ESTUDO COMPARATIVO DAS PERCEPÇÕES DE ALUNOS, DOCENTES E EMPRESÁRIOS SOBRE CONHECIMENTOS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA



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Transcrição:

ESTUDO COMPARATIVO DAS PERCEPÇÕES DE ALUNOS, DOCENTES E EMPRESÁRIOS SOBRE CONHECIMENTOS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA Helio Rosetti Júnior 1, Juliano Schimiguel 2 1 Professor Doutor do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) Brasil (heliorosetti@terra.com.br) 2 Professor Doutor da Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL) Brasil (schimiguel@gmail.com) Recebido em: 04/05/2012 Aprovado em: 15/06/2012 Publicado em: 30/06/2012 RESUMO O presente trabalho tem por finalidade analisar e discutir as manifestações de alunos, professores e empresários sobre conhecimentos e ensino de matemática financeira em cursos superiores de tecnologia na região metropolitana da grande Vitória, estado do Espírito Santo, Brasil. Utilizou-se, para o estudo, formulários de pesquisa aplicados aos alunos, professores e empresários da região, com questões que abordam conhecimentos fundamentais sobre cálculos financeiros e operações financeiras básicas. Assim, efetuou-se uma comparação entre as respostas majoritárias dadas pelos grupos pesquisados, na busca de percepções comuns, visando compreender as manifestações dos segmentos trabalhados na pesquisa. Os resultados indicaram uma percepção divergente entre alunos, professores e empresários, apontando para uma discordância significativa sobre questões relativas à matemática financeira. PALAVRAS-CHAVE: Matemática, Educação Matemática, Matemática Financeira, Graduações Tecnológicas, Finanças, Conhecimentos Financeiros. COMPARATIVE STUDY OF THE PERCEPTIONS OF STUDENTS, TEACHERS AND ENTREPRENEURS ON KNOWLEDGE OF FINANCIAL MATHEMATICS ABSTRACT This study aims to analyze and discuss the manifestations of students, teachers and businessmen on knowledge of financial mathematics and teaching in higher education technology in the large metropolitan Victoria, Espírito Santo, Brasil. It was used for the study, survey forms applied to students, teachers and businessmen in the region, with questions that address fundamental knowledge about financial calculations and basic financial transactions. Thus, we performed a comparison between the answers given by the majority groups surveyed in the pursuit of common perceptions in order to understand the manifestations of the segments worked in the research. The results indicated a divergent perception between students, teachers and businessmen, pointing to a significant disagreement on issues related to financial mathematics. KEYWORDS: Mathematics, Mathematics Education, Financial Mathematics, Graduations Technology, Finance, Financial Knowledge. 1744

INTRODUÇÃO Estudar, aplicar o aprendizado, refletir, buscar e pesquisar tem sido as palavras de ordem do momento para a colocação profissional diferenciada e sustentável no ambiente organizacional competitivo, em tempos de habilidades refis. Tudo isso só ocorre com uma vivência acadêmica rica em relações estudantis, leituras e debates, assim como com o intenso envolvimento no curso escolhido. Na vida profissional e no ambiente mundo do trabalho é cada vez maior a exigência educacional de se buscar uma forma mais adequada para um significativo ensino-aprendizagem da Matemática Financeira nos Cursos de formação técnica e tecnológica e para aplicação de seu uso nos problemas financeiros do dia-a-dia, de uma maneira cidadã, criativa e prazerosa (ROSETTI, 2003, p. 35) Escolher e modular as atividades de aprendizagem é uma competência profissional essencial que supõe não apenas um bom conhecimento dos mecanismos gerais de desenvolvimento e de aprendizagem, mas também um domínio das didáticas das disciplinas. (PERRENOUD, 2000, p 48). Para que as operações financeiras sejam executadas, é necessária a aplicação de cálculos apropriados, sendo que a análise detalhada desses cálculos é o objeto de estudo e preocupação da matemática financeira. Assim, a matemática contextualiza-se como mais um recurso para solucionar problemas novos que, tendo-se originado de outra cultura, chegam exigindo os instrumentos culturais dessa nova cultura. (D`AMBRÓSIO, 2011). Tendo por finalidade minimizar custos, reduzir riscos e incertezas, gerados pelas constantes mudanças econômicas intensificadas pela refi tecnologia constante em todos os mercados mundiais, os agentes econômicos buscam sofisticados mecanismos que lhes proporcione uma maior segurança e fundamentação para tomada de decisão, com foco em resultados. O primeiro passo para a construção de uma vida tranqüila financeiramente é conhecer sua situação financeira atual. Você gasta tudo que recebe? Está endividado no cheque especial, cartão de crédito, empréstimos etc.? Tem a sensação de nunca ter dinheiro suficiente para tudo o que quer? Gostaria de poupar para conseguir o que deseja? Você tem idéia de quanto ganhou de dinheiro no ano passado ou da taxa de crescimento do seu patrimônio do ano retrasado para o ano passado, ou do ano passado para este ano? Tem organizado suas finanças? (RASSIER, 2010). É preciso, portanto, discutir e questionar as tendências de consumo, numa sociedade pressio por mais gastos. Na sociedade de consumo, muitos confundem os verbos necessitar e precisar com o verbo desejar. Assim dizemos: - Necessito de um carro novo. - Preciso de uma viagem ao exterior nas férias. - Necessito comprar umas roupas melhores. (HALFELD, 2007, p.24). Nesse contexto, é de grande importância que as práticas e os conteúdos ministrados em aula estejam em sintonia com as novas exigências do mundo em que 1745

vivemos, para que a educação não seja algo distante da vida dos alunos, mas, ao contrário, seja parte integrante de suas experiências para uma existência melhor. Apesar de requererem grandemente mais ensino de matemática financeira e de finanças, e manifestarem a crença de que mais conhecimentos financeiros ampliariam suas oportunidades profissionais assim como seus rendimentos, os alunos não entendem como funcionam os principais tipos de financiamentos a médio e longo prazo, não conseguem utilizar calculadoras eletrônicas ou planilhas para operações financeiras, não compreendem o significado de risco financeiro e têm dificuldade de operar um fluxo de caixa elementar. Tudo isso aponta para a exclusão dos alunos do ambiente financeiro (ROSETTI, 2011). Este artigo tem o objetivo de estudar, debater e refletir as percepções de alunos, docentes e empresários acerca dos conhecimentos financeiros e o ensino de matemática financeira nos cursos superiores de tecnologia na região metropolitana da grande Vitória, estado do Espírito Santo, Brasil. Merece ser ressaltado que os cursos superiores de tecnologia integram a etapa da educação superior do sistema de ducação profissional brasileiro. São cursos de graduação que conferem o grau de tecnólogo ao seu concluinte. Os cursos superiores de tecnologia são abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente, englobando os diversos setores da economia. As pessoas graduadas nessas modalidades de cursos são denomis "tecnólogos" e são profissionais de nível superior, focados em segmentos de uma ou mais áreas profissionais com predominância de uma delas. (GISI, 2006). Os cursos tecnológicos vêm atender a uma demanda do mercado por especialistas dentro de uma área de conhecimento, em vez dos generalistas formados pelas outras modalidades de ensino superior. Os principais atributos da Educação Tecnológica são o foco, a rapidez, a inserção no mercado de trabalho e a metodologia. O foco desta modalidade é a formação em um campo de trabalho definido, alinhado às necessidades atuais. A rapidez refere-se à oferta do curso com uma carga horária menor, de dois ou três anos. Por estarem pautados em pesquisas de mercados para sua oferta e funcionamento, visam à rápida inserção do aluno no mercado de trabalho de acordo com as tendências do mercado. (TAKAHASHI & AMORIM, 2008) A região metropolitana da grande Vitória (RMGV), no estado do Espírito Santo, localizado na região Sudeste do Brasil, é composta pelos municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vitória e Vila Velha. Foi constituída pela Lei Complementar estadual 58, de 21.02.1995, quando era denomi como RMV - região metropolitana de Vitória e posteriormente modificada em 1999 e 2001, quando incorporou, respectivamente, os municípios de Guarapari e Fundão, passando a se chamar RMGV - região metropolitana da grande Vitória. Esses sete municípios reunem aproximadamente a metade da população total do Espírito Santo (46%) e 57% da população urbana do estado. Produzem 58% da riqueza do estado, com indústrias diversas e comercio, e consomem 55% da energia elétrica. É também a região que concentra a maior parte das oportunidades de trabalho no estado. (ESPÍRITO SANTO EM FOCO, 2012). Cabe enfatizar que os cursos superiores tecnológicos são graduações universitárias específicas numa área do saber. Diferente das outras modalidades de graduação, conforme a legislação educacional brasileira, podem ser concluídas em um 1746

menor tempo, ou seja, de dois a três anos. Este é um importante fator que possibilita um custo menor dos estudos, proporcionando facilidades econômica aos estudantes de menor renda. Assim, os cursos superiores de tecnologia apresentam uma grande capacidade de encaixe à nova realidade do ensino superior brasileiro. Ofertados num tempo mais objetivo que as graduações tradicionais, os cursos de tecnologia têm proporcionado grandes possibilidades de formação acadêmica, com baixo custo e elevada aderência às demandas das empresas. (ROSETTI & SCHIMIGUEL, 2011). METODOLOGIA ADOTADA Para a operacionalização do estudo, foram utilizados formulários de pesquisa aplicados aos alunos, professores e empresários da região, no ano de 2010, com questionamentos que envolvem conhecimentos básicos sobre cálculos financeiros e operações financeiras. A pesquisa caracterizou-se como direta. Os instrumentos foram aplicados por meio de uma página na Internet construída especificamente para o estudo. Para garantir o anonimato dos pesquisados, foram distribuídas senhas numéricas individuais para ingresso nos questionários on-line. Assim, foram pesquisados quantitativos de aproximadamente 400 alunos, 40 docentes e 20 empresários. As perguntas feitas envolveram conhecimentos de matemática financeira, finanças básicas, financiamentos e uso de conhecimentos financeiros no cotidiano e nos meios de comunicação. Dessa maneira, efetuou-se um estudo de comparação entre as respostas majoritárias dadas pelos grupos pesquisados, na busca de percepções comuns, visando compreender as manifestações dos segmentos tratados no estudo. Tomaram-se como opções majoritárias àquelas que apresentaram mais da metade do total de freqüências, indicando, assim, uma tendência de opinião majoritária sobre a questão apresentada. Dessa maneira, para as considerações das respostas, foram levadas em conta as manifestações modais e majoritárias dos entrevistados, ou seja, foram tomados as opções, ou conjunto de opções, que possuíssem mais da metade, 50% mais um, das respostas no instrumento de pesquisa. Com isso, foi possível identificar com mais nitidez o que a maioria dos entrevistados optou em cada pergunta e para cada segmento de população. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todo o levantamento foi reunido numa tabela, representada no Quadro 1, para melhor clareza, apresentação e facilidade de entendimento dos dados analisados. Notou-se que as respostas demonstraram uma percepção divergente entre alunos, professores e empresários, indicando uma discordância importante sobre as questões relacios à matemática financeira. 1747

QUADRO 1 - Análise comparativa das percepções de alunos, docentes e empresários ESTUDO COMPARATIVO DAS PERCEPÇÕES DE ALUNOS, DOCENTES E EMPRESÁRIOS PERGUNTAS Sabe o significado de "montante" financeiro Sabe o significado de "capital" financeiro Conhece o conceito de "juros simples" em finanças Conhece o conceito de "juros compostos" em finanças Conhece "desconto" em operações financeiras Sabe o que é um financiamento de curto prazo ou de longo prazo Sabe o que é "valor presente" e "valor futuro" em finanças Conhece tabela SAC de ALUNOS - Respostas com mais de 50% muito DOCENTES (Sobre o pensamento dos alunos) - Respostas com mais de 50% muito EMPRESÁRIOS (Sobre o pensamento dos alunos) - Respostas com mais de 50% pouco ou muito muito muito muito Muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito pouco ou pouco ou muito pouco ou financiamento Conhece tabela Price de financiamento Nada Razoável a muito Sabe o que são "índices" Já estudou sequências e séries numéricas pouco ou Razoável a muito pouco ou pouco ou pouco ou pouco ou pouco ou Razoável a muito Razoável 1748

Conhece séries temporais pouco ou Razoável a muito pouco ou Já aplicou estudos de séries em cálculos financeiros pouco ou Razoável a muito pouco ou Conhece um "fluxo de caixa" em finanças pouco ou Razoável a muito Razoável a muito Sabe o que são "receitas" de uma empresa muito Razoável a muito Razoável a muito Sabe o que são "despesas" de uma empresa muito Muito Razoável a muito Sabe o que é "lucro" de uma empresa Muito Muito Muito Sabe o que é "custo" de uma produção Sabe fazer conversão de valores de moedas no tempo Identifica a taxa de juros real numa propaganda de um produto a ser financiado Consegue entender um gráfico de evolução da bolsa de valores Sabe analisar as séries de valores numéricos diários da bolsa de valores Entende o noticiário financeiro nos jornais, rádios de TV s muito Muito Razoável a muito pouco ou pouco ou pouco ou pouco ou muito muito Razoável muito pouco ou pouco ou pouco ou pouco ou pouco ou muito muito Analisando-se os dados do Quadro 1, percebe-se que somente sete das vinte e três perguntas tiveram respostas comuns entre alunos, docentes e empresários. Isso indica uma correlação, entre as séries de respostas, muito fraca para as três populações 1749

estudadas. Isto é, somente 30,4% das respostas majoritárias foram comuns nos questionários respondidos. Conhecer as operações de crédito e lidar com ativos financeiros tem sido um desafio enfrentado pelos ingressantes do mercado de trabalho. Essa dificuldade educacional tem levantado obstáculos para a plena inserção dos estudantes no mundo corporativo, tendo em vista as exigências de empresas por nome sem pendências nos cadastros de créditos e devedores. (ROSETTI & SCHIMIGUEL, 2010) Numa análise da manifestação de percepção dos alunos e dos professores, notase que apenas oito das 23 questões respondidas são majoritariamente comuns. Esse dado aponta também para uma baixa correlação entre a percepção dos alunos e a percepção dos docentes sobre os discentes. Ou seja, somente 34,8% dos professores tiveram manifestações de respostas coincidentes com as dos alunos. Isso indica que, acerca da matemática financeira e finanças básicas nas instituições pesquisadas, os docentes têm dimensões significativamente distintas sobre o que os alunos pensam, executam e demandam. (ROSETTI, 2010). O professor precisa saber como ler a realidade dos estudantes através dos livros, bem como através da própria realidade. A realidade não é um positum, estabelecido e perfeito, esperando que o professor o leve aos alunos como se fosse um pacote, ou um pedaço de carne. Não! A realidade é tornar-se, e não estar imóvel. (FREIRE, 1986, p.110) Para uma visão mais completa dessas percepções muito distintas entre docentes e discentes, vale destacar que os professores não concordaram com os alunos em respostas envolvendo importantes temas de matemática financeira e finanças, conforme o Quadro 1, quais sejam: Estudos de seqüências numéricas e séries temporais; Conhecimento sobre despesas e custos ; Identificação das taxas de juros reais num produto; Conhecimento sobre as séries de valores na Bolsa de Valores; Significado de fluxo de caixa ; Saber converter valores de moedas no tempo; Conhecer tabelas e evoluções em financiamentos; Entendimento de valores em noticiários nos meios de comunicação; Significado sobre taxa básica de juros. Numa sociedade do conhecimento e no mundo atual, em que as pessoas precisam controlar seu orçamento doméstico, gerir seus negócios, discutir bases adequadas de negociação, entre outras transações econômicas, alguns conhecimentos de Matemática Financeira são, sem dúvida, imprescindíveis. (NASCIMENTO, 2004). Num estudo das respostas dos alunos e dos empresários, verificou-se que dezoito das vinte e três questões tiveram respostas majoritárias comuns, o que representa 78,2% das manifestações dos questionários, conforme pode ser melhor visto na representação do gáfico presente na Figura 1. 1750

25 20 15 23 10 18 Comuns 5 0 Total de Perguntas Respostas comuns de alunos e empresários FIGURA 1 Respostas comuns de alunos e empresários da região Isso indica uma grande correspondência entre a manifestação dos alunos e o que pensam os empresários sobre esses discentes, uma vez que aproximadamente mais de três quartos das respostas majoritárias apresentam coincidência. Esses dados mostram uma afinidade significativa entre alunos e empresários, apontando para uma aproximação maior entre os alunos e o mercado de trabalho no que se refere à matemática financeira e as questões de finanças (ROSETTI, 2010). Cabe destacar que estudantes e empresários concordaram, em opiniões, nas várias respostas sobre importantes temas, como: Significado de risco, retorno, desconto, juros simples e valores no tempo; Conhecimento sobre as séries de valores na Bolsa de Valores; Conhecimento sobre despesas e custos ; Entendimento sobre tabelas de financiamento; Entendimento de índices financeiros; Significado de séries temporais em finanças; Identificação de taxas de juros reais; Compreensão de gráficos financeiros; Conhecimento sobre contexto financeiro; Significado e tipos de financiamentos. No que tange à comparação entre professores e empresários nas respostas dos questionários, nota-se que somente nove destas respostas são comuns, o que indica também uma baixa correlação entre as manifestações desses dois segmentos populacionais estudados. Ou seja, somente 39,1% das respostas majoritárias de docentes e empresários são comuns. Em especial, o ensino voltado para a formação profissional deveria ocorrer de forma mais prática, podendo focalizar casos do dia a dia e, dessa forma, acompanhar o dinamismo que o mercado exige. Hoje, verifica-se, a existência de pessoas que embora tenham curso superior e recebido aulas de cálculos 1751

financeiros são incapazes de reconhecer na planilha eletrônica uma ferramenta que facilita seu trabalho. Assim, caracteriza-se uma situação que exige uma nova forma de reflexão em relação às metodologias de ensino, oferecendo mais segurança quanto aos conceitos e quanto à maneira de aplicá-los. (MILAN, 2003). Com isso, percebe-se um distanciamento entre a concepção dos professores e o mercado de trabalho, representado pelos empresários, no que se refere à matemática financeira e às questões de finanças, conforme pode ser visto na representação do gráfico presente na Figura 2. 25 23 20 18 15 10 7 8 9 5 2 0 Total de Perguntas Respostas comuns aos três públicos Respostas comuns de alunos e professores Respostas comuns de alunos e empresários Respostas comuns de professores e empresários Respostas divergentes entre os três públicos FIGURA 2 - Respostas comuns por segmento populacional entrevistado Cabe destacar, ainda, que duas respostas apresentaram divergência completa de opinião entre os três segmentos pesquisados. Dessa forma, vale a observação também do fato de os docentes terem suas respostas no instrumento de pesquisa pouco correlacios tanto com alunos quanto com empresários; o que coloca o segmento dos professores em posição significativamente diversa dos demais segmentos estudados. As experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre os indivíduos envolvidos, no plano externo (interpessoal). Através da mediação, elas vão se internalizando (intrapessoal), ganham autonomia e passam a fazer parte da história individual. Essas experiências também são afetivas. Os indivíduos internalizam as experiências afetivas com relação a um objeto específico. (TASSONI, 2012) Nesse sentido, as questões acerca da educação matemática comercial e financeira devem levar em conta a evolução prática do dinheiro, das moedas, das relações comerciais na sociedade, do poder de compra do cidadão para trabalhar modelos matemáticos que contemplem as necessidades concretas dos alunos e das instituições acadêmicas. 1752

CONCLUSÃO Em síntese, com base nas análises dos dados organizados do Quadro 1 e dos gráficos, nota-se que a correlação entre as opiniões de alunos e empresários é significativa no conjunto de questões levantadas, indicando uma afinidade do corpo discente das instituições com o mundo do trabalho na região estudada. Entretanto, no que se refere às opiniões dos docentes, estas não apresentaram correlação com discentes nem com empresários. Estes fatos apontam, de forma preocupante, para a falta de interação dos professores com seus alunos e também com o ambiente onde esses alunos atuarão profissionalmente, em se tratando do ensino de matemática financeira e finanças. REFERÊNCIAS D AMBRÓSIO, U. Educação para uma sociedade em transição. Natal-RN: EDUFRN, 2011. ESPÍRITO SANTO EM FOCO. A Região Metropolitana da Grande Vitória. Disponível no endereço: http://vitoria-es-brasil.com/index.php/component/phocagallery/34- campodegolfo/detail/visaogeral-grandevix/desenvolvimento-de-rmgv/visaogeralgrandevix/index.php?option=com_alphacontent&section=42&category=147&itemid=507, em 20/05/2012. FREIRE, P. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. GISI, M.L. A educação superior no Brasil e o caráter de desigualdade do acesso e da permanência. Revista Diálogo Educacional, vol. 6, núm. 17, enero-abril, 2006, pp. 1-16. Curitiba, 2006. HALFELD, M. Investimentos: como administrar melhor seu dinheiro. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2007. MILAN, A. C. O ensino da matemática financeira: uma abordagem orientada à incorporação de recursos tecnológicos. 2003. 109 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade do Oeste Paulista UNOESTE, Presidente Prudente, 2003. NASCIMENTO, P.L. A formação do aluno e a visão do professor no ensino médio em relação à Matemática Financeira. 2004. 187 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) Pontifica Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. RASSIER, L. Conquiste sua liberdade financeira: organize suas finanças e faça o seu dinheiro trabalhar para você. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 1753

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