O primeiro signo (Expresso: 27-03-1999) Os nascidos no início da Primavera pertencem ao signo do Carneiro, colocado nos céus em honra dos feitos de Jasão e dos argonautas. Mas não é nessa constelação que o Sol agora se encontra CONTA a lenda que Jasão, o jovem herdeiro do reino de Iolco, foi adoptado pelo centauro Caronte, que o tinha protegido da fúria de seu tio Pélias, quando este lhe matara o pai, usurpando assim o trono. Quando Jasão completou 16 anos, o centauro Caronte contou-lhe toda a história e disse-lhe: «É chegada a altura de vingares o teu pai e de assumires a chefia do reino.» Jasão fez-se ao caminho. Quando avistava já a sua meta, foi abordado por uma velha senhora, que lhe pediu ajuda para atravessar uma ribeira. Jasão transportou-a às costas, mas perdeu uma sandália na lama do ribeiro. Mal ele sabia que a velha senhora não era outra senão a deusa Hera, que assim o punha à prova. A partir daí, a deusa haveria de proteger o jovem príncipe. O rei Pélias não sabia que Jasão tinha sobrevivido e que estava a caminho. Mas a sua vida na corte não era feliz. Os oráculos haviam dito que um homem, calçado com uma sandália apenas, lhe haveria de trazer o sono eterno. Quando o sobrinho se anunciou na corte, com um pé descalço e outro com uma sandália, o rei percebeu que tinha chegado o seu fim. Não podia desafiar o futuro, mas poderia adiá-lo. «O reino é teu de direito», disse-lhe, «mas seria bom que trouxesses um prémio que honrasse a tua coroação. E um prémio verdadeiramente excepcional seria o tosão dourado, a lã de ouro que está guardada pelo dragão de Colchis». Como Pélias pensara, Jasão entusiasmou-se com a ideia. Construiu um barco a que chamou «Argos» e juntou um grupo de jovens destemidos: Héracles, o mais forte dos mortais, os gémeos Castor e Pólux, combatentes imbatíveis, e Orfeu, músico tão
fabuloso que até as rochas e árvores o seguiam quando tocava a sua lira. Os companheiros de aventura ficaram conhecidos como os argonautas. Após várias peripécias, Jasão e os seus amigos atingiram as costas de Colchis. O rei Aétes, que governava a região, viu-os chegar. Estava habituado a receber aventureiros à procura do tosão dourado e convidou-os para o seu palácio. Mas Aétes não queria que a preciosa pele de carneiro deixasse o seu reino. Pela calada da noite preparou-se para matar os argonautas. Como a Lua estivesse cheia, decidiu esperar pela madrugada. A deusa Hera, que tinha seguido os argonautas, adivinhou as intenções do rei e decidiu arranjar-lhes apoio. Não havia em todo o reino maga mais poderosa do que a própria filha do rei, a princesa Medeia. Hera chamou Afrodite, a deusa do amor, que instruiu o seu filho Eros para disparar uma seta dourada ao coração da formosa Medeia. A princesa ficou imediatamente apaixonada pelo jovem príncipe e decidiu protegê-lo da traição do pai. Pela calada da noite, aproximou-se dos aposentos dos heróis e acordou Jasão. «O meu pai planeia matar-vos», sussurrou, «posso salvá-los e ajudar-te a encontrar o tosão de ouro. Há um poderoso dragão a guardá-lo e só eu sei como o enganar, mas tens de me prometer que me levas contigo e que me tomas em casamento». É possível que Jasão tivesse ficado assustado com a perspectiva de casar com uma feiticeira. Mas não tinha muito tempo para pensar e a beleza da jovem princesa conquistou-o. Concordou ali mesmo com o casamento. «Vem então e trás contigo Orfeu», disse a princesa. «Acorda os argonautas e diz-lhes para prepararem o barco, içarem as velas e esperarem por nós.» Os argonautas seguiram em silêncio para o porto, enquanto Jasão, Medeia e Orfeu se esgueiraram pelos jardins traseiros do palácio. Depressa chegaram ao sinistro jardim do fim do mundo, onde encontraram a pele dourada, brilhando em cima de uma árvore, ao luar. A guardá-la estava o terrível dragão, ainda mais temível do que Jasão imaginara. Era o maior dragão que existia sobre a terra. E, na altura, a terra estava povoada por muitos dragões temíveis.
«Orfeu, toca a tua lira e canta uma canção de embalar», disse a princesa. Assim o fez o jovem músico e imediatamente todo o jardim se encantou. As flores fecharam as suas pétalas, as ervas dançaram lentamente, como se o vento as embalasse, e cedo adormeceram. O próprio dragão, que há milhares de anos não dormia, sempre vigilante na defesa da preciosa lã dourada, começou a bocejar e adormeceu, num sono pesado, de quem recuperava, finalmente, dos milhares de anos de vigília. O próprio Jasão tinha começado a bocejar, mas ele e a princesa estavam protegidos pois, à falta de café, que os gregos não conheciam, Medeia tinha preparado um pó mágico, que os mantinha despertos. Jasão subiu à árvore e agarrou no tosão. Antes que o dragão acordasse e alertasse o reino, Medeia chamou Hécate, a rainha das feiticeiras, que escureceu a Lua em eclipse. Na escuridão total, os três seguiram rapidamente para «Argos», que estava já aparelhado e pronto para partir, com as velas dançando ao vento. Estavam prestes a largar amarras quando ouviram um rugir terrível. O eclipse terminara, o dragão acordara e notara a falta do tesouro. O rei e os seus soldados despertaram e notaram a falta dos argonautas. Seguiram para o porto, furiosos, mas tudo o que puderam foi ver «Argos» a afastar-se rapidamente da costa, com o tosão e a princesa a bordo. De regresso a Iolco, Jasão teve ainda de se defrontar com a resistência do tio, que por nada queria ceder o trono. Mais uma vez, Medeia acorreu em socorro do herói. E deu ao velho Pélias uma poção que o adormeceu para sempre, cumprindo-se assim a profecia dos oráculos. Quando Jasão ascendeu ao reino de Iolco, Zeus elevou o tosão dourado aos céus, onde ainda hoje aparece, reluzente, na constelação do Carneiro. Texto de U O CRATO
O Zodíaco AO ORGANIZAREM o seu calendário, os babilónios, tal como muitos outros povos, procuraram harmonizar a medida solar do tempo com a medida lunar. A posição do Sol no fundo estelar demora cerca de 365 dias a perfazer uma rotação completa, num ciclo que coincide com o ciclo das estações e que é chamado ano sideral. Ora, a Lua demora cerca de 29 dias e meio a regressar à mesma fase, num ciclo chamado lunação ou mês sinódico. Num ano solar cabem pois 12 meses lunares, embora fiquem de fora 11 dias, o que sempre constituiu uma complicação para os calendários. É esta coincidência aproximada que levou à divisão do ano em 12 meses e à criação dos 12 signos do Zodíaco. Ao que parece, foram os babilónios os primeiros a dividir em doze partes a banda celeste por onde o Sol passa no seu movimento aparente, dando a cada uma dessas partes o nome de uma constelação, ou seja, de uma área arbitrária da esfera celeste, constituída em função de um motivo imaginado pelo desenho das estrelas. Nesses tempos recuados, o início da Primavera coincidia com a passagem do Sol pela constelação do Carneiro, Áries em latim, pelo que os astrónomos ainda hoje chamam ao equinócio vernal «o primeiro ponto de Áries». Mas a lenta precessão do eixo de rotação da Terra, num ciclo de cerca de 26 mil anos, faz com que o Sol já não se encontre hoje em Carneiro no início da Primavera. As pessoas agora nascidas pertencem ao signo astrológico do Carneiro. Mas o Sol encontra-se de facto na constelação Peixes. Se tivessem nascido no mesmo dia do ano, mas há quatro ou cinco mil anos, teriam então razão para o invocarem como seu signo. Foram os gregos que nos transmitiram os signos dos babilónios. A palavra chegou-nos pelo grego «zoidiakos», adjectivo usado na
expressão «zoidiakos kuklos», que designava o círculo de pequenos animais com que se representavam as constelações. A raiz do termo persiste ainda hoje nas línguas ocidentais em vocábulos como «zoológico». O Zodíaco designa hoje a banda celeste com oito graus para cada lado da linha da eclíptica, onde o Sol parece deslocar-se. O Sol, a Lua e os planetas, com excepção de Plutão, movem-se sempre na banda do Zodíaco.