Comentário. Autor: Nicolas Ciancio

Documentos relacionados
Relatório. Data 18 de dezembro de 2014 Processo Interessado CNPJ/CPF

Comentário. Autor: Fabiana Carsoni Alves F. da Silva Paulo Coviello Filho Débora Regina March

Direito Previdenciário

SOLUÇÃO DE CONSULTA COSIT Nº 120/2016 (Publicado(a) no DOU de 19/08/2016, seção 1, página 43)

MINISTÉRIO DA FAZENDA SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO. Voluntário ª Câmara / 3ª Turma Ordinária Sessão de 19 de novembro de 2013

Ato Declaratório nº 5 da Receita Federal

Coordenação-Geral de Tributação

Participação nos Lucros e Resultados

Coordenação-Geral de Tributação

Coordenação-Geral de Tributação

CARF AFIRMA QUE NÃO INCIDEM CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE PAGAMENTO DE PRÊMIO EVENTUAL A EMPREGADOS

Nesta primeira edição, trataremos de quatro decisões do CARF bastante recentes sobre os seguintes temas (para ler, basta clicar nos tópicos):

Coordenação-Geral de Tributação

Coordenação-Geral de Tributação

ALMEIDA GUILHERME Advogados Associados

COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS DE CONTROLADAS NO EXTERIOR: CARF DIVULGA INTERESSANTE PRECEDENTE

Coordenação-Geral de Tributação

DIRETOR DE S/A INCIDE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE PLR? Solução de Consulta COSIT Nº 368 DOU

ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA PLR

DOS DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS SOBRE O 13º SALÁRIO E FÉRIAS JUNTO AOS REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS

A VISÃO DO CARF ACERCA DA INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE OS LUCROS DESTINADOS A DIRETORES E ADMINISTRADORES NÃO EMPREGADOS PLAs 1

TAX FRIDAY - REDUÇÃO DE CUSTOS TRABALHISTAS REFORMA TRABALHISTA OPORTUNIDADES CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Coordenação-Geral de Tributação

Orientações Consultoria De Segmentos Elaboração e discriminação em folha de pagamento

Conceito Econômico de Renda e suas Implicações nas Contribuições Previdenciárias.

Reforma encerra discussão com Fisco sobre natureza de convênio médico

CARF PERMITE A DEDUTIBILIDADE DE DESPESAS DE ROYALTIES PAGOS À PESSOA JURÍDICA DO MESMO GRUPO ECONÔMICO.

PROPOSTA PARA DESTINAÇÃO DOS LUCROS

Comentários do Primeiro Simulado Direito Previdenciário Aula 05 Filiação e inscrição e salário-de-contribuição

Coordenação-Geral de Tributação

DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS E DIVIDENDOS: EFEITOS TRIBUTÁRIOS EDMAR OLIVEIRA ANDRADE FILHO

DESTINAÇÃO DO LUCRO LÍQUIDO. - Exercício Srs. Acionistas,

Direito Previdenciário

Lucro Líquido ,43. Lucros Acumulados ,71. Lucro Líquido Ajustado ,14. Reserva Legal

MASC CONTABILIDADE Rua Coimbra, 308 Centro Diadema/SP CEP: Fone:

Comentário. Autor: Ramon Tomazela Santos Paulo Coviello Filho

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Como é calculada a contribuição previdenciária sobre a remuneração paga ao transportador autônomo de veículo

NEWSLETTER TRIBUTÁRIO

GRUPO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS DO DEPARTAMENTO JURÍDICO FIESP/CIESP

Proposta de destinação do lucro líquido do exercício de 2009 (conforme Anexo 9-1-II da ICVM 481/2009)

DIREITO Previdenciário

Direito Previdenciário

1. DEPENDENTES. Art. 16 Lei A classe é fixada no momento do óbito do segurado.

Questões Passíveis de Recurso Direito Previdenciário - Prova Cubo

POLÍTICA DE DESTINAÇÃO DE RESULTADOS USINAS SIDERÚRGICAS DE MINAS GERAIS S.A. USIMINAS

esocial Sistema de Escrituração das Obrigações Fiscais, Previdênciárias e Trabalhistas

LEGISLAÇÃO / Leis 8.8

Direito Previdenciário

PROPOSTA DE ALTERAÇÕES NO REGULAMENTO DO PLANO MISTO DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS - CNPB

ACÓRDÃO GERADO NO PGD-CARF PROCESSO /

WHIRLPOOL S.A. Valor absoluto em Reais

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

BRASMOTOR S.A. Data Valor Valor Data. 26/10/2010 Dividendos Ordinárias ,02 0, /11/2010

Posicionamento Consultoria De Segmentos Emissão do Recibo Pagamento de Autônomo (RPA)

24/10/2013 PLENÁRIO : MIN. DIAS TOFFOLI EMENTA

Orientações Consultoria De Segmentos Contribuição Previdenciária - Transportador Autônomo de Cargas

SAIBA COMO RETER A CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA NA CONTRATAÇÃO DE CONTRIBUINTE INDIVIDUAL

Posicionamento Consultoria de Segmentos Empregado com mais de um Vínculo Empregatício

TRIBUTAÇÃO SOBRE OS SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS

Senado Federal Subsecretaria de Informações

DISPOSIÇÕES GERAIS REGRAS PARA A NEGOCIAÇÃO

e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro

Coordenação-Geral de Tributação

2ª Reunião APET em 2019 Novas Soluções de Consulta COSIT / RFB Auxílio-Alimentação, Auxílio-Educação e Aviso Prévio Indenizado

Planejamento Fiscal Previdenciário. Fábio Zambitte

STF ANALISARÁ A INCIDÊNCIA DE IR SOBRE JUROS DE MORA

CARF FIRMA IMPORTANTE POSIÇÃO SOBRE DEDUTIBILIDADE DE DESPESAS

STJ REINTEGRA a MP n. 651/2014 não gera efeitos para o passado

GRUPO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS DA FIESP/CIESP

V - para o dirigente sindical na qualidade de trabalhador avulso: a remuneração paga, devida ou creditada pela entidade sindical.

Coordenação-Geral de Tributação

KATIA WATERKEMPER MACHADO 20 de junho de 2012.

DIREITO TRIBUTÁRIO. Tributos Federais IRPJ Parte III. Prof. Marcello Leal

CEM CADERNO DE EXERCÍCIOS MASTER. Direito Previdenciário. Técnico do TRF 2. Consulplan

BLOCO 07 DA SÉRIE ZAC POR DENTRO DA MP 808 ANÁLISE DAS EMENDAS À MEDIDA PROVISÓRIA 808/2017 SOBRE O CUSTEIO SINDICAL

01 Q Direito Previdenciário Planos de Benefício da Previdência Social Lei nº 8.213, de 24 de Julho

FISCALIZAÇÃO PREVIDENCIÁRIA DOS PLANOS DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS ("PLR") ( )

Coordenação-Geral de Tributação

SALÁRIO-MATERNIDADE E SALÁRIO-FAMÍLIA

POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DOS MEMBROS DA DIRETORIA ESTATUTÁRIA USINAS SIDERÚRGICAS DE MINAS GERAIS S.A. USIMINAS

Resumo Aula-tema 04: Benefícios Previdenciários - Regras Gerais

DIREITO TRIBUTÁRIO. Tributos Federais IRPJ Parte XIII. Prof. Marcello Leal

Adv. Leonardo Fonseca Culau OAB.RS F. (51)

1) Sobre o Regime de Desoneração da Folha Lei nº /2011

ORIENTAÇÃO CECO Nº 4. Ementa:

Lei nº /14: a tributação dos juros sobre capital próprio. Fernando Mombelli

DOS FUNDAMENTOS LEGAIS

Supremo Tribunal Federal

PALESTRA GRUPO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS DA FIESP/CIESP. Participação nos Lucros e Resultados PLR à Luz da Jurisprudência no CARF

DIREITO Previdenciário

Coordenação-Geral de Tributação

CONTABILIDADE GERAL. Noções Gerais. Atividades Administrativas Parte 1. Prof. Cláudio Alves

Empreendimentos Pague Menos S.A. CNPJ/MF nº / NIRE: Companhia Aberta PROPOSTA DE DESTINAÇÃO DO RESULTADO

BRB ADMINISTRADORA E CORRETORA DE SEGUROS S.A. Versão 00 POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS DA BRB ADMINISTRADORA E CORRETORA DE SEGUROS S.A.

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EDSON FERREIRA (Presidente), OSVALDO DE OLIVEIRA E VENICIO SALLES.

Poder Judiciário Tribunal Regional Federal da 5ª Região Gabinete do Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira

AULA/TEMA. Política de Dividendos. Profa. Me. Vanessa Anelli Borges

RELATÓRIO. A Excelentíssima Senhora Desembargadora Federal Relatora, Dra. Vesna Kolmar:

POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 873/19

Transcrição:

Autor: Nicolas Ciancio COSIT: INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE OS VALORES PAGOS A DIRETORES ESTATUTÁRIOS A TÍTULO DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS DA EMPRESA (PLR) A Coordenação-Geral de Tributação (COSIT), por meio da Solução de Consulta n. 368, de 18.12.2014, analisou discussão envolvendo a incidência da contribuição previdenciária prevista no art. 22 da Lei n. 8212, de 24.7.1991, sobre os valores pagos a diretores estatutários a título de participação nos lucros e resultados da empresa. A solução foi assim ementada: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS EMENTA: DIRETOR DE SOCIEDADE ANÔNIMA. CONDIÇÃO DE SEGURADO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. LEI Nº 10.101, DE 2000. SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. O diretor estatutário, que participe ou não do risco econômico do empreendimento, eleito por assembleia geral de acionistas para o cargo de direção de sociedade anônima, que não mantenha as características inerentes à relação de emprego, é segurado obrigatório da previdência social na qualidade de contribuinte individual, e a sua participação nos lucros e resultados da empresa de que trata a Lei nº 10.101, de 2000, integra o salário-decontribuição, para fins de recolhimento das contribuições previdenciárias. SEGURADO EMPREGADO. O diretor estatutário, que participe ou não do risco econômico do empreendimento, eleito por assembleia geral de acionistas para cargo de direção de sociedade anônima, que mantenha as características inerentes à relação de emprego, é segurado obrigatório da previdência social na qualidade de empregado, e a sua participação nos lucros e resultados da empresa de que trata a Lei nº 10.101, de 2000, não integra o salário-de-contribuição, para fins de recolhimento das contribuições previdenciárias. 1

Segundo relatado na referida Solução de Consulta, a consulente implementou plano de participação nos lucros e resultados, do qual participam todos os trabalhadores que prestem serviços, de forma habitual, pessoal, com subordinação e mediante remuneração. Nesse sentido, aduz a consulente que a análise dos arts. 1º e 2º da Lei n. 10101, de 19.12.2000, em conjunto com o art. 28, inciso I e parágrafo 9º, alínea j da Lei n. 8212/91, deixam dúvidas a respeito da possibilidade de pagamento de PLR aos diretores estatutários e sobre a respectiva tributação dos referidos valores. No entender da consulente, em que pese o inciso I, do art. 28 da Lei n. 8212/91 trate do salário-de-contribuição dos empregados e trabalhadores avulsos, a não incidência da contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de PLR, prevista na alínea j, do parágrafo 9º, do art. 28 desta mesma lei, não se limita apenas a estes sujeitos, mas a todos os trabalhadores de um modo geral, dentro dos quais se encontram os diretores estatutários. Em outros termos, sustenta que os valores pagos ou creditados a título de PLR aos diretores estatutários, mesmo não sendo eles empregados ou trabalhadores avulsos, estão abarcados pela regra da alínea j, do parágrafo 9º, do art. 28 da Lei n. 8212/91. Isso porque a referida regra determina que não integra o salário-de-contribuição, para efeitos de incidência da contribuição previdenciária, a PLR paga ou creditada de acordo com lei específica que, no caso, é Lei n. 10101/00, que trata da PLR dos trabalhadores genericamente e não apenas dos empregados. Ao apreciar a questão, a COSIT afirmou que o art. 12 da Lei n. 8212/91 definiu como segurados obrigatórios da Previdência Social, dentre outros, (i) aqueles que contribuem na qualidade de segurado empregado, como por exemplo, os que prestam serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado; e (ii) aqueles que contribuem na qualidade de contribuinte individual, como por exemplo, o titular de firma individual, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade 2

anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural. Assim, dentre aqueles que contribuem na qualidade de segurado empregado está o diretor empregado, ao passo que o diretor não empregado tal qual o estatutário contribui na qualidade de contribuinte individual. Nesse contexto, o art. 9º do Regulamento da Previdência Social (Decreto n. 3048, de 6.5.1999) assim define o diretor empregado e o diretor não empregado: Diretor empregado: aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja contratado ou promovido para carga de direção das sociedades anônimas, mantendo as características inerentes à relação de emprego (art. 9º, parágrafo 2º). Diretor não empregado: aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja eleito, por assembleia geral dos acionistas, para cargo de direção das sociedades anônimas, não mantendo as características inerentes à relação de emprego (art. 9º, parágrafo 3º). À luz destas disposições, afirmou a COSIT que é segurado obrigatório da previdência social, como empregado, o diretor de sociedade anônima que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, é contratado ou promovido para o cargo de direção, mantendo as características inerentes à relação de emprego. Por sua vez, depreende-se que é segurado obrigatório, como contribuinte individual, o diretor não empregado, o diretor de sociedade anônima que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, é eleito para exercer o cargo de direção, sem manterás características inerentes à relação de emprego. Pois bem. Superada essa primeira premissa, a COSIT consignou que a alínea j, do parágrafo 9º, do art. 28 da Lei n. 8212/91 estabelece que não 3

integra o salário-de-contribuição para efeitos de incidência da contribuição previdenciária somente a PLR paga ou creditada de acordo com lei específica. Nesse sentido, considerando que a lei específica de que trata a referida alínea é a n. 10101/00, a COSIT afirmou que a PLR da empresa deve ser objeto de negociação entre empresa e seus empregados e o valor a ser pago em decorrência dessa participação não pode substituir ou complementar a remuneração devida a qualquer empregado. Assim, à luz da Lei n. 10101/00, o entendimento daquele órgão foi no sentido de que a PLR se destina especificamente aos empregados da empresa. Logo, o diretor estatutário de sociedade anônima - por não ser empregado - terá sua participação nos lucros e resultados inseria na base de cálculo da contribuição previdenciária, nos termos do art. 28 da Lei n. 8212/91. Por sua vez, a COSIT também destacou que o diretor estatutário que exerce o cargo mantendo as características inerentes à relação de emprego, será enquadrado como segurado obrigatório na qualidade de empregado e sua PLR não integrará o salário contribuição para efeitos de incidência da contribuição previdenciária. Desta feita, vale registrar que o mesmo entendimento da COSIT a respeito da incidência da contribuição previdenciária sobre a PLR paga ou creditada aos diretores estatutários já foi objeto de alguns precedentes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). Exemplificadamente são os acórdãos n. 2401-003.487, de 15.3.2014 e n. 2401-003.571, de 17.7.2014. De forma similar também já se posicionou o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, conforme apelação n. 0001306-05.2008.4.04.7201, de 1.9.2009, bem como o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, conforme se verifica da apelação em mandado de segurança n. 0006227.97-2012.403.6100, de 29.7.2014. Contudo, não se pode descartar que o CARF também já se manifestou em sentido diverso e por diferentes argumentos que não foram objeto da solução de consulta ora destacada. 4

É o caso do acórdão n. 2402-002.883 1, de 10.7.2012, cujo entendimento se deu no sentido de que aos diretores estatutários aplicam-se os arts. 145 e 152 da Lei n. 6404/76, que regem a relação entre acionistas e diretores/administradores e não as disposições do art. 28 da Lei n. 8212/91, que rege a relação entre empregador e empregado. Art. 152. A assembléia-geral fixará o montante global ou individual da remuneração dos administradores, inclusive benefícios de qualquer natureza e verbas de representação, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor dos seus serviços no mercado. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) 1º O estatuto da companhia que fixar o dividendo obrigatório em 25% (vinte e cinco por cento) ou mais do lucro líquido, pode atribuir aos administradores participação no lucro da companhia, desde que o seu total não ultrapasse a remuneração anual dos administradores nem 0,1 (um décimo) dos lucros (artigo 190), prevalecendo o limite que for menor. 2º Os administradores somente farão jus à participação nos lucros do exercício social em relação ao qual for atribuído aos acionistas o dividendo obrigatório, de que trata o artigo 202. A esse respeito, também registra o precedente que a participação dos diretores estatutários é contabilizada em conta de patrimônio líquido, mediante redução do lucro acumulado, e não paga pela empresa em si, por meio de escrituração em conta de resultado. Daí, portanto, a posição pela inaplicabilidade do art. 28 da Lei n. 8212/91 aos diretores estatutários, pois os valores por eles recebidos não se inserem na relação jurídica entre empregado e empregador, mas entre acionista e diretor estatutário, o que inviabiliza a incidência da contribuição previdenciária nos moldes da Lei n. 8212/91. 1 No mesmo sentido, acórdão n. 2402-003.995, de 19.3.2014 e n. 2301-003.473, de 17.4.2013. 5

Por sua vez, também merece destaque o acórdão n. 2403-002.336, de 19.11.2013, cujo entendimento se deu de forma similar ao precedente acima, no sentido de que os pagamentos realizados aos administradores de sociedade anônima não se enquadram no conceito de salário-de-contribuição, por se tratarem de ganhos não eventuais e se reportarem à Lei n. 6404, de 15.12.1976 e não à Lei n. 10101/00. O referido precedente também consignou que nem a Lei supramencionada [Lei n. 10101/00] nem o art. 28, 9º da Lei 8212/91 fazem ressalva de que somente os segurados empregados podem ser beneficiados com o pagamento da PLR. E, após analisar os dispositivos da Lei n. 10101/00, da CLT e da Constituição Federal, concluiu no sentido de que: Como se pode observar, todos os diplomas legais que regulam a matéria, garantem aos trabalhadores o direito à participação nos lucros das empresas. Em nenhum momento há a definição de que trabalhadores são exclusivamente segurados empregados, Logo, analisando o conceito de trabalhador com as respectivas normas legais, não se pode afirmar que diretores, gerentes e executivos não sejam considerados como tal. Em consonância com os julgados acima e com maior riqueza de detalhes também é o voto vencido proferido no acórdão n. 9202-003.196, de 7.5.2014, da 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF). Contudo, importante registrar que o voto vencedor proferido neste precedente da CSRF entendeu pela incidência da contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de PLR aos administradores/diretores estatutários. Dentre os fundamentos do voto vencedor tem-se que o art. 152 da Lei n. 6404/76 não tem o condão de regulamentar a regra prevista no inciso XI, do art. 7º da Constituição Federal, que desvincula a PLR da remuneração. No entendimento proferido no acórdão, o art. 152 regula parcelas de participação no lucro da companhia para os diretores sem vínculo empregatício e a regra do inciso XI, do art. 7º é destinada especialmente aos trabalhadores com vínculo empregatício. 6

De acordo com o voto vencedor proferido pela CSRF, o fato de a assembleia geral ter poderes para deliberar sobre a concessão da PLR aos diretores estatutários, nos moldes do art. 152 da Lei n. 6404/76, não significa que pode ela desnaturar a relação jurídica laboral existente entre a companhia e o diretor estatutário, tampouco a natureza remuneratória da verba paga ou creditada. Por isso a incidência da contribuição previdenciária. Seja como for, em que pese o entendimento majoritário atual acompanhe a essência do posicionamento da COSIT, no sentido da incidência da contribuição previdenciária sobre os valores pagos ou creditados aos diretores estatutários a título de PLR, por certo que existem fundamentos jurídicos e alguns precedentes em sentido contrário. O tema ainda não está pacificado, merecendo acompanhamento constante da evolução jurisprudencial. 7