SITUAÇÕES-PROBLEMA PARA O ENSINO DO REGISTRO DO NÚMERO NEGATIVO

Documentos relacionados
CONHECENDO NOVOS NÚMEROS

A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DO ENSINO SUPERIOR Nilton Cezar Ferreira IFG Campus Goiânia

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA CAMPUS ALEGRETE PIBID

INTRODUÇÃO DO CONTEÚDO DERIVADAS ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

CONSTRUINDO CONHECIMENTO COM A UTILIZAÇÃO DO MATERIAL MANIPULATIVO FRAC-SOMA

SABERES MATEMÁTICOS DOS ALUNOS DO 9ºANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Mostra do CAEM a 21 de outubro, IME-USP MODOS DE PENSAMENTO NARRATIVO E PARADIGMÁTICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

GEOGEBRA: REPRESENTAÇÕES DO COTIDIANO 1

MusiCALcolorida: formas musicais e coloridas para representar e explorar números 1

LETRAMENTO DIGITAL: A INFORMÁTICA NA ESCOLA. Jarbas Oliveira (UFCG); Wilho da Silva Araújo (UFCG)

Formação Continuada Nova EJA. Plano de Ação : Unidade 1- Números Inteiros. Nome: Rafael Augusto Corrêa Rodrigues. Regional : Metropolitana I

o altímetro é um aparelho que registra altitudes: alturas medidas em relação ao nível do mar. As

CONSTRUINDO NOVA METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM- AVALIAÇÃO NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE GEOMETRIA

O CÁLCULO DA ÁREA DO CÍRCULO: UMA BREVE ANÁLISE EM DOCUMENTOS OFICIAIS DE ORIENTAÇÃO CURRICULAR

o altímetro é um aparelho que registra altitudes: alturas medidas em relação ao nível do mar. As

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CEAD PLANO DE ENSINO

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: DESAFIOS E POSSSIBILIDADES NO ENSINO DE MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS

Caro(a) aluno(a), Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas CENP Secretaria da Educação do Estado de São Paulo Equipe Técnica de Matemática

Resolução de problemas como metodologia de ensino e sua abordagem nos livros didáticos 1

O PAPEL DAS INTERAÇÕES PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

TRABALHANDO COM RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO CLUBE DE MATEMÁTICA DO PIBID: O CASO DO PROBLEMA DO SALÁRIO

NOME: JOSÉ ALEXANDRE DOS REIS SOUTO SÉRIE : 1ª GRUPO: 8 TUTOR: ANALIA MARIA FERREIRA FREITAS

RESUMO. Palavras-chave: Adição e subtração com números inteiros, Material concreto, Ábaco.

PRODUTO EDUCACIONAL JARDEL SANTOS CIPRIANO. Orientador: Prof. Dr. Ivan Marcelo Laczkowski

Produção e revisão de textos no processo inicial da escrita

CRÔNICAS DA GIOVANNA: BLOG COMO POSSIBILIDADE DE AMBIENTE DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

A MATEMÁTICA NO COTIDIANO: RECONHECENDO E TRABALHANDO COM SITUAÇÕES QUE ENVOLVEM FUNÇÕES

O GEOGEBRA NO ESTUDO DE PONTO, RETA E PLANO VOLTADO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

O ENSINO DE EQUAÇÕES POLINOMIAIS DO 1º GRAU VIA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

USO DE MATERIAIS MANIPULÁVEIS NO ENSINO DE PRODUTOS NOTÁVEIS

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNEB/CAMPUS XII

CAMPO CONCEITUAL ADITIVO NOS ANOS INICIAIS: UMA ABORDAGEM NO CONTEXTO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

O estudo da Linguagem Matemática na sala de aula: uma abordagem através da Resolução de Problemas

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, HABILIDADES E A MATEMÁTICA ESCOLAR: DIFICULDADES E PERSPECTIVAS

Conjunto dos Números Inteiros. Prof Carlos

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO DOS PROFESSORES DE TRÊS ESCOLAS MUNICIPAIS DE IMPERATRIZ-MA 1

COMO TÊM SIDO APRESENTADO O USO DA CALCULADORA NOS LIVROS DIDÁTICOS

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PROPOSTA DE ENSINO DA TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO

EDUCAÇÃO ALGÉBRICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II: A EXTENSÃO GERADA PELA PESQUISA

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DA FUNÇÃO AFIM: UMA VIVÊNCIA COMO BOLSISTA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA A PARTIR DO USO DO GEOGEBRA

UMA ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DE PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA NOS LIVROS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE JATAÍ

ESCOLA EMEF PROFª MARIA MARGARIDA ZAMBON BENINI - PIBID. 11/04/2014 e 16/04/2014

PROPOSTA DE ATIVIDADES SOBRE CONCEITOS ALGÉBRICOS COM PADRÕES GEOMÉTRICOS E NUMÉRICOS PARA ALUNOS DO 7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

ANÁLISE DA ABORDAGEM DADA AOS LOGARITMOS NO CADERNO DO ALUNO, À LUZ DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO/INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL CENTRO DE ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DO ENSINO ASSISTENCIAL COLÉGIO MILITAR DOM PEDRO II

DESENHO E PINTURA COMO INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS NA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. Resumo

Indicações e propostas para uma boa política municipal de Educação

CONSTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE

A MATEMÁTICA NO COTIDIANO: UMA ABORDAGEM PRÁTICA NO ESTUDO DOS NÚMEROS INTEIROS

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

A INTERDISCIPLINARIDADE COMO EIXO NORTEADOR NO ENSINO DE BIOLOGIA.

Formação Continuada Nova EJA Plano de Ação 1 Nome: Mônica de Freitas Paradela Regional: Metropolitana I Tutor: Plano de Ação (PA) INTRODUÇÃO...

Impacto da formação continuada na atuação dos professores de matemática: um estudo de caso

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA: UMA AÇÃO DO PIBID/MATEMÁTICA/CCT/UFCC

REFLEXÕES INICIAIS SOBRE LETRAMENTO

PRODOCÊNCIA UEPB: PROFISSÃO DOCENTE, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

O MEIO LÚDICO COMO ESTRATÉGIA EM SALA DE AULA: JOGO EDUCATIVO SOBRE FONTES DE ENERGIA NO COTIDIANO

Raquel Taís Breunig 2

ETNOMATEMÁTICA E LETRAMENTO: UM OLHAR SOBRE O CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM UMA FEIRA LIVRE

CARGA HORÁRIA SEMANAL: CRÉDITO: CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 45 NOME DA DISCIPLINA: MATEMÁTICA BÁSICA NOME DO CURSO: PEDAGOGIA

A Visualização e a Representação Geométrica de Conceitos Matemáticos e suas Influências na Constituição do Conceito Matemático

LIVRO DAS FRAÇÕES: UM RECURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO PARA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

VISÃO GERAL DA DISCIPLINA

aprendizagem significativa

MATEMÁTICA PLANEJAMENTO 4º BIMESTRE º B - 11 Anos

FATEB Faculdade de Telêmaco Borba

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

CURRÍCULO DE MATEMÁTICA: UMA ANÁLISE DAS PROPOSTAS SOBRE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NOS PCN E NO CURRÍCULO DO ESTADO DE SP

EXPLORANDO OS POLINÔMIOS E OS GRÁFICOS DAS FUNÇÕES POLINOMIAIS

O JOGO DAMA DE SINAIS COMO UMA ALTERNATIVA DE ESTUDO DAS EXPRESSÕES NUMÉRICAS COM NÚMEROS INTEIROS

Já nos primeiros anos de vida, instala-se a relação da criança com o conhecimento

A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

RELATÓRIO I Data: 06/05/2015

Mostra do CAEM a 21 de outubro, IME-USP UMA INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA COM PENTAMINÓS

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS DIDÁTICOS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NAS AULAS DE BIOLOGIA

CURSO DE VERÃO. PROPOSTA: Com a intenção de atender aos diferentes atores interessados na temática da disciplina,

VI JOPEMAT II ENCONTRO NACIONAL DO PIBID/MATEMÁTICA/FACCAT, I CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Roteiro de trabalho para o 4o ano

O ESTUDO DO CONCEITO PROBABILIDADE PROPOSTO POR UM LIVRO DIDÁTICO 1 THE STUDY OF THE CONCEPT PROBABILITY PROPOSED BY A TEACHING BOOK

A APLICABILIDADE DOS GÊNEROS DISCURSIVOS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS

AS NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS AO ENSINO DA GEOMETRIA ESPACIAL RESUMO ABSTRACT

Palavras-chave: Laboratório de Matemática; Pibid; Práticas Pedagógicas.

JOGOS BOOLE: A MANEIRA DIVERTIDA DE APRENDER

APRENDENDO SEMPRE RESUMO

INVESTIGAÇÃO E ESCRITA NAS AULAS DE MATEMÁTICA: POTENCIALIDADE DO APLICATIVO CALCULADORA DO CELULAR

Ensino Fundamental 1I Data: / /2015

A UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE GEOGEBRA COMO METODOLOGIA DE ENSINO NO ÂMBITO DA ESCOLA MUNICIPAL JOAQUIM CALADO

Teorias curriculares: teoria tradicional campo epistemológico e teóricos

PLANO DE TRABALHO SOBRE FUNÇÕES Paula Larrubia Marques

A ANÁLISE DE ERROS NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA. Autor: José Roberto Costa 1 (Coordenador do projeto)

LITERATURA DE CORDEL COMO RECURSO METODOLÓGICO PARA O TRABALHO NA SALA DE AULA.

SEQUÊNCIA 6 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL EMAI SEQUÊNCIA 6 ATIVIDADE 6.1

A LEITURA E A ESCRITA NO PROCESSO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NAS AULAS DE MATEMÁTICA

Introdução. 1 Licenciada em Matemática e Mestranda em Educação pela Universidade de Passo Fundo bolsista CAPES.

COLÉGIO NOSSA SENHORA DA PIEDADE. Programa de Recuperação Paralela. 1ª Etapa Ano: 7º Turma: 7.1

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Transcrição:

SITUAÇÕES-PROBLEMA PARA O ENSINO DO REGISTRO DO NÚMERO NEGATIVO Geralda Neri Santana Secretaria de Estado de Educação - SEED-PR E-mail: pipo_ziga@hotmail.com Resumo: Este trabalho apresenta as reflexões dos resultados obtidos mediante a aplicação de situaçõesproblema em turma de sétimo ano na disciplina de Matemática, da Escola Estadual Ipiranga - Ensino Fundamental, no município de Maringá/PR, no ano de 2017. O objetivo foi investigar como os alunos registram as quantidades negativas em diferentes contextos. O problema delineado para o estudo foi: Como escrever utilizando linguagem matemática um saldo devedor, uma temperatura abaixo de zero? Sabemos que em situações cotidianas como as baixas temperaturas difundidas em jornais televisivos e outros meios, não representam condição necessária para compreensão do registro do número negativo. Em outras palavras, o aluno compreende o contexto, mas sua dificuldade seria transpor a oralidade para o registro matemático. Nesse sentido, elaboramos a partir de problemas três atividades acerca de termômetros, temperatura climática e saldo bancário. Após socialização das estratégias das soluções e registros apresentados pelos alunos vimos a necessidade de revisar assuntos anteriores, bem como formalizar o registro do número negativo em linguagem matemática. Palavras-chave: Ensino fundamental. Número negativo. Situações-problema. Linguagem matemática A relevância deste trabalho Situações-problema para o ensino do registro do número negativo consiste favorecer o registro oral em escrito de situações experienciadas por alunos. Isso porque, mesmo nas situações que fazem parte da vivência dos alunos como o contato auditivo / visual, pode não ocorrer sua compreensão quando transferimos o registro oral para o registro escrito. Dizendo de outro modo, os alunos ao ouvirem nos noticiários televisivos sobre baixas temperaturas em regiões de inverno rigoroso, ou ainda consumindo produtos conservados em freezer, estes não se atentam acerca do registro de temperaturas negativas. Ou seja, apresentam, por exemplo, dificuldades em registrar a indicação de uma temperatura negativa, um saldo devedor, utilizando a linguagem matemática. Assim, conforme Pais: Quando a criança chega à escola, seu conhecimento está ainda fortemente marcado pelos objetos do saber cotidiano e seria um grande equívoco desprezar essa realidade na prática pedagógica. O desafio didático consiste em estudar estratégias que possam contribuir na transformação desse saber

cotidiano para o saber escolar, preparando o caminho para a passagem ao plano da ciência (PAIS, 2008, p.59). Para possibilitar a construção deste conhecimento, o registro de quantidades negativas, utilizando número precedido do sinal (-) à sua esquerda, foi utilizado a resolução de problemas tendo como pressuposto os conhecimentos prévios e o problema como ponto de partida. O problema delineado para este estudo foi: Como escrever utilizando linguagem matemática um saldo devedor, uma temperatura abaixo de zero? Para tanto, o objetivo foi investigar como se dá o registro de quantidades negativas em diferentes circunstâncias. Em um contexto histórico a literatura apresenta a difícil aceitação dos números negativos, e neste sentido, estes são considerados números absurdos. Conforme Berlingohoff e Gouvêa: Você sabia que os números negativos não eram aceitos de modo geral nem mesmo pelos matemáticos até uns poucos séculos atrás? Colombo descobriu a América mais de dois séculos antes de os negativos serem incorporados à sociedade dos números. Eles não se tornaram cidadãos de primeira classe até os meados do século XIX, por volta da mesma época da guerra Civil dos Estados Unidos. [...] Afinal de contas, como uma quantidade pode ser menor que nada? Logo, não é de surpreender que a ideia de números negativos um número menor que zero tenha sido um conceito difícil (BERLINGOHOFF; GOUVÊA, 2010. p.95). Diante do exposto, observa-se que no decorrer da história a dificuldade de aceitação dos números negativos se deu até pelos matemáticos. Mesmo Diofante, que escreveu um livro sobre resolução de equações, nunca considerou nada além de números racionais positivos. Por exemplo, o Problema 2 do Livro V de sua Arithmetica o levou à equação 4x + 20 = 4. Isso é absurdo, ele diz pois 4 é menor do que 20. Para Diofante 4x + 20 = 4 significa adicionar alguma coisa a 20 e, portanto, não poderia nunca ser igual a 4 (BERLINGOHOFF; GOUVÊA, 2010. p.96). A partir do século XVIII com a interpretação geométrica dos números positivos e dos números negativos como segmentos de direções opostas é que os negativos ganharam visualização e passaram a ser aceitos.

Resolução de problemas A forma de ensinar com abordagem na resolução de problemas teve início conforme Morais e Onuchic (2014) na primeira metade do século XX. Nessa perspectiva, professor e aluno assumem papéis distintos objetivando uma aprendizagem que propicia ao aluno construir significado ao que lhe está sendo ensinado. Há diferentes formas de interpretar a resolução de problemas. Para Schroeder e Lester (1989), o problema vai ser utilizado como ponto de partida para iniciar o ensino de um conteúdo. Ao professor cabe a função de mediar à aprendizagem, propiciando ao aluno uma participação efetiva na construção do conhecimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), acenam que o ensino de conteúdos de matemática na abordagem da resolução de problemas, tendo o problema como [...] ponto de partida da atividade matemática [...] como eixo organizador do processo ensino e aprendizagem (BRASIL, 1998, p.40) implicam numa abordagem que deixa de ser uma reprodução. Conforme este documento oficial. Resolver um problema não se resume em compreender o que foi proposto e em dar respostas aplicando procedimentos adequados. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido (BRASIL, 1998, p.42). Nesse sentido, a abordagem da resolução de problemas no ensino de um conteúdo da disciplina de matemática representa uma forma de dar significado ao processo ensino e aprendizagem. Assim, partindo de situações-problemas para iniciar um conteúdo, amplia-se as possibilidades de interação entre o ensinar e o aprender. METODOLOGIA O presente trabalho consiste num relato de experiência, desenvolvido com 27 alunos do 7º ano do ensino público do município de Maringá, Paraná. Estudou-se, como se dá o registro de situações que envolvem números inteiros, especificamente os números negativos. Megid (2001) ressalta que a inserção de número negativo no cotidiano social dos indivíduos é evidente, entretanto muitos alunos têm dificuldade em se familiarizar com esses registros.

Mesmo com assuntos envolvendo temperaturas indicadas nos termômetros, saldo bancário e outros exemplos, pode ser que os mais jovens não saibam como registrar estes valores negativos em linguagem matemática. Neste caso, cabe ao professor ficar atento ao lançar as situações de desafio, investigando os conhecimentos prévios dos alunos e a interpretação que estes apresentam quando usam o número negativo, bem como a forma de registrá-lo. Apresentamos aos 27 estudantes atividades abordando termômetros, temperatura climática e saldo bancário. A proposta constituiu na aplicação de três situações-problema. Foram as seguintes: Atividades 1. Termômetros 2. Temperatura climática 3. Saldo bancário Objetivos 1. Representar com números as temperaturas indicadas nos termômetros, bem como situações de ocorrência destas temperaturas; 2. Indicar de outra forma as temperaturas mencionadas no texto; 3. Escrever e registrar em linguagem matemática a situação financeira do sr. Pereira, após a movimentação bancária. 1ª atividade: Termômetros Observe os termômetros A e B que indicam as temperaturas em graus Celsius. Represente com números e escreva situações onde estas temperaturas podem ser observadas. Figura 1- Ilustrações das atividades Fonte: Figura 1.A: Arquivos da autora. Figura 1.B: Souza e Pataro (2012) modificado.

2ª atividade: Temperatura climática Você sente e observa as mudanças do tempo. Em cada região do planeta ocorre variação de temperatura, ou seja, as temperaturas são diferentes, ora o tempo está quente, ora frio. Moramos numa região onde geralmente faz calor, mas sabemos que há lugares que às vezes faz muito frio. Para verificar ou acompanhar a temperatura é utilizado um instrumento chamado termômetro. 1) Vejamos uma parte do noticiário, (com algumas adaptações) 1 O dia também amanheceu com mínima de 4ºC na capital. A máxima não deve passar de 12ºC. Em Palmas, na região Sul, a mínima registrada foi de três graus abaixo de zero. Guarapuava, na região central, também amanheceu com temperatura negativa de um grau. Após a leitura, responda o seguinte: a) De que outra forma você representaria essas duas temperaturas que ocorreram em Palmas e em Guarapuava? 3ª atividade: Saldo bancário O sr. Pereira conferiu o extrato bancário de sua conta corrente. No começo do mês ele tinha um saldo de R$450,00. No decorrer do mês foram descontados de sua conta dois cheques que ele havia emitido, um de R$230,00 e outro de R$185,00. Além disso, foi depositado em sua conta um cheque de R$420,00, e o sr. Pereira efetuou um saque no terminal de autoatendimento no valor de R$500,00. Qual é o saldo do sr. Pereira após essas movimentações? (após resolver estes cálculos, escreva e registre utilizando linguagem matemática a situação financeira do sr. Pereira ) No primeiro momento, ocorreu a aplicação das três situações-problema citadas. Investigamos a forma como os alunos registram as quantidades negativas em diferentes contextos e se o registro realizado pelo aluno de quantidades negativas ocorre ou não em linguagem matemática, quando nos referimos a um saldo devedor, uma temperatura abaixo de zero. Observamos a escrita baseando nos seus conhecimentos prévios e nas estratégias que elaboram para solucionar problemas fornecendo, desse modo, subsídios para encaminhar os passos seguintes. O desenvolvimento das atividades seguiu a dinâmica: 1) Resolução individual de uma das três situações-problema, sendo entregue apenas uma atividade para cada aluno. 2) Resolução em grupos, formados pelos alunos que tinham a mesma situaçãoproblema; 1 Disponível em < http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/06/frio-ganha-forca-e-derruba-temperaturasem-todo-o-parana.html> acessado em 17/04/2017

3) Apresentação oral, socialização das discussões e escrita no quadro de giz das estratégias de resolução apresentadas pelo grupo, fazendo análise matemática das situações com a mediação da professora e colegas; 4) Formalização do registro das quantidades negativas. Resultados e discussões No primeiro momento os alunos, individualmente, resolveram as situações- problema, sem intervenção da professora. Para cada resolução deveriam registrar a solução conforme sua interpretação. Em seguida, foram agrupados para discutirem as soluções cabíveis, a partir da interpretação individual. A professora circulava entre os grupos, acompanhando as discussões. Vejamos algumas das formas de resolução elaboradas pelos alunos nos grupos. Análise da resolução da 1ª atividade: Termômetros Figura 2- Resolução sobre Termômetros Fonte: Resoluções dos alunos O que podemos inferir na figura 2.A, é que ocorreu (em parte) uma interpretação que condizia com a questão problematizada, ou seja, descrever situações que podem ocorrer as temperaturas indicadas. Mas conforme podemos observar na solução apresentada na figura 2.B, nem a imagem do termômetro (Figura 1.B) com marca de 10º C negativos, nem a sua escrita muito frio (Figura, 2.A) foram requisitos que propiciam o registro em linguagem matemática da quantidade negativa. Neste caso, para responder a segunda parte da questão que assinalava represente com números, bastava copiar as temperaturas

demonstradas nos termômetros. O registro é apresentado conforme figura 2.B, como sendo a diferença entre as temperaturas indicadas nos termômetros assinalados (Figuras 1.A e 1.B) a questão fica na interpretação do problema proposto, que é essencial para o seu desenvolvimento. Análise da resolução da 2ª atividade: Temperatura climática Figura 3- Resolução sobre a temperatura climática Fonte: Solução dos alunos Ao registrarmos a análise da 2ª atividade (Figura 3) que se refere à temperatura climática, percebemos que a solução demonstra a fragilidade dos conhecimentos prévios. Ficou claro ao professor que os conceitos de frações e números decimais precisam ser revistos, conforme solução apresentada. Análise da resolução da 3ª atividade: Saldo bancário Figura 4 - Saldo bancário Fonte: Solução dos alunos

Em relação a 3ª atividade, saldo bancário, é importante ressaltar que há percepção do saldo devedor, indicando a compreensão da ideia de número negativo. Percebemos que o registro se deu num texto escrito, não necessariamente em linguagem matemática. O que merece atenção se dá ao fato da escrita que a dívida do sr. Pereira não é de R$ 0,45, conforme citado, na verdade o saldo devedor do sr. Pereira é de R$450,00. A quantidade, com expressivo erro de valores, fica mencionada num texto escrito em linguagem verbal. Há interpretação do enunciado, conforme registro (Figura 4) terá que devolver ao banco, indicando essa ocorrência. Percebe-se pela solução apresentada que o registro em linguagem matemática (mesmo com erro de valores) não ocorre nesse momento. Considerações finais Na interpretação dos resultados obtidos conforme o registro da solução apresentada pelos alunos, percebemos que há compreensão da ideia de quantidades negativas, e o registro destas quantidades em diferentes contextos, se dá em linguagem verbal. Apresentam dificuldades na compreensão do registro do número negativo, em linguagem matemática, que se dá precedido do sinal (-) à esquerda do número, e que conteúdos como frações e números decimais precisam ser retomados. A forma de obter as informações necessárias para trabalhar este conteúdo, ou seja, ensinar via resolução de problemas, tendo o problema como ponto de partida permitiu perceber a necessidade de rever conteúdos. A elaboração e desenvolvimento dos problemas, o trabalho em grupo, as discussões e socialização das estratégias contribuíram em dar voz ao aluno, ações relevantes na construção do conhecimento. O quadro requer a elaboração de outras situações-problema que favoreçam prosseguir na construção deste conhecimento, ou seja, escrever utilizando linguagem matemática um saldo devedor, uma temperatura abaixo de zero. É preciso continuar provocando os alunos, instigando-os a apresentar outros exemplos de situações em que tais números, os negativos, se apresentam e podem ser explorados e tem sua própria forma própria de registro, e esta formalização da linguagem matemática cabe ao professor levando em conta as discussões da classe.

Referências BERLINGHOFF, W. P; GOUVÊA, F. Q. A matemática através dos tempos: um guia fácil e prático para professores e entusiastas. Tradução Elza Gomide e Helena Castro, São Paulo: Blucher, 2010. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. D AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996. MEGID, M. A. B.A. Construindo matemática na sala de aula: uma experiência com números relativos. In: FIORENTINI, D. e Miorim, M. Â. (orgs.). Por trás da porta que matemática acontece?. Campinas, SP: FE/Unicamp Cempem, 2001. MORAIS,R.S;. ONUCHIC, L. R.; Uma abordagem histórica da resolução de problemas. Resolução de Problemas: Teoria e Prática. ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G.; NOGUTI, F. C. H.; JUSTILIN, A. M. (orgs.). Jundiaí: Paco Editorial, 2014. PAIS, L.C. Didática da matemática; uma análise da influência francesa. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. SCHROEDER, T.L.; LESTER Jr., F.K. Developing Understanding in Mathematics via Problem Solving. In: TRAFTON, P.R., SHULTE, A.P. (Ed.) New Directions for Elementary School Mathematics. NCTM, 1989. (Year Book). p.31-42. SOUZA, J.; PATARO,P.M.Vontade de saber matemática. São Paulo: FTD,2012.