PRODUTIVIDADE E COMPONENTES DO RENDIMENTO DE MILHO SAFRINHA EM TRÊS SISTEMAS DE SUCESSÃO, EM DOURADOS, MS Lígia Maria Maraschi da Silva Piletti (1),Mateus Luiz Secretti (2), Luiz Carlos Ferreira de Souza (3), Fagner Frota (4), Natanael Borges Soares (5), Larissa Fatarelli Bento (6) Introdução O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo (USDA, 2013). A produção de grãos de milho no ano de 2013 foi de 82 milhões de toneladas, dos quais, 37 milhões de toneladas foram produzidas na 1ª safra (verão) e 45 milhões de toneladas produzidas na 2ª safra (safrinha), podendo considerar-se a safrinha como mais importante para produção de milho no Brasil (CONAB, 2013). Em Mato Grosso do Sul, esta situação é semelhante, e a área semeada com milho safrinha em 2013 foi de 1,37 milhões de hectares, evidenciando a preferência pela semeadura do milho na safrinha no Estado (CONAB, 2013). Estes dados demonstram a grande importância econômica do milho safrinha e é cultivado predominantemente na região Centro Oeste e nos estados do Paraná e São Paulo (DUARTE, 2004). A sucessão de culturas com a produção de milho no período de safrinha, associada à ausência de rotação de culturas e clima quente no Mato Grosso do Sul, tem dificultado a formação de palha na lavoura, requisito primordial para o sucesso do Sistema de Plantio Direto (RICHART et al., 2010) Para aumentar o aporte de palhada no solo está sendo utilizada o consórcio do milho safrinha com a forrageira B. ruziziensis. De acordo com Portes et al. (2003) cultivo em consórcio é um sistema em que, numa mesma área, são implantadas duas ou mais 1 Engenheira-Agrônoma, M.Sc., Aluno Pós-Graduação da UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS. ligiamaraschi@hotmail.com.br 2 Engenheiro-Agrônomo, M.Sc., Aluno Pós-Graduação da UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS. mateussecretti@hotmail.com 3 Engenheiro-Agrônomo, Professor da Faculdade de Agronomia, UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS. luizsouza@ufgd.edu.br 4 Aluno Graduação Agronomia da UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS. frotafagner@gmail.com 5 Aluno Graduação Agronomia da UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS. natanaelborgessoares@hotmail.com 6 Engenheira-Agrônoma, M.Sc., Aluno Pós-Graduação da UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS. [1]
espécies, convivendo juntas, em parte ou em todo seu ciclo, possibilitando aumento de produtividade. Ceccon (2008) observou que o consórcio entre duas espécies busca unir benefícios como o aproveitamento das máquinas utilizadas na implantação da cultura de rendimento econômico para a implantação de culturas intercalares, que podem ser dessecadas para fornecimento de palha para o cultivo subsequente em sistema de plantio direto. Além disso, o maior acúmulo de palha favorece também o aumento de matéria orgânica (SALTON et al., 2005). Mesmo com os benefícios já conhecidos pelo uso de consórcio milho + Brachiaria, ainda há muitos questionamentos a respeito da interferência negativa da gramínea forrageira na produtividade de grãos de milho, podendo dificultar o uso da tecnologia por parte dos agricultores. Para tanto, o conhecimento do comportamento das espécies na competição por fatores de produção torna-se de grande importância para o êxito da produtividade satisfatória da cultura de grãos e da formação da pastagem, evitando que a competição existente entre as espécies inviabilize o cultivo consorciado (KLUTHCOUSKI & YOKOYAMA, 2003). Deste modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar a produtividade e principais componentes do rendimento de milho safrinha em três diferentes sistemas de sucessão de culturas (milho/milho safrinha; soja/milho safrinha e soja/milho safrinha consorciado com Brachiaria ruziziensis), em Dourados, MS, no ano de 2013. Material e Métodos O experimento foi desenvolvido na Fazenda Experimental de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados, município de Dourados, localizada nas coordenadas geográficas latitude 22º 14 S, longitude de 54º 49 W e altitude de 458 metros. O clima, de acordo com a classificação de Koppen, é Cfa (Clima Mesotérmico Úmido sem estiagem), em que a temperatura do mês mais quente é superior a 24ºC. A precipitação pluviométrica anual da região é de 1.200 à 1.400 mm e a evapotranspiração real anual é de 1100 à 1200 mm. A temperatura média anual é de 22ºC. O solo predominante na área cultivada é o Latossolo Vermelho Distroférrico, apresentando-se [2]
com textura argilosa e fertilidade natural variável, profundo, friável e com grande homogeneidade ao longo do perfil. O relevo é normalmente plano e suavemente ondulado. A cobertura vegetal consiste basicamente de pastagens e lavouras formadas em regiões da Floresta Estacional Semidecidual e região da Savana (Cerrado). O milho foi semeado mecanicamente no dia 01 de março de 2013, utilizando o híbrido DKB 390 YG, com espaçamento entre linhas de 0,9 m e densidade de cinco sementes por metro. No tratamento onde o milho foi consorciado com a Brachiaria ruziziensis, a mesma foi semeada nas entrelinhas do milho. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, com três tratamentos e quatro repetições. Cada unidade experimental mediu 15 m de largura e 35 m de comprimento. Os tratamentos foram: milho safrinha cultivado sobre soja de verão; milho safrinha cultivado sobre milho de verão e milho safrinha em consórcio com B. ruziziensis cultivado sobre soja. A colheita foi realizada no dia 30 de julho de 2013, efetuando-se colheita manual de uma área útil de 9 m 2, escolhida ao acaso no centro de cada parcela. A partir das espigas colhidas o material foi trilhado, pesado e separadas amostras de mil grãos para a determinação da massa de mil grãos. As variáveis analisadas foram: altura de planta, inserção de espiga, diâmetro e comprimento de espigas, número de grãos por espiga, número de grãos por metro, número de plantas por metro, massa de mil grãos e produtividade de grãos. Os dados foram submetidos à análise de variância e quando houve efeito significativo para tratamento, foi utilizado o teste de Tukey para comparação entre médias ao nível de 5% de probabilidade, utilizando o programa estatístico SAS. Resultados e Discussão A partir da Tabela 1 verifica-se que não houve diferença significativa para a produtividade, massa de mil grãos, grãos por espiga, grãos m -2. Este resultado corrobora com os dados obtidos por Ceccon (2008) que avaliando lavouras comerciais observou que não houve redução de produtividade em sistemas que envolviam o consórcio milho+brachiaria. Em outro trabalho, Pagliarini e Ceccon (2009) observaram que pode haver diferenças significativas na resposta ao consórcio entre diferentes híbridos. [3]
Embora não tenha havido diferenças estatísticas, observa-se que o sistema soja/milho safrinha apresentou maior valor de produtividade, principalmente quando comparado ao sistema milho/milho safrinha, o que pode ser atribuído ao benefício de se diversificar espécies na mesma área, pois os plantios sucessivos, a ampla adoção do plantio direto sem rotação de culturas favorecem a ocorrência de doenças em função da elevada capacidade dos patógenos de sobreviverem no solo e em restos de cultura, resultando no rápido acúmulo de inóculo nas áreas de cultivo, podendo reduzir a produtividade das culturas (REIS; CASA, 2000). Além de não haver prejuízos no rendimento, quando se consorcia milho+brachiaria insere-se no sistema maior quantidade de palhada, Machado et al. (2007) estimam que haja uma cobertura do solo que varia entre 10 a 20 Mg ha -1 de matéria seca na superfície do solo, resíduos estes que ajudam a aumentar teores de matéria orgânica do solo (FREITAS et al., 2000), além de favorecer o controle de plantas daninhas, por ser uma barreira física para a germinação das mesmas. Tabela 1. Produtividade e componentes do rendimento de grãos de milho de três sistemas de produção, Dourados, MS, 2013. Tratamento Produtividade (kg ha -1 ) Massa de Mil Grãos Grãos/ Espiga Soja 1 /Milho Safrinha 2 5.203 ns 266,95 ns 478,16 ns 1947,30 n Grãos/m 2 Nº Plantas/ m s 4,85 ns Soja/ Milho + Brachiaria 4.879 252,54 459,77 1948,37 4,90 Milho/Milho Safrinha 4.658 268,95 427,66 1730,88 5,35 CV (%) 8,96 5,90 6,74 10,53 8,8 1 Cultura implantada na safra de verão 2012/2013. 2 Cultura implantada na safrinha 2013. ns Não diferem significativamente a 5% de Probabilidade. Na Tabela 2 encontram-se os dados referentes à altura de plantas, inserção de espiga, diâmetro e comprimento de espiga. [4]
Tabela 2. Altura, Inserção de Espiga, Diâmetro de espiga e comprimento de espiga de milho de três sistemas de produção, Dourados, MS, 2013. Tratamento Altura (m) Inserção de Espiga (m) Diâmetro de espiga (mm) Comprimento de Espiga (cm) Soja 1 /Milho Safrinha 2 2,24 a * 1,17 ns 50,75 ns 18,45 ns Soja/ Milho + Brachiaria 2,30 a 1,17 48,91 18,12 Milho/Milho Safrinha 2,13 b 1,12 48,62 18,00 CV (%) 2,96 7,90 2,25 4,26 1 Cultura implantada na 1ª Safra 2012/2013. 2 Cultura implantada na 2ª Safra 2012/2013. ns Não diferem significativamente a 5% de Probabilidade. * Médias seguidas por letras diferentes diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<0,05). Com exceção da altura de plantas, as demais variáveis analisadas (inserção de espiga, diâmetro e comprimento de espiga) não apresentaram diferenças significativas. A altura de plantas foi maior para os sistemas soja/milho (2,2 m) safrinha e soja/milho+ Brachiaria (2,3 m), enquanto para o sistema milho/milho safrinha obteve-se a menor altura (2,1 m). Estes dados corroboram com os resultados encontrados por Richart et al. (2010) que também não encontraram diferenças significativas para os componentes do rendimento de milho. Estes mesmos autores consideram que há viabilidade técnica do consórcio quando as duas espécies são implantadas simultaneamente. Conclusões A produtividade de milho não teve interferência quando cultivado em consórcio com Brachiaria ruziziensis. Não houve diferença significativa para os componentes do rendimento analisados em nenhum dos sistemas de produção. Referências CECCON, G. Milho safrinha com braquiária em consórcio. Dourados, MS: Embrapa Agropecuária Oeste, 2008. 7p. (Comunicado Técnico, 140). CONAB, 2013. Companhia Nacional de Abastecimento. 6º levantamento de safra. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=>. Acesso em: 19 junho. 2013. [5]
DUARTE, A.P. Milho safrinha: Características e sistemas de produção. In: GALVÃO, J.C.C.; MIRANDA, G.V. Tecnologias de produção de milho. Viçosa, MG: Editora UFV, 2004. p.109-138. FREITAS, P. L. de; BLANCANEAUX, P.; GAVINELLI, E.; LARRÉ-LARROUY, M. C.; FELLER, C. Nível e natureza do estoque orgânico de Latossolos sob diferentes sistemas de uso e manejo, Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 35, n. 1, p. 157-170, jan. 2000. PAGLIARINI, M.K.; CECCON, G. Desempenho de híbridos de milho safrinha solteiro e em consórcio com Brachiaria ruziziensis, em Dourados, MS. In: X Seminário Nacional de Milho Safrinha. Anais... p.335-341, 2009. PORTES, T. DE A; CARVALHO, S.I.C. DE; KLUTHCOUSKI, J. Aspectos Fisiológicos das plantas cultivadas e analise de crescimento da brachiaria consorciada com cereais. In: KLATHCOUSKI, J.; STONE, L.F.; AIDAR, H. Integração Lavoura-Pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. p.303-330. REIS, E.M. & CASA, R.T. Controle de doenças fúngicas na cultura do milho, em plantio direto, no sul do Brasil. In: Borges, G. & Borges, L.D. (eds). Seminário sobre tecnologia de produção e comercialização do milho, 2000. Passo Fundo, RS. Resumo de Palestras. Editora Aldeia Norte, Passo Fundo, RS. 2000. p.62-71. RICHART, A.; PASLAUSKI, T.; NOZAKIL, M.H; RODRIGUES, C.M.; FEY, R. Desempenho do milho safrinha e da Brachiaria ruziziensis cv. Comum em Consórcio. Revista Brasileira Ciências Agrárias, Recife, v.5, p.497-502, 2010. SALTON, J. C.; MIELNICZUK, J.; BAYER, C.; FABRICIO,A. C.; MACEDO, M. M.; BROCH, D. L.; BOENI, B.; CONCEIÇÃO, P. C. Dourados: Matéria orgânica do solo na integração lavoura-pecuária em Mato Grosso do Sul Embrapa Agropecuária Oeste, 2005. 58p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Boletim de pesquisa e desenvolvimento, 29). USDA (UNITED STATES DEPARTAMENT OF AGRICULTURE), World corn supply and use. World agricultural supply and demand estimates. Disponível em: <http://usda.gov./oce/commodity/wasde/latest.pdf> Acesso em: 21 mai. 2013. [6]