Evolução do Mercado Fotovoltaico Brasileiro de Geração Distribuída *Por Lincoln Romaro Em um momento de recessão da economia brasileira é natural que outros modelos de negócios e novos mercados possam encontrar sua oportunidade frente a uma dificuldade. Bem, essa vem sendo a realidade do mercado fotovoltaico de geração distribuída no Brasil. Um mercado que vem acelerando na contramão da economia, será que é realmente promissor? Bom, vamos aos fatos: Quais os números desse mercado? Enfim, um mercado que somente em sete meses de 2017 já superou seus números de 2016 e almeja bater novos recordes até o final do ano. Com possibilidade de romper a barreira do seu primeiro R$1 bilhão ainda em 2017, vem chamando a atenção de diversos investidores e empreendedores no País e no mundo. Conforme levantamento feito pela Greener, o mercado de geração distribuída já comercializou mais de 126MWp de potência em 2017 (até final de julho), faturando mais de R$725 Milhões, e que possivelmente superará R$1 bilhão até o final de 2017. No entanto, que fatores contribuíram para que o mercado acelerasse tanto?
Principalmente, a forte queda no preço final dos sistemas. Os sistemas fotovoltaicos ficaram, na média, 28,93% mais baratos no último ano (2016 a 2017), influenciados, principalmente, pela forte queda dos preços dos equipamentos (módulos e inversores) no mercado mundial e com um ganho de eficiência no processo de Integração (serviços de instalação, engenharia e conexão à rede) nos últimos seis meses (janeiro a junho de 2017). Claro que outros fatores vêm contribuindo para a expansão do mercado, por exemplo, fatores macroeconômicos, como a Taxa Selic. A taxa básica de juros sofreu uma forte redução ao longo de 2017, o que impacta diretamente no custo financeiro do empreendimento, fator fundamental para que o financiamento de sistemas fotovoltaicos se torne mais adequado para esse perfil de investimento (longo prazo).
Fonte: Banco Central do Brasil Outro grande fator que contribuiu para o crescimento do setor foi o cenário energético do País, que nos últimos anos vem sofrendo com as crises hídricas, trazendo grandes reajustes nas tarifas de energia. Esse cenário traz uma forte insegurança para o consumidor, que busca através da geração própria de energia maior segurança frente a novos reajustes tarifários, além do controle de custos no médio e longo prazo. Com alguns desafios ainda a superar, o mercado de geração distribuída já demonstrou que pode se tornar uma alternativa para a recessão econômica do País, principalmente, devido ao seu alto potencial de empregabilidade ao longo da cadeia. As Mini usinas Solares Com dinâmica intensa num curto espaço de tempo, alguns modelos de negócio começam a fazer sentido em diversas localidades do País, no caso, as mini usinas solares. Exemplo disto, são os modelos de locação de lotes solares que vêm se tornando um business atrativo, devido ao fato de o cliente não adquirir um sistema próprio, que muitas vezes é um item caro e fora da realidade financeira de muitos brasileiros. Porém, ao mesmo tempo que esse conceito esteja se popularizando, ainda é difícil encontrar tais mini usinas. Isso se deve ao fato de diversas complicações técnicas e regulatórias, que aumentam a barreira de entrada de muitos players nesse mercado e prolongam o processo de desenvolvimento dessas usinas. As mini usinas solares, também conhecidas como mini usinas fotovoltaicas ou fazendas solares, irão, com toda certeza, acelerar o mercado de geração distribuída, devido à sua escalabilidade e rentabilidade. Em geral, essas usinas possuem potências entre 1 e 5MWp e, considerando algumas dezenas de
empreendimentos desse porte por ano, podemos notar claramente sua relevância no volume de negócios do setor, tanto em potência instalada quanto em R$. Uma única usina de 1 a 5MWp pode movimentar de R$4 milhões a R$20 milhões na cadeia. Gargalos Apesar dos bons números e do expressivo crescimento do mercado fotovoltaico de geração distribuída, alguns impasses ainda circundam o setor. Um dos fatores mais relevantes no curto prazo é a elevação do preço dos módulos fotovoltaicos, seguidos também por uma certa escassez dos equipamentos no mercado mundial. Isso poderá limitar o crescimento do mercado nacional no 2º semestre de 2017. Conforme dados apurados pela Greener, essa limitação já está sendo percebida no mercado, com uma redução do estoque nacional de equipamentos, que pode se agravar nos próximos meses. Outro fator que pode limitar o mercado são os quesitos regulatórios que estão sendo debatidos no Ministério de Minas e Energia e na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Algumas mudanças na regulação podem reduzir a competitividade dos sistemas fotovoltaicos, entre elas, a tarifa binômia. Tais assuntos ainda estão em debate e com certeza podem tanto impulsionar quanto desacelerar o mercado nos próximos anos. Apesar de todos os entraves e dificuldades, o setor vem se demonstrando otimista e promissor. É fundamental realçar o papel do mercado fotovoltaico de geração distribuída devido ao seu alto índice de pulverização e empregabilidade. Conforme já observado em outros países, a cadeia fotovoltaica possui grande potencial de geração de empregos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Em nosso relatório publicado em setembro de 2017, é possível encontrar maiores informações e detalhes sobre a dinâmica do setor, o material é gratuito e está disponível para download.
*Lincoln Romaro é analista técnico da Greener, graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Itajubá, com ênfase em Sistemas de Potência. Especialista em Energias Renováveis pela Technische Universität Dresden Alemanha.