EFEITOS DE MEIOS DE CULTURA NA FORMAÇÃO DE CALOS A PARTIR DE ANTERAS DE ASPARGO (ASPARAGUS OFFICINALIS L.)

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Transcrição:

Acta bot. bras. 9( I): 1995 115 EFEITOS DE MEIOS DE CULTURA NA FORMAÇÃO DE CALOS A PARTIR DE ANTERAS DE ASPARGO (ASPARAGUS OFFICINALIS L.) Recebido em 04.08.93. Aceito em 23.03.95. Vera Lucia Bobrowski I José Antônio Peters 2 Eliane Augustin 3 Judith Viégas 4 RESUMO - Técnicas auxiliares, como a cultura de anteras, possibilitam melhor eficiência na obtenção de novos genótipos de aspargo. Neste trabalho, foram utilizadas anteras contendo grãos de pólen, no estágio uninucleado, dos híbridos 56x22-8 e 47x22-8, em meio MS, semi-sólido e líquido, com diferentes concentrações de reguladores de crescimento: meio A - 0,5 mg/l BAP + 0, I mgll ANA + 0,5 mgll 2,4-D + 20 gil sacarose + 20 g/l glicose; meio B - 0,5 mgll 2,4-D + 30 g/l sacarose; meio C - 3,0 mgll ANA + 0,5 mg/l Kin + 30 gll sacarose e meio D - 2,0 mgll ANA + 0,5 mgll Kin + 30 gll sacarose. A formação de calos variou com o genótipo e o meio. Os meios líquidos apresentaram melhor eficiência na indução de calos do que os meios semi-sólidos. Para o híbrido 56x22-8 os melhores meios foram o A, (líquido) com 80,5% de indução de calos e dentre os meios semi-sólidos, o meio D, com41,6% de calos formados. Para o híbrido 47x22-8, o mais eficiente foi o meio D, (líquido), com 68, I % de calos formados e, dentrt: os meios semi-sólidos, o O, com 15,2%. Não ocorreram diferenças significativas, estatisticamente, entre os meios líquidos nem entre os meios semi-sólidos. Palavras-chave: Cultura de anteras, haplóides, Asparagus officinalis L. Abreviaturas: BAP Benzilaminopurina; ANA-Ácido Naftalenoacético 2,4-D-Ácido 2,4-Diclorofenoxiacético; Kin Cinetina. ABSTRACT - Anther culture is an auxiliary technique to obtain new genotypes. In this work, anthers with pollen grains in the uninucleated stage ofhybrids 56x22-8 and 47x22-8 were cultured in MS medi um, semi-solid and liquid, with different concentrations of growth regulators: medium A - 0,5 mg/l BAP + 0,1 mgll NAA + 0,5 mgli2,4-d + 20 g/l sucrose + 20 g/l glucose; medium B - 0,5 mgll 2,4-D + 30 g/l sucrose; medi um C - 3,0 mgll NAA + 0,5 mg/l Kin + 30 g/l sucrose and medium O - 2,0 mgll NAA + 0,5 mgll Kin + 30 gll sucrose. Callus formation varied with the, Departamento de Genética, Instituto de Biologia, UFPel, Cx. P. 354, Pelotas/RS., Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, UFPel, Cx. P.354, Pelotas/RS, bolsista CNPq. 3 EMBRAPA/CPACT, Cx. P. 403, Pelotas/RS, bolsista CNPq. 4 Bolsista OTI/RHAE, Lab. Biologia Celular CPACT/UFPel, Cx. P. 403,Pelotas/RS.

116 Bobrows ki ef,,[ ge nolype and lhe medillm. Liquid media showed more efficiency in call1ls developmenl lhan lhe semi-solids. For lhe hybrids 56x22-8 lhe besl media were lhe liqllid A, wilh 80,5% of callus inducli on and among lhe semi-solids lhe DI wilh 4 1,6%. For lhe hybrid 47x22-8 were liquid O, wilh 68,1 % and semi solid DI wilh 15,2%. No significant differences were observed among lhe liquid media nor among lhe semi -solidones. Introdução Key words: Anlher culture, haploids, Asparagus oij icinalis L. A eficiência dos programas de melhoramento do aspargo é reduzida em virtude de sua natureza perene e dióica e da baixa taxa de multiplicação vegetativa (Augustin et ai., 1990). A cultura de tecidos tornou-se, portanto, uma ferramenta importante no auxílio ao melhoramento convencional desta espécie. Dentre as diversas técnicas disponíveis, a cultura de anteras tem-se mostrado valiosa, pois, além de facilitar a análise genética, possibilita a expressão de mutações e permite a diminuição do tempo necessário para a obtenção de uma linha pura (Moraes-Fernandes, 1990). O principal objetivo técnico com aspargo é a obtenção de haplóides masculinos para, por duplicação cromossômica, obter plantas diplóides homozigotas. Estas são de grande interesse pois permitem obter, em um intervalo de tempo menor do que o de processos convencionais, novos cultivares com probabilidade de maior produtividade. Através do melhoramento convencional, a obtenção de plantas masculinas, homozigotas dominantes para o caráter sexo (YY), só poderiam ser obtidas partindo-se de plantas andromonóicas (com flores masculinas e hermafroditas na mesma planta) e selecionando a sua descendência. Considerando-se a baixa ocorrência, na natureza, destas plantas (inferior a 2%), este processo se torna demasiado longo e por vezes infrutífero. O sucesso na produção de plantas haplóides, via cultura de anteras, requer a adaptação das técnicas androgenéticas, de acordo com as diferenças entre genótipos (Augustin et ai 1990). Três pontos são de fundamental importância na obtenção de plantas através da cultura de anteras do aspargo: (1) formação de calos a partir de anteras; (2) formação de gemas a partir de calos e (3) obtenção de plantas a partir destas gemas (Doré, 1973; Inagaki et al.,1981, Falavigna et al.,1990; Romeau, 1990). A primeira etapa neste processo é a obtenção de calos. São vários os fatores que afetam diretamente este processo: o genótipo, o estágio fisiológico da planta doadora de anteras, o estágio de desenvolvimento do grão de pólen e o meio de cultura (Nitsch, 1981; Doods & Roberts,1982; Dunwell,1985). Há uma diversidade de resposta de determinados genótipos na indução de calos dependendo do meio de cultivo utilizado (Falavigna et ai., 1990). Neste trabalho testaram-se diferentes composições de meios para obtenção de uma maior eficiência de indução de calos para os híbridos 47x22-8 e 56x22-8, produzidos pela EMBRAPA-CPACT, os quais são bem adaptados às condições edafoclimáticas da região e apresentam boa produtividade.

Formação de calos a partir de anteras de Aspargo (A SpllJ"llgUS ( ~fficillalis L.) 117 Materiais e métodos Foram utilizadas anteras de dois híbridos (47x22-8 e 56x22-8) cultivados em casa de vegetação. A fim de correlacionar tamanho do botão floral com o estágio de desenvolvimento do grão de pólen, foi medido o comprimento floral e foi verificada a coloração do mesmo e analisada a posição do núcleo, na maioria dos grãos de pólen de cada botão. Os botões florais foram separados em quatro classes, em função do tamanho: 0,5-1,0; 1,1-1,5; 1,6-2,Oe maiores que2,lmm, sendo analisados 25 botões em cada classe. As anteras foram retiradas, colocadas sobre uma lâmina e esmagadas com um bastão de vidro para liberação dos grãos de pólen. O material foi corado com carmim acético 1 %. Com o auxílio de microscópio óptico, fez-se a determinação dos diferentes estágios de desenvolvimento dos grãos de pólen, considerando principalmente a posição do núcleo deslocado para um dos polos da célula, como característica do estágio uninucleado. Para a cultura in vitro, botões florais contendo anteras com grãos de polén no estágio uninucleado foram desinfestados por imersão em álcool 70% por 3 segundos e, após, em solução de hipoclorito de cálcio I % por lo minutos. A seguir, o material foi lavado três vezes em água destilada esterilizada, permanecendo nesta até transferência para o meio de cultura. Todos os procedimentos de desinfestação foram realizados em câmara asséptica de fluxo laminar. O meio mineral básico utilizado para a formação de calos foi o MS (Murashige & Skoog, 1962) com modificações quanto a parte vitamínica (tiamina-hci, piridoxina, glicina, ácido nicotínico e biotina a 1,0 mg/l de cada uma). Ao meio mineral básico foram adicionados 100 mg/l de mio-inositol, diferentes combinações de sacarose e/ou glicose e reguladores de crescimento (BAP, ANA, 2,4-D e Kin), compondo quatro meios: Meio A - MS + 0,5 mg/l BAP + 0,5 mg/l 2,4-D + 0,1 mg/l ANA + 20 g/i sacarose + 20 g/l glicose Meio B - MS + 0,5 mg/i 2,4-D + 30 g/i sacarose Meio C - MS + 3,0 mg/l ANA + 0,5 mg/l Kin + 30 g/l sacarose Meio D - MS + 2,0 mg/l ANA + 0,5 mg/l Kin + 30 g/l sacarose Os quatro meios foram usados em dois estados físicos, semi-sólido (AI a Dl)' e líquido (A 2 a D 2 ). Aos meios semi-sólidos foram adicionadas 6 g/i de agar, após ajuste do ph (5,8). Foram utilizados 40 ml de meio por frasco de 200 ml de volume e esterilizados por 15 min a 121 ± 1 C e 1,5 atm de pressão. Os meios semi-sólidos foram denominados AI' BI, CI e Dl e os meios líquidos de A 2, Bz, C 2 e D 2. As anteras, inoculadas nos diferentes meios, foram mantidas no escuro, em câmara de crescimento, à temperatura de 27 ± 1 C por 30 dias. Ao final, verificou-se para cada genótipo o número de calos formados e observou-se o aspecto dos mesmos. O experimento conduzido foi um fatorial, com dois fatores (meios e genótipos) num delineamento inteiramente casualizado com três repetições. A unidade experimental foi o frasco com o meio de cultivo, cada um contendo 24 anteras de cada

118 Bobrowski elal genótipo. Para complementar os resultados da análise de variância, utilizou-se o teste de Duncan a 5% para a variável, número de calos por frasco (devidamente transformada segundo raiz quadrada de x). Resultados e discussão Verificou-se que botões florais medindo 1,6 a 2,0 mm de comprimento, apresentavam a maioria dos grãos de pólen no estágio uninucleado (Tabela 1). Estes botões possuem anteras de coloração verde amarelada, sendo esta outra característica que pode ser utilizada para a escolha do material a ser colocado in vitro. A Figura 1 apresenta, citologicamente, estágios de desenvolvimento dos grãos de pólen, para as quatros classes de botões florais estudadas, mostrando que pequenas variações no comprimento dos mesmos, determinam diferenças no estágio de desenvolvimento dos grãos de pólen. A B I c D Figura I. Diferentes estágios de desenvolvimento dos grãos de pólen de acordo com o comprimento do botão floral. (A) Díade, (0,5 a 1,0 mm); (B) Tétrade (1,0 a 1,5 mm); (C) Pólen uninucleado (1,5 a 2,0 mm); (D) Pólen maduro (> 2,0 mm).

Formação de calos a partir de anleras de Aspargo (A spamglls 'df/gil/alis L.) I 19 Tabela I. Correlação entre tamanho de botão floral, coloração das anteras e estágio de desenvolvimento do grão de pólen em aspargo. Tamanho do botão 0,5 a 1,0 I, I a 1,5 1,6 a 2,0 > 2,1 Coloração das anteras branca verde verde-amarelada amarela Estágio de desenvolvimento floral (mm) do grão de pólen díade tétrade pólen uninucieado pólen maduro Para a realização deste trabalho, foram utilizados somente botões florais medindo entre 1,6 a 2,0 mm de comprimento, contendo anteras verde-amareladas, pois segundo PeIletier et ai. (1972) e Doré (1974), no aspargo, o estágio uninucieado é indicado como aquele no qual se obtem maior divisão celular dos grãos de pólen e formação de calos. A análise de variância do número de calos formados a partir de anteras dos híbridos 56x22-8 e 47x22-8, nos oito meios de cultura, mostrou diferenças significativas entre genótipos, entre meios de cultura e na interação genótipo x meio de cultura (Tabela 2). Tabela 2 - Número médio de calos/frasco, para os híbridos 56x22-8 e 47x22-8 em diferentes meios de cultura. Meio de indução Número médio de calos/frasco Estado físico Tipo 56x22-8 47x22-8 Semi-sólido AI 5,6 d A 1,9 b B BI 8,6 c A 1,9 b B C I 5,3 d A 2,9 b B DI 9,9 c A 3,5 b B Líquido A 2 19,3 a A 13,1 a B B 2 14,3 b A 16,2 a A C 2 14,9 ab A 13,1 a A D 2 16,3 ab A 15,6 a A * Médias seguidas pela mesma letra maiúscula, nas linhas, e pela mesma letra minúscula, nas colunas, não diferem entre si, pelo teste de Duncan, ao nível de probabilidade de 5%. o híbrido 56x22-8 apresentou resultados mais favoráveis que o 47x22-8 quando utilizados os meios AI' BI, C I e DI e A 2, não sendo a diferença significativa

120 Bobro\Vs ki e/lil entre os demais meios. Esta variação da resposta androgenética que se observa entre os híbridos foi também verificada por Quiao & Falavigna (1990), que encontraram variações na frequência da resposta das anteras a um determinado meio, de acordo com o genótipo da planta doador:!. Para o híbrido 56x22-8, os meios em que se obtiveram melhores respostas foram A 2, D 2 e C 2 com médias de 19,3; 16,3 e 14,9 calos/frasco, respectivamente, não diferindo significativamente entre si. Dentre os meios semi-sólidos o meio DI com média de 9,9 calos/frasco e o meio B I, com média de 8,6 calos/frasco foram os melhores, não diferindo significativamente entre si. Assim como para o híbrido 56x22-8, os meios líquidos foram mais favoráveis que os semi-sólidos para o híbrido 47x22-8, sendo que os melhores meios foram B 2, D 2, C 2 e A 2 (todos líquidos e não diferindo estatisticamente entre si) com médias de 16,2; 15,6; 13,3 e 13,3 calos/frasco, respectivamente. No entanto, observou-se que, qualitativamente, os calos produzidos no meio B 2 eram menores que os demais e oxidavam facilmente. Entre os meios semi-sólidos, os meios DI' C I, BI e AI não diferiram estatisticamente entre si,e apresentaram respectivamente médias de 3,5; 2,9; 1,9 e 1,9 calos/frasco. Estes resultados, onde os meios líquidos são superiores aos semi-sólidos, estão em concordância com os obtidos por Dunwell (1985), para aspargo. Em cevada, Marsolais & Kasha (1985) também verificaram que uma alta produção de calos era obtida em meios líquidos. A utilização do meio AI para indução de calos, apresentou resultados semelhantes aos obtidos por outros autores. Doré (1973) obteve um percentual de indução de calos de 8%. Quiao & Falavigna (1990) encontraram uma frequênciaque variou de 0,7 a 12,8%, conforme a cultivar utilizada. O percentual de 8,3 % (1,9 calos/frasco) de formação de calos obtido com o híbrido 47x22-8 está próximo ao observado por estes autores. O percentual obtido com o híbrido 56x22-8, entretanto, foi superior (23,6% ou 5,6 calos/frasco). Quando utilizado este meio no estado líquido (meio A 2 ), a inducão foi mais eficiente que a obtida em meio semi-sólido, sendo de 55,5 (13,3 calos/frasco) e 80,5% (19,3 calos/frasco), respectivamente para os genótipos 47x22-8 e 56x22-8. As frequências de indução de calos para os meios C I e DI' foram menores que as obtidos por Bin et ai. (1989) utilizando meio de cultivo semelhante, porém com concentrações de ANA e Kin mais elevadas. Estes autores, utilizando meio com 5,0 mg/i ANA + 1,0 mg/i Kin, para cv. Mary Washington, obtiveram 74,4% de formação de calos. Por outro lado, os meios líquidos C 2 e D 2 apresentaram bons índices de formação de calos,ou seja, 14,9 e 16,3 calos/frasco para o híbrido 56x22-8 e 13,1 e 15,6 para o híbrido 47x22-8, respectivamente. Os calos formados após a abertura da antera apresentavam-se de coloração esbranquiçada e com consistência compacta, tornando-se mais friáveis conforme o crescimento, tanto em meio semi-sólido como líquido. (Figura 2)

Formação de calos a partir de anteras de Aspargo (Aspa ragus ojjicillalis L.) 121 r/j 90 80 O ~ 70 U ê5 60 O,«C> 50 ::J Cl ~ 40 ~ Cl ~ 30 1 ~HÍBRIDO 56x 22-8 o HÍBRIDO 47x 22-8 1 80.5 20 10 A A2 8 82 c C2 D D2 MEIO DE CULTURA Figura 2. Calo formado a partir de antera do aspargo, híbrido 47x22-8. A escala equivale a 5mm. Conclusões Botões florais com 1,6 a 2,0 mm de comprimento apresentaram a maioria dos grãos de pólen no estágio uninucleado. O melhor meio de cultura para indução de calos variou comforme o genótipo, A 2 para o híbrido 56x22-8 e D 2 para o 47x22-8, sendo os meios líquidos mais eficientes que os meios semi-sólidos. Referências bibliográficas Augustin, E., Moraes, E.C., Osório, V. A., Couto, M. E. O., Peters, J.A., Salles, L. A. B. 1990. A Cultura do Aspargo, Pelotas, EMBRAPA- CNPFf (Circular Técnica, n.15). Bin, Z., Ming, W., Ni-Yun, H. 1989. Studies on the anther culture of asparagus. In VII International Asparagus Symposium. Ferrara, Italia, 1989. Abstracts, Fen'ara, p.io. Doods, J. H. & Robelts, L. W. 1982. Anther and Pollen Cultures. In Doods, J. H. and Robelts, L. W. Experiments in tissue culture, Cambridge University Press, p.127-140. Doré, C. 1973. Androgenese in vitro par culture d' antheres d' Asparagus officinalis. I. Etat AtueI des Recherches. Eucarpia I: 173-182. Doré, C. 1974.Production de plantes homozigotes mâles et femelles à partir d'antheres cultivées (Asparagus officinalis L.). C.R. Acad. Se. Paris 278:2135-2138. Dunwell, J.M. 1985. Haploid cell culture. In DIXON, R.A., Plant cell culture, a praticai approach. Oxford, IRL Press Limited, p.21-37.

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