Ser Mãe, Ser Trabalhadora: a Protecção da Maternidade em Moçambique



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Transcrição:

Ser Mãe, Ser Trabalhadora: a Protecção da Maternidade em Moçambique Ruth Castel-Branco, Organização Internacional do Trabalho Conferencia do SASPEN Maputo, 2 de Setembro 2014

Sumário Contexto A Protecção da Maternidade no Trabalho Objectivo Convenção 183 Importância A Protecção da Maternidade em Moçambique Quadro Legal Lacunas de Legislativas Lacunas de Implementação Oportunidades Para a Expansão de Cobertura Filme: Ser Mãe, Ser Trabalhadora

Contexto A taxa de mortalidade materna em Moçambique é uma das mais altas do mundo, sendo então o combate a mortalidade materna uma das prioridades do Ministério da Saúde. Anualmente, cerca de 500 mulheres por 100,000 nados vivos morrem. Resultado do accesso limitado às unidades sanitárias bem capacitadas e outros serviços sociais básicos, a alta incidência de gravidezes precoces, a pobreza relacionada com a falta de segurança de rendimento, a desnutrição crónica e deficiências em micronutrientes. Uma em cada dez crianças morre antes dos cinco anos temos tido poucos avanços na mortalidade neonatal (primeiro 30 dias);

Contexto Rácio de Mortalidade Materna em Moçambique (500: 10,000 nascimentos) Fonte: UNICEF, Inquérito Demográfico de Saúde

Contexto Taxas de mortalidade infantil Mortalidade Menos-5 Mortalidade Infantil Mortalidade Neonatal Fonte: UNICEF, Inquérito Demográfico de Saúde

Protecção da Maternidade no Trabalho O mundo do trabalho é um espaço privilegiado para promover políticas, educação, serviços e práticas com o potencial de romper o ciclo vicioso e trans-generacional da desnutrição crónica e da mortalidade materna no país. A protecção da maternidade no trabalho é visada a: garantir que o trabalho não coloque em risco a saúde da mulher ou da criança, durante e após a gravidez, que a função reprodutiva da mulher não prejudique a sua segurança económica ou segurança no emprego.

Protecção da Maternidade no Trabalho A Convenção 183 (2000) da OIT é um tratado internacional, que estabelece: Uma licença por maternidade de 14 semanas, seis das quais a gozar obrigatoriamente a seguir ao parto. O objetivo é proteger a saúde da mulher e do seu filho durante o período pré-natal, considerando as alterações fisiológicas associadas à gravidez e ao parto. As prestações pecuniárias durante a licença-- não deverão representar menos de dois terços da remuneração de referência. Sem substituição de rendimento, as mulheres vêem-se obrigadas a regressar precocemente ao trabalho. As prestações médicas, que incluem os cuidados antes, durante e depois do parto, bem como a hospitalização, quando necessário. Protecção da saúde no trabalho: o direito das mulheres grávidas ou lactantes a não realizarem trabalho que ponha em risco a sua saúde ou a do seu filho. Direito a amamentação: no mínimo, um período diário, sem perda de remuneração. A Organização Mundial da Saúde recomenda a amamentação exclusiva até aos 6 meses de idade, e amamentação acompanhada a outros alimentos até aos 2 anos. Protecção do emprego e não-discriminação--é essencial para evitar que a gravidez seja uma fonte de descriminação para as mulheres.

Protecção da Maternidade no Trabalho Um investimento de curto prazo com poupanças ao longo prazo; Um investimento na próxima geração; Contribui para a reducção da pobreza, através da segurança de rendimento, aumento em produtividade, crescimento económico; Faz parte da nossa responsabilidade colectiva. Faz parte da cola social. É um mecanismo de redistribuição. É um direito humano.

Protecção da Maternidade em Moçambique A Lei do Trabalho 23/2007 estabelece o direito a: licença por maternidade de 60 dias consecutivos, podendo gozar 20 dias antes do parto, seja este nado vivo ou morto; licença por paternidade de um dia, de dois em dois anos. A não realizar, sem diminuição da remuneração, trabalhos que sejam clinicamente desaconselháveis ao seu estado de gravidez, e a não prestar trabalho nocturno, excepcional ou extraordinário durante o período da gravidez e após o parto Uma licença anterior ao parto, pelo período necessário para prevenir o risco, fixado por prescrição médica, nas situações de risco clínico Interromper o trabalho diário para aleitação da criança em dois períodos de meia hora, ou num só período de uma hora, sem perda de remuneração, até ao máximo de um ano. Não ser despedida, sem justa causa, durante a gravidez e até um ano após o parto. A responsabilidade de comprovar que a demissão não é relacionada a gravidez cabe ao empregado.

Protecção da Maternidade no Trabalho País Duração % Fonte África do Sul 4 meses 60% Segurança Social Angola 3 Meses 100 Segurança Social, Empregador Botswana 12 semanas 25-50% Empregador Cabo Verde Congo 15 semanas 100 Segurança Social, Empregador Guiné Bissau 60 dias 100 Segurança Social, empregador Lesotho 12 semanas - Não pago Madagascar 14 semanas 100 Segurança Social, Empregador Malawi 8 semanas 100 Empregador Mali 14 semanas 100 Segurança Social Mauricias 12 semanas 100 Empregador País Duração % Fonte Moçambique 60 dias 100 Segurança Social Namibia 12 semanas 100 Segurança Social Quénia 3 meses 100% Empregador Rwanda 12 semanas 100 Empregador São Tomé e Príncipe 60 dias 100 Segurança Social Senegal 14 semanas 100 Segurança Social Swazilândia 12 semanas 100%, 2 Empregador semanas Tanzania 84 dias 100 Segurança Social Togo 14 semanas 100 Segurança Social Zâmbia 12 semanas 100 Empregador Zimbabwe 98 dias 100 Empregador Fonte: TRAVAIL

Protecção da Maternidade em Moçambique A Lei de Bases da Protecção Social (4/2007) estabelece três eixos de protecção social: o sistema não contributivo da Segurança Social Básica, sob o Instituto Nacional de Acção Social, cujos beneficiários são pessoas incapacitadas ou em pobreza absoluta, incluindo mães grávidas e malnutridas; o sistema contributivo de Segurança Social Obrigatória, sob Instituto Nacional de Segurança Social, cujos beneficiários são trabalhadores assalariados em empresas privadas; o sistema de segurança complementar que ainda está a ser elaborado. Trabalhadoras registadas no INSS, têm direito a um subsídio de maternidade diário correspondente à100% da remuneração média registada nos últimos 6 meses que precedem o segundo mês anterior ao início da gravidez. O subsídio tem uma duração máxima de 60 dias.

Protecção da Maternidade em Moçambique Tribunal- Seccão Laboral Comissão de Mediação e Arbitragem Laboral Inspeccão Geral do Trabalho Organizações de Assistência Jurídica Sindicatos ONGs

Protecção da Maternidade em Moçambique 1400 1200 Subsidio de Maternidade, 2010-2012 Subsidio de Maternidade como % das transferências do INSS, 2012 Subsidio de Doenca 1000 800 600 400 200 36% 13% Subsidio por Morte 4% Subsidio Funerario 4% 2% Abono de velhice 1% 1% Abono de sobrevivencia 0 2010 2011 2012 3% 36% Pensao de velhice Pensao de Invalidez Pensao de Sobrevivencia

Protecção da Maternidade em Moçambique Mulheres de 15 anos e mais empregadas por condição de assalariado na actividade económica principal, 1 o Trimestre INCAF 2012/13 Assalariados 7% Naoremunerados 23% Por Conta Propria 70%

Protecção da Maternidade em Moçambique Formas de Exclusão: Regulamentares Falta de um protocolo para a cobertura de trabalhadores por conta própria; casualização do trabalho assalariado e a sua exclusão das protecções da Lei do Trabalho Lacunas Legislativas Uma licença de maternidade de 60 dias em vez de 90; falta de normas em relação aos trabalhos clinicamente desaconselháveis. Formas de Exclusão: Implementação Falta de divulgação dos direitos e deveres dos trabalhadores e empregadores; Não-encaminhamento de contribuições ao INSS por parte dos empregadores; Falta de capacidade de fiscalização; Falta de cantos de amamentação nos locais de trabalho em empresas e creches em instituições públicas

Oportunidades Para a Expansão da Cobertura da Protecção da Maternidade Integrar a protecção da maternidade dentro do quadro de protecção social; Promoção de uma dupla estratégia para a expansão da cobertura de protecção da maternidade, incluindo para mulheres que realizam trabalho não remunerado e informal através de um sistema: horizontal, não-contributivo, segurança social básica (revisão do ENSSB) vertical, contributivo, segurança social (estudo actuarial, regulamento). Ligações entre as transferências monetárias e os serviços básicos (saúde, educação, agricultura); Colaboração com parceiros sociais que representam trabalhadores informais, formais e não remunerados (vendedores ambulantes, trabalhadores domésticos, camponeses).

Oportunidades Para a Expansão da Cobertura da Protecção da Maternidade Divulgação dos direitos e deveres dos trabalhadores; Dialogo entre empregadores, trabalhadores e estado em relação a ratificação da convenção 183 da OIT; Inclusão do sector informal no sistema de Segurança Social. Formação dos inspectores nas áreas ligadas à protecção da maternidade e da paternidade; criação de mecanismos que auxiliem os técnicos na disseminação da informação, principalmente nos distritos;

Obrigada