Relatório da Situação Atual da Seca no Semiárido Brasileiro e Impactos



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Transcrição:

Relatório da Situação Atual da Seca no Semiárido Brasileiro e Impactos Boletim Outubro / Novembro 2015 Equipe Técnica Ana Paula M. A. Cunha. Christopher A. C. Castro Eliana Andrade José Maria Costa Luís Marcelo de M. Zeri Magog A. Carvalho Sheila Barros Sumário Executivo O período entre 10 de agosto a 08 de novembro (últimos 90 dias) se caracterizou por acumulados DE CHUVAS inferiores a 30 mm em grande parte dos municípios localizados na área de atuação da SUDENE. Ainda que neste período sejam esperados índices pluviométricos mais baixos, nos últimos meses os acumulados foram abaixo da média. Regiões consideradas Muito Secas pela análise dos percentis de chuva se localizam na porção leste, nos Estados do Maranhão, sul da Bahia, norte dos Estados de Minas Gerais e Espirito Santo. A umidade do solo no nível de 10 cm de profundidade medida pela rede de sensores do CEMADEN/MCTI indica valores abaixo de 20%, o que pode representar valores críticos abaixo do ponto de murcha em muitas regiões, dependendo da textura do solo nas diferentes localidades. De acordo com a avaliação do risco agroclimático (balanço hídrico) para o período de 07 de novembro de 2014 a 07 de novembro de 2015, 115 municípios foram classificados com risco agroclimático MUITO ALTO e 190 com risco ALTO. A maior parte desses municípios está localizada nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e norte da Bahia. Considerando os impactos da seca em áreas de atividades agrícolas e/ou pastagens, de acordo com o índice VSWI para os meses de outubro e novembro, 910 municípios apresentaram pelo menos 50% de suas áreas impactadas pela seca, atingindo cerca de 1 milhão de estabelecimentos de agricultura familiar. A avaliação das condições climáticas de grande escala mostra que o fenômeno El Niño está presente, intenso e em franco desenvolvimento. Sob este condicionante, há chances mínimas de reverter, no trimestre Novembro-Dezembro-Janeiro/2015-2016, o quadro crítico apontado pelo indicador de risco agroclimático. Outra indicação decorrente deste cenário climático altamente provável, é que já se pode inferir que a próxima estação chuvosa do norte do Nordeste (FMAM) apresente condições de deficiência de precipitação. A previsão de médio prazo indica chances para ocorrência de um evento chuvoso no sul da Bahia a partir do dia 17 de novembro. Revisão do Texto Marcelo Enrique Seluchi Regina Célia S. Avalá Diagramação Claudinei de Camargo Boletim mensal Outubro / Novembro de 2015

1- Monitoramento das condições Hidrometeorologicas. Nas últimas décadas, a seca tem, cada vez mais, demandado a atenção de ambientalistas, ecologistas, hidrólogos, meteorologistas, agrônomos, entre outros. De maneira geral, a seca é um fenômeno natural caracterizado pela deficiência de precipitação durante um período prolongado de tempo, resultando na escassez de água para as atividades humanas. Este fenômeno natural e recorrente é considerado um desastre natural sempre que ocorre de forma intensa em locais densamente habitados, resultando em danos (materiais e humanos) e prejuízos (socioeconômicos). Dado o crescimento da demanda mundial por água, devido ao crescimento da população, e expansão dos setores agropecuário, de energia e industriais, esta é uma situação cada vez mais frequente. Desta maneira, a seca é considerada o desastre natural que pode causar as maiores perdas econômicas e sociais, com o maior número de pessoas afetadas. No Brasil, tal fenômeno é caracterizado pela sua grande abrangência espacial e ocorrência recorrente na região semiárida do Brasil, devido principalmente a sua vulnerabilidade hídrica. No semiárido é frequente a ocorrência de períodos secos durante a estação chuvosa (veranicos) que, dependendo da intensidade e duração, podem provocar danos significativos às culturas de subsistência (tipo de produção agrícola predominante no semiárido) e, consequentemente, afetar o agricultor familiar. De acordo com a Resolução Nº 13, de 22 de maio de 2014 do Ministério da Integração Nacional e posteriormente com o Decreto Presidencial Nº 8.472, de 22 de junho de 2015, o CEMADEN/MCTI tem a responsabilidade de prover informações para a identificação de municípios impactados pela seca. O principal objetivo dessa atividade é a de subsidiar ações emergenciais de mitigação dos impactos da seca. Nesse contexto, desde 2013, o CEMADEN compila dados hidrometeorológicos de diferentes fontes com a finalidade de prover base de dados para a avaliação e identificação de municípios impactados pela seca. Ressalta-se que as atividades do CEMADEN no tocante à seca estão concentradas na aplicação de tecnologias no monitoramento dos impactos da seca, bem como no desenvolvimento do sistema de alerta de riscos de colapso de safras para a agricultura familiar do Semiárido Brasileiro. 1.1 Dados Observacionais de Precipitação Rede Integrada Dados de chuva provenientes da integração de bancos de dados observacionais de precipitação da rede observacional do CEMADEN, com aqueles oriundos de diversas fontes (INPE, INMET, Centros Estaduais de Meteorologia), são apresentados. Os dados são interpolados em grade regular de 5 km de resolução espacial utilizando a técnica de kriging (Matheron, 1969). Posteriormente é calculada a média zonal para cada município. Para a avaliação da variabilidade das chuvas, nos últimos 30 e 90 dias, foram gerados acumulados de precipitação para o período de 09 de outubro a 08 de novembro e de 10 de agosto a 08 de novembro, respectivamente (Figura 1). A maior parte dos municípios localizados na área de atuação da SUDENE apresentou acumulados de precipitação inferior a 30 mm para ambos os períodos avaliados. Ressalta-se que a estação chuvosa na região recomeça no mês de novembro. Figura 1 - Acumulados de chuva (mm) nos últimos 30 e 90 dias.

1.1.1 Avaliação dos Percentis da chuva acumulada nos últimos 90 dias O percentil é usado como forma de classificar o status de cada município segundo o montante de precipitação recebido, conforme explicitado abaixo: Muito Seco (precipitação abaixo do percentil 15); Seco (precipitação entre os percentis 15 e 35); Normal (entre os percentis 35 e 65); Úmido (entre os percentis 65 e 85); Muito Úmido (acima do percentil 85) Figura 2 - Avaliação das condições de seca para os últimos 90 dias de acordo com o cálculo dos percentis dos dados de precipitação. Para o cálculo dos percentis foi utilizada uma base de dados de precipitação climatológica. Para a avaliação dos percentis dos últimos 90 dias utilizou-se o acumulado de chuva entre os dias 10 de agosto a 08 de novembro. Este acumulado foi determinado tanto para o período atual (ano de 2015), quanto para os períodos anteriores (climatológico). Os acumulados climatológicos são organizados de forma crescente e representa a totalidade da série, ou seja, 100% dos dados. Por exemplo, o percentil 15 é o valor de precipitação (climatológica) que separa 15% dos menores valores da série dos 85% restantes. Deste modo, se em um determinado período uma região foi classificada como Muito Seca, isto significa que o acumulado de chuva desta região foi classificado dentre os 15% menores valores da série. O padrão Seco inclui as regiões que apresentam precipitação no intervalo entre 15% e 35% dos valores mais baixos da série, e, assim, sucessivamente. Os valores climatológicos foram utilizados para o cálculo dos percentis. A comparação do período atual com o climatológico gerou a condição apresentada na Figura 2. Grande parte da Região Nordeste mantem a condição de Seca nos últimos 90 dias, e condição de Muito Seco na porção leste, nos Estados do Maranhão, sul da Bahia, norte dos Estados de Minas Gerais e Espirito Santo. Considerando o calendário de plantio para o Estado do Espírito Santo (Outubro-Novembro), tais resultados já indicam risco de queda na produção agrícola da região. Destaca-se ainda que a região norte do Estado de Minas Gerais vem enfrentando déficit de precipitação há 4 anos consecutivos, conforme descrito no relatório anterior (mês setembro).

1.2 Monitoramento da umidade do solo - Rede Observacional do CEMADEN O CEMADEN dispõe de uma rede de plataformas de coletas de dados (PCDs) em implementação na Região semiárida do Brasil para coleta de informações sobre o acumulado de chuvas, umidade do solo em vários níveis, temperatura do solo, radiação solar, entre outras variáveis agrometeorológicas. Na Figura 3 são mostradas as localizações das PCDs do tipo Acqua (medidas de chuva e umidade do solo) e Agro (diversas variáveis monitoradas), as quais foram instaladas em áreas caracterizadas por cultivos agrícolas de subsistência. A rede, que está em fase de finalização de instalação, contará com estações em todos os Estados que integram a delimitação oficial do semiárido. Instalações nos Estados do Piauí e Ceará estão ainda em processo de finalização. Ressalta-se também que, no âmbito desta rede, os equipamentos foram instalados em localidades que se caracterizam por apresentar clima semiárido, justificando o recorte que exclui as áreas costeiras e outras partes da região Nordeste do Brasil. Figura 3 - Estações do CEMADEN/MCTI instaladas na região NEB caracterizadas por clima semiárido. Azul: PCDs Acqua; vermelho: PCDs Agro. Figura 4 - Precipitação acumulada (mm) no período de 05 a 11/11/2015.

A fim de caracterizar a variabilidade da umidade do solo na região em um determinado dia (12/11/2015), calculou-se o acumulado de chuva na semana antecedente, o que pode ser visto na Figura 4. A região praticamente não teve precipitação registrada na semana de 5 a 11/11/2015, exceto próximo da divisa entre os Estados de Pernambuco e Paraíba. Figura 5 - Umidade do solo volumétrica (%) na profundidade de 10 cm. A umidade do solo, na profundidade de 10 cm, é mostrada na Figura 5. A escala de cores representa a quantidade volumétrica de água no solo, expressa pela razão entre o volume de água sobre o volume de solo. Essa quantia é multiplicada por 100 e descrita em percentagem. Diferentes tipos de solo retém mais ou menos quantidade de água, dependendo dos diferentes diâmetros das partículas que o compõem. Este produto de umidade do solo ainda está em fase de calibração e testes. Em breve serão disponibilizadas informações das suas variabilidades em escalas sazonal e local, levando-se em conta texturas e outras características do solo. Em conformidade com o apresentado na Figura 5, a região sul do semiárido apresenta os maiores valores de umidade do solo, os quais refletem acumulados de chuva em semanas anteriores e taxas de evaporação, não mostradas nesse boletim. O status atual da umidade do solo em 10 cm está abaixo de 20%, o que em muitas regiões é menor do que o ponto de murcha permanente, quando a água remanescente no solo não é mais extraída pelas raízes das plantas.

1.3 Risco Agroclimático: Modelo de Balanço Hidrico Figura 6 - Risco agroclimático para o período de 07/11/2014 a 07/11/2015. O risco agroclimático é estimado a partir do Número de dias com déficit hídrico nos municípios (NDDH), o qual é calculado a partir do modelo de balanço hídrico (Souza et al., 2001; Rossato et al., 2005) desenvolvido pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE). No modelo, o armazenamento de água no solo é calculado combinando a informação meteorológica com as informações de solo em um ambiente georeferenciado. O NDDH é calculado para o trimestre mais chuvoso, sendo computado o dia em que o armazenamento de água no solo é menor do que um valor crítico. De modo geral, quando as chuvas no trimestre chuvoso são bem distribuídas e suficientes, o número de dias com déficit tende a ser pequeno, e o contrário ocorre quando as chuvas são escassas ou mal distribuídas no tempo (veranicos), em que o número de dias com déficit é maior. O NDDH, que está relacionado com a disponibilidade de água no solo, é um fator chave para a identificação de áreas sob condições de seca agrícola. Para o período de 07 de novembro de 2014 a 07 de novembro de 2015, 115 municípios foram classificados como de risco MUITO ALTO (mais que 75 dias com déficit hídrico) e 190 municípios como de risco ALTO (entre 60 a 75 dias com déficit hídrico). A maior parte desses municípios está localizada nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e norte da Bahia (Figura 6). 1.4 Sensoriamento Remoto: Índice de suprimento de água para a vegetação (VSWI) O índice VSWI é derivado de dados de NDVI e temperatura do dossel, oriundos do sensor MODIS a bordo dos satélites AQUA e TERRA resolução de 1 km (composição feita para fins de obtenção de dados com maior resolução temporal). A relação temperatura do dossel - NDVI tem sido utilizada em grandes centros de monitoramento de secas em diversos países, tais como Estados Unidos (NOAA) e China. O índice indica condição de seca quando o valor do NDVI (índice de vegetação) é baixo (o que indica baixa atividade fotossintética) e a temperatura da vegetação é alta (indicando estresse hídrico). Portanto, o índice é inversamente proporcional ao conteúdo de umidade do solo e fornece uma indicação indireta do suprimento de água para a vegetação (Cunha et al., 2015). Os percentuais de anomalias de VSWI (diferença entre o valor médio de VSWI nos últimos 13 anos e o valor de VSWI) são calculados por município. Anomalias positivas indicam que o índice em determinado período é maior do que a média (tons de vermelho), caracterizando condição de seca e vice-versa (anomalias negativas: tons em azul). As anomalias são calculadas apenas para áreas de atividades agrícolas e/ou pastagens.

Com relação à situação atual (outubro-novembro), a Figura 7 apresenta a intensidade das áreas impactadas pela seca (tons de marrom escuro estão associados a impactos mais intensos). A Figura 8 apresenta a extensão (área impactada) dos impactos da seca por município. De acordo com o índice VSWI, considerando os impactos da seca em áreas de atividades agrícolas e/ou pastagens, 910 municípios apresentaram pelo menos 50% de suas áreas impactadas pela seca. As áreas impactadas pelas condições de seca atuais totalizam aproximadamente 50,5 milhões de hectares, atingindo cerca de 1 milhão de estabelecimentos de agricultura familiar. O Estado da Bahia e a parte norte de Minas Gerais são os que apresentam a maior área impactada (cerca de 11 milhões de hectares cada). Situação dos Impactos da Seca em área de atividades agrícola/pastagens no mês de outubro/novembro de 2015 de acordo com o índice VSWI i) Intensidade ii) Extensão Figura 7 - Percentual de anomalia de VSWI para o mês de outubro de 2015 Figura 8 - Porcentagem do município impactado pela seca (impacto em áreas de pastagens e agrícolas) nos meses de outubro a novembro de 2015 de acordo com o índice VSWI.

UF Número de Municípios com mais de 50% de área impactada Área Impactada (ha) Número de Estabelecimentos de Agricultura Familiar Impactados BA 120 11.529.204,36 223.957 CE 89 4.471.824,62 145.87 PI 119 8.112.682,88 108.911 PB 120 2.306.602,34 76.776 AL 52 1.133.574,04 75.844 RN 97 2.153.088,95 45.946 MA 51 3.855.182,54 38.954 SE 22 708.523,60 30.381 ES 13 749.132,17 13.036 PE 115 3.927.348,45 182.532 MG 112 11.540.380,87 102.074 Tabela 1. Avaliação da Extensão dos Impactos da seca. 2. PREVISÃO CLIMÁTICA SAZONAL Os mais recentes indicadores atmosféricos e oceânicos mostram que o atual episódio de El Niño continua em franco desenvolvimento. O Indicador ONI (Oceanic Niño Index) do - Climate Prediction Center, da NOAA, mostra que que este episódio atua desde o trimestre FMA e vem se fortalecendo desde então. A previsão por consenso do IRI-CPC (International Research Institute e Climate Prediction Center, ambos dos EUA) estima uma chance superior a 99% de que este episódio perdure até dezembro, e chance de 90% de duração até abril-maio. Portanto, as quadras chuvosas do semiárido serão influenciadas pelo fenômeno El Niño. Figura 9. Previsão climática sazonal para NDJ/2015-16. Previsão expressa em termos de desvios das probabilidades climatológicas (33/33/33) A previsão climática sazonal do MCTI para o trimestre NDJ/2015-2016 prevê chuvas abaixo da média climatológica no extremo Norte e Nordeste do País. De acordo com a indicação das áreas (Figura 9), todo o semiárido poderá potencialmente ser afetado. Vale ressaltar que mesmo em anos de forte El Niño, como é o caso do presente episódio, pode ocorrer chuvas esporádicas e irregulares em sua distribuição espacial; porém, em geral, os totais acumulados não superam a média climatológica.

Climatologicamente, o quadrimestre novembro a fevereiro corresponde ao período chuvoso dos setores sul, central e noroeste do Estado da Bahia, além do extremo sul do Estado do Piauí. Dado que estes Estados apresentam atualmente um quadro de déficit hídrico, o cenário climático atual indica que, nos próximos quatro meses, há chances mínimas de reverter o quadro crítico que o indicador de risco agroclimático mostra para alguns dos 120 municípios da Bahia, com mais de 50% de área impactada pelo déficit hídrico. 3. Tendências na escala de tempo subsazonal 3.1 Oscilações sub-sazonais Nesta época do ano (novembro a janeiro) a Oscilação de Madden-Julian (OMJ) pode estar associada a eventos de precipitação no semi-árido. Porém, após um período de grande atividade (final de junho e julho) a OMJ enfraqueceu, prevalecendo atualmente atividade de mais baixa frequência associada ao atual episódio de El Niño, i.e., chuva acima da média no Pacífico Central-Leste. As previsões não indicam que a OMJ nas próximas 2 semanas. Dadas estas condições, a OMJ não deve ter um papel relevante em acentuar ou amenizar condições de chuva no NE do Brasil, especificamente a Bahia, que deve iniciar o seu período chuvoso (NDJF) nos próximos três meses (NDJ). 3.2 Previsão por conjuntos para os próximos 10 dias A previsão por conjuntos do modelo Eta- CPTEC/INPE indica chances de chuvas que podem atingir até 100 mm nos próximos 10 dias, no semiarido de MG e ES, resultantes da atuação de sistema frontal. Figura 10 - Previsão de precipitação acumulada (mm) nos próximos 10 dias emitida pelo do modelo numérico ETA/CPTEC/INPE. Esta previsão é resultado da média de um conjunto de 7 membros (7 previsões semelhantes em que a cada previsão é iniciada com o estado da atmosfera ligeiramente diferente). 3.3 Projeção para a segunda semana 24 de novembro a 01 de dezembro As previsões para a segunda semana indicam que, após a chuvas devidas aos sistema frontal atuando no semiárido de MG e ES, as condições atmosféricas favoráveis a ocorrência de precipitação tendem a se esvanecer. Desta forma caracteriza-se um período desfavorável para a ocorrência de chuvas no semiárido.

Figura 11 (Esq.) Previsão de anomalia de precipitação no período 24 a 30 de novembro de 2015, pelo modelo de previsão por conjuntos do NCEP/NOAA. (Dir.) Previsão de anomalia de precipitação no período 25 de novembro a 01 de dezembro de 2015, pelo modelo de previsão por conjuntos do CPTEC/INPE. 3.4 Verificação da previsão por conjuntos do Eta/CPTEC/INPE A verificação da previsão emitida em 31 de outubro de 2015 (00 UTC) mostra que houve superestimativa de chuva na maioria das regiões em que o modelo previu chuvas intensas (> 140 mm), ou seja, choveu menos do que foi previsto (Figura 12). Na região Sul do Brasil, o modelo não foi capaz de prever corretamente chuvas intensas que ocorreram no oeste do Estado do Rio Grande do Sul. Figura 2 - Previsão de precipitação acumulada (mm) nos próximos 10 dias emitida pelo do modelo numérico ETA/CPTEC/INPE. Esta previsão é resultado da média de um conjunto de 7 membros (7 previsões semelhantes em que a cada previsão é iniciada com o estado da atmosfera ligeiramente diferente). Figura 12 Esq.: Previsão de precipitação acumulada (mm) em 10 dias emitida pelo modelo numérico ETA/CPTEC/INPE em 31 de outubro de 2015. Dir.: Diferença entre a previsão de precipitação acumulada (mm) em 10 dias emitida pelo modelo numérico ETA/CPTEC/INPE em 09 de outubro de 2015 e a precipitação observada.

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