Rev. bras. Ent. 23(3) : 169-173. 31.X.197 9 OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XVL NOVO GÊNERO DE GONYLEPTIDAE E PRESENÇA DE TRIAENONYCHIDA E NO BRASIL (OPILIONES). Helia E. M. Soare s Benedicto A. M. Soares ABSTRACT Ceratoleptes proboscis, gen. n., sp. n. is described from Brazil Brasiloctis bucki Mello-Leiti o, 1938 is removed from Podoctidae to Triaenonychidae, being so the firs t Phalangid of the latter family described from Brazil, where another species of the sam e group is found, Ceratomontia argentina Canals, 1938, known up to now from Chile an d Argentina Em material do Museu Nacional, Rio de Janeiro, proveniente de Santa Catarina, pudemos assinalar um gênero e espécie novas de Gonyleptidae e a ocorrência da famíli a Triaenonychidae no Brasil, representada por duas espécies. Gonyleptidae, Pachylinae Ceratoleptes, gen. n. Cômoro ocular com robusta e altíssima apófise mediana, curva para diante. Area I dividida. Area I - IV do escudo dorsal, tergitos livres I - III e opérculo anal com um par de fortes tubérculos cônicos, os da área IV menores e mais fracos ; área V com um par de robustas apófise rombas muito próximas no macho, mais altas e geminadas na fêmea. Palpos fracos, curtos, de fêmures inermes. Fórmula tarsal : 5-8-6-6. Distitarsos I e II de 3 segmentos. Basitarso I não intumescido. Tarso III e IV com duas garras lisas, o pseudoníquio longo e curvo. Espécie-tipo : Ceratoleptes proboscis, sp. n. Etimologia : Ceratoleptes. nome masculino (do Grego cerol = chifre e leptos = aracnídeo) ; sugere a forma de apófise do cômoro ocular ; proboscis, do Latim, significa tromba. Diagnose. Este gênero é mais afim de Hyperichylus Roewer, 1957 : 80. Difere pela forma do cômoro ocular, armadura do escudo dorsal e fórmula tarsal. Hyperpachylu s só possui uma espécie : H. mirabilis Roewer, 1957, do Peru. Holótipo 6. Ceratoleptes proboscis, sp. n. (Figs. 1-13 ) Comprimento do corpo 8,60 mm ; da borda anterior do cefalotórax à bord a posterior da área V, 7,50 mm. Cefalotórax : largura, 3,80 mm ; comprimento, 3,00 mm. Largura do abdômen, 7,00 mm. Face dorsal. Borda anterior do cefalotórax granulosa, com grosso tubérculo granuloso de cada lado junto aos ângulos e com dente entre as quelíceras. Cefalotórax com pequenos grânulos densamente distribuídos. Cômoro ocular muito próximo da borda anterior do cefalotórax, alto, com robusta e altíssima apófise mediana curva para diante, irregularmente
170 Rev. bras. Ent. granulosa, os grânulos de vários tamanhos, sobressaindo um par de grânulos apicais maiores. Área I dividida, IV inteira. Area I - IV com um par de fortes tubérculos cônicos, os da áre a IV bem menores, muito granulosos. Area V granulosa, com um par de robustas apófises cônicas, alongadas, muito próximas entre si, com dois grossos grânulos do lado externo d e cada apófise. Areas laterais granulosas, com alguns grânulos maiores no bordo mais dilatado. Tergitos livres I - III e opérculo anal granulosos, com um par de fortes tubérculos medianos, os do opérculo anal maiores. Todos os grânulos do escudo dorsal providos de pêlos muito curtos. Face ventral. Opérculo anal com duas filas de grânulos pilíferos e esternitos livres com uma. Area estigmática e ancas IV densamente granulosas, os grânulos salientes grossos, pilíferos, todos do mesmo tamanho. Grânulos das ancas I e II mais grossos e salientes n a margem anterior. Ancas III unidas às IV por fila de grânulos grossos e alongados. Opércul o genital arredondado, com elevação apical, com sulco transversal próximo à base, co m grânulos pilíferos dispostos em toda a superfície ; os pêlos dos grânulos apicais mais longos. Quelíceras. Segmento I mais ou menos longo com bossa dorsal levemente dirigida par a trás ; segmento II um tanto delgado, com cerdas nas bases dos dedos. Palpos. Fracos, curtos, delgados. Trocanteres piriformes, com um par de tubérculos ventrais ; fêmures curtos, sem espinho apical interno, levemente curvos, mais estreitos na base, espessando-se gradativamente para o ápice, com dois espinhos ventrais, um sub-basilar e outro na porção mediana ; tíbias com 1-3 e tarsos com 3-3 espinhos inferiores, e co m longas cerdas de um lado e de outro. Pernas. Trocanteres I - III dorsalmente lisos, com grossos grânulos laterais e ventrais. Fêmures I sub-retos, II retos, III levemente curvos. Fêmures, panelas, tíbias e metatarso s I - III com filas longitudinais de grânulos pilíferos. Tarsos I com os dois primeiros artículo s maiores e pouco mais espessos que os três artículos distais. Distitarsos I e III de 3 artículos. Pernas IV : ancas com grossos grânulos pilíferos densamente distribuídos, com robusta apófise apical externa, transversa, recurva, pontiaguda e com pequeno ramo inferior antes d o ápice, e com pequenino espinho apical interno ; trocanteres mais longos, com grânulos d e vários tamanhos, mais abundantes ventralmente, com apófise mediana, lateral, externa, levemente curva para cima, com robusta e longa apófise dorsal mediana bífida, grânulosa, dirigida para trás e para cima e com um dos ramos espesso, rombo, de ápice curvo para baix o e o outro espesso na base, afinando-se para o ápice ; fêmures levemente curvos em S, com quatro grossos espinhos laterais internos na porção mediana, com cinco grossos espinhos, quase todos do mesmo tamanho, laterais, externos, pouco abaixo da porção mediana, co m pequeno tubérculo apical interno e com filas de grânulos pilíferos de diferentes tamanhos ; patelas, tíbias e metatarsos com filas de grânulos pilíferos, as patelas e tíbias com dupl a fila ventral de pequenos espinhos. Artículos tarsais : 5-8-6-6. Medidas em m m Pernas Trocanter Fêmur Patela Tíbia Metatarso Tarso Total I 0,80 2,75 1,15 2,00 3,00 1,65 11,3 5 II 1,00 7,25 2,00 4,50 6,15 3,75 24,6 5 III 1,00 5,25 2,00 3,25 5,20 2,25 18,9 5 IV 2,00 5,59 2,00 5,00 7,60 2,50 24,6 9 Palpo 0,60 1,00 0,75 0,80 0,80 3,95 Quelícera : segmento I 1,50 ; segmento II 1,60 (dedos não incluídos )
Vol. 23(3), 1979 17 1 Ceratoleptes proboscis, gen. n., sp. n. holótipo 0 : 1, corpo, vista dorsal ; 2, área V do escud o dorsal, tergitos livres I - III e opérculo anal, vista frontal ; 3, cômoro ocular, área I - V do es - cudo, vista lateral ; 4, apófise apical externa da anca IV esquerda. vista lateral externa ; 5, apófise apical externa da anca IV (outra posição) e trocanter IV esquerdos, vista lateral externa ; 6, palpo esquerdo, vista dorsal ; 7, tarso 1 esquerdo, vista dorsal ; 8, quelícera esquerda, vista dorsal ; 9, fémur IV esquerdo, vista dorsal ; 10, pênis, vista dorsal ; 11, pénis, vist a lateral ; 12, parátipo, corpo vista dorsal ; 13, área V, vista frontal.
172 Rev. bras. Ent. Genitália. Pênis como nas figuras 10 e 11. Colorido geral fulvo. Tubérculos das áreas I e III mais claros no ápice, os das áreas II e V de ápice castanho. Apófise apical externa das ancas IV e apófise bífida dos trocantere s IV castanho-amareladas ; matatarsos IV fulvos, com anéis claros em todo o comprimento. Parátipo 9 (fig. 12, 13). Comprimento do corpo, 8,50 nun ; da borda antenor do cefalotórax à borda posterior da área V, 7,50 mm. Cefalotórax : largura, 3,50 mm ; comprimento, 2,80 mm. Largura do abdômen, 6,60 mm. Semelhante ao macho, exceto na área V, que é granulosa e possui um par de altas e forte s apófises rombas, geminadas e um par de grossos grânulos do lado externo de cada apófise. Pernas IV : ancas com grossos grânulos pilíferos, com curto e largo espinho apical extern o dirigido para trás, e com pequeno tubérculo apical interno ; trocanteres pouco mais longo s que largos, irregularmente granulosos ; fêmures sub-retos, granulosos, com fila interna e outra externa de pequenos espinhos. Artículos tarsais : 5-7-6-6. Medidas em m m Pernas Trocanter Fêmur Patela Tibia Metatarso Tarso Total 0,75 2,60 1,15 2,00 3,00 1,65 11,1 5 II 0,90 6,75 1,75 4,25 5,90 3,25 22,80 111 1,00 5,00 2,00 3,00 5,25 2,00 18,2 5 IV 1,50 6,50 2,00 4,50 7,50 2,15 24,1 5 Palpo 0,50 1,00 0,60 0,80 0,80 3,70 Quclícera : segmento I 1,0 ; segmento II 1,50 (dedos não incluídos). Holótipo d, parátipo 9, no Museu Nacional, Rio de Janeiro. Estavam acompanhado s do rótulo autógrafo de Melfo-Leitão com o nome de Anc.vlorhinoleptes assimilis, tipos. Localidade-tipo. Brasil. Bahia : Ilhéus, Parataquicé. Triaenonvchidae, Triacnonvchinac, Triaenonychini Brasiloctis bucki Mcllo-Leitão Brasiloctis hucki Mello-Leitão, 1938 : 144, fig. 4 ; Roewer, 1949 : 282; SilhavY, 1966 : 372. Holótipo n9 56.265 (Museu Nacional, Rio de Janeiro) Brasil : Rio Grande do Sul, Port o Alegre (em folhas de bromélia), coligido por Pio Buck. Mello-Leitão, ao descrever B. hucki, colocou-a na família Podoctidae, constatada então pela primeira vez no Brasil, o que suscitou dúvidas de Roewer e de Silhavÿ, uma vez que ess a procedência está em desacordo com o que se conhece até o presente sobre a zoogeografia dos opiliöes. Revendo o tipo desta espécie, que possuia o tarso III, pudemos verificar que se trat a de um típico trienoníquida, confirmando assim a suposição dos dois aracnólogos citados.
Vol. 23(3), 1979 17 3 Ceratomontia argentina Canal s Ceratomontia argentina Canals,1939 : 144, fig. 1-10 ; Ringuelet, 1959 : 255, fig. 31. Brasil : Santa Catarina, Nova Teutônia (300-500 m), Fritz Plaumann, 1976, 1 n9 676, na coleção H. Soares., O exemplar estudado é muito pequeno (1,00 mm de comprimento), mas coincide perfeitamente com a descrição original, incluindo as figuras. Não temos, pois, dúvida de que a espécie descrita da Argentina ocorre também no Brasil. REFERENCIA S Canals, J., 1939. Nuevos Opiliones de la Argentina. Not. Mus. La Plata, Zool. 4 (18) : 143-156, 13 fig. Mello-Leitão, C. F. de, 1938. Considerações sobre os Phalangodoidea Soer. com descrição de novas formas. An. Acad. Bras. Cien., 10 (2) : 135-145, 4 fig. Ringuelet, R. A., 1959. Los arácnidos argentinos del Orden Opiliones. Rev. Mus. Arg. Cien. Nat. "Bernardino Rivadavia ", 5(2) : 128-439, 62 figs., 20 lám. Roewer, C. F., 1949. Uber Phalangodidae II. Weitere Weberknechte XIV. Senckenbergian a 30 (4-6) : 247-289, 12 pis., 101 fig. Roewer, D. F., 1957. Arachnida Arthrogastra aus Peru. III. Senckenbergiana biol, 38(1-2) : 67-94, taf. 3-6. Silhavÿ', V., 1966. Ibanila cubana gen. nov., spec. nov., the first representative of subfamil y Ibaloniinae Roewer (Arach., Opilionidea) from America. Acta Soc. Zool. Bohemis., 33(4) :372-376,7 fig.