Desenvolvimento Histórico da Eletrostática

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Transcrição:

Desenvolvimento Histórico da Eletrostática Professoras: Suzana Salem Vasconcelos Valéria Silva Dias Estudante: Guilherme Ventura Bondezan

Mas... Qual foi o primeiro registro de eletrostática?

Qual foi o primeiro registro de eletrostática? resposta : A primeira citação de um corpo atraindo outro ocorreu no Timeu, livro de Platão (428 a 348 a.c.) Trecho:

Consideremos ainda uma vez as propriedades da respiração, a fim de vermos em virtude de que causas esse fenômeno se tornou o que atualmente é. Senão, vejamos: não existe nenhum vazio no qual poderia penetrar um corpo qualquer em movimento e, em nós, o sopro respiratório se move de dentro para fora. O que se segue é então evidente para todos. Este sopro não pode ir para o vazio, mas deve deslocar de seu lugar o ar que o rodeia. Por seu turno, a camada de ar deslocada também desloca a camada vizinha, e o todo se encontra deslocado desta maneira circularmente para o lugar de onde saiu o sopro respiratório: penetra aí, preenche e segue imediatamente o sopro respiratório. E todo esse movimento tem lugar sem interrupção, à maneira da roda que gira, por não existir nenhum vazio. [...] O mesmo vale para os cursos d água, para a queda do raio, para os fenômenos maravilhosos de atração, produzidos pelo âmbar e pelas pedras d Heracléia. Em nenhum desses efeitos jamais, em verdade, existe virtude atrativa. Mas como nada é vazio, como todos esses corpos impelem-se em círculo uns aos outros, espaçandose e aproximando-se, todos trocam simplesmente de lugar, para voltar cada um finalmente a seu lugar próprio.

Platão (428 a 348 a.c.): cita o efeito âmbar Tales de Mileto (625 a.c. 546 a.c.): Autores modernos atribuem a ele a descoberta do fenômeno, mas nenhum registro dele chegou até nós. Fato: Descobertas arqueológicas comprovam que o âmbar era usado como joia muito antes de Platão

Como os registros chegam até nós? Exemplo: Original em Grego do século V a.c. não chega até nós; Outra versão em Grego do século III d.c. Tradução para o Latim do século XV d.c. Tradução para o Inglês Tradução para o Português Ou seja, a cada tradução, muitas informações essenciais são perdidas, alteradas ou às vezes inventadas

Voltando ao trecho do Platão Consideremos ainda uma vez as propriedades da respiração, a fim de vermos em virtude de que causas esse fenômeno se tornou o que atualmente é. Senão, vejamos: não existe nenhum vazio no qual poderia penetrar um corpo qualquer em movimento e, em nós, o sopro respiratório se move de dentro para fora. O que se segue é então evidente para todos. Este sopro não pode ir para o vazio, mas deve deslocar de seu lugar o ar que o rodeia. Por seu turno, a camada de ar deslocada também desloca a camada vizinha, e o todo se encontra deslocado desta maneira circularmente para o lugar de onde saiu o sopro respiratório: penetra aí, preenche e segue imediatamente o sopro respiratório. E todo esse movimento tem lugar sem interrupção, à maneira da roda que gira, por não existir nenhum vazio. [...] O mesmo vale para os cursos d água, para a queda do raio, para os fenômenos maravilhosos de atração, produzidos pelo âmbar e pelas pedras d Heracléia. Em nenhum desses efeitos jamais, em verdade, existe virtude atrativa. Mas como nada é vazio, como todos esses corpos impelem-se em círculo uns aos outros, espaçandose e aproximando-se, todos trocam simplesmente de lugar, para voltar cada um finalmente a seu lugar próprio.

Salto Histórico de 1800 anos Salto, mas nem tanto: - Extensas experiências com atrito de diversos materiais; - Tabelas com intensidades dos poderes de atração

Girolamo Fracastoro (1478-1553) Fez diversas experiências com muitos materiais, percebendo que um pedaço de âmbar atritado pode atrair outro pedaço âmbar e até mesmo um metal, como a prata. Percebeu que o diamante atritado, tal como o âmbar, é capaz de atrair pequenos objetos. Perpendículo como aparato experimental

William Gilbert (1544-1603) Considerou como corpos elétricos aqueles que, tal como o âmbar, atraem corpos leves e, corpos magnéticos aqueles que eram atraídos somente pelos ímãs

William Gilbert (1544-1603) Versório de Gilber: - Objeto leve de metal apoiado a uma base de maneira que possa girar livremente no plano horizontal. - Era capaz de detectar atrações muito mais tênues - Guilber utilizou agulhas imantadas para mapear o campo magnético de um ímã. Chegou, assim, a conclusão de que a Terra poderia ser um grande ímã

Ação e reação? A interação observada no âmbar, versório ou perpendículo é recíproca? Vários se dedicaram a esta questão e chegaram a uma resposta positiva: - Honoré Fabri (1607 1688) em 1660 - Robert Boyle (1627 1691) em 1675 - Isaac Newton (1642 1727) em 1687 incluiu a ação e reação observada nas ações elétricas como um dos fundamentos de toda a Física. Para Newton, além de qualitativa, a ação e reação é quantitativa.

Otto von Guerick (1602 1686) - Experiência em que Otto faz uma penugem flutuar acima de uma esfera de enxofre atritada - É importante ressaltar, porém, que, para Otto, este experimento não demonstrava a repulsão elétrica, mas sim a virtude expulsiva da esfera, tal como a da Terra

Outros que se dedicaram a eletrostática na época, fazendo, inclusive, as mesmas experiências (pena flutuante): - Stephen Gray (1666 1736) escreveu um artigo em 1708 mas que só foi publicado em 1954 a esse respeito, mas não há certeza se teve acesso ao trabalho de Guerick ou se ele não o citou - Francis Hauksbee (1666 1713)

Como atritar os objetos Primeiro aparto construído intencionalmente para atritar objetos, desenvolvido por Francis Hauksbee (1666 1713)

Charles François de Cisternay Du Fay (1698 1739) - Reconheceu a expulsão elétrica como um fenômeno real, ao contrário de outros pesquisadores, que a consideravam como uma repulsão aparente, ou devida a atração por corpos vizinhos - Após repetidos experimentos que deram resultados diferentes do que ele esperava, propôs dois tipos diferentes de eletricidade:

Charles François de Cisternay Du Fay (1698 1739) Vítrea, capaz de repelir corpos (transparentes e sólidos, como o vidro) Resinosa, capaz de atrair corpos (betuminosos e resinoso, como o âmbar) Du Fay se perguntou se a eletricidade do corpo não dependeria do material com que é atritado. Contudo suas experiências não confirmaram esta indagação. Isto aconteceu porque ele não fez grande variação dos materiais usados

Stephen Gray (1666 1736) Primeira experiência que mostrou qualitativamente a conservação da carga elétrica, embora a ideia da conservação de carga já estivesse presente implicitamente nas concepções de diversos cientistas que trabalhavam com eletricidade. Gray foi o primeiro a realizar um experiência com o intuito de demonstrar essa propriedade

Posteriormente: Benjamin Franklin (1706 1790) Charles-Augustin Coulomb (1736 1806) Hans Christian Ørsted (1777 1851) Georg Simon Ohm (1789 1854) Michael Faraday (1791 1867) O que ficou? Futuro? Mesmo muitos anos depois de Gray, continuamos considerando a conservação da carga como algo fundamental e válida, inclusive em outros domínios, como o da carga-cor Mas pode ser que vários dos conceitos que temos por verdade hoje não o sejam

Recapitulando os pontos principais: Âmbar usado como joia desde muito antes de Platão Platão: primeiro registro do efeito âmbar e de sua explicação Dificuldade na obtenção de textos originais Após Platão, muitas experiências com diversos materiais, dando origem a tabelas com poderes de atração Fracastoro (perpendículo) e Gilbert (versório): maior capacidade de detecção da atração

Recapitulando os pontos principais: Gilbert com os corpos elétricos e os magnéticos, mapeamento do campo de um ímã e conclusão de que a Terra seria um ímã Ação e reação com Fabri, Boyle e Newton, sendo que este usou o descoberto para as forças elétricas como princípio fundamental Guerick com a experiência da pena: repulsão Du Fay: Dois tipos de eletricidade: vítrea e resinosa Gray: conservação da carga