COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E O TEOR DE MINERAIS DE LINHAGENS DE FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata (L.) Walp.) P.V.L. Sousa¹, J.M.S. Oliveira², M.A.M.Araújo 3, R.S.R. Moreira-Araújo 4 1 - Departamento de Nutrição- Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Universitário Ministro Petrônio Portela - Bloco 13 - CEP: 64.049/550, Teresina - PI Brasil, Telefone: (86) 99810-9199 - e-mail: paulovictor.lima@hotmail.com. 2 - Departamento de Nutrição- Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Universitário Ministro Petrônio Portela - Bloco 13, CEP: 64.049/550, Teresina PI Brasil, Telefone: (86) 99949-7167 - e-mail: joycenutri1@hotmail.com. 3 - Fundação Municipal de Saúde (FMS), Rua Governador Raimundo Artur Vasconcelos, nº 3015, Bairro Primavera, CEP: 64002/595, Teresina - PI Brasil - e-mail: regmarjoao@hotmail.com. 4 - Departamento de Nutrição- Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Universitário Ministro Petrônio Portela - Bloco 13, CEP: 64.049/550, Teresina - PI, Brasil. Telefone: (86) 3215-5863 - e-mail: regilda@ufpi.edu.br. RESUMO - Diante da importância do feijão-caupi no hábito alimentar brasileiro, o presente estudo visou avaliar a composição centesimal e o teor de minerais do feijão-caupi. Foram analisadas três linhagens: MNCO2-675F-9-2, MNCO2-684F-5-6 e MNCO3-725F-3. Em relação à umidade o conteúdo variou de 9,42 a 11,70%. O teor de cinzas variou de 2,8% a 3,5%. As linhagens apresentaram teores de proteínas de 18,5 a 19,8%. O teor de lipídios variou de 1,44 a 2,19%. Os teores de carboidratos variaram de 65,6 a 66,9%. As três linhagens avaliadas diferiram entre si, em relação aos teores de P, K, Mg, Ca, Na, Fe, Zn, Cu, Mn. Percebeu-se que as três linhagens estudadas apresentaram elevados teores de Cu,P, Mg e Zn e que a linhagem MNC02-675F-9-2 é fonte de Fe. Dessa forma, deve-se estimular seu consumo pela população por possuir um elevado valor nutritivo. ABSTRACT - Given the importance of cowpea in the Brazilian eating habits, this study aimed to evaluate the chemical composition and the mineral content of cowpea. Three strains were analyzed MNCO2-675F - 9-2, MNCO2-684F-5-6 - MNCO3-725F -3. Regarding the moisture content ranged from 9.42 to 11.70 %. The ash content ranged from 2.8 % to 3.5 %. The strains showed protein levels from 18.5 to 19.8 %. The lipid content ranged from 1.44 to 2.19 %. Carbohydrate content ranged from 65.6 to 66.9 %. The three strains differed evaluated with respect to P, K, Mg, Ca, Na, Fe, Zn, Cu, Mn. It was noticed that the three strains studied showed high levels of P, K, Mg and Zn and that MNC02-675F - 9-2 strain is a source of Fe. Thus one should stimulate consumption by the population because it has a high nutritional value. PALAVRAS-CHAVE: Vigna unguiculata; Composição Centesimal; Minerais. KEYWORDS: Vigna unguiculata; Centesimal Composition; Minerals.
1. INTRODUÇÃO O feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) é uma das leguminosas que mais bem se adapta, além de ser versátil e nutritiva entre as espécies cultivadas, sendo um importante alimento e componente fundamental dos sistemas de produção nas regiões secas dos trópicos (Singh et al., 2002). É uma excelente fonte de proteínas (23-25% em média) e contém todos os aminoácidos essenciais, carboidratos (62%, em média) vitaminas e minerais, além de possuir grande quantidade de fibras alimentares e baixa quantidade de gordura (teor de óleo de 2%, em média), sendo que a composição destes nutrientes pode variar de acordo com as práticas agronômicas realizadas na cultura e manejo pós-colheita (Andrade, 2010). Em função do exposto, devido à importância do feijão-caupi no hábito alimentar brasileiro, e tendo em vista suas propriedades nutritivas e funcionais, o presente estudo visou analisar a composição centesimal e o teor e minerais de linhagens de feijão-caupi. 2. MATERIAL E MÉTODOS A análise da composição centesimal das linhagens foi realizada no Laboratório de Bromatologia e Bioquímica de Alimentos do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Os teores de minerais foram determinados no Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-SP). Todas as análises foram realizadas no período de abril a julho de 2014. As amostras de linhagens de feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp), foram fornecidas pelo Setor de Recursos Genéticos e Melhoramento da Embrapa Meio-Norte de Teresina-PI. Em relação à composição centesimal, as linhagens de feijão-caupi foram analisadas de acordo com os métodos preconizados pela AOAC (2005). A determinação da umidade foi realizada por meio do método de secagem em estufa, por gravimetria, à temperatura de 105ºC. Os teores de proteínas foram obtidos pelo método de Kjeldahl, utilizando o fator de conversão de 5,75. Os lipídios foram obtidos pelo método de extração à quente em extrator intermitente de Soxhlet, utilizando-se o solvente Hexano. Os carboidratos foram determinados por diferença dos demais constituintes da composição centesimal. Para a determinação dos minerais sódio (Na), cálcio (Ca), ferro (Fe), potássio (K), fósforo (P), magnésio (Mg), cobre (Cu), zinco (Zn) e manganês (Mn) nas amostras de feijão utilizou-se como método de preparo de amostras a metodologia empregando a digestão por via seca (AOAC, 2005). A quantificação dos elementos inorgânicos foi realizada usando um espectrômetro de emissão com fonte de plasma com acoplamento indutivo (ICP OES), da marca Baird, modelo ICP 2000 (Massachusetts, USA). A adequação de micronutrientes de linhagens de feijão-caupi foi determinada com base na Ingestão Diária Recomendada (IDR) para adultos, considerando a legislação (Brasil, 2005). Quanto à análise dos dados, as determinações foram efetuadas em triplicata e os dados obtidos, submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de significância, utilizando o Programa Estatístico SPPS, versão 17, 2010 (SPPS, 2010).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente estudo analisou-se a composição centesimal de linhagens de feijão-caupi, conforme demonstrada na Tabela 1. Tabela 1- Composição Centesimal e Valor Energético Total (VET) de Linhagens de Feijão-caupi. Linhagens Análise química MNC02-675F- 9-2 MNC02-684F-5-6 MNC03-725F-3 Média ± DP Média ± DP Média ± DP Umidade 9,42± 0,09ª 11,70 ± 0,10 b 9,51 ± 0,03 ca Cinzas 3,1 ± 0,01ª 2,8 ± 0,1ª 3,5 ± 0,1ª Proteínas 18,5 ± 1,1ª 19,3 ± 1,0 a 19,8 ± 1,1ª Lipídios 2,19 ± 0,01ª 2,12 ± 0,08ª 1,44 ± 0,01 b Carboidratos 66,9 ± 2,12ª 66,9 ± 2,12ª 65,6 ± 2,54ª Os dados estão apresentados como média de três repetições + desvio-padrão (DP). Letras iguais entre as colunas não apresenta diferença significativa entre as médias segundo, teste de médias de Tukey ao nível de p < 0,05. Fonte: Dados da Pesquisa. As amostras diferiram significativamente (p<0,05) para umidade variando de 9,42 a 11,70%, com a linhagem MNC02-684F-5-6 obtendo o maior valor (11,70%). Os resultados de umidade foram semelhantes aos obtidos por Souza e Silva et al., (2002) com teores de umidade na faixa de 9 a 15%. Para os resultados de cinzas (2,8 a 3,5%), proteínas (18,5 a 19,8%) e carboidratos (65,6 a 66, 9%), não houve diferença estatisticamente significativa entre as amostras. Os resultados de cinzas foram semelhantes, com destaque para a MNC03-725F-3 (3,5%), quando comparados ao estudo de Mesquita (2005) na qual obteve valores entre 2,97 a 4,87%. Quanto ao teor de proteínas, a linhagem MNC03-725F-3 (19,8%) apresentou o maior valor. Entretanto, as linhagens apresentaram teores inferiores aos comparados com a literatura, visto que, segundo Carvalho et al., (2012) os resultados variaram de 20 a 30%. Em relação aos teores de carboidratos, mostraram-se superiores, quando comparados com os de Pinheiro (2013) que variaram de 47,25 a 53,24%. Os resultados referentes às análises de minerais das linhagens de feijão-caupi, estão demonstrados na Tabela 02. As três linhagens avaliadas diferiram entre si ao nível de p<0,05, em relação aos teores dos macrominerais, P, K, Mg, Ca, Na, e microminerais, Fe, Zn, Cu, Mn.
Tabela 2- Conteúdo de Minerais de Linhagens de Feijão-caupi. Minerais (mg\100g) Amostras de Feijão-caupi MNC02-675F-9-2 MNC02-684F-5-6 MNC03-725F-3 Média ± DP Média ± DP Média ± DP Sódio (Na) 4,16 ± 0,14 a 5,31 ± 0,41 b 2,34 ± 0,06 c Cálcio (Ca) 53,5 ± 0,50 a 50,0 ± 0,20 b 79,1 ± 0,60 c Potássio (K) 1138,0 ± 13,00 a 940,0 ± 22,00 b 1151,0 ± 28,00 c Cobre (Cu) 0,43 ± 0,01 a 0,49 ± 0,00 b 0,39 ± 0,03 c Fósforo (P) 366,0 ± 6,00 a 361,0 ± 3,00 b 431,0 ± 4,00 c Ferro (Fe) 4,15 ± 0,02 a 5,67 ± 0,41 b 5,54 ± 0,02 c Magnésio (Mg) 154,0 ± 1,00 a 157,2 ± 0,40 b 196,0 ± 3,00 c Manganês (Mn) 0,99 ± 0,01 a 1,81 ± 0,02 b 0,90 ± 0,01 c Zinco (Zn) 3,23 ± 0,01 a 3,63 ± 0,02 b 3,63 ± 0,01 ac Os dados estão apresentados como média de três repetições + desvio-padrão (DP). Letras diferentes nas colunas as médias diferem significativamente ao nível p <0,05, segundo o teste de Tukey. Fonte: Dados da Pesquisa. O conteúdo de sódio (Na) nas linhagens estudadas, variou de 2,34 a 5,31 mg/100g, com os maiores teores para as linhagem MNC02-684F-5-6 (5,31 mg/100g). Estes dados estão de acordo com o estudo de Barros (2014) que obteve em genótipos de feijão-caupi de 3,1 a 7,4 mg/100 de sódio. Com relação ao teor de cálcio, observa-se a partir da Tabela 02 que a linhagem MNC03-725F- 3 (79,1 mg/100g), apresentou o maior conteúdo. Os valores obtidos nessas linhagens foram superiores aos determinados nos estudos de Carvalho et al., (2012) e Owolabi et al., (2005), que obtiveram 21 a 51 mg/100g e 15 a 19,53 mg/100g, respectivamente. Quanto ao potássio, as linhagens MNC03-725F-3 (1151 mg/100g) e MNC02-675F-9-2 (1138 mg/100g), se sobressaíram em relação a linhagem MNC02-684F-56 que apresentou (940 mg/100g). Estes resultados foram semelhantes aos de Barros (2014), que obteve de 394 mg/100 g a 1156 mg/100g. Observou-se que o conteúdo de cobre nos feijões variou de 0,39 a 0,49 mg/100g, sendo as linhagens MNC02-684F-5-6 (0,49 mg/100g) e MNC02-675F-9-2 (0,43 mg/100g), as que apresentaram os maiores conteúdos. Esses resultados foram inferiores aos verificados por Carvalho et al., (2012), uma vez que os mesmo obtiveram de 2,0 a 2,2 mg/100g. Em relação ao teor de fósforo as linhagens apresentaram entre 361,0 a 431,0 mg/100g. Sendo esses dados semelhantes aos verificados no estudo de Barros (2014), que obteve de 396 mg/100g a 505,0 mg/100g. No que se refere aos teores de ferro, as linhagens estudadas apresentaram entre 4,15 a 5,67 mg/100g desse mineral. Sendo a linhagem MNC02-684F-5-6 (5,67 mg/100g), a de maior destaque entre as demais. A Tabela 03 apresenta o conteúdo de minerais (em mg/100g) de linhagens de feijão-caupi, em relação à Ingestão Diária Recomendada (IDR) para o respectivo mineral (Brasil, 2005).
Tabela 3- Conteúdo de Minerais (mg/100g) de Linhagens de Feijão-caupi em relação à Ingestão Diária Recomendada (IDR). Minerais Unidade IDR- Adulto MNC02-675F-9-2 MNC02-684F-5-6 MNC02-725F-3 Valor %Adeq. Valor %Adeq. Valor %Adeq. Sódio mg/d 1500 4,16 ± 0,14 0,3 5,31 ± 0,41 0,35 2,34 ± 0,06 0,2 Cálcio mg/d 1000 53,5 ± 0,50 5,4 50 ± 0,20 5 79,1 ± 0,60 7,9 Potássio mg/d 4700 1138,0 ±13,00 24,2 940 ± 22,00 20 1151 ± 28,00 24,5 Cobre mcg/d 900 0,43 ± 0,01 47,7 0,49 ± 0,00 54,4 0,39 ± 0,03 43,3 Ferro mg/d 14 4,15 ±0,02 29,6 5,67 ± 0,41 40,5 5,54 ± 0,02 39,6 Fósforo mg/d 700 366,0 ± 6,00 52,3 361 ± 3,00 51,5 431 ± 4,00 61,6 Magnésio mg/d 260 Manganês mg/d 2,3 Zinco mg/d 7 154,0 ± 1,00 59,2 0,99 ± 0,01 43,0 3,23 ± 0,01 46,1 IDR- Ingestão Diária Recomendada (adulto) (BRASIL, 2005). Fonte: Dados da Pesquisa. 157,2 ± 0,40 60,4 1,81 ± 0,02 78,7 3,63 ± 0,02 51,9 196 ± 3,00 75,4 3,63 ± 0,01 157,8 3,63 ± 0,01 51,9 As linhagens MNC02-675F-9-2 e MNC02-684F-5-6 são fonte de potássio, considerando a porção de 100 g de feijão-caupi, pois perfazem mais de 15% da IDR para adultos. Além disso, a linhagem MNC02-675 F-9-2 também fonte de ferro, visto que atende mais de 15% da recomendação diária. Por outro lado, às linhagens MNC02-684F-5-6 e MNC03-725F-3 apresentaram um elevado conteúdo de ferro, uma vez que cobrem mais de 30% da IDR por 100 g das amostras (Brasil, 2005). Observou-se que as três linhagens estudadas apresentaram elevados teores de cobre, fósforo, magnésio e zinco.
4. CONCLUSÃO As linhagens de feijão-caupi apresentaram conteúdos de cálcio, ferro, zinco e magnésio maiores que os esperados. Portanto, deve-se estimular seu consumo pela população por se tratar de um alimento de fácil acesso, além de possuir um elevado valor nutritivo. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Association of Official Analytical Chemists (AOAC) (2005).Official methods of analysis of the AOAC. (18. ed). Gaithersburg. Andrade, F. N (2010). Avaliação e seleção de linhagens de tegumento e cotilédone verdes para o mercado de feijão-caupi verde. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Piauí, Teresina. Barros, N. V. A (2014). Influência do cozimento na composição centesimal, minerais, compostos bioativos e atividade antioxidante de cultivares de feijão-caupi. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Piauí, Teresina. Brasil, Ministério da Saúde (2005). Agência Nacional de Vigilância Sanitária institui a Resolução nº 269 de 22 de setembro de 2005 que trata do Regulamento técnico sobre a ingestão diária recomendada (IDR) de proteína, vitaminas e minerais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Carvalho, A. F. U.; Sousa, N. M.; Farias, D. F.; Rocha-Bezerra, L. C. B.;Silva, R. M. P.; Viana, M. P.; Gouveia, S. T.; Sampaio, S. S.; Sousa, M. B.;Lima, G. P. G.; Morais, S. M.; Barros, C. C.; Freire Filho, F. R. F (2012). Nutritional ranking of 30 Brazilian genotypes of cowpeas including determination of antioxidant capacity and vitamins. Journal of Food Composition and Analysis, 26 (1-2), 81-88. Mesquita, F. R.; Corrêa, A. D.; Abreu, C. M. P.; Lima, R. A. Z. & Abreu. A. B (2007). Linhagens de feijão (Phaseolus vulgaris L.): Composição Química e Digestibilidade Proteica. Ciência Agrotécnica, 31 (4), 1114-1121. Owolabi, A.O; Ndidi, U.S; James, B.D; amunde, F.A (2012). Antinutrient and Mineral Composition of Five Varieties (Improved and Local) of Cowpea, Vigna unguiculata, Commonly Consumed in Samaru Community, Zaria-Nigeria. Asian Journal of Food Science and Technology, 4(2), 70-72. Singh, B. B. et al. Recent progress in cowpea breeding. In: Fatokun, C. A.; Tarawali, S. A.; Singh, B. B.; Kormawa, P. M.; Tamo, M. (Ed.) (2002). Challenges and opportunities for enhancing sustainable cowpea production. Ibadan: IITA.