INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO - OSCILAÇÃO SUL NA OCORRÊNCIA DE CHUVAS NO SUDESTE DA BAHIA RESUMO

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Transcrição:

INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO - OSCILAÇÃO SUL NA OCORRÊNCIA DE CHUVAS NO SUDESTE DA BAHIA Solange FRANÇA 1, Hermes Alves de ALMEIDA 2 RESUMO Objetivo deste trabalho foi determinar e quantificar a influência do fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) sobre a precipitação pluvial mensal e anual do Sudeste da Bahia. Utilizaram-se dados de chuvas mensais e anuais de nove localidades, com período de observação superior a 25 anos, e pertencentes ao "Banco de Dados Climatológicos da CEPLAC". O índice de oscilação sul (IOS) foi utilizado para indicar a presença ou não do fenômeno ENOS. Os resultados encontrados mostraram que o ENOS apresentou influência diferenciada conforme a fase do evento, coincidindo com chuva anual abaixo da média esperada em cerca de 64 % dos anos de El Niño e em 55 % dos de La Niña. A maior influência mensal, para ambos os eventos, ocorreu nos meses de fevereiro e de outubro a dezembro. Palavras-chave: El Niño Oscilação Sul, precipitação pluvial. INTRODUÇÃO O fenômeno El Niño é um fenômeno caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico. O aquecimento e o subseqüente resfriamento, num episódio típico de El Niño, dura cerca de 12 a 18 meses, tem início no meado do ano, atinge sua máxima intensidade durante os meses de dezembro - janeiro e termina na metade do ano seguinte. O fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) é constituído por uma componente de natureza oceânica e outra atmosférica. Possui, ainda, duas fases: uma quente (El Niño) e outra fria (La Niña). La Niña se refere ao resfriamento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico. De uma maneira geral, pode-se dizer que o La Niña é o oposto do El Niño. 1 MSc., Professora da Universidade Estadual de Santa Cruz, Rodovia Ilhéus-Itabuna, Km 16. Ilhéus - Bahia. CEP 45650-000. Doutoranda em Fitotecnia, opção Agrometerologia na UFRGS. E-mail:bragaseg@pro.via-rs.com.br ou franca@jacaranda.uescba.com.br 2 DSc., Professor Adjunto da Universidade Estadual de Santa Cruz e Pesquisador da CEPLAC - Centro de Pesquisas do Cacau. Ilhéus, Bahia. CEP 45600-000. E-mail:halmeida@nuxnet.com.br

O ENOS é caracterizado utilizando-se um índice denominado de índice de oscilação sul (IOS). A determinação é feita pela diferença de pressão atmosférica normalizada referentes a duas estações: uma localizada em Darwin (12 0 4'S - 130 0 9'E), no norte da Austrália, e a outra em Tahiti (17 0 5'S - 149 0 6'W), no Oceano Pacífico Sul. O aumento no fluxo de vapor de água da superfície do oceano para a atmosfera provoca alterações na circulação geral da atmosfera, as quais, por sua vez, influenciam as condições meteorológicas e climáticas em várias partes do mundo (Grantz, 1991; Trenberth, 1991, Oliveira & Satyamurty, 1998) Os critérios propostos por Ropelewiski e Jones (1987), estabeleceram que a fase quente ocorre quando os valores de IOS são negativos e inferiores a -0,5 durante cinco meses consecutivos (El Niño) e a fase fria, quando os IOS são positivos e superiores a 0,5 (La Niña). Esses autores observaram que, para o Sul da América do Sul, a época de influência da fase quente do ENOS sobre a precipitação se dá de novembro do ano de ocorrência do fenômeno a fevereiro do ano seguinte enquanto que, para a fase fria, as alterações na quantidade de chuvas ocorrem de junho a outubro do ano de ocorrência do mesmo. Resultados encontrados para o Sul do Brasil por Fontana e Berlato (1996), mostraram que a oscilação nos totais de precipitação em ambas fases do ENOS (quente ou fria) ocorreram na mesma época do ano. Eles observaram que no final da primavera e início do verão (outubro, novembro e dezembro), a chuva foi abaixo da normal nos eventos frios e muito abaixo da média nos anos de eventos quentes. Essa mesma tendência foi observada nos meses de maio e junho do ano seguinte ao fenômeno, embora em menor intensidade. De uma maneira geral, o efeito El Niño está associado aos períodos secos no Norte e Nordeste do Brasil e quentes e úmidos nas regiões extratropicais. Já, a fase fria (La Ninã) é marcada por efeitos contrários (Grantz, 1991; Trenberth, 1991). No Brasil, dada a extensão do seu território, verifica-se conseqüência oposta frente a uma dada fase do fenômeno. No Nordeste, por exemplo, na fase quente há uma tendência de chover abaixo da média esperada enquanto que, na fase fria ocorre excesso (Rao e Hada, 1990 e Studinski, 1995). Embora a região cacaueira do Sudeste da Bahia caracteriza-se por não apresentar uma estação seca definida, tem-se observado oscilações nas quantidades mensais e anuias de chuvas nos anos de ocorrência do fenômeno ENOS. Por isso, há necessidade de se quantificar os efeitos do El Niño e da La Niña sobre a precipitação pluvial nesta região, objetivo principal do presente estudo.

MATERIAL E MÉTODOS Os dados de precipitação pluvial mensais e anuais provieram do "Banco de Dados Climatológico da CEPLAC", referentes as nove localidades, com período de observação superior a 25 anos, conforme descrito na Tabela 1. O critério utilizado para indicar o fenômeno ENOS, baseou-se no Índice de Oscilação Sul (IOS) determinado por Ropelewski e Jones (1987). Foram considerados como anos de manifestação das fases quentes (cinco meses consecutivos com IOS -0,50) e frias (cinco meses consecutivos com IOS 0,50). Utilizando-se esses critérios, a La Niña (fase fria), por exemplo, ocorreu nos anos de 1938, 1950, 1955, 1956, 1964, 1970, 1971, 1973, 1975, 1988 e 1995 e o EL Niño, nos anos de 1939, 1941, 1951, 1953, 1957, 1965, 1969, 1972, 1976, 1982, 1983, 1986, 1990, 1991, 1992, 1994 e 1997. A precipitação pluvial média mensal das nove localidades foi comparada com a observada por ocasião das duas fases. Tabela 1 - Relação das localidades do Sudeste da Bahia, com suas respectivas coordenadas e período de dados utilizados. Localidades Latitude Longitude Período Número Eventos (S) (W) de anos EN (1) LN (2) A (3) Uruçuca 14 35' 39 16' 1935-97 63 17 11 35 Ilhéus 14 48' 39 03' 1945-97 53 15 10 28 Itabuna 14 35' 39 40' 1964-97 34 12 7 15 Camacan 15 25' 39 30' 1967-97 31 11 6 14 Canavieiras 15 40' 38 56' 1967-97 31 11 6 14 Ipiaú 14 08' 39 44' 1967-97 31 11 6 14 Coaraci 14 38' 38 33' 1968-97 30 11 6 13 Una 15 17' 39 04' 1968-97 30 11 6 13 Gandu 13 45' 39 29' 1968-97 30 11 6 13 EN (1) = ocorrência de El Niño, LN (2) = ocorrência de La Niña, A (3) = ausência do fenômeno.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Tomando-se a localidade de Uruçuca como referência, por ser a maior série climatológica da região cacaueira do sudeste da Bahia (1935-1997), verifica-se, um excelente padrão de regularidade na distribuição mensal de chuva esperada, cuja a média no mês mais seco é em torno de 100 mm. Durante o período analisado não foi constatado chuva zero em nenhum dos meses. Comparando-se os desvios relativos - médios mensais - entre a chuva esperada e a observada nos anos de El Niño e La Niña (Tabela 2), observa-se que os desvios médios foram negativos (chuva inferior a média) em 9 meses dos anos de El Niño e de 6 meses nos de La Niña. Já a ocorrência de chuva abaixo da média anual foi constatada em 64% e 45% dos anos, respectivamente. Tabela 2 - Desvios relativos (D- em %) - médios mensais - da precipitação pluvial média esperada em relação a ocorrida nos anos dos eventos ENOS para Uruçuca: período de 1935 a 1997. Meses EL Niño La Niña Meses EL Niño La Niña Janeiro -7,6 11,6 Julho 4,1 0,8 Fevereiro 5,1-3,6 Agosto -3,9 13,2 Março -3,8-18,4 Setembro -1,2-3,2 Abril -8,8-3,4 Outubro -10,0 9,0 Maio 3,4-24,1 Novembro -6,7 14,8 Junho 6,0-16,4 Dezembro -8,4 0,6 A Figura 1 mostra a média mensais da precipitação pluvial para as nove localidades do Sudeste da Bahia. Observa-se um comportamento mensal diferenciado durante eventos ENOS com chuva inferior a média, especialmente, nos meses de outubro a dezembro em anos de El Niño e em fevereiro nos de La Niña. É interessante destacar que, mesmo nos anos de ocorrência desse fenômeno, o total médio mensal de chuva observado foi de cerca de 100 mm, embora menor que a evapotranspiração da maioria das cultivos da região. Com base nas análises preliminares, verificou-se que o período de maior influência do fenômeno ENOS nesta região, ocorreu durante os meses que correspondem a primavera e os de verão, os quais foram observado redução na quantidade de chuvas. Embora o efeito do referido

fenômeno sobre a ocorrência de chuva no Sudeste Bahia, seja contrário ao ocorrido na região Sul do Brasil, Fontana e Berlato (1997a, 1997b) encontraram comportamento similar da chuva versus ENOS nesse mesmo período. 250 225 Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Precipitação (mm) 200 175 150 125 100 75 50 25 La Niña Média El Niño 0 Meses Figura 1 -Médias mensais da precipitação pluvial de nove localidades do Sudeste da Bahia e as ocorridas nos meses dos eventos La Niña, El Niño. CONCLUSÕES Com base nos resultados encontrados, conclui-se que: a) A precipitação pluvial no Sudeste da Bahia foi menor do que a média esperada em 64% dos anos de El Niño e em 55% dos de La Niña; b) A maior influência do fenômeno ENOS foi observada nos meses de fevereiro e de outubro a dezembro. BIBLIOGRAFIA FONTANA, D.C.; BERLATO, M.A. Relação entre El Niño Oscilação Sul sobre a precipitação e rendimento de milho no estado do Rio Grande do Sul. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, Porto Alegre. p. 39-46. 1996.

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