parte dos grupos sociais, até então excluídos, tenham consciência da importância de continuar seus estudos em função do término do Ensino

Fundamental dada a compreensão sobre a importância da escolaridade, em função das novas exigências do mundo do trabalho. Pensar um novo currículo para o Ensino Médio coloca em presença estes dois fatores: as mudanças estruturais que decorrem da chamada revolução do conhecimento, alterando o modo de organização do trabalho e as relações sociais; e a expansão crescente da rede pública, que deverá atender a padrões de qualidade que se condizem com as exigências desta sociedade.

Referências Bibliográficas 1. FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Moraes, 1980. 2. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. 3. NISKIER, Arnaldo. LDB: a nova lei da Educação. Rio de Janeiro: Consultor, 1996. 4. SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de. Como entender melhor a nova LDB. São Paulo: Pioneira, 1997.

Anexo Entrevista 1. Nome, função que exerce e local? Ari Alves de Couto professor / coordenador do Instituto Sepetiba. 2. O Ensino Médio tem como finalidade e preparação para o trabalho? Em tese, com certeza; na prática, talvez. 3. Se tem, essa preparação realmente acontece? Isso na verdade não acontece por alguns motivos bastante claros: a saber. I. Os currículos mesmo os novos ainda não estão 100% direcionados para colocar o Aluno/formando/profissional no mercado de trabalho; mercado esse cada vez mais exigente. Isso não só no Brasil pois, em toda parte do mundo grassa hoje uma profunda crise em relação a emprego.

II. Os governos não conseguem entender que a educação deve preparar o indivíduo para exercer uma cidadania mais consciente e isso, é claro, inclui inevitavelmente o fator emprego. III- A educação sistemática precisa deixar de funcionar como elemento que ignora, quando não despreza e desvaloriza, a cultura da comunidade em que está inserida, ou seja, uma escola rural não obrigatória precisa ensinar biologia ou física mas prioritariamente tem que ter em seu currículo técnicas agrícolas e coisas afins. 4. Como os colégios estaduais de nível técnico fazem essa preparação? Eles na verdade não fazem, eles tentam fazer. Eles pregam uma socialização fácil, de efeito adaptativo e eficaz; pregam também a adequada integração social do aluno no modus vivendi da escola porém, esquecem que a vida como é hoje exige que a escola prepare o indivíduo de maneira subjetiva, ou seja, está na hora de passarmos da descoletivização escolar para a personalização da aprendizagem de acordo com as necessidades de cada um. 5. As disciplinas de Filosofia e Sociologia fazem parte do currículo do Ensino Médio de acordo com a nova LDB? Não obrigatoriamente ainda, o que se espera da escola hoje é que ela mantenha essas disciplinas sempre presente, isso quer dizer sempre relacioná-las às outras disciplinas.

6. Que profissionais estão habilitados a lecioná-las? Em primeiro momento e levando em conta a resposta acima qualquer profissional de educação. 7. De acordo com a lei 9394/96, o Ensino Normal em nível médio continuará a existir. Qual será sua real importância, já que teremos o Normal Superior? Ele não terá importância alguma em muito pouco tempo, pois será suplantado pelo Normal Superior. 8. Os colégios e cursos de nível médio e profissionalizante tem que encaminhar o aluno para o estágio ou isso é feito pelo aluno? A escola não tem obrigação com o estágio, a obrigação da escola é desenvolver capacitação necessária para sua inserção nas empresas modernas.