FAMILIARES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DIABETES MELLITUS: UM ESTUDO TEÓRICO Maihana Maíra Cruz Dantas Priscilla Cristhina Bezerra de Araújo Eulália Maria Chaves Maia Resumo: A Diabetes Mellitus (DM) é ocasionada pela falta de absorção da insulina, o que desencadeia um aumento da quantidade de glicose no sangue. Esta doença merece especial atenção, pois nas últimas décadas ocorreu um significativo aumento de sua incidência, o que fez com que a DM se configurasse como a quinta doença crônica com maior prevalência no mundo. Salienta-se que apesar da patologia supracitada acometer principalmente adultos, cada vez mais crianças e adolescentes tem sido diagnosticados com esta doença, o que tem se tornando um problema de saúde pública mundial. Assim, levando-se em consideração que crianças e adolescentes estão em um período do desenvolvimento que demanda cuidado e atenção especial, e que o diagnóstico de DM ocasiona mudanças não só na vida do paciente, como também a família, destaca-se a relevância de investigar aspectos relacionados à vivência do cuidar tendo como foco os familiares. Mediante o exposto, este trabalho tem como objetivo efetuar um estudo teórico relacionado ao cuidar em familiares de crianças e adolescentes com Diabetes Mellitus. Como resultado, constatou-se que os estudos pesquisados são em geral descritivos, tendo como foco os seguintes aspectos: importância da família na adesão ao tratamento; o impacto do diagnóstico dessa doença na vivência familiar; e, as estratégias de enfrentamento adotadas pelos pacientes e seus familiares. Espera-se que o presente trabalho venha a instigar propostas intervenções com vista a promover melhorias na saúde biopsicossocial dos cuidadores, bem como de crianças e adolescentes com DM. Palavras-Chaves: Diabetes Mellitus, Criança, Adolescente, Família
INTRODUÇÃO Nas últimas décadas tem sido vivenciada no Brasil e no mundo uma fase de transição demográfica e epidemiológica. A transição demográfica esta relacionada à diminuição das taxas de natalidade e fecundidade, acompanhada do aumento da expectativa de vida. Já a epidemiológica tem como fundamentos a urbanização cada vez mais freqüente, as mudanças culturais, dentre outros aspectos (Marcon, Radovanovic & Waidman, 2005; Oliveira & Sales, 2005; Malta, 2006). Tal contexto têm ocasionado um significativo aumento na incidência de doenças crônicas, proporcionando que estas representem 60% das doenças ocorrentes no mundo, havendo a previsão de que em 2020, 80% das doenças em desenvolvimento, tenham como origem problemas crônicos (Organização Mundial de Saúde, 2003). As doenças crônicas são caracterizadas, por não ter cura, ocasionarem incapacidade/deficiências residuais e terem como causa alterações patológicas que não podem ser revertidas. Assim dentre as mais recorrentes, destaca-se: as doenças cardiovasculares (cerebrovasculares, isquêmicas), as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e a diabetes (Organização Mundial de Saúde, 2005; Novais, Conceição, Domingos & Duque 2009). Considerando que o presente estudo tem como foco a Diabetes Mellitus (DM), faz-se premente descrever o panorama epidemiológico desta patologia. De acordo com dados da Federação Internacional de Diabetes, esta é uma doença que tem aumentado nas últimas décadas com proporções epidêmicas. Estima-se que no mundo 285 milhões de pessoas são acometidos por esta patologia, sendo o Brasil o quinto país a apresentar um maior número de casos (International Diabetes Federation [IDF], 2009). Destaca-se que a DM é uma doença decorrente da falta de absorção da insulina, que é ocasionada por dois fatores: o pâncreas não produzir insulina suficiente ou o corpo não utilizar de forma eficaz a insulina que produz. Estes fatores ocasionam o aumento da glicose no sangue, denominado, hiperglicemia (Organização Mundial de Saúde, 2006). A atual classificação do DM tem como base quatro principais classes clínicas: DM tipo1, DM tipo 2, outros tipos específicos de DM e DM gestacional. Neste estudo, serão abordadas a Diabetes tipo I e a Diabetes tipo II, visto que são os tipos que mais acometem crianças e adolescestes (Manna, 2007). A DM tipo 1, é também denominada, insulino-dependente ou diabetes juvenil. Esta é ocasionada pela destruição das células, que são responsáveis pela produção de insulina no pâncreas. A aplicação de insulina faz-se necessária neste tipo de patologia, devendo ser instituída assim que o diagnóstico estiver estabelecido. A doença pode afetar pessoas de qualquer idade, mas geralmente ocorre em crianças ou adultos jovens (IDF, 2009; Manna, 2007). A DM tipo 2 tem como característica principal a resistência à insulina e conseqüentemente a deficiência deste hormônio no organismo. O diagnóstico ocorre geralmente após os 40 anos de idade, entretanto, pode acontecer mais cedo, o que acontece com maior freqüência em populações com alta prevalência de diabetes. Constata-se que a cada dia mais crianças tem desenvolvido este tipo de patologia (IDF, 2009). A incidência da DM tipo 1 e 2, tem aumentado em muitos países. Estima-se que anualmente cerca de 76.000 crianças menores de 15 anos em todo o mundo
desenvolvem o tipo 1. Ressalta-se ainda que a crescente incidência de jovens com diabetes tipo 2 está tem se tornado um problema de saúde pública mundial (IDF, 2009). Dessa forma, apesar da maior incidência de DM ser em adultos e idosos, ressalta-se que tem crescido o número de crianças e adolescentes, acometidos por esta doença. Vale salientar, que neste estudo faz-se menção ao conceito de família como sendo o grupo primário de relacionamento entre seus membros, podendo esta ser constituída por laços biológicos, legais ou reais (Potter & Perry, 2004). REVISÃO DE LITERATURA Autores como Santos, et al. (2005), abordam que a vivência da Diabetes Mellitus afeta não só o portador desta patologia, como também o contexto familiar. Assim o paciente, acometido por esta condição crônica de saúde, tem como demanda mudanças no seu estilo de vida, a fim de possibilitar a obtenção de um bom controle metabólico. Estas mudanças, principalmente no tocante a alimentação, interferem na dinâmica da família, que precisa se adequar a situação vivenciada. (Nunes, Dupas & Ferreira, 2007) Tal fato fica evidenciado em um estudo realizado com mães de crianças com DM, que constatou que após o diagnóstico da doença, as mães mudaram seus hábitos alimentares, buscando seguir o regime alimentar e aprender a lidar com os incômodos físicos e socais ocasionados pela doença (Pilger & Abreu, 2007). Além das transformações já citadas, Góes, Vieira e Liberatore (2007), relatam ainda que o diagnóstico de diabetes em uma criança gera ansiedade na família, visto que esta é uma doença de progressão incerta e passível de complicações futuras. Brito e Sadala (2009), em um estudo realizado com familiares de adolescentes, aborda que o cuidar de adolescentes com DM ocasionou transformações na vida dos cuidadores, que apresentaram mudanças nas atividades diárias, mudando hábitos. Além disso, os familiares passaram a conviver com medo e a angústia de acontecerem complicações com seus filhos, fruto do agravo da doença. O aspecto econômico é também abordado, visto que os gastos com a alimentação especial, afetam o orçamento da família, que em alguns casos, sente dificuldade de atender a esta demanda, por falta de recursos financeiros. Observa-se assim, que pesquisas realizadas, em diferentes contextos, com crianças e adolescentes acometidos pela Diabetes Mellitus, retratam o impacto do diagnóstico desta patologia na vivência da família. Tendo como base as mudanças ocorridas, faz-se necessário que os familiares utilizem-se de estratégias, para lidarem com a situação de conviver com um portador de doença crônica, e com as implicações que acompanham esta experiência Santos et al. (2005), ressalta que inicialmente, os familiares tem reações de angústia e desespero, ocasionados pela sensação de pouco controle sobre o que acontece com suas vidas e com a vida de seu filhos. Conforme o progresso do tratamento surge reações de incerteza e descrença, acompanhados do uso de mecanismos de negação sofrimento, bem como reações de aceitação e otimismo. Segundo os autores, estas fases não estão necessariamente associadas à evolução da doença, abarcando aspectos psicológicos, emocionais, sociais, culturais, espirituais e afetivos. Assim os pais de crianças e adolescentes com DM, na tentativa de superar o sofrimento e dificuldades ocasionados pela doença, tendem a crer na expectativa de
avanços científicos que possibilitem a cura da doença, bem como em uma ajuda divina. Estes vivenciam sentimentos de ambivalência, de um lado angústia e sentimento de impotência frente a doença, e do outro, a intenção de cuidar e ajudar seu filho, sendo demandado a crença em perspectivas de um futuro melhor (Brito & Sadala, 2009). Desta forma, Leal, et al., (2009), abordam que o diagnóstico de DM ocasiona sentimentos tais como medo e preocupação nos demais membros da família e que esta tem um papel relevante no controle e na prevenção da diabetes, podendo ter influência negativa ou positiva. Mediante o que exposto, faz-se relevante destacar a família como sendo de fundamental importância para o equilíbrio emocional de seus membros, auxiliando no fortalecimento de vínculos e das redes de sociabilidade. Assim a forma que a família lida com a situação influência na aceitação ou negação, do paciente, no tocante a situação vivenciada (Almino, Queiroz & Jorge, 2009; Pliger & Abreu, 2007). CONCLUSÃO A Diabetes Mellitus tem alcançado proporções epidêmicas, havendo o aumento do índice de crianças e adolescente acometidos por estas. Assim, faz-se relevante investigar na literatura aspectos relacionados ao cuidar em familiares, pois ao abordar referências teóricas a respeito desta temática, se evidência a relevância de intervenções que tenham como foco não só a saúde biopsicossocial das crianças e adolescentes com DM, como também de seus familiares. Dessa forma, espera-se que o presente trabalho venha a instigar reflexões e possíveis intervenções, a serem desenvolvidas com os pacientes e suas famílias. Como referido, a família passa por transformações, sofrendo conseqüências da doença juntamente com o paciente, ademais, esta tem um relevante papel na adesão ao tratamento. Portanto, destaca-se a importância de estudos que tenham como foco esta temática, a fim de serem propostas melhorias a vivência dos familiares de crianças e adolescentes com DM. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMINO, Maria Auxiliadora Ferreira Brito; QUEIROZ, Maria Veraci Oliveira; JORGE, Maria Salete Bessa. Diabetes mellitus na adolescência: experiências e sentimentos dos adolescentes e das mães com a doença. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 43, n. 4, Dec. 2009. BRITO, Thaís Basso de; SADALA, Maria Lúcia Araújo. Diabetes mellitus juvenil: a experiência de familiares de adolescentes e pré-adolescentes. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, 2009. GOES, Anna Paula P.; VIEIRA, Maria Rita R.; LIBERATORE JUNIOR, Raphael Del Roio. Diabetes mellitus tipo 1 no contexto familiar e social. Rev. paul. pediatr., São Paulo, v. 25, n. 2, 2007.
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