MÉTODOS ALTERNATIVOS E CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS DO ALGODOEIRO APLICADOS A AGRICULTURA FAMILIAR NO NORTE DE MINAS GERAIS 1 Leandro Fernandes Andrade, (UNIMONTES / leandro_jba@yahoo.com.br), Nívio Poubel Gonçalves, (EPAMIG), Cristiane Ramos Coutinho (UNIMONTES), Eliana da Silva Queiroz (UNIMONTES), Keila Fernandes Jorge (UNIMONTES), Cynthia Pires Guimarães, (UNIMONTES), Sidnei Tavares dos Reis (UNIMONTES), Renato Soares de Farias (EPAMIG) RESUMO - A cultura do algodão é de grande expressão socioeconômica para os setores primário e secundário do Brasil; todavia as pragas constituem um dos fatores limitantes para a sua exploração, sendo os lucros ou prejuízos dos cotonicultores, em cada ano agrícola, dependente principalmente do grau de eficiência na luta contra as pragas e preservação do meio ambiente. Assim, em um agroecossistema, se um nível populacional de um organismo está acima do nível de controle, procurarse-á tomar medidas para reverter esses níveis. Definir métodos de controle de pragas que propiciem sustentabilidade e que sejam economicamente viáveis e ecologicamente corretos faz-se necessário, visto o elevado do custo de produção com gastos na compra de inseticidas. A presente pesquisa objetivou-se avaliar aplicações de diferentes produtos alternativos à aplicação de inseticida sobre as principais pragas do algodoeiro no Norte de Minas Gerais. O extrato de torta de mamoneira obteve boa eficiência no controle das pragas avaliadas no presente trabalho, comparáveis ao inseticida (endosulfan) utilizado. Os tratamentos com a aplicação de extrato de mamona e óleo de nim apresentaram as maiores produtividades. Palavras-chave: bicudo-do-algodoeiro, controle alternativo, algodão de sequeiro. INTRODUÇÃO O algodão (Gossypium hirsutum L) é a principal fibra natural, utilizada no Brasil e no mundo, para a produção de tecidos e confecções. O algodão é responsável por 46% de toda produção mundial de fibras, para fins têxteis, incluindo as artificiais e sintéticas. Além disso, apresenta grande importância social e econômica para os agricultores familiares, em especial para os pequenos e médios produtores, quando realizada em condições de sequeiro. E, sendo a colheita manual, proporciona, quando esta operação é bem feita, a obtenção de um produto de elevada qualidade de algodão em caroço, com também qualidade intrínseca da fibra superior, elevando o preço do produto (BARBOSA et al, 1986). Nos últimos anos os cotonicultores vêm reduzindo as áreas cultivadas com algodão em razão de fatores como frustrações sucessivas de safra, utilização de baixo nível tecnológico, baixa remuneração do produto, alto custo de produção, dentre outros (SILVA et al, 1997). Além disso, o algodoeiro apresenta grande suscetibilidade a pragas e doenças, comprometendo a sua produtividade. As pragas são consideradas como um dos principais fatores desfavoráveis à produtividade, como também afetarem diretamente certas características importantes das sementes e fibras, depreciando-as consideravelmente para a utilização comercial (SANTOS, 1999). As principais pragas 1 Trabalho financiado pela FAPEMIG
da cultura do algodoeiro são o bicudo-do-algodoeiro, curuquerê, mosca branca, pulgão, lagarta-rosada e lagarta-das-maçãs. O controle destas pragas é principalmente por defensivos, em função da disponibilidade e eficiência dos mesmos, desconsiderando a contaminação ambiental, destruição de inimigos naturais e desenvolvimento de resistência das pragas causadas pelo uso excessivo de tal ferramenta, além do aumento do custo de produção (SÁ, 2006). O algodão continua sendo alternativa de cultura de sequeiro para pequenos e médios produtores, apresentando vantagem sobre algodão produzido em outras regiões por ser colhido mais cedo (março/abril) podendo alcançar preços melhores (ABREU, 2005), No entanto, os produtores precisam adotar novas tecnologias desenvolvidas para a cultura, principalmente técnicas de Manejo Integrado de Pragas e convivência com as principais pragas, demonstrando a necessidade de se estudar, monitorar e planejar métodos e maneiras de se controlar de forma eficiente às pragas da cultura do algodão na região do Norte de Minas. O presente trabalho teve como objetivo comparar os efeitos de diferentes métodos alternativos de controle de pragas com a aplicação de inseticida, visando a exploração economicamente rentável e benéfica ao agroecossistema algodoeiro, o controle das pragas-chave da região e a melhor forma de combatê-las; sem afetar a saúde humana, animal e sem contaminar o meio ambiente. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Gorutuba (FEGR) da EPAMIG/CTNM, localizado no município de Nova Porteirinha MG, no período de novembro de 2005 a março de 2006. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, constando de 8 tratamentos com quatro repetições. Cada parcela experimental constou de 30m², com área útil de 10m². As aplicações das caldas foram feitas a cada sete dias, iniciando-se após sete dias de emergência, com pulverizador costal, aplicando-se a calda na dose de 150 a 300 litros de calda por hectare plantado, observando a idade da planta e ajustando para o tamanho da parcela experimental. Os tratamentos utilizados foram suspensões fúngicas de entomopatógenos de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, inseticida a base de Endosulfan, querobão, extratos de fumo com álcool, de torta de mamona, óleo de nim comercial e um tratamento testemunha sem nenhuma aplicação. As suspensões de B. bassiana e de M. anisopliae foram preparadas com produto comercial, calculando-se, com base nas informações do fornecedor Itaforte (Boveril e Metarril), a quantidade de veículo para concentração de 10 8 conídios/ml; o inseticida foi utilizado na dosagem 2 l.ha -1 de Endosulfan 35 CE; o extrato de fumo com álcool foi preparado a partir da mistura de 200 gramas de fumo de rolo artesanal triturado com um litro de água e um litro de álcool, deixando-se em repouso por dois dias; o extrato de torta de mamona preparou-se colocando-se, em um recipiente fechado, 200 gramas de torta de mamona e um litro de água por três dias; o óleo de nim foi utilizado conforme concentração indicada pelo fabricante para a cultura, sendo a 1%; preparou-se o querobão com um litro de água, um litro de querosene e 200 mililitros de detergente. Foram inspecionadas 10 plantas aleatórias por parcela, observando a terça parte superior e um botão floral de cada planta a presença de bicudo-do-algodoeiro, curuquerê, mosca branca e pulgão como principais pragas, anotando-se a quantidade daquelas atacadas, em ficha própria. Não se observou ocorrência de lagarta-rosada e lagarta-das-maçãs no experimento. Os valores médios de percentual de plantas atacadas por bicudo-do-algodoeiro, curuquerê, mosca branca, pulgão e a produtividade média foram avaliados por análise de variância. Nas plantas atacadas por bicudo-do-algodoeiro as médias foram comparadas pelo teste F a 5% de probabilidade e fez-se uma distribuição de freqüência dos seus valores médios de ocorrência. Para as demais pragas foi realizado o teste de médias de Tukey a 5% de probabilidade. Os resultados médios obtidos também
foram comparados com a testemunha sem aplicação utilizando-se o teste de Dunnett a 5% de significância. Todas as análises foram realizadas pelo procedimento GLM do SAS (SAS INSTITUTE, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os percentuais médios de plantas atacadas por mosca branca durante o ciclo da cultura estão dispostos na Tabela 1. A mosca branca teve menor incidência no tratamento com inseticida, apesar de não apresentar diferença estatística com os demais tratamentos. Na aplicação de extrato de torta de mamona, obteve-se menor percentual de plantas atacadas por pulgão, único tratamento abaixo da média obtida pela aplicação do inseticida para esta variável. O extrato de fumo com álcool e o óleo de nim teve uma maior taxa de plantas infestadas, estando estes, juntamente com a aplicação de Beauveria bassiana, acima do nível médio obtido pela testemunha sem aplicação, mesmo que não haja diferença estatística entre as médias obtidas (Tab. 1). As médias de plantas atacadas pelo curuquerê do algodoeiro durante o experimento, na Tabela 1, teve-se uma média de 21,38% de plantas atacadas durante todo o ciclo. O tratamento com inseticida, para a variável curuquerê, obteve menor percentual de plantas atacadas, sendo estatisticamente igual à aplicação de Metarhizium anisopliae, querobão e extrato de torta de mamona pelo teste de Tukey, e diferente estatisticamente da testemunha sem aplicação pelo teste Dunnett, ambos a 5% de probabilidade. Os tratamentos com aplicação de B. bassiana, óleo de nim e fumo com álcool não foram tão eficientes, obtendo diferença estatística de suas médias em relação aos demais e sendo igual estatisticamente à testemunha. Na Tabela 2 está disposto a freqüência com que ocorreu o ataque de bicudo-do-algodoeiro na planta. Tal teste de freqüência foi o que atendeu aos valores obtidos de plantas atacadas devido à alta variância entre o percentual de plantas atacadas. O ataque de bicudo ocorreu com maior severidade, porém com menor freqüência na testemunha sem aplicação, observando-se que a maior freqüência das plantas atacadas pela praga concentrou-se a até 18,75% das plantas, sendo somente os tratamentos B. bassiana, extrato de fumo com álcool e testemunha com percentual acima desse valor. Porém, os tratamentos não diferiram significativamente pelo teste F a 5% de probabilidade. Tabela 1. Percentual médio de plantas atacadas por mosca branca, curuquerê e pulgão e a produtividade média em kg.ha -1 durante o experimento. Nova Porteirinha MG. Novembro de 2005 a Dezembro de 2006. Tratamento Mosca Branca ¹ ² Curuquerê ¹ ² Pulgão ¹ ² Produtividade ¹ ² Testemunha 14,93a 23,26 a 30,21a 1239.9a Metarhizium anisopliae 14,58a 19,10a b 29,86a 1273.9a Beauveria bassiana 12,15a 23,61a 33,33a 1238.2a Óleo de nim 11,11a 22,22a 31,25a 1450.7a Inseticida 8,33a 12,15* b 26,74a 1251.5a Fumo com álcool 14,93a 22,22a 31,25a 1302.3A Querobão 14,93a 20,49a b 29,17a 1200.3A Extrato de torta de mamona 10,07a 18,75a b 24,65a 1321.4A C.V. (%) 33,20 21,07 37,24 19,41 ¹ = Médias seguidas de mesma letra na linha, não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. ² = Médias que diferem da testemunha (p=0,05) no teste de médias de Dunnett. A produtividade média (Tab. 1), em quilograma por hectare do ciclo, mostra que, mesmo não diferindo estatisticamente nem pelo teste de Tukey nem pelo teste Dunnett ao nível de 5% de
significância, o resultado obtido no tratamento com óleo de nim comercial obteve maior produtividade, seguido do fumo com álcool e extrato de folha de mamona. O extrato de torta de mamona obteve boa produtividade, sendo o segundo mais produtivo na média. Com menor produtividade que o inseticida encontra-se a testemunha sem aplicação, B. bassiana e o querobão, obtendo médias de 1239,9; 1238,2 e 1200,3 kg.ha -1, respectivamente. Tabela 2. Distribuição de freqüência de ocorrência de plantas atacadas por bicudo-do-algodoeiro em relação ao tratamento utilizado durante o experimento. Nova Porteirinha MG. Novembro de 2005 a Dezembro de 2006. Percentual de plantas -6,2 --6,2 6,2 --18,7 18,7 --31,3 31,3 --43,8 43,8 --56,3 Total com bicudo Tratamentos Plantas atacadas pelo bicudo-do-algodoeiro Testemunha 3 0 0 0 1 4 Metarhizium anisopliae 3 1 0 0 0 4 Beauveria bassiana 2 1 1 0 0 4 Óleo de nim 3 1 0 0 0 4 Inseticida 2 2 0 0 0 4 Fumo com álcool 2 0 1 1 0 4 Querobão 0 4 0 0 0 4 Extrato de torta de mamona 2 2 0 0 0 4 Total 17 11 2 1 1 32 CONCLUSÕES O tratamento com inseticida teve uma menor incidência de plantas atacadas pelo curuquerê do algodoeiro, juntamente com M. anisopliae, querobão e extrato de torta de mamona. As plantas tiveram menor incidência de pulgão quando da aplicação de extrato de torta de mamona, embora fosse estatisticamente igual aos tratamentos aplicados..o extrato de torta de mamoneira obteve boa eficiência no controle das pragas avaliadas no presente trabalho, comparáveis ao inseticida (endosulfan) utilizado. Os tratamentos com a aplicação de extrato de torta de mamona e óleo de nim apresentaram as maiores produtividades. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO O presente trabalho contribui para o desenvolvimento de tecnologias ecologicamente corretas e economicamente viáveis no controle das principais pragas do algodoeiro no Norte de Minas Gerais, visando a sustentabilidade de pequenos produtores de agricultura familiar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, S. C. Comportamento de genótipos de algodoeiro sob pressão de bicudo (Anthonomus grandis Boheman). Janaúba: UNIMONTES, 2005. 36p. BARBOSA, S.; LUKEFAHR, M. J.; BRAGA SOBRINHO, R. O bicudo do algodoeiro no Brasil: ocorrência, distribuição geográfica e medidas de erradicação propostas. In: BARBOSA, S.; LUKEFAHR, M. J.; BRAGA SOBRINHO, R. O bicudo do algodoeiro. Brasília: EMBRAPA-DDT,1986. p. 7-30.
SÁ, T. R. N. de. Parasitóides de ovos de Alabama argillacea (Hüebner, 1818 Lepdoptera: Noctuidae) em algodoeiro do norte de Minas Gerais. Janaúba: UNIMONTES, 2006. 40 p. SANTOS, W. J. dos. Monitoramento e controle das pragas do algodoeiro. In CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. dos. Cultura do algodoeiro. Piracicaba: POTAFOS, 1999. p. 133-179. SAS INSTITUTE (Cary, Estados Unidos). SAS statistical analysis system: users' guide. Cary, 2000. 496 p. SILVA, C. A. D.; RAMALHO, F. S.; ALMEIDA, R. P. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1997. Folder