UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA JESSICA EVELIN DA SILVA A relação entre família e escola: a perspectiva de um grupo de professores acerca do distanciamento dessa relação. Projeto de Pesquisa apresentado ao Programa de Iniciação Científica da USP para obtenção de bolsa de iniciação cientifica para Jessica Evelin da Silva, orientanda da Profa. Associada Livre Docente Maria da Graça Jacintho Setton, vinculada ao Programa de Pós Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE USP). São Paulo, Março 2015
A relação entre família e escola: a perspectiva de um grupo de professores acerca do distanciamento dessa relação. Aluna: Jessica Evelin da Silva Orientadora: Profª. Associada Livre Docente Maria da Graça Jacintho Setton Resumo Este projeto visa investigar a relação que a escola possui com as famílias dos alunos, especificamente na EMEF Escola Municipal de Ensino Fundamental Julio Mesquita, localizada na região oeste de São Paulo. Pretende analisar se as relações entre a escola e a família são restritivas ou expansivas. Da mesma forma, se ocorre um distanciamento entre essas duas instituições, analisado na perspectiva dos professores. Em primeiro momento, pretende tomar como referência o trabalho de campo na escola citada, assim como entrevistas e observações. Posteriormente, a fundamentação teórica terá como referencia Pierre Bourdieu, Bernard Lahire, Daniel Thin e possivelmente alguns autores ainda não definidos. Palavras chaves: família, escola, professores, distanciamento.
I. Introdução e Justificativa I.a. Visão panorâmica da constituição do objeto de estudo A partir da leitura de Bourdieu, é possível perceber que cada indivíduo possui um sistema de valores implícitos e interiorizados, chamado de ethos, o qual é transmitido pela família e pelo meio em que convive. Diante desse fator, percebe se que todos são constituídos por disposições de culturas variadas, as quais determinarão suas ações e a maneira com a qual irão se relacionar com a escola. A mesma possui um sistema de valores, que também irão influenciar as ações dos agentes. Cabe ressaltar que os valores escolares acabam prestigiando camadas mais altas, por estas, possuírem contato com esse valores ensinados na escola, o que implica na inclusão de alguns e exclusão de muitos. Diante desse panorama, a escola precisa lidar com diferentes públicos, que podem ou não atender as suas espectativas. Quando essas espectativas são rompidas é preciso que a escola lide não só com um tipo de disposição de cultura diferente, mas também com os agentes envolvidos nesse processo. É importante destacar que a escola não está alienada as famílias, mas intrinsecamente ligada, já que faz parte do cotidiano do aluno tanto o ambiente familiar, quanto o ambiente escolar. A questão é que muitas vezes essa relação é conflituosa, pois quando a escola pressupõe que um comportamento é errado, e este mesmo comportamento é tratado em casa com normalidade, acaba sendo produzido um estigma negativo acerca dele, é nesse momento que o conflito é gerado. Assim uma das formas de evitar esses conflitos, é distanciando a escola da família, o que pode acarretar em grandes problemas do presente e até mesmo futuros. Diante dessa reflexão, será importante pensar não só nas relações em si, mas também no distanciamento ou não, visto pelos professores. Já que estes possuem a tarefa de ensinar, observar e até mesmo classificar. A escola não supõe características aos alunos sem antes os professores apontarem e
analisarem as mesmas, sendo assim este é um dos principais agentes desse processo de afastamento ou aproximação da escola e do meio familiar. A partir desse panorama, é possível identificar os conflitos entre as instituições nos lugares que há aspectos culturais e sociais muito diferentes da escola. Esses conflitos se tornam um problema a partir do momento o qual o ethos individual interfere nos rendimentos escolares dos alunos, nesse momento a escola busca as causas, as quais muitas vezes ocorrem por esse choque de realidade, trazendo consigo dificuldades ainda maiores. I.b. Aspectos gerais do campo de pesquisa analisado A EMEF Julio Mesquita foi escolhida como amostra para o trabalho de campo, justamente por possuir um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre 5.00 e 5.08, o que a coloca com um índice menor do que o esperado pelo Ideb. A escola só atingiu a meta no ano de 2009 com um valor de 6.1. O cálculo desses valores por escola é feito pela taxa de rendimento escolar (aprovação) e médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo Inep, como a escola trabalha com ensino fundamental I e II, o exame padrão de cálculo é a Prova Brasil. Essa EMEF localiza se na Rua Dr. José Aires Neto, 25, no bairro Jardim Bonfiglioli, na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo. De acordo com a análise dos endereços dos alunos, 70% deles moram em um raio de 2km da unidade, sendo assim, a escola atende a sub prefeitura do Butantã e Rio pequeno. As duas regiões possuem IDH M¹ elevado, porém existe bolsões de extrema pobreza e vulnerabilidade que são identificados com alunos que estudam nestas áreas. Da mesma forma, outro fator que propiciou a escolha da presente escola é o número de alunos que a mesma agrega, um total de 910 alunos. 455 alunos do primeiro turno da escola, das 7h às 11h50m, com as séries do 6º ano do ensino fundamental ao 9º ano do ensino fundamental. E os outros 455 alunos são do segundo turno, das 13h30m às 18h20m, com as séries iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano. O corpo docente é composto no total
por 60 professores, sendo 30 no primeiro turno e 30 no segundo turno. 1 gestão escolar conta com a presença de um diretor, dois coordenadores, uma equipe de X funcionários na secretaria, X funcionários na limpeza e merenda e X inspetor. A Além disso, a possui um grêmio estudantil, o qual ainda é recente, logo não são feitos grandes projetos. Também conta com a participação dos pais na Associação de Pais e Mestres, o qual alguns pais são selecionados para cuidar de alguns aspectos financeiros da escola juntamente com a direção e coordenação. Da mesma forma, desenvolve projetos de ação para atividade desenvolvidas no turno estendido, como o Programa Mais Educação São Paulo que envolve os seguintes projetos:laboratório de informatica educativa, sala de leitura, esporte escolar, xadrez, projeto Educomunicativo, teatro na escola e teatro de Animação Bonecos e formas animadas. A escola também atende deficientes, pessoas com transtorno globais do desenvolvimento e altas habilidades. Para esses alunos há saldas de apoio e acompanhamento a inclusão (SAAI) com foco em deficiências intelectuais. Em 2014 foram atendidos 12 alunos com diferentes tipos de deficiência. I.c. Mapeamento do campo de pesquisa e seu entorno A EMEF Julio Mesquita possui uma estrutura física muito completa, com disposições favoráveis. Ao todo são 3 prédios, localizando no prédio de entrada (prédio 1) a administração e gestão escolar, assim como a sala de professores e o laboratório de informática. No prédio 2 e 3 estão as 16 salas de aula, um refeitório grande e uma sala de leitura. Entre esses prédios e as 2 quadras que a escola possui, há um grande pátio de laser, com duas mesas de ping pong e algumas amarelinhas desenhadas no chão. No entorno da escola há oito locais públicos voltado ao atendimento médico, ou seja, espaços que cuidam da saúde, entre eles destaca se o 1 IDH M é o Indice de Desenvolvimento Humano Municipal. Para seu calculo é utilizado informações de longevidade, educação e renda
Hospital Universário da Universidade de São Paulo. Também há seis espaços que abrangem esporte, lazer e cultura, sendo eles CEU Butantã, Bibliotexa Camila Cerqueira César, Casa da Cultura do Butantã, ONG Instituto Nação, Parque da Previdência e Parque Villa Lobos. Muitos desses espaços, principalmente os dois parques citados acima, são de uso público e a escola realiza algumas atividades nas aulas de Educação Física e Artes. I.d. Aspectos sociais dos agentes inseridos no campo de pesquisa No Projeto Politico Pedagógico (PPP) da EMEF Julio Mesquita, há uma pesquisa realizada em 2003 pela Coordenação Pedagógica da unidade, a qual relata o perfil sociocultural dos alunos, dentro de uma amostragem de 243 respostas identificadas. De acordo com essa pesquisa, 69% dos alunos não investem em curso preparatório de línguas e informática; 60% não fazem aula de dança; 92% não fazem aula de ginastica; 60% dos alunos não fazem parte de nenhum grupo juvenil; 43% não realizam atividades produtivas com a família e 4% dos alunos não tem acesso a internet. Quanto aos professores, 75% do corpo docênte é feminino, variando entre 25 e 65 anos; 81% são paulistas; 72% cursou a graduação em instituição particular. Em um total de 30 professores, 4 são mestres e 18 possuem alguma especialização. II. Objetivos Investigar a relação que a escola possui com as famílias dos alunos, especificamente na EMEF Escola Municipal de Ensino Fundamental Julio Mesquita, localizada na região oeste de São Paulo; Analisar se as relações entre a escola e a família são restritivas ou expansivas, verificando se ocorre um distanciamento entre essas duas instituições, analisado na perspectiva dos professores.
III. Metodologia Para a realização do projeto partirei da elaboração de um questionário base para as análises feitas no campo, o qual será aplicado aos professores da escola municipal acima citada. Pretendo tomar como base no trabalho de campo, entrevistas e observações. Paralelamente ao exposto, a fundamentação teórica terá como referência Pierre Bourdieu, Bernard Lahire, Daniel Thin e autores que serão posteriormente definidos e poderão contribuir com o tema em questão dentro do panorama brasileiro. IV. Aspectos éticos O projeto está de acordo ao Código de Ética da Universidade de São Paulo. Também foi submetido e devidamente autorizado pela EMEF Julio Mesquita, de acordo com o regimento interno. V. Cronograma das atividades 2ª Semestre de 2015 1º Semestre de 2016 Elaboração de um questionario a ser base para as análises feitas no campo. Aplicação do questionario aos professores da escola e observação de como as relações acontecem na EMEF. Levantamento da bibliografia pertinente e estudo do referencial teórico. Análise do objeto de estudo com fundamentação teórica
VI. Referências Bibliograficas BOURDIEU, Pierre. Uma Ciência que pertuba. in Questões de Sociologia, Rio de Janeiro, Ed. Marco Zero, 1983. BOURDIEU, Pierre. Fieldwork in philosophy. In Coisas Ditas, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1990. BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora as desigualdades frente à escola e à cultura. In NOGUEIRA, Maria Alice & CATANI, Afrânio, Escritos de Educação. Ed. Vozes, 1998, pag. 71 79 BOURDIEU, Pierre. Os três estados do Capital Cultural. In Escritos de Bourdieu, org. NOGUEIRA, Maria Alice & CATANI, Afrânio, Escritos de Educação. Ed. Vozes, 1998. SETTON, Maria da Graça As práticas de cultura em Pierre Bourdieu. in Socialização e cultura ensaios teóricos, São Paulo, AnnaBlume, 2012. SETTON, Maria da Graça J. Um novo capital cultural: pré disposições e disposições à cultura informal nos segmentos com baixa escolaridade. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, p. 77 106, jan./abr. 2005. AZANHA, José Mario Pires. Cultura escolar brasileira.. Revista USP. 1990 1991.