ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS DE INFESTAÇÃO POR DIOCTOPHYMA RENALE EM CÃES DA REGIÃO DE ALEGRE ESPÍRITO SANTO.

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1 ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS DE INFESTAÇÃO POR DIOCTOPHYMA RENALE EM CÃES DA REGIÃO DE ALEGRE ESPÍRITO SANTO. ULTRASONOGRAPHIC FINDINGS OF INFESTATION BY DIOCTOPHYMA RENALE IN DOGS IN THE REGION OF ALEGRE - ESPÍRITO SANTO. Juliana Roberts OASKIS¹; Wanderson Lopes ANDRADE²; Shirley de Fátima Carvalho PEREIRA²; Camila Barbosa AMARAL 3 ; Mayara Cristini Ferreira de AGUIAR 4 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Espírito Santo, juliana.oaskis@hotmail.com 2 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Espírito Santo 3 Professora do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Espírito Santo 4 Professora da Faculdade Vértice Univertix em Matipó Minas Gerais. Resumo: O Dioctophyma renale é um nematóide de ocorrência mundial que parasita os rins de cães e outras espécies de animais domésticos e silvestres, inclusive o homem. De ciclo evolutivo indireto, tem como hospedeiro definitivo (HD) o cão e como hospedeiro intermediário (HI) um anelídeo oligoqueta parasita de brânquias de peixes. Geralmente, no HD, o parasita adulto localiza-se no rim direito, havendo eliminação de ovos na urina. No meio ambiente. estes requerem um período de incubação em meio aquático, necessitando ser ingeridos pelo HI para se tornarem infectantes (L3). Cães errantes e de hábitos alimentares pouco seletivos são os mais acometidos. A cidade de Alegre/ES, possui grande potencial hidrico, favorecendo acesso a hospedeiros paratênicos ou intermediários do nematóide por cães que habitam áreas rurais. O diagnóstico da infestação é realizado por meio da urinálise, da ultrassonografia ou pela necropsia do animal. De março de 2012 a novembro de 2015, durante a avaliação ultrassonográfica de cinco cães, observou-se imagens ultrassonográficas compatíveis com dioctofimose avançada, notando-se a presença do parasita adulto em rim direito em todos os casos, com completa destruição do parênquima renal. Em todos eles, a indicação do exame deu-se por sintomas gastrintestinais, sendo a dioctofimose um achado incidental, sem relação com a sintomatologia clínica. Todos os animais possuíam livre acesso a áreas de riacho, lago e afins. O exame ultrassonográfico mostrou-se eficiente no diagnóstico definitivo. Os achados demonstram a importância dessa parasitose na região principalmente como infestação subclínica e estar diretamente relacionada aos Anais do 38º CBA, 2017 - p.0414

2 hábitos dos tutores na criação dos chamados cães de roça. Ressalta-se também a importância do diagnóstico, que vem sendo subestimado na região, e a necessidade de dados epidemiológicos para adoção de métodos efetivos de controle. Palavras-chave: Dioctofimose, nematódeo, diagnóstico por imagem. Keywords: Dioctophymosis, nemathode, imaging diagnostic. Introdução: O Dioctophyma renale é o maior nematóide já descrito parasitando animais, conhecido popularmente como verme gigante do rim (MONTEIRO et al., 2002), comumente encontrado parasitando o rim direito (ANDERSON, 2000), A prevalência de animais parasitados por Dioctophyma renale está relacionada ao potencial hídrico das regiões (PEREIRA et al. 2006), principalmente em áreas pesqueiras, porém, há relatos da presença de hospedeiros paratênicos, como rãs e ratazanas que auxiliam a perpetuação do ciclo (MEASURES, 2001; ANDERSON, 2000). O nematóide é responsável pela destruição progressiva das camadas cortical e medular dos rins, reduzindo-o a sua cápsula fibrosa (LEITE et al., 2005; PESENTI et al., 2012). Sinais clínicos comuns derivam da migração errática e englobam desde o aumento da região do subcutâneo até alterações generalizadas e pouco específicas (LEMOS et al., 2010). O diagnóstico definitivo da dioctofimose, é realizado por meio da observação dos ovos do nematóide na urina (GOMES, 2007) aliado à visualização do parasito em exames de imagem (SILVEIRA et al., 2015) associado a lesões renais patognomônicas (RAHAL et al., 2014). Observa-se arquitetura anatômica renal distorcida e detecção de estruturas arredondadas em corte transversal e alongadas em corte longitudinal, de camada externa hiperecoica e centro hipoecoico, compatíveis com o parasita (COSTA et al., 2004) O objetivo deste relato consiste em avaliar as informações ultrassonográficas obtidas em cinco cães atendidos no HOVET-UFES, de março de 2012 a novembro de 2015 descrevendo os achados e relacionando à sintomatologia clínica e epidemiologia da região de Alegre Espírito Santo. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0415

3 Descrição do Caso: Nos arquivos ultrassonográficos do setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Espírito Santo (HOVET-UFES), observou, no período de março de 2012 a novembro de 2015, imagem sugestiva de presença de Dioctophyma renale em cinco cães machos adultos, sem raça definida, situados em regiões rurais. Todos os cães foram encaminhados ao HOVET-UFES com queixas de alterações gastrintestinais. Durante a anamnese, os tutores relataram ofertar restos de comida caseira aos animais, pertencentes a regiões de área rural, denominados pelos tutores de cães de roça. Possuíam livre acesso a áreas alagadiças das propriedades, com ofertas de água disponíveis, onde há a presença de peixes. Um dos proprietários relatou haver a possibilidade do contato do animal com roedores. No exame físico, observou-se dor à palpação abdominal e em dois pacientes foi relatado diarreia. Sendo assim, foram encaminhados para a realização de exame ultrassonográfico no próprio HOVET-UFES. Durante a avaliação, foi evidenciado perda completa da arquitetura renal, reduzindo o órgão à sua cápsula hiperecóica contendo estruturas tubulares de contorno hiperecóico e lúmen hipoecóico, cilíndricas ao corte longitudinal e circulares em cortes transversais, sugerindo parasitismo por Dioctophyma renale, tratando-se de um achado incidental ultrassonográfico. Em um dos pacientes, observou-se imagem sugestiva de parte do parasita protundindo-se além dos limites da cápsula renal porém nenhum parasita foi encontrado livre na cavidade. Em pelo menos três casos, o rim contralateral apresentou discreto aumento de eixo longo, porém, com arquitetura habitual, sugerindo quadro de hipertrofia renal compensatória. Todos os pacientes apresentavam parâmetros séricos de uréia e creatinina dentro da normalidade. Foi indicada a nefrectomia porém todos os tutores declinaram em relação ao procedimento. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0416

4 Discussão O ciclo do Dioctophyma renale requer um HD e um HI. O cão pode configurar como HD e peixes como HI e, mesmo roedores e rãs como relatado por Measures (2001) e Anderson (2000), podem ser hospedeiros paratênicos, perpetuando o ciclo. Segundo anamnese, não era oferecido peixe cru na alimentação dos cães relatados, mas por serem cães de livre acesso a uma grande quantidade de terra, podem ter ingerido peixes de rios ou lagos nos arredores da propriedade, o que justifica o parasitismo como relatado por Pereira et al. (2006) e Silveira et al. (2015) visto que Alegre ES fica situada em uma região com uma rica oferta hídrica provinda de rios e lagos. Outra hipótese seria o consumo de ratazanas ou rãs, que podem ser um possível hospedeiro, como relata Measures (2001) e Anderson (2000), uma vez que os proprietários não conseguem ter controle desses animais em toda a extensão territorial percorrida pelos cães. O diagnóstico da parasitose somente ocorreu devido ao fato de os animais apresentarem outros sintomas não relacionados ao sistema renal mas que justificassem a solicitação do exame ultrassonográfico, já que em todos os casos, a infestação foi assintomática, de acordo com Monteiro et al. (2002). A ultrassonografia tem indicação diagnóstica e é eficaz (SILVEIRA et al., 2015), visto que evidencia o parasito tanto na capsula renal quanto na cavidade abdominal, diferenciando de outras patologias renais. Ainda, a ultrassonografia supera o exame de sedimentoscopia urinária em casos onde não há eliminação de ovos na urina, como no parasitismo renal por um verme macho apenas. Em todos os casos, o rim parasitado era o direito, de acordo com Anderson (2000). As características ultrassonográficas observadas tanto em relação aos rins quanto ao parasito, estão de acordo com Rahal et al. (2014) e Costa et al. (2004). Além disso, nenhum cão apresentou sinais sistêmicos de falha renal, mesmo tendo perdido todo o parênquima direito. Isso deve-se à compensação do rim contralateral, evidenciado na ultrassonografia de três casos como aumento de discreto a moderado associado aos parâmetros séricos renais dentro da normalidade. Conclusão: A dioctofimose em Alegre-ES parece ser subestimada devido ao crescente número de cães, aos hábitos de criação dos tutores e ao aporte hídrico na região, o Anais do 38º CBA, 2017 - p.0417

5 que favorece o acesso aos hospedeiros paratênicos ou intermediários do nematóide. Tais achados incitam a importância da atuação do médico veterinário no controle da doença pois apesar de assintomática nos cinco cães observados, todos já apresentavam perda total de parênquima renal direito. Somado a isso, a ultrassonografia mostrou-se um método eficiente, rápido e não invasivo no diagnóstico da doença, que apresenta características imaginológicas marcantes. Referências: ANDERSON, R. C. Nematode parasites of vertebrates: their development and transmission. 2 ed. CABI Publishing, Oxon, UK. 650, 2000. COSTA, P. R. S. et al. Dioctofimose e leptospirose em um cão relato de caso. Revista Clínica Veterinária. São Paulo, n. 51, p. 48-50, 2004. GOMES, A. F. M. Pesquisa de ovos Dioctophymarenale na urina de cães do canil municipal de Alegrete-RS. Porto Alegre: Trabalho de conclusão da Especialização em Análises Clínicas Veterinárias UFRGS, 2007. LEITE, L. C. et al. Anatomopathologic lesions found in Dioctophyma renale (Goeze, 1782) infections in domestic dogs (Canis familiaris, Linnaeus, 1758). Archives of Veterinary Science. v. 10, n. 1, p. 95-101, 2005. LEMOS, L.S. et al. Extrarenal lesion caused by Dioctophyma renale eggs in an erratic cycle in a dog. Internal Journal of Morphology. v. 28, n. 4, p. 1031-1034, 2010. MEASURES, L. N. Dioctophymatosis. In: SAMUEL, W.M.; PYBUS, M.J.; KOCAN, A.A. Parasitic Diseases of Wild Mammals. 2 ed. Iowa State University Press: USA, 2001. MONTEIRO, S. G. et al. Infecção natural por trinta e quatro helmintos da espécie Dioctophyma renale (Goeze,1782) em um cão. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia de Uruguaiana. v. 9, n.1, p. 29-32, 2002. PEREIRA, B. J. et al. 2006. Ocorrência de dioctofimose em cães necropsiados do município de Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, Brasil, no período de maio a setembro de 2004. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. v. 15, n. 3, p. 123-125, 2006. PESENTI, T. C. et al. Dioctophyma renale (GOEZE, 1782) Collet-Meygret, 1802 (Dioctophymatidae) em Galictis cuja (MOLINA, 1782) (Mustelidae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Neotropical Helminthology. v. 6, n. 2, p.301-305, 2012. RAHAL, S. C. et al. Ultrasonographic, computed tomographic, and operative findings in dogs infested with giant kidney worms (Dioctophyme renale). Journal of American Veterinary Medical Association. v. 244, n. 5, p. 555-558, 2014. SILVEIRA, et al. Dioctophyma renale em 28 cães: aspectos clinicopatológicos e ultrassonográficos. Pesquisa Veterinária Brasileira. v. 35, n. 11, p. 899-905, 2015. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0418