O eclipse de 1912 e a correspondência entre os astrônomos Morize e Perrine



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Transcrição:

O eclipse de 1912 e a correspondência entre os astrônomos Morize e Perrine Raquel dos Santos Oliveira Resumo Em 1912, oito expedições astronômicas foram enviadas para a divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Os dias anteriores e posteriores ao eclipse foram de intenso convívio entre os astrônomos estrangeiros e brasileiros. Deste convívio ressaltamos o que se estabeleceu entre o diretor do Observatório Nacional, Henrique Morize e o diretor do Observatório de Córdoba, Charles D. Perrine. Por alguns anos após o eclipse de 1912 estes astrônomos mantiveram uma colaboração científica eventual materializada na correspondência depositada nos arquivos do Museu de Astronomia e do Observatório de Córdoba. Neste trabalho consideramos o contato estabelecido entre Morize e Perrine durante o eclipse de 1912 como um momento importante para a compreensão das etapas iniciais do processo que deu origem à formalização institucional de uma cooperação científica de âmbito internacional logo após o fim da Primeira Guerra. Palavras-chave: astrônomo, colaboração científica, internacionalismo Abstract: In 1912, eight astronomy expeditions were sent to the boundary of the states of Minas Gerais and São Paulo. The previous days and after the eclipse were of intense the social contact between foreign and local astronomers. From this social contact we emphasize that was established between the director oh the National Observatory, Henrique Morize and the director of the Córdoba Observatory,Charles D. Perrine. For some years after the eclipse these astronomers was keeping a occasional scientific collaboration materialized in the correspondence deposited in the Museum of Astronomy and Córdoba Observatory archives. In this work, we xonsider the contact between Morize and Perrine during the eclipse of the 1912 like a important moment to undestanding the initial stage process that gave origin to Bolsista PCI do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), bacharel em História, CNPq.

institutional formalization of scientific cooperation in the international ambit soon after the end of the First World War. Key-words: astronomer, scientific collaboration, internationalism Introdução A Primeira Guerra Mundial foi um marco importante no processo de formalização institucional da cooperação científica de âmbito internacional. No final do século XIX, a criação das primeiras associações científicas internacionais não-governamentais apontava para um novo tipo de relações internacionais. O internacionalismo científico mudou ao longo das primeiras décadas do século XX. Até 1914, o ideal de ciência como progresso foi partilhado por cientistas do mundo todo, a ciência internacionalista elevou o cientista a um patamar supranacional. É neste contexto que oito expedições foram enviadas para as cidades de Passa Quatro, Alfenas e Cristina no estado de Minas Gerais e Cruzeiro (SP), em 1912 para observar o eclipse total do Sol de 10 de outubro. Sem dúvida alguma a colaboração entre cientistas é um fenômeno anterior ao início do século XX. Entretanto, é no início daquele século que é possível verificar novos mecanismos de colaboração. Neste sentido, a formação das primeiras associações internacionais é um exemplo disto. O desenvolvimento da colaboração científica internacional foi favorecida pela universalidade do discurso nas ciências naturais, pela tradição secular de colaboração individual e pelo progresso dos meios de comunicação. Das oito expedições que foram observar o eclipse de 1912 no Brasil, seis eram de outros países (duas inglesas, uma francesa, duas argentinas e uma chilena). O contato entre os astrônomos foi intenso, mas é a relação de colaboração do diretor do Observatório Nacional, Henrique Morize (1860-1930) e do diretor do Observatório Astronômico de Córdoba, Charles D. Perrine (1867-1951) que analisaremos neste trabalho. A colaboração estabelecida está registrada na correspondência trocada entre eles desde o eclipse de 1912 até 1923, ano da última carta enviada por Perrine para Morize. Esta correspondência está depositada no Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e no arquivo do Observatório de Córdoba. Assim, este trabalho versa sobre a

colaboração científica entre dois países da América Latina, no contexto do internacionalismo dos anos anteriores e posteriores a Primeira Guerra Mundial. O eclipse de 1912 Um eclipse total do Sol é um fenômeno natural que atrai o olhar de muitas pessoas, e de fato eclipse de 1912 que teve sua linha de totalidade 1 atravessando o Brasil, chamou a atenção de astrônomos, políticos e curiosos. A cidade de Passa Quatro recebeu astrônomos nacionais e estrangeiros, o Mal. Hermes da Fonseca (1855-1923) então presidente da república e sua comitiva que contava com sua esposa, Orsina da Fonseca (1859-1912) e políticos que faziam parte do seu governo. As expedições enviadas pelos observatórios da Europa e América Latina tinham o objetivo de observar o eclipse para finalidades diversas. A expedição inglesa era composta por Arthur Stanley Eddington (1882-1944) astrônomo do Observatório Real de Greenwich e chefe da expedição, Charles Davidson (1875-1970), também astrônomo de Greenwich, John Jepson Atkinson (1844-1924) astrônomo amador e voluntário na expedição), os assistentes Olyntho Couto de Aguirre, Leslie Andrews e Pierre Seux (este último cronometraria o tempo do eclipse, como voluntário). Chegaram ao Brasil dia 16 de setembro no Rio de Janeiro (RJ) e no dia 22 de setembro em Passa Quatro (MG), onde efetuariam a observação. O objetivo desta expedição era estudar a estrutura da coroa solar e verificar a presença de um elemento chamado coronium 2. James Henry Worthington era igualmente inglês, e veio observar o eclipse em caráter não-oficial, instalando-se também em Passa Quatro. A França enviou Milan R. Stefanik (1880-1919) e seu assistente Jaromir Kralicek para que fizessem estudos da região verde do espectro solar, e eles se instalaram em Passa Quatro. Finalmente, a comissão brasileira também se encaminhou para Passa Quatro. Chefiada por Henrique Morize, contava com Mario Rodrigues de Souza (1889-1973), Domingos Fernandes Costa (1882-1956), Alix Corrêa de Lemos (1877-1957), Gualter 1 A linha de totalidade é a área onde o eclipse é total. 2 Existia a idéia da existência de um elemento desconhecido na atmosfera do sol, responsável por linhas do espectro deste astro que ainda não haviam sido identificadas. Atualmente se sabe que são os íons, principalmente os de ferro, que produzem estas linhas.

Macedo Soares, Antônio Alves Ferreira da Silva (voluntário), Augusto Soucaseaux (fotógrafo) e Camilo Fonseca (médico). Seu objetivo era realizar estudos sobre o magnetismo e a física do globo e fotografar a coroa solar. Na cidade de Cristina (MG) se instalaram duas comissões, a comissão do Observatório de Córdoba (Argentina) e a comissão Chilena. A primeira era composta por Carlos Dillon Perrine, e seus assistentes Roberto Winter (1872-1940), James Oliver C. Mulvey (1868-1915) e Henrique Chaudet (1881-1967). Pretendiam fotografar a deflexão da luz, numa primeira tentativa de comprovação da teoria da relatividade geral. A comissão Chilena era chefiada por F.W. Ristenpart (1868-1913), e objetivava medir a variação de luminosidade mediante resistências de selênio. A expedição argentina do Observatório Nacional de La Plata se estabeleceu em Alfenas no dia 03 de outubro de 1912, e era composta por William Joseph Hussey (1862-1926), diretor deste observatório, e pelos astrônomos Henry Julius Colliau (- 1945) e Bernard H. Dawson (1890-1960). O Observatório de São Paulo enviou uma expedição para Cruzeiro (SP), chefiada pelo seu diretor, José Nunes Belfort Mattos (1862-1926). O eclipse de 1912 seria uma das primeiras oportunidades para a comprovação da Teoria da Relatividade Geral, formulada por Einstein. Entretanto, o eclipse não foi observado uma vez que choveu, impossibilitando quase todos os estudos que seriam feitos a partir da observação do fenômeno. Em setembro de 1912, o astrônomo Arthur Eddington (1882-1944) publicou pela revista The Observatory 3 um artigo sobre a expedição que seria enviada para o Brasil. Neste artigo, ele alertava sobre o fato de serem enviadas várias expedições para um mesmo local, o que seria desaconselhável, ressaltando que: Teme-se que quase todas as equipes científicas com o intuito de observar o eclipse prefiram optar pela mesma localidade, o que é indesejável, mas quase inevitável quando um local parece muito mais vantajoso do que qualquer outro. (EDDINGTON, 1912: 329) 3 Periódico de publicação da Royal Society.

Embora a chuva tenha frustrado à todos, o diretor do observatório de La Plata, Hussey fez a seguinte observação em seu relatório sobre a expedição para observação do eclipse de 1912: "Não pudemos observar o eclipse, mas não foi completamente inútil nossa viagem, pois tivemos oportunidade de trocar idéias com os astrônomos das expedições Argentina, Chilena, Francesa e Inglesas. Ademais, adquirimos interessantes informações sobre futuros eclipses, em especial o que terá lugar em Maio de 1919..." (HUSSEY, 1914: 97) O próximo eclipse total do sol, de fato ocorreria em maio de 1919, este eclipse seria uma grande oportunidade pela duração que teria de sete minutos e dessa vez a faixa de totalidade passaria pelo semi-árido brasileira, no estado do Ceará. Essa informação fez com que os astrônomos Hussey e Perrine solicitassem a Morize o cálculo do melhor lugar de observação. O convívio entre as expedições foi intenso, por alguns dias astrônomos de diferentes nacionalidades puderam trocar informações sobre seus trabalhos e o resultado mais proeminente foi a relação que se estabeleceu entre Perrine e Morize. A correspondência entre Perrine e Morize Logo após sua partida Perrine enviou uma carta 4 para Morize, na qual informava que todos haviam chegado bem na Argentina e já haviam retomado seus trabalhos. Perrine agradecia a "esplendida hospitalidade" com que foram recebidos no Brasil e afirmava que teria uma grande satisfação em reportar ao ministério da Instrução Pública o modo como foram gentilmente recebidos. Acreditando que o governo argentino agradeceria formalmente ao governo brasileiro. Na documentação encontrada existe um intervalo de sete anos entre esta primeira carta que data de 02 de novembro de 1912 e a próxima que está datada de 02 de dezembro de 1919. Esta é uma carta em que Perrine responde ao telegrama enviado por Morize, no qual ele solicitou dados do cometa Finlay Sasaki. Deste modo, Perrine repassa ao diretor do Observatório Nacional uma tradução em espanhol do telegrama enviado por Harvard, de onde 4 Carta recebida por Henrique Morize, 02 novembro de 1912. Fundo ON, sob guarda do MAST.

se emitiam os dados dos cometas. O astrônomo ainda explica que o novo código utilizado por Harvard contribuiria para que as informações fossem melhor recebidas e que seu uso era satisfatório, de qualquer modo ele enviava um exemplar de instruções dadas por Harvard para este código. Somente em outubro de 1922 é enviado outro telegrama de Perrine para Morize, mas a leitura do telegrama está incompreensível então Perrine solicita sua repetição. No mês seguinte, em 27 de novembro Perrine envia uma carta agradecendo a carta enviada por Morize e parabenizando-o pelas fotografias do novo observatório e dos novos instrumentos. Perrine lamenta que por várias razões ele não pôde encontrar Morize no encontro de Roma. É possível que o encontro ao qual Perrine se refere seja a Assembleia Geral da União Astronômica Internacional. A razões que impediu Perrine de ir a assembleia da IAU diz respeito a saúde de seus filhos que foram acometidos por forte gripes. Por esse motivo e por também sofrer de asma Perrine foi aconselhado por um médico a descansar. Então, Perrine viajou para os Estados Unidos da América com sua família, lá ficou pouco mais de um ano. Ao regressar para a Argentina, o faz só uma vez que sua família optou por permanecer nos E.U.A.. A última carta de Perrine para Morize é de 24 de dezembro de 1923, pouco depois de sua volta à Argentina. Nesta, ele repassa instruções para o preenchimento dos códigos da tabela enviada pelo Observatório de Harvard. E por fim, anuncia que está satisfeito com os preparativos para a construção do novo prédio administrativo que seria erguido no lugar do antigo edifício. Assim, podemos verificar que as cartas entre Morize e Perrine muitas vezes cumpriram o papel de uma colaboração pontual. Principalmente as lacunas entre as datas chamam atenção para o fato de que não este não foi um contato intenso, mas mesmo assim durou pouco mais de dez anos. A colaboração científica pós-primeira Guerra Mundial muitas vezes acabou por se configurar deste modo uma vez que já não havia espaço para o internacionalismo característico do período anterior a guerra. Portanto, dentro do contexto da época Morize e Perrine desempenharam um papel de colaboradores eventuais. Bibliografia

Arquivos e bibliotecas consultados: Fundo Observatório Nacional Henrique Morize Biblioteca do Observatório Astronômico de La Plata Arquivo do Observatório Astronômico de Córdoba Obras citadas e consultadas: BARBOZA, Christina Helena. A observação de eclipses totais do sol no Brasil. Com Ciência - Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, v. n.90, p. 1-6, 10 ago. 2007. CRAWFORD, Elisabeth. Nationalism and internationalism in science: 1880-1939: four studies of the Nobel population. Cambridge: Cambridge University Press, 2002. CROMMELIN, A. C. D. The Eclipse Expedition to Sobral. The Obsevatory. Londres: vol.42, n. 544, 1919. EDDINGTON, A. S. The Greenwich Eclipse Expedition to Brazil. The Observatory. Londres: vol. 36, n. 457, 1913. EDDINGTON, A. S. e DAVIDSON, C. Total Eclipse of the Sun, 1912 October 10. Report on an Expedition to Passa Quatro, Minas Geraes, Brazil. Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Londres: vol. 73, 1913. HERZ, Mônica e HOFFMAN, Andrea R. Organizações Internacionais: História e Práticas. Rio de Janeiro, Elsevier, 2004. Cap.4 LANDSTRÖM, Catharina. Internationalism between two wars. In_ELSINGA, Aart; Landström, C. (eds.). Internationalism and science. London: Taylor Graham, 1996. MORAIS, Abraão de. A astronomia no Brasil. In: Azevedo, Fernando de. As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1994. vol.1 p. 99-189. MORIZE, Henrique. Observatório Astronômico: um século de história (1827-1927). Rio de Janeiro: MAST e Salamandra, 1987.

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