CARACTERIZAÇÃO GRANULOMÉTRICA E MINERALÓGICA DOS SEDIMENTOS NA VÁRZEA DO LAGO GRANDE

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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO GRANULOMÉTRICA E MINERALÓGICA DOS SEDIMENTOS NA VÁRZEA DO LAGO GRANDE DE CURUAI, PARA: COMPREENSÃO DA DINÂMICA SEDIMENTAR Amorim, M. A 1., Moreira-Turcq, P. F. 1,3 ; Carlos, L. C. S. 2 ; Turcq, B. 1,3, Cordeiro, R.C. 1 1 Dep. de Geoquímica UFF ( marceloceano@yahoo.com.br); 2 Dep engenharia Química UFF; 3 Institute de Recherche pour le Développement- IRD-França. Abstract Amazonian Floodplains are rich and unique ecosystems due to their biodiversity and productivity. Such floodplains play an important role reetaining sediments and influencing the element cycles in the Amazon basin. Várzea do Lago Grande de Curuai is located 850 km upstream from the Atlantic Ocean on the southern margins of the Amazon River, next to a city called Óbidos. This floodplains is composed of white waters, wich presents high rates of suspended material. There is also Black waters wich present low rates of suspended sediments and high rates of humic acid. This study aims to understand the sediment transport in that region. Furthermore, it is important to comprehend if the sediment comes from the Amazon River or from inland stream. In order to specify the characteristics of sediment, the samples were sorted out in sand (superior), silt and clay (inferior to 63μm). A study involving sample grain size analysis was also conducted in order to measure the amount of fine sediments (clay and silt in the bottom). These floodplain sedimentological studie will provide a better understanding of the floodplai sedimentary processus. Palavras-chave: Várzea, granulometria, material em suspensão. Introdução A bacia Amazônica, com aproximadamente 6,1 x 10 6 km 2, é a maior bacia hidrográfica do planeta. De dimensões continentais esta bacia está situada na zona intertropical, recebendo precipitações médias anuais de 2460 mm. A descarga líquida média é estimada em 209.000 m 3. s -1 (Molinier et al.,1997). O aporte médio de sólidos em suspensão do Rio Amazonas ao Oceano Atlântico é estimado em cerca de 600 milhões de toneladas por ano (ref ). Os principais tributários do rio Amazonas assim como ele próprio, são acompanhados ao longo de seus cursos por extensas zonas de inundações chamadas várzeas. As várzeas são áreas úmidas, florestas, campos e lagos, periodicamente inundadas. A várzea é um ecossistema rico e único na Amazônia em termos de biodiversidade e produtividade (Junk, 1997). Isso ocorre por causa dos pulsos de inundação, através dos quais as partículas orgânicas e minerais assim como o material dissolvido (materia orgânica e sais minerais) são transportados pelos rios de águas brancas e pretas e depositados nos solos e nos lagos destes sistemas. Considerando o balanço hidrológico e sedimentar, as zonas de inundação têm um papel de armazenamento temporário ou permanente do material dissolvido e particulado; sendo que o tempo de armazenamento pode variar de alguns meses (água e substâncias dissolvidas) a algumas centenas a milhares de anos (sedimentos). Estima-se que 80% do material transportado pelo Rio Amazonas, transita pelas várzeas (Mertes et al., 1996 ; Dunne et al., 1998). As várzeas constituem zonas preferenciais de deposição de sedimentos.

O objetivo deste estudo é a compreensão dos principais processos que regem a sedimentação na Várzea do Lago Grande de Curuai, Pará. Material e Métodos Área de Estudo O Rio Amazonas e seus tributários são acompanhados ao longo de seu médio e baixo cursos por grandes planícies de inundação (várzeas) que cobrem uma área de cerca de 300 000 km 2 (Junk, 1997). Os lagos de várzea também são caracterizadas, assim como os rios da bacia Amazônica, pela coloração de suas águas. O termo várzea é dado a planícies de inundação ao longo de rios de águas brancas, que são ricos em nutrientes e material em suspensão. E igapó, para aquelas ao longo de rios de águas pretas, caracterizadas por altas concentrações de substâncias húmicas dissolvidas e baixas concentrações de material em suspensão (Sioli, 1984). Pelo fato das várzeas se localizarem em regiões planas, marginais aos rios, estas são compostas por vários lagos permanentemente conectados, ou não, entre si e ao rio por canais, fazendo com que acompanhem o regime de águas do curso principal, altas e baixas águas. Estes lagos podem ter suas superfícies triplicadas durante o período de cheias. As várzeas são conhecidas por terem águas de grande produtividade fitoplanctônica e macrofítica. Esta importante produtividade é devida principalmente ao aporte durante as altas águas de elementos nutritivos transportados pelos rios. Nesse trabalho, a várzea estudada é a Várzea do Lago Grande do Curuai. Sua área inundável varia entre 1340 a 2000 km 2 (Kosuth, 2002) de acordo com o período de cheia, podendo alcançar, durante anos de cheias extremas, até 3600 km 2. A várzea está localizada na margem sul do Rio Amazonas, próximo à cidade de Óbidos e está 850 km a montante da desembocadura deste no Oceano Atlântico. Esta várzea é composta por diversos lagos de águas brancas, como o Lago Grande, Poção, Santa Ninha e Salé, e lagos de águas pretas, como o Curumucuri e Açaí. (Figura 1). Esses lagos são interligados uns com os outros, e conectados ao Rio Amazonas por pequenos canais. Por esses canais, alguns constantemente conectados ao Rio Amazonas, a variação anual do nível da água do rio é acompanhada com a variação do nível da várzea. O nível máximo ocorre entre maio a junho. Já o nível mínimo é entre o período de novembro a dezembro (Moreira-Turcq et all., 2004). Amostragem e Metodologias: Foram coletadas 62 amostras de sedimentos superficiais ao longo de toda a várzea com o intuito de se ter uma boa distribuição espacial dos sedimentos da várzea visando a caracterização granulométrica e mineralógica dos sedimentos superficiais. As amostras de sedimentos superficiais foram coletadas utilizando-se uma draga tipo Eckman. Estas amostras foram armazenadas em pequenos frascos pré-lavados em laboratório com água destilada e uma solução de ácido clorídrico. No laboratório as amostras foram separadas em duas frações, inferior a 63 µ m (argila e silte) e superior à 63 µm (areia e restos orgânicos), através do uso de uma peneira, logo em seguida foram secas em estufas a 40º C. Após a secagem as amostras foram pesadas e foram calculadas a porcentagem das duas frações. Sub-amostras foram tomadas para a análise de parâmetros objetivando a caracterização das duas frações dos sedimentos superficiais: entre outros estudos estão a quantificação e composição dos diferentes minerais presentes nas duas frações dos sedimentos através de espectrometria infravermelha à transformada de Fourrier (FTIR), pelo método desenvolvido por Bertaux, et all. (1998), onde a quantidade de radiação absorvida é proporcional a quantidade de

matéria absorvente na amostras. Foi também realisada a análise granulometrica do material total e da fração inferior a 63 µ m. Para este estudo foi utilisado um Analisador de Partículas a Laser, da marca Cilas, modelo 1064. Para a distribuição das concentrações em material em suspensão nos diferentes lagos da várzea, foi coletada 1 L de água em diversos pontos dos lagos. Parte desse volume (geralmente 500 ml), foi filtrada, utilizando filtros pré-pesados de 0.45µm. Esses foram secos em estufas a temperatura de 40º C por duas horas, em seguida, levados ao dessecador para balancear a temperatura e o peso. Em seguida o filtro foi pesado e assim calculado a concentração do material em suspensão presente nas amostras. Resultados e Discussão As concentrações do material em suspensão (MES) nos lagos da várzea variaram entre 5,13 e 210,06 mg/l ao longo do periodo estudado. Mas estas concentrações podem ser muito mais altas como podemos observar durante um ciclo anual de MES realizado neste sistema de várzea. Esta alta variabilidade é função de dois fatores: diferentes tipos de lagos (águas brancas e águas pretas) e do ciclo hidrológico da várzea que acompanha) as variações hidrológicas do Rio Amazonas. O MES variou entre 11,58 a 210,06 mg/l nos lagos de águas brancas e entre 5,13 a 8,18 mg/l nos lagos de águas pretas. Com relação ao ciclo hidrológico os lagos seguem uma tendência a apresentar maiores concentrações de material em suspensão em épocas de baixas águas e menores concentrações durante as águas altas. Durante a época de altas águas, as concentrações são baixas devido à diluição desse material com a entrada das águas do Amazonas, quando o nível de água nas várzeas pode alcançar até 6,5 m. Já durante a estação de águas baixas, o MES é alto. Acredita-se que o material fique retido nos lagos, uma vez que em baixas águas, a profundidade atinja em média apenas 0,6 á 1 m nos lagos. Durante esta época, como a coluna d água está muito pequena, também temos um enriquecimento do MES por meio da resuspensão dos sedimentos do fundo, devido a ação do vento. A influência do vento vai depender da intensidade e do tempo de exposição na região e da espessura da lâmina d água. Com o aumento do nivel dos lagos o MES volta a apresentar concentrações inferiores. Esta evolução temporal do MÊS parece indicar que seria durante o começo da descida do nível das águas na várzea, quando a ação hidrodinâmica perde sua força, que ocorreria a sedimentação de parte deste material. No interior da Várzea, o lago do Salé apresenta uma pequena variação de concentração durante o ciclo. Este lago apesar da distancia (aproximadamente 40 km) do Rio está permanentemente conectado. Os lagos Grande do Poção, Grande e Santa Ninha apresentam variações de concentração de MES semelhantes entre si, indicando que sejam influenciados diretamente pela hidrodinâmica local gerada pelo Rio Amazonas. Somente o Lago Grande apresenta concentração inferior aos demais lagos na época de cheia (provavelmente devido ao maior volume deste lago). Este recebe também água e material dos outros lagos, devido a hidrodinâmica local. O lago do Curumucuri, por se tratar de ser de águas pretas, apresenta baixas concentrações durante todo ciclo, porém, assim como os outros lagos, um aumento na concentração não significativo é encontrado na época de baixas águas. Já no Rio Amazonas, estas concentrações variam de 29,27 a 145,15 mg/l. Pelo fato do próprio Rio ser o gerador da variação do nível no sistema, é notável, assim como no interior da várzea a variação de concentração baseada no ciclo de altas e baixas águas. As maiores concentrações em material em suspensão, contrariamente

aos lagos de várzea, são encontradas durante as águas altas (Figura 2). A análise granulométrica dos sedimentos superficiais dos Lagos da Várzea de Curuai mostra uma predominância de sedimentos finos (silte e argila) nos conjunto dos lagos (Tabela 1). Sendo que em alguns lagos como no Lago Grande do Poção e no Lago Açaí a fração fina pode representar até 98% do total dos sedimentos (Figura 2) Esta distribuição granulométrica é muito similar a do material em suspensão encontrado no Rio Amazonas. O que parece indicar que nestes Lagos o Rio é a única fonte de sedimentos. Distribuição um pouco diferente pode ser observada no Lago Curumucuri, lago de águas pretas, onde a fração grosseira (areia) representa até 20%. Acredita-se que o Lago Curumucuri tenha um valor maior da fração grosseira devido ao fato de ser um lago de águas pretas (baixo valor de material em suspensão e altas concentrações de ácidos húmicos), se encontrar isolado no sistema da Várzea e receber uma influência muito grande de pequenos igarapés oriundos de terras firmes. Os lagos Santa Ninha, Grande e Poção são os que apresentaram as maiores proporções de sedimentos finos. Isso se acredita pela proximidade do Rio Amazonas, onde, recebem um aporte maior em consideração aos outros lagos. O canal que liga o Rio Amazonas ao lago Santa Ninha, é pequeno (aproximadamente 3,5 km) e largo, possibilitando a entrada constante da água do Rio, e principalmente em época de altas águas. Causando assim nesses lagos, uma perda da velocidade, com a posterior deposição do material fino nesses lagos. Os lagos Grande, Salé e Poção apresentam um teor de finos e grosseiros semelhantes entre si. Acredita-se, que estes lagos, por se localizarem no meio do complexo, e receberem influências diversas (receptação e transferência de águas e materiais dos lagos vizinhos, ação de ventos sobre uma grande superficie exposta sugerindo uma ressuspensão do material já depositado, presença e distribuição da água do Rio Amazonas em seus interiores parecem ser ambientes propicios para a deposição dos sedimentos transportados em suspensão. Os principais minerais encontrados nas amostras de sedimentos são: caolinita, ilita, clorita, smectita e quartzo. Com relação à composição do material do leito da várzea, a areia fina e a fração inferior, consiste de quartzo, com menores quantidades de feldspato e mineral argiloso. A smectita e Ilita são encontradas nas frações de argila e silte (< 63µm), seguidos por caolinita e clorita, em menores quantidades. No lago do Curumucuri, a distribuição é dada de uma forma diferente. Pois alem de ser um lago de águas pretas (pouco material em suspensão) não tem um contato direto com o Rio Amazonas. As águas do Rio sómente alcançam o Lago durante as altas águas e assim mesmo muito fracamente e bastante diluídas Conclusões Uma alta variabilidade sazonal nas concentrações de material em suspensão tem sido observada nos lagos da várzea, sendo que as maiores concentrações são observadas durante os períodos de baixas águas. Este tipo de comportamento é contrário ao encontrado para o Rio Amazonas na mesma estação hidrológica. As altas concentrações na várzea são provavelmente resultantes de dois processos: diminuição do volume de água dos lagos aumentando a concentração do material por unidade de volumee processos de ressuspensão devido a ação do vento sobre a pequena coluna de água nesta estação do ano. Estas altas concentrações são muito superiores àquelas encontradas no Rio Amazonas durante o mesmo período. Isto parece indicar que a sedimentação nestes lagos ocorre durante a descida das águas quando

a força do Rio já não se faz presente. Já o sedimento superficial caracterizado por uma granulometria extremamente fina e uma composição mineralógica muito uniforme parece demonstrar que este ambiente não é tão dinâmico como poderia se esperar. Referências Bibliográficas BERTAUX J, FROHLICH F, ILDEFONSE P. 1998. Multicomponent analuysis of FTIR spectra: Quantification of amorphous and crystallized mineral phases in synthetic and natural sediments. Journal of Sedimentary Research, vol. 68: 3. 440-447. DUNNE T, MERTES LA, MEADE RH, RICHEY J, FORSBERG BR, 1998. Exchanges of sediment between the floodplain and channel of the Amazon River in Brazil. GSA Bulletin 110(4): 450-467. IRION G, JUNK W J, DE MELLO ASN. 1997. The large central Amazonian river floodplains near Manaus: geological, climatological, hydrological and geomorphological aspects. In: Ecological Studies. Junk (ed) The central Amazon Floodplain Springer-Verlag Berlin Heidelberg. vol.129. 2:23-46 IRION G. 1989. Quaternary geological history of the Amazon lowlands. In Tropical Forest. Academic Press Limited. 23-34. JUNK W.J., 1997. The central Amazon floodplain: ecology of a pulsing system, Springer Berlin (Junk WJ, Ed), Heidelberg, New York. KOSUTH P., 2002. A case study of fllodplains dynamics: dynamics, water balance, sediment balance of the Vázea of Lago Grande de Curuai. Second LBA Conference, 7-10 July, Manaus, Brazil. MEADE RH, DUNNE T, RICHEY JE, DE M SANTOS U, SALATI E. 1979. Storage and remobilization of suspended sediment in lower Amazon river of Brasil. Science228:488-490. MERTES LAK, 1994. Rates of flood-plain sedimentation on the central Amazon River. Geology 22: 171-174. MOLLINIER M, GUYOT JL, CALLEDE J, GUIMARAES V, OLIVEIRA E, FILIZOLA N. 1997. Hydrologie du basin amazonien. In Enveronnement et dévelopment en Amazonie brésilienne, Thery H (ed.). Belin: Paris; 24-41. MOREIRA-TURCQ PF, JOUANNEAU B, TURCQ B, SEYLER P, WEBER O, GUYOT JL. 2004. Carbon sedimentation at Lago Grande de Curuai, a floodplain lake in the low Amazon region: insight into sedimentation rates. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 214: 27-70 SIOLI H. 1984. The Amazon, limnology and landscape ecology of aa mighty tropical river and its basin. Monographiar Biologicae, vol. 56. Dordrecht: Junk Publisher. 763 pp.

N Figura 1 Vázea do Lago Grande do Curuai e seus respectivos lagos: 1 Curumucuri; 2 Salé; 3 Lago Grande do Poção; 4 Açaí; 5 Santa Ninha; 6 Poção; 7 Lago Grande; e 8 Rio Amaonas. Tabela 1 - Média das porcentagens das frações inferior (silte e argila) à 63 µm e superior (areia) à 63 µm nos sedimentos superficiais nos diferentes lagos da Várzea. Media da porcentagem das diferentes frações Lagos silte-argila areia n Grande 92.749 7.251 13 Santa Ninha 97.782 2.218 13 Salé 93.769 6.231 6 Grande do Poção 99.734 0.266 5 Poção 91.228 8.772 9 Curumucuri 80.927 19.073 12 Açaí 98.867 1.133 4 a Figura 2 Gráficos referentes a granulometria do Rio Amazonas (a) e do Lago de Santa Ninha (b) b