MEDITAÇÃO Meditação é um estado de transcendência, é subjetivo, não é mental. Por não ser necessária às religiões, a meditação não foi desenvolvida no ocidente. Há muita confusão entre meditação e concentração. Concentração é um estado mental onde o praticante foca a mente em um único ponto. Sempre que a mente se move muitos assuntos vêm à tona causando enorme congestionamento. No homem com menos de 50% de carma queimado isso é mais difícil ainda porque ao voltar o pensamento para um único ponto, são trazidos juntos vários outros. As descobertas científicas são baseadas na concentração, pois é necessário que o descobridor foque sua mente em um único objeto ou objetivo, pensando, analisando o objeto penetrando cada vez mais no mundo objetivo. Isso não é meditação, é como concentrar os raios solares em uma lente. A consciência tem essa qualidade, concentrando-a o homem pode penetrar mais profundamente nos objetos. A concentração atraindo os raios solares poderá gerar o fogo. Concentração é a restrição da consciência e quanto mais restrita mais poderosa será. É por isso que conseguimos efeitos fantásticos concentrandonos em atrair e expandir Luz focando a consciência nos corpos físicos e nas situações do nosso mundo, mas isso também não é meditação. Atrair e expandir Luz são poderes da mente. Meditação também não é contemplação. A contemplação é mais ampla que a concentração, pois ao contemplar o céu, por exemplo, o contemplador verá todos os pontos do céu até onde seu ângulo de visão alcançar, porém estará restrito contemplando o céu. A ciência é resultado da concentração e a filosofia é resultado da contemplação embora algumas vezes possa se valer da primeira para alcançar alguns objetivos. Meditar é SER! O homem deve conectar-se à existência por ele mesmo, não é necessário mediador, e por isso Gautama, o Buda, dizia que não deveriam existir sacerdotes, porque ninguém pode amar a Deus através de um mediador. Religião (religar-se a Deus) é Meditação, não é concentração nem contemplação. Devemos entender que ao meditarmos sobre algo não devemos pensar sobre ele e sim SER esse algo. Ao meditarmos sobre Deus devemos SER DEUS!
Através da concentração, da contemplação e dos ensinamentos recebidos o homem pode aprender a Meditar. Meditar é sentar-se sem agir, sem usar o corpo ou a mente. Qualquer ação executada levará à concentração ou à contemplação. Meditar sobre um assunto não é meditação. MEDITAR É SER MEDITAÇÃO! Ficar sentado, relaxado e abolir o pensamento é o caminho para a meditação, e esse caminho tem que ser compreendido. Meditando a pessoa apreende a não se perturbar por nada à sua volta e, numa segunda fase, ela poderá estar realizando qualquer atividade e permanecer em constante estado de meditação. A Meditação Verdadeira não é contra a ação e nem uma fuga da vida, ela somente faz do meditador o centro de onde verá e participará de tudo sem se envolver. Podemos usar o exemplo do Senhor Jesus que realizou toda sua missão na Terra, no mundo material, mas estava com a consciência focada, vibrando Deus. Isto é Meditação! O segredo da meditação é que o meditador deve tornar-se o observador, esta percepção tem que ser clara. A concentração leva à percepção como em um túnel e a meditação leva à percepção circular. Na concentração a mente está livre para focar qualquer objeto, na Meditação, a mente é aprisionada pela consciência do Ser. Na contemplação a mente tem mais campo para se mover do que na concentração, mas mesmo assim está limitada ao passo que na Meditação o espaço é infinito. Para meditar não é necessário adotar uma posição específica, a melhor é a que a pessoa sente-se confortável. Também não há um momento adequado, qualquer momento é bom para meditar, basta relaxar que a meditação acontecerá no momento que tiver que acontecer. A meditação não é um estado que a mente pode atingir, ela está além da mente e não pode ser penetrada por ela. Onde a mente acaba a meditação começa, é só voltar a atenção para dentro. Sabemos que o mental concreto é o plano material (denso) e mental superior é a habitação do Cristo. A mente deve ser usada como veículo para a volta ao nada e não para obtenção de coisas ou estados materiais. Existem várias técnicas, mas por estimularem a mente acabam não funcionando porque a meditação não pode ser realizada com o mental. Ela é da natureza intrínseca do homem, está sempre dentro dele sem nada ter a ver com as atividades mentais. Meditação não pode ser possuída, não é uma coisa, é o próprio meditador. Quando ela acontece tudo se torna claro, o
caminhar no escuro através da mente acaba. Quando os pensamentos cessam a meditação inicia e parar de pensar significa nada fazer. Uma dica é parar, relaxar, sentar-se de frente para um canto de parede, solto, relaxado, deixando que os pensamentos se acomodem e que a mente pare por conta própria, como se estivesse dormindo, porém acordado. Então passar a esperar como se espera que a água de um rio fique limpinha após ter sido agitada por algo e ter trazido à tona a terra do seu leito. A meditação sempre esteve dentro de nós, nós é que dela não nos apercebemos, não olhamos na direção certa. Quando acontecer a Meditação, tudo estará ao seu alcance, você se tornará alegre, divertido e não taciturno como mostram as religiões. Uma pessoa meditativa é brincalhona, alegre, o vazio é o seu ser. A mente é um acúmulo de palavras, o silêncio é o ser. Os Mantras são palavras, mas têm um sentido, o mergulho no silêncio a partir das palavras. A palavra vai sendo repetida até que a mente se canse da repetição e mergulhe no silêncio. Não nos cansamos das palavras porque as estamos sempre mudando e a cada uma diferente mudamos nossa atenção, mas quando repetimos só uma durante muito tempo ou dormimos ou, permanecendo em estado de vigília, cansados, mergulharemos no silêncio. Para permanecermos em estado de vigília quando vier o sono devemos ficar em pé ou andar. Buda ao meditar sob a árvore Bodhi sentava-se durante uma hora e depois passava a caminhar por mais uma hora. Ao ser questionado sobre isso explicava Se eu ficar muito tempo sob a árvore fico sonolento. A mente tem um falatório constante, não pode ser controlada à força, pois faz com que a pessoa pareça morta. Ela deve ser esvaziada, transcendida, e então, a meditação acontecerá com alegria e vivacidade, num silêncio cheio de vida. Há quem jejue para meditar melhor. O hábito do jejum paralisa a mente por baixa de energia, tirando a sensibilidade. A meditação traz cada vez mais energia, inteligência, sensibilidade, tornando o meditador uma pessoa mais radiante com a vida muito mais rica. A busca por Deus é uma busca por mais felicidade, prazer, êxtase, entusiasmo... A mente pode até racionalizar a apatia como transcendência, mas na verdade é renúncia. Quando nos movemos na direção certa a Vida acontece. Quanto mais formos capazes de ultrapassar a mente mais facilmente nos tornaremos
MESTRES. Quanto mais prestarmos atenção à mente, mais perderemos nossa inteligência interior. Fazer sempre algo novo não permite que a mente se torne repetitiva, faz com que perca o controle sobre a pessoa, pois ela nada mais é do que o passado tentando controlar o presente e o futuro. Ela é muito útil para controlar o mundo, a sociedade. Pessoas com mentes ambiciosas são incapazes de meditar. Um meditador não realiza nada mecanicamente, andando está alerta, comendo está consciente de cada bocado. Está presente aqui e agora não permitindo que a mente caminhe a esmo. A meditação leva a um estado de completo vazio, mas os que chegam a este vazio percebem que se encheram da presença de Deus. O paraíso não está em algum lugar é algo que está dentro de cada um de nós e aos que lá chegarem a vida tornar-se-á Compaixão. Meditar não é nada além de viver no mundo comum sem se sentir possuído por ele, sendo capaz de permanecer acima dele. Não adianta isolarse, afastar-se de tudo, a mente irá junto e criará o mesmo tipo de mundo onde quer que você vá. O entusiasmo é o objetivo da vida e a meditação é o meio de atingí-lo. Diante de uma vitória pessoal o homem fica cheio de alegria, mas é passageira e logo ele se cansará da fama e da glória. Os ricos também se sentem vazios. O entusiasmo que vem da UNIÃO com o todo através da meditação é permanente e é o que preenche e alegra o ser permanentemente. No momento em que deixar de lado o ego, a personalidade tornando-se apenas um observador, uma consciência, o homem descobrirá a meditação e um grande contentamento virá até ele de todas as dimensões. O vazio será preenchido. Não importa quanto tempo levará para acontecer. Sentar-se só, contemplar e voltar-se para dentro, este é o caminho, um dia acontecerá. Meditar não é um condicionamento porque não é parte de uma doutrina, é um caminho para liberar o misticismo, significa não ter um credo, uma religião por isso serve para qualquer um que queira experimentar. Meditar é uma forma de aprofundar-se em si mesmo até o ponto em que não há mais pensamentos. O melhor momento para ensinar a meditação é quando a criança ainda não foi corrompida pela doutrinação. Meditação é a única religião, o resto é ritual. Meditar é a única forma de se ligar a Deus, é a essência pura que traz o melhor dos dois mundos, o divino e o terreno. É através da meditação que podemos libertar os poderes da mente para qualquer atividade que nos interesse.
Nós ocidentais temos muita pressa, aprendemos que todo o tempo tem que ser aproveitado para realizar algo. Os dias e as horas passam muito rapidamente e temos sempre alguma coisa para fazer, quando na verdade o maior tempo de nossa vida deveria ser aproveitado para SERMOS, o que é muito mais importante do que fazermos. Sentar sem pressa, essa é a nossa dificuldade. Quando conhecemos alguém deveríamos perguntar-lhe como ele é e não o que faz. Não importa nossa posição no mundo, o importante é estarmos plenos de paz, contentamento, entusiasmo! O silêncio deve ser nossa maior atividade. Houve um ser no Oriente chamado Mahavira que passou doze anos em silêncio e quando ele falou perguntaram porque havia se calado por tanto tempo ao que ele respondeu: A fala se torna valiosa apenas quando você atingiu o silêncio, do contrário é fútil. Não apenas fútil, mas também perigosa, pois você está jogando lixo na cabeça dos outros. Foi esse meu esforço falar apenas quando toda fala houvesse cessado dentro de mim e quando ela desaparecesse, eu poderia falar pois ela já não seria mais uma doença. Deveríamos ser menos ansiosos, corremos como se vivêssemos uma única vida e, na verdade, a vida é eterna. Poderíamos passar horas, dias em silêncio e nossa vida poderia tornar-se muito mais rica ao aprendermos a meditar. Não há segredo para se atingir a meditação, só é necessário um longo esforço que requer muita paciência, e quanto mais pressa houver, mais tempo levará. Quando não há pressa o silêncio habita a mente. A única pressa deve ser a de SER e só silenciando isso pode ser alcançado. A mente sempre gera problemas, solidão e afazeres. Quando a pessoa se sobrecarrega de tarefas esquece que dentro dela há um SER. Não há sentido em ser uma pessoa normal, pois isso é o resultado do que é aprendido lidando com a rotina do dia-a-dia o que não traz uma visão maior da vida. Somente quando acontece a insatisfação com o estado normal, humano, das coisas é que se inicia a busca interna, buscando elevar-se para sair do atoleiro. A psicologia dos Budas não é análise nem síntese, é transcendência, é ir além da mente. É um trabalho que leva o homem para fora do mental. Essa é a ênfase, sair de si. Essa psicologia corta todas as raízes que criam neuroses, psicoses, que tornam o homem fragmentado, mecânico. Ela não está interessada em analisar a mente mas ajuda a sair do mental.
O primeiro passo é deixar o mental, criar uma distância entre ele e o SER, assim todos os problemas desaparecem porque a mente perde o controle sobre a pessoa. Não é necessária a ajuda do psicólogo, mas sim o autoconhecimento, paciência e libertação do mundo das necessidades. Esse caminho deve ser percorrido sozinho e não há necessidade de técnicas ou manuais. A revolução começa quando a pessoa percebe que, em essência, ela não é mental. A mente é como uma âncora que prende a meditação, o SER, que é levitação, flutuação. Só quando houver essa tomada de consciência haverá a libertação. A verdadeira terapia é a transcendência. A escravidão termina e a cura se processa normalmente. Quando o homem desloca a ênfase do ego para a consciência não mais se preocupa se as pessoas ao seu redor o aceitam ou o rejeitam, sua opinião não importa, tudo o que ele quer é estar alerta em todas as situações. Nada é mais criativo que o silêncio, tudo é possível dentro dele. Quando se aceita que a preocupação exista com certeza o caos virá. Colhe-se o que se planta. Quando mais celebramos a vida mais recebemos em troca. A energia tem que ser criativa, se não é usada para a felicidade, será usada para a infelicidade. O tempo não é igual para todos, cada um tem um tempo dentro de si. Passado é passado, deixei-o queimar, ser destruído para que não sejamos novamente influenciados por ele. Os Mantras e Decretos criam mudanças químicas dentro do corpo trazendo saúde, felicidade, plenitude. Os Mestres nos têm dito que só evoluiremos com os Decretos porque são necessários para melhorar nossa vibração para que tenhamos a possibilidade de Meditar, isto é, SER. Em todos os movimentos e filosofias fala-se em meditação, cada um da sua forma, nem sempre clara. São aconselhadas as posições mais diferentes, dentro das mais diferentes situações quando meditar é simplesmente SER! Artigo elaborado a partir da leitura de Obras do Osho.