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BuscaLegis.ccj.ufsc.br Breves comentários acerca do projeto de Lei 2285/2007 que prevê a instituição do estatuto das famílias Thyago Salustio Melo Forster * Como citar este artigo: FORSTER, Thyago Salustio Melo. Breves comentários acerca do Projeto de Lei 2285/2007 que prevê a instituição do Estatuto das Famílias. Disponível em http://www.iuspedia.com.br 26 fev. 2008. 1. Considerações Iniciais O projeto de Lei n. 2.285/2007, de autoria do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM e protocolizado no Congresso Nacional pelo deputado federal Sérgio Barradas Carneiro (PT/BA), tem como principal objetivo a atualização legislativa com a realidade das novas configurações das famílias no Brasil. O citado projeto tem, ainda, como finalidade reunir toda a legislação pertinente ao Direito de Família. Desta forma, a legislação que hoje se apresenta no Código Civil, Código de Processo Civil e em outras leis especiais, estariam reunidas, ou seja, direito material e processual reunido em um mesmo volume. 2. Apresentação Estrutural do "Estatuto das Famílias" A legislação de Direito de Família hoje, como já mencionado anteriormente, se apresenta dispersa no Código Civil, Código de Processo Civil e em outras leis especiais. Com a 1

aprovação e conseqüente entrada em vigor do Estatuto das Famílias todas as normas relativas ao Direito de Famílias serão reunidas em um único volume. Desta forma, a instituição do Estatuto das Famílias reunirá os temas de direito pessoal e patrimonial, separados no Código Civil, como primeira parte e, como segunda parte, trará toda a matéria relativa ao processo e ao procedimento. Quanto ao direito material, o projeto de Lei traz em seus primeiros 121 (cento e vinte e um) artigos disposições de direito pessoal e patrimonial. Dentre estas disposições estão os títulos sobre as relações de parentesco, as entidades familiares, a filiação, a tutela e a curatela e os alimentos logo após o primeiro título dedicado às normas e princípios gerais aplicáveis às famílias e às pessoas que as integram. Aqui, podemos observar, a inclusão das famílias monoparentais e pluriparentais, bem como a união homoafetiva como entidades familiares (artigo 68 do projeto de Lei) e o reconhecimento da relação de parentesco por socioafetividade ou afetividade, além da consangüínea, como disposto no artigo 10 do projeto de Lei. Cabe ressaltar, ainda, a constituição dos princípios da dignidade da pessoa humana, da solidariedade familiar, da igualdade de gêneros, de filhos e das entidades familiares, da convivência familiar, do melhor interesse da criança e do adolescente e a da afetividade para a interpretação e aplicação do Estatuto (artigo 5º do projeto de Lei). Já em sua segunda parte, o Estatuto abrange, em seu Título VII, as normas relativas ao direito processual, ou seja, apresenta as principais regras dos processos e dos procedimentos relativos à matéria de Direito de Família. 3. Principais Modificações e Inovações trazidas pelo "Estatuto das Famílias" 2

Como podemos observar da leitura do projeto de Lei que institui o chamado "Estatuto das Famílias", serão diversas as modificações e inovações trazidas ao ordenamento jurídico brasileiro caso venha a ser aprovado tal projeto. Desta forma, não pretende este trabalho abranger todas as alterações trazidas pelo projeto de Lei, mas sim fazer um breve comentário acerca das principais mudanças que poderão ocorrer com a aprovação deste projeto de Lei. Senão vejamos: 3.1. Das Relações de Parentesco Conforme dispõe o artigo 1.593 do Código Civil Brasileiro, a relação de parentesco é natural ou civil. Fale-se em parentesco natural quando o vínculo resulta da consangüinidade. Em contrapartida, será civil se resultar da adoção, ou seja, da relação formada entre adotante e adotado. Estabelece, ainda, em seu artigo 1.595, o parentesco por afinidade, decorrente de determinação legal, isto é, entre um consorte ou companheiro e os parentes consangüíneos do outro. Com a aprovação e posterior entrada em vigor do "Estatuto das Famílias", as relações de parentesco também resultariam da socioafetividade. Desta forma, o vínculo de parentesco entre pessoas não resultará apenas da consangüinidade ou da afinidade, mas serão considerados também os laços de afeto, tidos como elementos básicos para o reconhecimento da maternidade ou paternidade socioafetiva. 3.2. Das Entidades Familiares 3

A Constituição Federal, em seu artigo 226, 3º e 4º, estabelece que a entidade familiar não se forma apenas pelo casamento, mas também, pela união estável entre o homem e a mulher, e, por fim, aquela formada por qualquer um dos pais e seus descendentes. O reconhecimento da união estável como entidade familiar veio atender a um reclamo da sociedade que, com a realidade do concubinato puro se fazendo presente de tal modo, fez com que o constituinte dispusesse sobre tal situação, até para uma maior valorização da família. Como podemos observar, por meio do "Estatuto das Famílias", vêm os legisladores atender aos anseios da sociedade e adequar a legislação à realidade social brasileira, reconhecendo como entidades familiares àquelas provenientes da relação entre pessoas do mesmo sexo (união homoafetiva) e as famílias parentais. Com o reconhecimento da união homoafetiva (artigo 68 do Estatuto) como entidade familiar, passam a ser regulamentados e assegurados direitos derivados desta união, como a guarda e convivência com os filhos, a adoção de filhos, direitos previdenciários e à herança. Já quanto às famílias parentais, aquelas que se constituem através das relações de parentesco e decorrem da comunhão de vida com a finalidade de convivência familiar, o Estatuto reconhece uma situação de fato que já é presente na realidade social brasileira. Assim, traz o Estatuto em seu artigo 69, 1º a conceituação da família monoparental, formada por um ascendente e seus descendentes, e em seu 2º o conceito da família pluriparental, formada pela convivência entre irmãos, bem como comunhões afetivas estáveis entre parentes colaterais. 3.3. Do Casamento e Dos Regimes de Bens 4

Diferentemente do atual Código Civil, o "Estatuto das Famílias" traz o direito pessoal (casamento) e o direito patrimonial (regime de bens) juntos em um mesmo Capítulo, qual seja, o Capítulo II que trata sobre o casamento e todas as matérias que se relacionam a ele. Foram suprimidas e excluídas do Estatuto as causas suspensivas da casamento, bem como foram feitas atualizações quanto aos seus impedimentos, adequando-os à realidade social atual. Além disso, foram simplificadas suas exigências para a celebração e registro. Quanto aos regimes de bens, o Estatuto exclui do ordenamento jurídico brasileiro o regime de participação final dos aqüestos, introduzido pelo Código Civil de 2002. Coloca fim, também, ao regime de separação obrigatória dos bens, atualmente imposto aos maiores de 60 (sessenta) anos, aqueles que dependem de suprimento judicial para casar e aqueles que contraíram o casamento em inobservância das causas suspensivas, conforme dispõe o artigo 1.641 do Código Civil. Desta forma, o Estatuto privilegia a liberdade de escolha do regime de bens por parte dos nubentes. O Estatuto apresenta, ainda, a possibilidade de alteração do regime de bens extrajudicial, não mais havendo a necessidade do casal entrar com pedido e justificativa para solicitar autorização judicial e efetuar a mudança do regime. Esta alteração poderá ser formalizada através de escritura pública e averbada junto à certidão de casamento e no registro de imóveis dos bens do casal, produzindo efeito perante terceiros apenas depois de realizada a averbação junto aos registros imobiliários. 3.4. Da Separação e Do Divórcio O atual Direito de Família presente no Código Civil permite a imputação de responsabilidade e culpa a um dos cônjuges pelo término da relação conjugal através da investigação das causas da separação ou divórcio. 5

Ao contrário do que dispõe o Código Civil, como bem expõe o Deputado Sérgio Barradas Carneiro na justificação ao projeto de Lei, o "Estatuto das Famílias" procurou evitar essa interferência do Estado na relação de intimidade do casal, vedando a investigação das causas da separação e assegurando a liberdade de escolha dos que não desejam continuar casados. Desta forma, busca-se uma maior atenção para a definição de guarda e convivência dos filhos menores ou incapazes, para a disposição de fixação de alimentos entre os cônjuges e com relação à obrigação alimentar por parte do não guardião, para a manutenção ou alteração do nome adotado na constância da relação conjugal, bem como a disposição da partilha dos bens do casal, como apresenta o artigo 59 do projeto de Lei. Além dessa alteração, o Estatuto incorpora ao "corpo" as inovações trazidas pela Lei 11.441/07, quais sejam, a possibilidade da separação e do divórcio extrajudiciais, obedecidos os seus requisitos. Quanto à separação, que deverá ser consensual, não poderá o casal ter filhos menores ou incapazes ou então estarem todas as questões referentes aos filhos menores ou incapazes solvidas judicialmente, devendo ficar consignado na escritura o acordado com relação à pensão alimentícia e, quando for o caso, sobre os bens comuns. Já no que se refere ao divórcio, deverão os cônjuges declarar a data da separação de fato, o valor dos alimentos a um dos cônjuges ou a sua dispensa, a permanência ou não do uso do nome e, facultativamente, os bens e sua partilha. Ainda, da mesma forma que na separação via escritura pública, havendo filhos menores ou incapazes, será necessária a comprovação de que todas as matérias relativas a eles estão solvidas judicialmente. Cumpre salientar que o divórcio só terá eficácia se feita a sua averbação junto ao Cartório de Registro Civil em que ocorreu o casamento. 6

3.5. Do Processo e Do Procedimento Em seu Título VII Do Processo e Do Procedimento, o projeto de Lei do "Estatuto das Famílias" apresenta o processo, nas relações de família, sustentado pelos princípios da oralidade, celeridade, simplicidade, informalidade, fungibilidade e economia processual, valorizando a busca pela conciliação entre as partes no processo. Além disso, visando uma resposta mais rápida do Poder Judiciário, o legislador tratou de dar preferência de tramitação e julgamento aos processos ligados às matérias de Direito de Família, conforme demonstra o artigo 122, parágrafo único do projeto de Lei. Com este mesmo objetivo, cumpre ressaltar, ainda, a criação das Câmaras Especializadas em Direito de Família nos Tribunais de Justiça, que, enquanto não criadas, serão os recursos apreciados por câmaras preferenciais, indicadas pelos Tribunais, que deverão contar com o atendimento de uma equipe multidisciplinar e de conciliadores. Podemos observar que o projeto de Lei do Estatuto traz toda a matéria relativa às normas do processo e dos procedimentos abrangendo as normas presentes tanto no Código Civil, como no Código de Processo Civil e outras leis especiais. Com isso, temos descriminados todos os procedimentos relativos ao casamento, ao reconhecimento da união estável e da união homoafetiva, à dissolução da entidade familiar, da ação e cobrança dos alimentos, da averiguação da filiação, das ações de investigação de paternidade e interdição. Inclui, ainda, em seu Capítulo IX, procedimentos de atos extrajudiciais, como o divórcio e a separação, o reconhecimento e dissolução da união estável e da união homoafetiva, da conversão da união estável em casamento e da alteração do regime de bens. 4. Considerações Finais 7

Como podemos observar de todo o exposto, o projeto de Lei 2.285/2007 que prevê a instituição do Estatuto das Famílias, se aprovado pelo Congresso Nacional, trará ao ordenamento jurídico brasileiro inovações legislativas que se adequarão à atual realidade social do país e preencherá lacunas deixadas por outras leis, como a Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), que se originou de um projeto do final da década de 60 e começo da década de 70, e que acabou deixando de contemplar matérias que já faziam parte da realidade do país, fazendo com que o Poder Judiciário, por muitas vezes, preenchesse as lacunas legislativas. Além disso, trará ao processo e ao procedimento de matérias relativas ao Direito de Família regras diferenciadas de processos relativos às demais matérias do Direito, uma vez que os conflitos familiares exigem do Poder Judiciário uma resposta mais rápida e menos formal. Assim, mais uma vez, a legislação corre atrás para se adequar à realidade social do país, trazendo pensamentos e práticas já consolidadas por doutrinadores e pela jurisprudência atual. Referências Bibliográficas DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5: direito de família. 19ª. ed. rev., aum. e atual.. São Paulo: Saraiva, 2004. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, v. 6. 6ª. ed. São Paulo: Atlas, 2006. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. 2ª ed., São Paulo: Atlas, 2003. 8

JÚNIOR, Miguel Horvath; FIAUX, Mirian Vasconcelos. União entre pessoas do mesmo sexo e seus reflexos jurídicos. Revista da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Ano 7, nº 9. São Bernardo do Campo: FDSBC, 2003. Outras fontes: Constituição da República Federativa do Brasil Código Civil Projeto de Lei n. 2.285/2007 http://www.ibdfam.org.br http://www.valoreconomico.com.br http://www.consultorjuridico.com.br http://www.plenarinho.gov.br/cidadania/com-a-palavra/o-estatuto-das-familias-dep-sergiobarradas-carneiro http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2211200709.htm * Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, Membro da Coordenadoria de Direito Civil da Comissão do Jovem Advogado da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção São Paulo OAB/SP. Advogado em São Paulo. Disponível em: http://www.wiki-iuspedia.com.br/article.php?story=20080225104330366. 9

Acesso em: 02 setembro 2008. 10