EXPERIÊNCIA COM USO DA FOTOGRAFIA NO TERRITÓRIO ENTRE ESCOLA BÁSICA E UNIVERSIDADE: COMPOSIÇÃO SENSÍVEL ENTRE O OLHAR E O FOTOGRAFAR Renata Cavallini Graduanda de Pedagogia FFP/UERJ PIBID/CAPES/UERJ RESUMO Rosimeri de Oliveira Dias FFP/UERJ PIBID/CAPES/UERJ Este trabalho descreve experiências com o uso da fotografia na escola básica desenvolvido no contexto do projeto PIBID/CAPES/UERJ. A fotografia é trabalhada como um dispositivo articulador e meio encontrado para fazer uma pesquisa intervenção com a escola básica, como propõe René Lourau. A pesquisa-intervenção acontece entre os territórios do Colégio Estadual Conselheiro Macedo Soares e a Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo da UERJ. O Subprojeto de Pedagogia norteia este trabalho com seus eixos de análise e de intervenção: O projeto tem funcionado como um espaço em que se analisa às micropolíticas do cotidiano da escola e da formação de professores. Micropolítica é entendida aqui como uma experimentação ativa, como pensada por Gilles Deleuze. O intuito do trabalho é fazer ressoar implicações do dia a dia da pesquisa com a escola, apresentando algumas problematizações que vão ganhando consistência fotográfica com a processualidade deste trabalho. Para tanto há autores e conceitos que nos ajudam a pensar, tais como: René Lourau com a noção de Análise Institucional; Gilles Deleuze e Félix Guattari com o método da cartografia; Jorge Larrosa com a noção de experiência; Walter Benjamin com suas experiências com a Fotográficas; Virgínia Kastrup com a ideia de invenção de si e do mundo por meio da arte; Rosimeri de Oliveira Dias com sua noção de Formação Inventiva de Professores; Susan Sontag com suas análises sobre fotografia. Com estes eixos de análise e de intervenção é possível dizer que a fotografia funciona como o momento da captura de um olhar. Com ela afirma-se um modo de ver o si e o mundo, que possibilita inventar outro modo de pesquisar e habitar o território escolar pesquisado. Palavras chave: Fotografia; Pesquisa-intervenção; formação inventiva de professores. 03107
2 Este trabalho apresenta a fotografia como dispositivo articulador e meio encontrado para fazer uma pesquisa intervenção com a escola básica. Pesquisaintervenção (PASSOS; KASTRUP; ESCÓCIA, 2009) que acompanha os processos que se dão no contexto da formação inicial e continuada de professores do Subprojeto de Pedagogia da Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo do Projeto Saber escolar e formação docente na educação básica PIBID/CAPES/UERJ e, acontece entre o Colégio Estadual Conselheiro Macedo Soares e a Faculdade de Formação de Professores da UERJ. Deste modo, seguimos os eixos que norteiam os referenciais do subprojeto de Pedagogia, a saber: analisar às micropolíticas do cotidiano da escola e da formação inventiva de professores. O problema da formação inventiva de professores coloca em análise nossa capacidade de lidar com a alteridade, com a diferença que circula na formação e que também nos habita. Com isto, é possível afirmar que formação não é simplesmente dar forma ao futuro professor, mas produzir um território que se compõe como um campo de forças criando ética, estética e politicamente outras formas de habitar, de pensar e de fazer a formação (DIAS, 2012, p. 30). Nesse sentido, pretendemos descrever algumas experiências com o uso da fotografia na escola básica, e algumas afetações que acontecem na processualidade desta. A fotografia funciona como uma prática que busca uma aproximação entre alunos da escola e da universidade e o território escolar. Um dispositivo que dá a ver e falar as muitas linhas que atravessam as experiências com o mundo da formação. A fotografia é como um recorte de momentos que compõe modos de fazer e de pensar a pesquisa-intervenção com a escola básica. A condição de pesquisador/fotógrafo permite um olhar diferente perante o cotidiano da pesquisa com a escola. São instantes de alegria, descontração, conversas e encontros vistos pelo olhar do pesquisador que são transformados em objetos. Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. Significa pôr a si mesmo em determinada relação com o mundo, semelhante ao conhecimento (SONTAG. 2004, p.14). Pensar a micropolítica da escola por meio de fotos permite inventar outros modos de ver seu dia a dia. O olhar diante de cenas, e o seu posterior congelamento permite analisar distintos ângulos das rotinas da escola. E não há regras para classificar o que é digno ou não de ser fotografado, pois as fotos surgem do encontro e das interações com o território. A escola é bastante peculiar, um prédio antigo do século 03108
3 passado, época em que haviam fazendas com seus coronéis e escravos. Ali realmente era um casarão aonde viveram escravos, e que pertenceu a uma baronesa, conhecida como Baronesa de Goytazes. Junto com a peculiaridade de uma escola centenária, fomos buscar em espaços públicos, em centros culturais e em ambientes virtuais as singularidades da escola objeto de nossa intervenção junto ao PIBID/CAPES/UERJ. Com este modo de intervir entre universidade e escola básica, há momentos de encontro com a arte, em que nos sensibilizamos diante do seu esplendor, que potencializam a vida e ampliam os sentidos para se deixar atravessar pelas experiências que nos passam, nos atravessam e nos transformam (BENJAMIN, 1994). Fotografia e arte se juntam com os eixos de análise e de intervenção par abrir espaço e tempo de experimentar outro modo de sentir e pensar a vida em formação. Assim, experienciamos e aprendemos com a arte que faz o pensamento pulsar, imaginar, criar outro pensamento. A invenção da cognição é em parte devir e em parte de produção. É devir porque se dá por bifurcações, por divergência em relação a si mesma. Mas é produção no sentido em que gera produtos, porque é produção de si e produção do mundo. Estas são as duas faces da aprendizagem: a face em que ela é potência, a virtualização da ação, e a face em que é o processo que conduz a soluções a corporificação do conhecimento e a invenção do mundo. (KASTRUP. 1999, p. 109) A articulação da fotografia permite uma interação com o meio, abrindo brechas, ultrapassando barreiras e caminhando por rumos inesperados. As relações e relacionamentos com o território, a formação, os alunos, os professores vão sendo constituídos a cada fotografia tirada. Nesse sentido, buscamos a implicação desta arte com o meio e com o pesquisador no transcorrer deste trabalho. Assim, tratamos de situações de troca e aprendizado onde o uso do registro fotográfico foi feito. Com as análises e intervenções é perceptível e considerável a implicação da fotografia na escola. Quando a câmera está em ação à empolgação toma conta da garotada. Alguns alunos em oficinas e mesmo em qualquer espaço, ao ver a máquina querem fotografar, outros fazem pose ou somente observam, a fotografia desperta atenção de alunos da universidade e da escola básica. Junto com a cartografia (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009), a fotografia (BENJAMIN, 1994) possibilita um olhar atento, sensível ao que se passa. Sendo outro modo de perceber e ver o cotidiano. É como se ela pudesse parar o tempo naquele instante para que não se perca o 03109
4 momento, e fique para posteridade. No entanto, o ato que cria o objeto é mediado pelo olhar do pesquisador, que fotografa ao ver a cena, ficando esta eternizada no objeto. A foto, tornando-se memória. Na base de tudo está a velocidade, como disse Hart Crane Um centésimo de segundo captado de forma tão precisa que o movimento continua, indefinidamente, a partir da foto: o momento convertido no eterno".(sontag,1933; p.80) Desta maneira, pensamos a fotografia como possibilidade de ampliação do aprendizado na escola básica. Isso acontece na medida em que juntamos fotografia com pesquisa-intervenção e uma formação inventiva de professores para poder fazê-la com a escola e a formação como a arte de registrar momentos. Onde, pela mediação do olhar do pesquisador- fotógrafo se dá sentido ao objeto desejado, compondo, assim, uma história. Deixando para posteridade o registro fotográfico. Como por exemplo, em muitas idas a escola colocamos em análise o pátio como um local de muitas intensidades e trocas. Por isso, houve maior atenção aos momentos vividos nele, a partir das fotos tiradas. Nesse caso, o que importa não são as pessoas, como nas tradicionais fotos escolares, em geral de turmas, mas, trazer questões e pensar a partir das fotos os modos de interação de seus sujeitos em seus momentos no pátio e como a escola trata essa relação. Com a máquina em punho foi possível um acoplamento a pequenos mundos existentes no pátio e seus arredores, possíveis de serem vistos apenas com uso da máquina. Livros ou regras pré-estabelecidas não permitem tal interação. Somente a máquina faz o registro daquilo que seu olhar imagina, e a partir dele cria-se um mundo. Além disso, a máquina fotográfica é um objeto popular, fácil de manusear e bastante comum em quase todo tipo de pesquisa. Essa insaciabilidade do olho que fotografa altera as condições do confinamento na caverna e no nosso mundo. Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de observar. Constituem uma gramática e, mais importante ainda, uma ética do ver. (SONTAG, 2004. p,13) Contudo, as análises e intervenções permitiram-nos subverter os signos aos processos de mudança orientados por práticas geradoras de experiências. A aprendizagem por meio da fotografia possibilita a experimentação, pois existe uma troca 03110
5 com o objeto. E esse objeto pode agenciar outras trocas e aprendizagens. Fotografar é aprender sobre pequenos mundos, ao passo que, abre caminhos múltiplos. O trabalho com a fotografia se amplia e agora é parte significativa em nosso trabalho com a escola e a formação inicial e continuada de professores no Subprojeto de Pedagogia da FFP/PIBID/CAPES/UERJ. Em especial, porque faz emergir outros modos de pesquisar com a escola. Desconstruindo processos, inventando práticas, intervindo e modificando olhares. Terminamos este trabalho com a clareza de que formação inventiva, cartografia e fotografia funcionam a favor da produção de sentidos da feitura de outros modos de viver e ser no mundo da escola e da formação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BENJAMIN, W. Pequena história da fotografia e Experiência e Pobreza. In: Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura história da cultura. Tradução Sérgio Paulo Rouanet; prefácio Jeanne Marie Gagnebin. Ed- São Paulo: Brasiliense, 1994. DIAS, Rosimeri de Oliveira. Formação inventiva de professores. Rio de Janeiro: Lamparina, 2012. KASTRUP, V. A invenção de si e do mundo: a inserção do tempo e do coletivo nos estudos da cognição. São Paulo: Papirus Campinas, 1999. PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009. SONTAG, S. Sobre fotografia. São Paulo:Companhia da Letras, 2004. 03111