CASUÍSTICA DE HEMOGLOBINOPATIAS NA POPULAÇÃO DO HFF



Documentos relacionados
Diagnóstico de hemoglobinopatias pela triagem neonatal

CLINICA MÉDICA HEMATOLOGIA SANGUE

HEMOGRAMA ANEMIA FERROPRIVA. Hemoglobina. PDF created with pdffactory Pro trial version Ferro

ANEMIAS parte IV. Profª Carolina Garrido Zinn

AMH Hemolíticas ANEMIAS HEMOLÍTICAS

Síndromes talassêmicas: epidemiologia e diagnóstico. Sandra Regina Loggetto Mestre em Pediatria, área de Hematologia Pediátrica

Alterações congénitas da formação da hemoglobina:

Hemoglobinopatias. Dra. Débora Silva Carmo

ANEMIAS HEMOLÍTICAS. Hye,

Talassemias. Márcio Hori

Prevalência de hemoglobinopatias e talassemias em pacientes com anemia na cidade de São Carlos

TALASSEMIAS: UMA ANÁLISE AMPLA E CORRELAÇÕES CLÍNICAS

CITOLOGIA DA TALASSEMIA ALFA

ATLAS CITOLÓGICO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE CITOLOGIA CLÍNICA E LABORATORIAL DA ACADEMIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP

Mutações. Escola Secundária Quinta do Marquês. Disciplina: Biologia e Geologia Professor: António Gonçalves Ano letivo: 2013/2014

Este manual tem como objetivo fornecer informações aos pacientes e seus familiares a respeito do Traço Falcêmico

RESUMO EXPANDIDO - VIII Seminário de Pós-Graduação da UFG

Glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos)

Doença de Células Falciformes

Drepanocitose em Debate. Drepanocitose. Carlos Canhota

Diagnóstico Diferencial Das Anemias

CAPÍTULO 1 A DOENÇA DAS CÉLULAS FALCIFORMES

Anemia hipocrômica microcítica Diagnóstico diferencial

Profa. Dra. Claudia Regina Bonini Domingos Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas Departamento de Biologia Instituto de

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Proeritroblasto ou Proeritroblasto ou P o r n o or o m o l b a l st s o: E i r t i ro r b o l b a l st s o ou o Nor o m o l b ast s o:

Hemoglobinopatias Interpretação do teste de triagem neonatal

O alelo para a hemoglobina S (cadeia β ) é recessivo. Os indivíduos heterozigóticos (Hb A Hb S ), portadores, são resistentes à malária.

ANEMIAS. Profª Carolina Garrido Zinn

TÍTULO: DIFICULDADES PARA O DIAGNÓSTICO DA TALASSEMIA BETA INTERMEDIÁRIA EM RELAÇÃO A ANEMIA FERROPRIVA

Transplante de Medula Óssea em Talassemia Maior

UFABC Bacharelado em Ciência & Tecnologia

ANEMIAS CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

ANEMIAS parte III. Profª Carolina Garrido Zinn

Protocolo. Transplante de células-tronco hematopoiéticas nas hemoglobinopatias

ESTA PALESTRA NÃO PODERÁ SER REPRODUZIDA SEM A REFERÊNCIA DO AUTOR.

α + Talassemia(α Talassemia 2)

Anemias. Anabela Morais. Unidade de Hematologia Pediátrica HSM

Anemias hemolíticas: Hemoglobinopatias Enzimopatias Anomalias de membrana. Profa. Alessandra Barone Prof. Archangelo Fernandes

Hemoglobinopatia Anemia Falciforme e Talassemia

Interpretação do Hemograma

CAPÍTULO 12 BIOLOGIA SOCIAL DA DOENÇA FALCIFORME

Investigação em doenças mendelianas: o exemplo das Hemoglobinopatias e da Hemocromatose Hereditária

ANEMIAS OBSTETRÍCIA DIAGNÓSTICO

1 a - vermelho = sangue oxigenado azul = sangue desoxigenado

Sempre que os valores do eritrograma estão abaixo dos normais para o laboratório fala-se de ANEMIA.

As proteínas que compõem a membrana eritrocitária são estruturalmente classificadas em integrais ou transmembranárias e periféricas ou

HEMOGLOBINOPATIAS: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Fibrose Cística. Triagem Neonatal

O estudo laboratorial da série vermelha é composto de vários testes que serão comentados a seguir. Ele é chamado de eritrograma.

Epidemiologia das hemoglobinopatias: variabilidade genética da hemoglobina e de enzimas eritrocitárias no Bengo, Angola.

Hemoglobina. Uma mulher com Hb de 11,5 a vida toda pode ser considerada normal e não anêmica.

Hemoglobinopatias: Rastreio antenatal Armandina Miranda Drepanocitose em debate -Junho 2011

Considerações da AEQ no âmbito da Hematologia: Experiência PNAEQ

HEMORIO INSTITUTO ESTADUAL DE HEMATOLOGIA ARTHUR DE SIQUEIRA CAVALCANTI. Anemia Hemolítica Hereditária III (TALASSEMIA)

ESTUDO DE PREVALÊNCIA DE HEMOGLOBINOPATIAS NA CIDADE DE BOM JARDIM DE GOIÁS

TALASSEMIAS ALFA NA POPULAÇÃO EM DEMANDA DO LABORATÓRIO MONTE AZUL NA CIDADE DE MONTE AZUL-SP

Genética Monoibridismo e Alelos Múltiplos

Escolha o nível de contagem de plaquetas considerado seguro para a realização de uma cirurgia de grande porte:

CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA E PATOLÓGICA DA TALASSEMIA MENOR UM ESTUDO DE CASO

Normocítica, normocrómica VGM fl CHGM > 30 g/dl. Deficiências múltiplas. Falha medular (pósquimioterapia, por carcinoma,..

Descrição do esfregaço

Pa P t a ri r c i i c a i a M o M u o ra r Hemorio

Anemia: Conteúdo. Definições

Hematopoiese. Nem sempre a célula tronco hematopoiética esteve dentro do osso!!!

TESTE DO PEZINHO. Informações sobre as doenças pesquisadas no teste do pezinho:

Estudo de microcitose numa população jovem adulta assintomática

Orientação Genética no Traço Falciforme para Atenção Básica


Hemoglobinopatias e anemias em gestantes no Hospital Universitário de Campo Grande - MS

Questionário - Proficiência Clínica

PAULO CESAR NAOUM AC&T- 2013

Ferro (Fe): composição corporal - estruturas (citocromos, hemoglobina e mioglobina) Após absorção (mucosa ID) transferrina ferritina

PRINCÍPIOS DE GENÉTICA MÉDICA

Normal Hb Meia-vida eritrocitária Normal 16,7g% 120 dias A. hemolítica compensada 16,7 g% 20 dias A. hemolítica descompensada 10 g% 10 dias

Exames laboratoriais

PREVALÊNCIA DE TRAÇO FALCIFORME EM INDIVÍDUOS ASSINTOMÁTICOS DA CIDADE DE ARARAQUARA

Índice HEMATOLOGIA NA PRÁTICA CLÍNICA

ANEXO. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Para candidatos que desejam entrar na 4ª etapa do curso

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MEDICINA - BACHARELADO

LYA BUENO DE CARVALHO. Avaliação da expressão da talassemia do tipo beta no Brasil pela co-herança com defeitos de hemocromatose

Meu bebê tem Doença Falciforme O que fazer?

Outras anemias hemolíticas

CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALEIAS (IHS 2004)

Prof. Edilberto Antonio Souza de Oliveira - Ano: 2009 ANEMIA FALCIFORME

ANEXO. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Para candidatos que desejam entrar na 2ª etapa do curso

SÍNDROMES MIELODISPLÁSICAS. Hye, 2014

! Ministrador: Prof. Almir Feitosa!

Curso de Práticas Hematológicas EBH Fortaleza Anemias Hemolíticas. Paulo Augusto Achucarro Silveira HIAE

Transcrição:

CASUÍSTICA DE HEMOGLOBINOPATIAS NA POPULAÇÃO DO HFF Serviço Patologia Clínica 21 de Maio 2015 Elzara Aliyeva Sónia Faria

OBJECTIVO Efectuar um estudo casuístico das hemoglobinopatias na população da área de influência do HFF no período de 2008 a 2013

INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO HEMOGLOBINOPATIAS São as doenças hereditárias autossómicas recessivas monogénicas mais comuns, em todo o mundo. Causadas por alterações (mutações) na codificação e/ou sequências reguladoras dos genes da globina.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA Nº de nascimentos de crianças afectadas de uma hemoglobinopatia grave por 1000 nascimentos Fonte: OMS

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

INTRODUÇÃO FISIOLOGIA Estrutura: 2 pares de cadeias de globinas: - α globina - não α globina grupo heme (anel tetrapirrolico com um átomo de ferro) Genética: 2 clusters - α-like no cromossoma 16 - β-like no cromossoma 11

INTRODUÇÃO FISIOLOGIA

INTRODUÇÃO FISIOLOGIA Constituição das Hemoglobinas Hb Gower -1 ζ 2 ε 2 Hb Gower - 2 α 2 ε 2 Hb Portland ζ 2 γ 2 Hb fetal (HbF) α 2 γ 2 Hb A α 2 β 2 Hb A 2 α 2 δ 2

INTRODUÇÃO CLASSIFICAÇÃO HEMOGLOBINOPATIAS Alterações Qualitativas Síndromes Falciformes Hemoglobinas Instáveis Hemoglobinas c/alta afinidade pelo O2 Traço Falciforme Anemia Falciforme c/outras variantes Hereditária Adquirida/tóxica Variantes estruturais Carboxihemoglobinemia Hemoglobinas c/baixa afinidade pelo O2 Metahemoglobinemia Hereditária Adquirida/tóxica

INTRODUÇÃO CLASSIFICAÇÃO HEMOGLOBINOPATIAS Alterações Quantitativas Síndromes talassémicos Genética α-talassemias Adquirida α + -talassemia (-α/αα)(-α/-α) α 0 -talassemia (--/αα) Doença Hb H (-α/--) Hidropsia Hb Bart s (- -/--) β-talassemias Genética c/variantes β 0 -talassemia β + -talassemia δβ-talassemia HPFH

INTRODUÇÃO FISIOPATOLOGIA Síndromes falciformes Hb S/S (β6 Glu Val) Hb S/C (β6 Glu Lys) HbS/E (β26 Glu Lys) HbS/D punjab (β121 Glu Gln) HbS/O arab (β121 Glu Lys)

INTRODUÇÃO FISIOPATOLOGIA Beta -talassémias

INTRODUÇÃO FISIOPATOLOGIA Αlfa - talassémias

CLÍNICA DREPANOCITOSE Homozigotia Anemia hemolítica crónica Crises álgicas recorrentes Infecções bacterianas Hepatoesplenomegalia Esperança média de vida reduzida Heterozigotia Hematologicamente normais Crises em circunstancias especiais

CLÍNICA BETA TALASSÉMIA β-talassémia minor Assintomática. Anemia microcítica e hipocrómica ligeira. β-talassémia intermedia Anemia crónica com hipertrofia eritróide e eritropoiese extramedular, atraso de desenvolvimento, deformidades do esqueleto e da face, osteopénia e osteoporose, hepatoesplenomegália. Assintomáticos até apresentarem uma anemia ligeira na idade adulta. Sem necessidade de transfusões.

CLÍNICA BETA TALASSÉMIA β-talassémia major Anemia microcítica e hipocrómica grave, baixo crescimento ponderal, eritropoiese extramedular, deformações esqueléticas, hepatoesplenomegália, esperança média de vida sem tratamento é de cerca de 20 anos. Necessidade de transfusões.

CLÍNICA ALFA TALASSÉMIA (- α/αα): assintomática, índices eritrocitarios normais ou no limite inferior. Por vezes anemia hipocrómica muito ligeira. (- α/- α; αα/--; - -/αα): pouco significado clínico, excepto quando herdada em conjunto com outras hemoglobinopatias. Anemia microcítica e hipocrómica moderada.

CLÍNICA ALFA TALASSÉMIA (- - /- α): doença da HbH, anemia ligeira a moderada com marcada microcitose e hipocromia. Os doentes são particularmente sensíveis a processos hemolíticos, graves e súbitos, despoletados por doença infecciosa/ febre. (- - /- -): hidropsia fetal. Anemia grave, eritropoiese ineficaz, e extramedular, insuficiência cardíaca, organomegálias, edemas generalizados, morte fetal ou perinatal. Os riscos estendem-se à mãe: pré-eclâmpsia, hipertensão, toxemia, e hemorragias anteparto.

CLÍNICA OUTRAS HEMOGLOBINOPATIAS HPFH: clinicamente assintomática. HbC: em homozigotia é uma anemia hemolítica ligeira com esplenomegalia que frequentemente é assintomática mas, ocasionalmente resulta em icterícia e desconforto abdominal HbD: não apresenta nenhuma anormalidade clínica ou hematológica.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Hemograma + MSP VGM < 80 fl; HGM < 27 pg; Fe 2+ N Electroforese capilar ph alcalino A/S S/S A 2 Hb F N / C D E A 2 N/ HbF N A 2 N Hb F A 2 N/ HbF Teste de solubilidade HPLC Suspeita de δβ talassémia Hb S Portador β talassémia Suspeita de portador α talassémia (se HGM< 25pg Suspeita de α 0 ) HPFH

PORQUÊ UMA CASUÍSTICA DE HEMOGLOBINOPATIAS NO NOSSO HOSPITAL? O hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, abrange as áreas dos concelhos de Amadora e Sintra, que são conselhos muito populosos e com uma população imigrante significativa. Dos 552.971 habitantes, (55.297) 10% são imigrantes Do total de imigrantes 54% são oriundos de países africanos, nomeadamente PALOP; 24% do Brasil; e 7% da Europa do Leste.

PORQUÊ UMA CASUÍSTICA DE HEMOGLOBINOPATIAS NO NOSSO HOSPITAL? Sendo que a maioria dos imigrantes é de origem africana, a percentagem de melanodérmicos na nossa população é significativa. O que justifica a alta prevalência de drepanocitose no nosso hospital A beta talassemia é outra hemoglobinopatia com prevalência significativa na nossa população, uma vez que é frequente nos países mediterrâneos

MATERIAIS E MÉTODOS Avaliou-se o perfil electroforético de todos os doentes que realizaram electroforese das hemoglobinas entre 2008 e 2013, independente de sexo, raça e idade. As electroforeses foram realizadas usando o sistema Capillarys, método automatizado que utiliza o princípio da electroforese em solução livre (ph alcalino), usando amostras de sangue total colhidas em EDTA.

MATERIAIS E MÉTODOS Do total de utentes estudados (5480), foram excluídos: Perfil electroforético normal Anemia por défice de ferro De seguida seleccionou-se para cada utente, apenas o episódio de diagnóstico.

MATERIAIS E MÉTODOS Os utentes com perfil electroforético anormal foram separados em duas populações: Hemoglobinopatias confirmadas Suspeita de hemoglobinopatias

MATERIAIS E MÉTODOS Hemoglobinopatias confirmadas agrupadas em 3 populações: Doença de células falciformes, presença de hemoglobina S. Beta Talassemia, HbA2 >3.9% Outras hemoglobinopatias, presença de Hb C, C/S, D, beta/s, HPFH.

RESULTADOS Total das Electroforeses 4417 (81%) 1063 (19%) Com alteração do traçado Traçado normal

RESULTADOS Perfil eletroforético alterado 978 (92%) Confirmados Não Confirmados 85 (8%)

RESULTADOS Hemoglobinopatias confirmadas - 978 790 (81%) Doença das Células Falciformes B-Talassémia 40 (4%) 148 (15%) Outras Hemoglobinopatias

RESULTADOS Doença das Células Falciformes (790) 68 (9%) Heterozigóticos Homozigóticos 722 (91%)

RESULTADOS 147 (99%) β-talassémia - 148 Minor Major 1 (1%)

RESULTADOS 17,5% (5) 5% (2) Outras Hemoglobinopatias - 40 2,5% (1) 2,5% (1) 72,5% (29) Hb AC Hb CC Hb AD Hb Hope PHFH

RESULTADOS Suspeita de hemoglobinopatias -86 41% 59% Suspeita de Alfa-talassemia RN não seguidos no HFF

CONCLUSÃO A prevalência de drepanocitose na população estudada é largamente superior se comparada com outras hemoglobinopatias. Tal deve-se à elevada percentagem de melanodérmicos utentes deste Hospital. A β-talassemia minor é a segunda maior hemoglobinopatia identificada. Identificou-se 4% de outras hemoglobinopatias (C, D, Hope, beta/s, C/S, beta/ss e PHHF).

CONCLUSÃO Hemoglobinopatias - 978 HFF 2008-2013 A/S 722 73,8% Β Talassémia minor 147 15% S/S 68 7% A/C 29 3% A/D 7 0,7% Hope 2 0,2% Β Tal major 1 0,1% C/C 1 0,1% HPFH 1 0,1%

HFF INSA

OBRIGADA!