A Empresarização da Universidade Pública: uma Análise a partir da Utilização da Posição Obtida em Rankings como uma Característica Distintiva Autores: Patrícia Barreto dos Santos Lima Gabriel Borges da Cunha
INTRODUÇÃO 3 universidades mais bem classificadas no IGC-contínuo divulgado em 2014: INSTITUIÇÃO IGC-CONTÍNUO 2014 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 4,296 Universidades Federal do ABC (UFABC) 4,2001 Universidade Federal de Lavras (UFLA) 4,1847 Divulgação da posição obtida em rankings nos sites das universidades; Perspectiva do mundo empresa (SOLÈ) -> processo de empresarização das IES;
Ensino superior no Brasil: histórico recente e contexto atual Década de 1990 Reforma Gerencial -> flexibilização, eficiência, iniciativa privada como referência; IES alocadas no setor de Serviços Não Exclusivos; Cenário de disputa -> busca por características distintivas; Educação deixa de ser concebida como um direito e passa a ser concebida como um serviço (CHAUÍ, 2003).
Ensino superior no Brasil: histórico recente e contexto atual Surgimento de instrumentos de avaliação (1995 2002): conceituação das IES e divulgação em formato de ranking (Exame Nacional de Cursos). SINAES (2003 2006): concebido para ser uma avaliação emancipatória. Superação da ênfase de mercado; Em 2008, SINAES inclui o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos (IGC), retomando a divulgação dos rankings -> produção de significados e reflexão sobre os valores dão lugar ao controle, à seleção e à classificação
A teoria de Solè Analisar, a partir da teoria da empresarização, a importância conferida pelas IES públicas aos rankings oficiais e não oficiais; Empresa como força organizadora; 4 postulados que diferenciam a empresa das demais organizações: 1) a empresa é um fenômeno social total que coloca em movimento a totalidade da sociedade e de suas instituições; 2) é uma organização histórica; 3) é a organização característica e fundamental deste mundo, que tipifica a sociedade moderna e determina grande parte das relações que caracterizam este mundo; 4) é evento contingente na história humana.
A teoria de Solè Principais referências da teoria no Brasil: Rodrigues, Marcio Silva O NOVO MINISTÉRIO DA VERDADE: o discurso de VEJA sobre o campo do Ensino Superior e a consolidação da empresa no Brasil [tese] / Marcio Silva Rodrigues ; orientadora, Rosimeri de Fátima Carvalho da Silva ; co-orientador, Marcelo Milano Falcão Vieira. - Florianópolis, SC, 2013. RODRIGUES, Marcio Silva ; SILVA, R.C. ; DELLAGNELO, E. H. L.. O PROCESSO DE EMPRESARIZAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES CULTURAIS BRASILEIRAS. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração (UFF), v. 8, p. 66-85, 2014. RODRIGUES, M. ; SILVA, R.C. Estrutura Empresarial nos Clubes de Futebol. O&S. Organizações & Sociedade, v. 16, p. 20-40, 2009.
A teoria de Solè 22 traços da Teoria da Empresarização (SOLÈ, 2004) A empresa é um conjunto humano, mais ou menos estável, vasto ou reduzido, mais ou menos concentrado, podendo desaparecer a qualquer 1. momento; 2. A empresa é uma organização onde a atividade é única ou múltipla; 3. A empresa é uma organização que concebe, produz e vende mercadorias; 4. A empresa é uma organização que concorre permanentemente com outras empresas; 5. A empresa é uma organização que supõe outra organização: o mercado; 6. A empresa é um processo de criação destrutiva de relações entre humanos; 7. A empresa é um conjunto de relações incertas entre humanos; 8. A empresa é uma organização com moeda, capital e benefício econômico; 9. A empresa é uma organização com escritura e contabilidade; 10. A empresa é uma propriedade privada; 11. A empresa é uma mercadoria; 12. A empresa é uma organização salarial; 13. A empresa é uma relação dirigente/dirigido; 14. A empresa é uma organização que produz e implica desemprego; 15. A empresa é uma organização submetida ao direito, às leis; 16. A empresa é uma organização que está sujeita a outra organização: o Estado; 17. A empresa é uma organização onde a propriedade e a direção podem estar juntas ou separadas; 18. A empresa possui divisão do trabalho; 19. A empresa é uma organização que implica e produz o indivíduo; 20. A empresa é uma organização que produz linguagem; 21. A empresa é uma organização que produz e implica humanos insatisfeitos; 22. A empresa é uma organização que implica e produz uma concepção de felicidade
Os rankings universitários Proliferação e visibilidade dos rankings que buscam atestar a qualidade das IES; Em nível mundial, maior proeminência nas últimas três décadas; No Brasil, maior importância a partir da década de 1990; Principais não oficiais no país: Guia do Estudante (editora Abril); Ranking Universitário Folha; Nível global: Times Higher Education (THE); QS Top Universities (QS); Academic Ranking of World Universities (ARWU); e Ranking Web of Universities (WEB)
A divulgação das colocações das universidades nos rankings UFRGS; UFABC e UFLA; Notícias veiculadas nos sites dessas três universidades: 1. no espaço de busca através dos termos ranking e avaliação ; e 2. na página inicial entre 18 e 22 de dezembro de 2015;
A divulgação das colocações das universidades nos rankings UFRGS Divulgação da posição em rankings internacionais e no RUF; Não faz menção à posição no GE; Notícia sobre a avaliação feita pelo INEP utiliza o termo avaliação e não ranking; Não foram encontradas menção a rankings ou avaliações na página inicial do site.
A divulgação das colocações das universidades nos rankings UFABC: Noticiou as posições obtidas em rankings. Não fez menção na página inicial às posições obtidas; Apresenta notícia sobre a sua posição no ranking SCIMAG e CWUR;
A divulgação das colocações das universidades nos rankings UFLA: 4 notícias com o termo ranking e nenhuma com o termo avaliação; Notícias sobre a nota obtida no IGC, a posição no GreenMetric World University Ranking, no THE e no BRICS & Emerging Economies Rankings 2016; Diferentemente das demais, fez menção na sua página inicial à sua classificação no IGC e no THE.
A divulgação das colocações das universidades nos rankings IES consideram as posições obtidas como uma conquista organizacional; Utilizam da posição obtida como forma de atestar a qualidade; Essa valorização evidencia o traço da competição entre as organizações característico do Mundoempresa (SOLÈ, 2004) -> adoção de práticas das IES privadas (marketing, atuam em cenário competitivo); Processo de empresarização -> IES públicas adotam de linguagens próprias da empresa.
Considerações Finais Universidades fazem uso das posições obtidas em classificações para divulgação e demonstração de qualidade -> traço da concorrência; Universidades não se vê como instituição social mas sim como organização (CHAUÍ, 2003); Reposicionamento da Universidade a partir da Reforma Gerencial leva à adoção de práticas gerenciais; Aumento da inserção do modelo de empresa (SOLÈ, 2008).
Principais Referências SOLÈ, A.?Qué és una empresa? Construcción de um idealtipo transdisciplinario. Working Paper. Paris, 2004. SOLÈ, A. L enterprisation Du monde. In CHAIZE, J.; TORRES, F. Repenser l entreprise: Saisir ce qui commence, vingt regards sur une idée neuve. Paris: Le Cherche Midi, 2008. POLIDORI, M. M. Políticas de avaliação da Educação Superior brasileira: Provão, Sinaes, IDD, CPC, IGC e... outros Índices. Avaliação, Campinas, v. 14, n. 2, p. 439-452, 2009.