DESEMPENHO AGRONÔMICO DE GENÓTIPOS DE MAMONA EM REGIÃO DE CLIMA TEMPERADO, SAFRA 2005/06* Sérgio Delmar dos Anjos e Silva 1, Bernardo Ueno 1, Máira.Milani 2, Rogério Ferreira Aires 3, João Guilherme Casagrande Jr. 4 1 Embrapa Clima Temperado, sergio@cpact.embrapa.br, berueno@cpact.embrapa.br; 2 Embrapa Algodão, maira@cnpa.embrapa.br; 3 UFPel-FAEM, aires@cpact.embrapa.br; 4 Bolsista de doutorado FAPEG, jgcasa@uol.com.br. RESUMO - O cultivo da mamona expandiu no Rio Grande do Sul, tornando-se alternativa para a agricultura gaúcha, gerando demanda por informações técnicas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho agronômico de cultivares de mamona, visando a introdução e indicação de cultivares superiores para cultivo no Rio Grande do Sul. O ensaio foi conduzido no campo Experimental do CPACT, localizado em Pelotas, RS, na latitude 31 41 Sul e longitude 52 21 Oeste e na altitude de 60m. Foram avaliadas 15 cultivares, conduzidas em parcelas de 1 linha de 10 metros, espaçadas de 1m entre linhas e entre plantas. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Avaliou-se número de dias da emergência até o início de floração (50% das plantas com primeiro cacho); altura de planta; percentagem de grão e rendimento de grãos em kg/ha. Houve diferença estatística apenas para o rendimento de grãos, o qual foi prejudicado devido à baixa precipitação pluviométrica. Entretanto, apesar do estresse, verificou-se que os rendimentos foram satisfatórios com média de 1184 kg.ha-1, com os melhores genótipos atingindo até 1608 kg.ha-1. É importante salientar que genótipos desenvolvidos para a região tropical tiveram boa adaptação para o sul do país. INTRODUÇÃO A mamona (Ricinus communis L.), também conhecida como carrapateira ou rícino, pertencente à família Euphorbiaceae, engloba vasto número de plantas nativas da região tropical (WEISS, 2000). É originária do Leste da África e vegeta naturalmente desde longitude 52º Oeste até 40º Sul, sendo cultivada comercialmente em mais de 15 países, os principais sendo a Índia, a China e o Brasil (AZEVEDO ET AL. 2001). O óleo da mamona é a base para a obtenção de uma diversificada linha de matérias-primas utilizadas na fabricação de plásticos e plastificantes, fibras sintéticas, tintas, esmaltes, coberturas protetoras, resinas e lubrificantes (MOSHKIN, 1986), a partir da ricinoquímica pode-se chegar a outros produtos mais sofisticados, como é o caso das próteses humanas, e dos produtos utilizados nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos e aeronáutica (AZEVEDO ET AL. 2001). Atualmente, a utilização no óleo de mamona no processo de produção do biodiesel tem impulsionado o desenvolvimento desta cultura. As indicações técnicas para a cultura são escassas e
mais relacionadas com a região tropical do Brasil. Estudos para a região de clima temperado são recentes, mas indicam que a cultura da mamona é uma alternativa potencial para esta região, gerando grande demanda por informações técnicas a respeito do desempenho agronômico de variedades e manejo da cultura nestas condições. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho agronômico de 15 cultivares de mamona do Ensaio Nacional de Planta Baixa, proveniente da Embrapa Algodão, visando a introdução e indicação de cultivares superiores para cultivo no Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido no campo Experimental da Embrapa Clima Temperado, localizado no município de Pelotas, RS, entre as coordenadas 31 41 S e 52 21 W e na altitude de 60m. Foram avaliadas 15 cultivares de mamona (Tab. 1), conduzidas em parcelas constituídas de uma linha de 10 metros, espaçadas 1m entre linhas e entre plantas. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições. Foi realizada semeadura manual em 28 de setembro de 2005, utilizando-se duas sementes por cova, permanecendo uma planta após o desbaste realizado aos 15 dias da emergência, deixando-se apenas uma pl. A adubação utilizada foi 250 kg/ha da fórmula 5-20-20 aplicada na linha e, em cobertura foram aplicados 100 kg/ha de uréia 40 dias após a emergência das plantas. As características avaliadas foram início de floração (IF), medida em dias da emergência até 50% das plantas da parcela terem emitido o primeiro cacho; altura de planta (AP), medida em centímetros do nível do solo até a base do racemo superior; percentagem de grão (PG) (diferença entre o peso total e o peso do grão) e rendimento de grãos em kg/ha. A colheita foi realizada em três etapas, na medida que os cachos atingiam a maturação. O material foi seco em secador artesanal à temperatura de 40ºC por 48 horas, tempo suficiente para facilitar o descascamento, o qual foi realizado com descascadora manual. A análise dos dados foi realizada com o programa SAS e foi utilizado o Teste de Duncan para a comparação das médias ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme resultados apresentados na Tabela 1, verifica-se que não houve diferenças significativas entre a altura de planta (valor médio de 100cm) e o início de floração (valor médio de 50 dias) para os genótipos avaliados. A percentagem de grão em relação à casca foi baixa comparada a outros ensaios (Fig. 1), como foi o caso das cultivares IAC Guarany (63%) e AL guarani 2002 (60%), que apresentaram valores médios inferiores aos obtidos por Silva et al. (2004) na safra 2003/04 (70 e
72%, respectivamente). Isto pode ser atribuído ao enchimento de grão deficiente devido à deficiência hídrica sofrida pelas plantas durante a condução do ensaio, que também afetou o rendimento das cultivares, visto que, durante o início do período reprodutivo, a precipitação foi muito inferior ao necessário para o bom desenvolvimento da cultura. Os genótipos de melhor rendimento de grãos foram o CNPAM 2001-57 e o CNPAM 2001-49, atingindo 1608 kg.ha -1 e 1152 kg.ha -1, respectivamente, no entanto, não diferiram estatisticamente dos genótipos CNPAM 2001-55, Lyra, AL Guarany 2002, Epaba Ouro, CNPAM 2001-48, Vinema T1, IAC Guarani, Íris, CNPAM 2001-50, CSRN 142 e CNPAM 2001-42. A cultivar CSRN 393 foi a de menor rendimento de grãos, em valores absolutos (665 kg.ha -1 ). Em relação ao coeficiente de variação (34,36%), este pode ser atribuído à desuniformidade na emergência e floração das plantas ocasionados pelo estresse hídrico. Cabe salientar que mesmo genótipos desenvolvidos para Região Nordeste, como CNPAM 2001-57, CNPAM 2001-49 e CNPAM 2001-55 apresentaram boa adaptação para a região sul com bons rendimentos. Talvez isto possa ser atribuído à tolerância à seca destes genótipos. Na Metade Sul do Rio Grande do Sul, as perdas por déficit hídrico nos últimos três anos chegaram a 70% para soja, e 80% para o milho. Em lavouras de soja adjacentes à cultura da mamona, ocorreram perdas de até 90% na lavoura de soja, enquanto a cultura da mamona produziu, na primeira safra, 1500 kg.ha -1. Isto tem causado expectativas e grande avanço com a cultura da mamona no Rio Grande do Sul, devido a sua grande tolerância à seca e à freqüente baixa precipitação pluviométrica dos últimos anos nesta região. Este fato, aliado ao programa de biodiesel do Governo Federal, fez com que a área de mamona aumentasse de 1.200ha, na safra 2005/06, para uma área prevista de 40.000ha na safra 2006/07. Esta realidade demanda das instituições de pesquisa, principalmente do Rio Grande do Sul, a indicação de cultivares e recomendações técnicas para a cultura da mamona no Rio Grande do Sul. CONCLUSÕES Os genótipos de mamona avaliados apresentam rendimentos competitivos, adaptação e tolerância à seca nas condições de clima temperado do sul do Brasil. * Patrocinado por FAPEG, Fundação de Apoio à Pesquisa Edmundo Gastal e Financiado por MDA, Ministério do Desenvolvimento Agrário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MOSHKIN, V.A. Castor. New Delhi: Amerind. 1986. p. 54-64. SANTOS, R. F.; BARROS, M. A. L.; MARQUES, F. M.; FIRMINO, P. T.; REQUIÃO, L. E. G. Análise econômica p.17-35 In: Azevedo, D. M. P. de; Lima, E. F. O agronegócio da mamona no Brasil Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, Embrapa Clima Algodão (Campina Grande, PB), 350 p., 2001. SILVA, S.D. dos A. e; GOMES, C.B.; UENO, B.; ANTHONISEN, D.G.; GALHARÇA, S.P.; BAMMANN, I.; ZANATTA, Z.G.C.N. Avaliação de cultivares de mamona em pelotas - RS, safra 2003/04. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MAMONA, 1., 2004, Campina Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004. 1 CD-ROM. WEISS, E.A. Oilseed crops. London: Longman, 2000. 660p.
Tabela 1. Cultivares de mamona, altura de plantas (AP), número de dias desde a emergência até o início de floração (IF), Percentagem de grão e rendimento de grãos do Ensaio de Cultivares de Mamona de Planta Baixa, nas condições de clima temperado. Embrapa Clima Temperado,Pelotas/RS, 2006. Cultivar AP** (cm) IF** (dias) PG** (%) Rendimento de grãos (Kg.ha -1 ) CNPAM 2001-57 114 49 64 1607,70 A CNPAM 2001-49 100 48 58 1551,60 A CNPAM 2001-55 94 48 64 1381,60 A B Lyra 89 46 65 1318,10 A B C AL Guarany 2002 110 52 60 1260,40 A B C Epaba Ouro 105 49 61 1240,50 A B C CNPAM 2001-48 120 55 64 1179,30 A B C Vinema T1 95 49 65 1176,20 A B C IAC Guarany 103 51 63 1175,30 A B C Íris 65 46 67 1164,30 A B C CNPAM 2001-50 110 51 62 1155,20 A B C CSRN 142 103 50 61 1076,70 A B C CNPAM 2001-42 113 51 63 964,30 A B C CSRN 379 91 49 58 841,40 B C CSRN 393 85 52 63 665,30 C Média 100 50 62 1183,99 CV 34,70 7,04 6,07 34,36 * Médias seguidas por letras distintas diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade de erro ** Não houve diferença significativa entre os genótipos. 250 200 Precipitação (mm) 150 100 50 0 set/05 out/05 nov/05 dez/05 jan/06 fev/06 mar/06 abr/06 Mês ciclo Normal (30 anos) Figura 1. Precipitação pluviométrica durante a condução do ensaio de cultivares de mamona de Planta Baixa. Pelotas/RS, 2006.