Acidentes com animais.- o lado social e econômico

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Transcrição:

Acidentes com animais.- o lado social e Alex Bager

Desenvolvimento humano X Conservação da Biodiversidade Estamos no final de março de 2017, começo da noite em um trecho de rodovia sob concessão no Mato Grosso do Sul (BR 163). Lucas (nome fictício) retornava com outras três pessoas para Coxim, a uns 250 quilômetros de Campo Grande. A rodovia escura, de pista simples, muito trânsito e uma anta. Uma anta??? Sim, o maior vertebrado brasileiro, ameaçado de extinção, cruzou a pista na frente do fiat de Lucas. Apesar de não existirem informações do tamanho deste indivíduo, a espécie pode pesar mais de 300kg.

Agora imagine, um animal deste porte sobre a rodovia onde o carro normalmente está a 100km/h. Não sabemos nada sobre a reação de Lucas ao avistar o animal, mas a física mostra que o impacto do atropelamento pode representar uma pressão superior a 6.000kg aos ocupantes do veículo. O resultado desta fatalidade. 4 pessoas mortas e outras feridas em veículos que cruzaram com a anta já atropelada sobre a rodovia. Qual a probabilidade de você estar trafegando em uma rodovia e um animal selvagem cruzar na sua frente? Puxa, sempre quis ver uma anta na natureza, ou um tamanduá, ou uma onça, e quando isso acontece é sobre uma rodovia, causando uma tragédia. E digamos a verdade, uma tragédia social e ambiental. Dados oficiais de atropelamento no Brasil Não se engane, dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do ano de 2017 mostram que 2% de todos os acidentes que ocorreram no Brasil são em decorrência de atropelamento de animais. Parece pouco? São 11.124 acidentes em um único ano. Estes números não diferenciam animais domésticos ou selvagens, mas mostram que o Lucas, os três passageiros e mais 310 pessoas morreram devido este tipo de acidente. Outras 1027 pessoas sofreram lesões graves e 3604 tiveram lesões leves. Os dados da PRF são coerentes com o que conhecemos de atropelamento de animais silvestres. As duas rodovias com maior número de acidentes são as BRs 101 (1079 atrop.) e 116 (1053 atrop.). O que seria de se esperar pela extensão, já que cortam o Brasil de norte a sul. Já a terceira rodovia com maior número de ocorrências é a BR 262, no Mato Grosso do Sul.

Só quem já viajou por essa estrada pode entender a carnificina que ocorre ali. E ela é muito visual e perigosa devido existirem muitos animais de grande porte como a anta, tamanduá-bandeira, capivaras, entre outros. Pelos dados da PRF foram 803 atropelamentos. Se você quer ver dados científicos sobre essa rodovia, clique aqui e faça o download do artigo que sou co-autor e que mostra números alarmantes da mortalidade de animais selvagens. Ainda sobre os dados da PRF, dos 11.124 atropelamentos, 1012 causaram capotamento de veículo, 64 causaram incêndio e 262 provocaram a queda de ocupantes para fora do veículo. Os custos de um atropelamento Além das questões sentimentais, ou danos psicológicos à família e ao acidentado, temos de considerar os custos financeiros para a sociedade brasileira. Dados do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA) e da PRF, baseados em valores de 2014, mostram que cada morte nas estradas, representa R$ 646.792,94 para a sociedade brasileira. Se multiplicarmos esse valor pelos 314 registros de mortes devido os atropelamentos de animais, temos R$ 203.092.983,16 no ano de 2017.

Se somarmos os valores calculados para acidentes com vítimas (sem fatalidades) e danos materiais, o valor será de R$ 763.222.387,00 no ano de 2017. Corrigindo os dados oficiais Agora aqui cabe uma reflexão rápida. Esses danos certamente são aqueles mais graves, onde foram produzidos boletins de ocorrência e entraram nas estatísticas oficiais. Você nunca atropelou um animal, doméstico ou selvagem, estragou seu carro, teve um grande susto, mas seguiu viagem? Os números da estimativa anual de atropelamentos de animais selvagens mostra que podem haver quase 45 milhões de atropelamentos de animais de médio e grande porte por ano. Veja o nosso post sobre este assunto clicando aqui.

Ou seja, se considerarmos um valor igual a 1% do menor valor informado pelo IPEA (R$ 230,60), teremos um dano de R$ 10.377.000.000,00 por ano devido atropelamento de animais. O mais incrível é que, se houvesse um investimento de 0,1% deste valor em pesquisa científica, teríamos resultados que reduziriam drasticamente estes acidentes. A diferença entre o número de ocorrências oficiais e as que não são registradas são um problema. Isso ocorre em vários outros aspectos do nosso cotidiano, por exemplo roubo de celulares e pequenas quantias de dinheiro. Em junho de 2017 o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) lançou um formulário denominado Diagnóstico Nacional de Acidentes com Atropelamento de Animais (DNA3). Em 20 dias recebemos 881 respostas de todo o Brasil. Qual o objetivo do DNA3? Você se lembra da máxima informação é poder?

Enquanto a sociedade possui apenas os dados oficiais, estamos à mercê do que nos dizem. Se possuirmos informações confiáveis, robustas e coletadas em todo o território brasileiro, poderemos cobrar dos órgãos governamentais e políticos. Podemos entrar com ações junto ao Ministério Público e divulgarmos em meios de comunicação as concessionárias preocupadas ou não com seus usuários. Alguns dos dados mais impressionantes do DNA3 foram que 67,2% dos motoristas já atropelaram ou passaram um grande susto devido animais na pista. Se considerarmos o número de 42 milhões de usuários de rodovias existentes no Brasil, são 28.224.000 de ocorrências. O CBEE está sistematizando todos os dados obtidos no DNA3. Contudo, com o lançamento do B.A.B., resolvemos abrir o formulário para novas contribuições. Nossa meta é termos 1.000 entrevistados ou mais 10 dias com o formulário aberto, o que chegar primeiro. Como tivemos 881 respostas em 20 dias, acreditamos atingir nossa meta em poucos dias. Então, clique no botão abaixo agora e conte sua experiência. Ela será fundamental para as ações planejadas para 2018 na esfera política, tanto federal quanto estadual. Está curios@ com outros dados que já possuímos no DNA3? Veja alguns pontos que mais chamam atenção:

15% dos participantes informaram já terem amassado o carro devido atropelamento de animais; 1,3% dos acidentes causaram capotamento; 2% dos atropelamentos causaram ferimentos; 1% tiveram mortes de pessoas; 22% dos acidentes foram em rodovias sob concessão; 21% foram em estradas de terra; 5% afirmam que o acidente causou sequelas permanentes a algum ocupante do veículo. Claro que existem várias questões ecológicas e focadas em conservação da biodiversidade. Contarei mais sobre elas quando publicarmos o Diagnóstico. Um fato curioso é que 61% dos participantes informaram reduzir a velocidade do veículo quando visualizam uma placa de sinalização de animais na pista. Isto contradiz estudos que mostram a ausência de mudança de comportamento dos motoristas. Fica a sugestão de estudos complementares por pesquisadores da área de ecologia de estradas.

O diagnóstico completo será divulgado aqui no Blog Alex Bager até abril de 2018. O foco é compartilhar com o maior número possível de pessoas para que estas possam cobrar dos seus representantes nas diferentes esferas políticas. O ano de 2018 é um excelente momento para obtermos promessas em prol da biodiversidade e da sociedade brasileira. Cadastre seu email aqui no B.A.B. e fique sabendo em primeira mão quando o DNA3 for publicado. Se nos articularmos adequadamente, conseguiremos reverter as promessas em ações efetivas. P.S. Em posts futuros vou discutir as estratégias existentes para se evitar que estes acidentes ocorram e que a necessidade de desenvolvimento social e possam ocorrer com a redução do impacto à biodiversidade.