A Sócio-Histórica na Educação Ambiental André Luis Marangoni 1 e Joaquim Maria Quintino Aires 2 Simone de F. S. Marangoni 3 1 Centro Universitário Senac - Av. Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 - Santo Amaro - Cep: 04696-000 - São Paulo - Brasil; andre.marangoni@bg-group.com; 2 IPAF Instituto de Psicologia Aplicado e Formação Av Almirante Reis, 106 3º F Cep: 1150-022 Lisboa Portugal; lisboa@ipaf.pt; 3 IPAF Instituto de Psicologia Aplicado e Formação Rua Pelotas, 299 Vila Mariana São Paulo Cep: 04012.000; simonemarangoni@ipaf.com.br Resumo Educação ambiental em sua construção histórica e com seus principais temas integrantes - meio ambiente, sustentabilidade, desenvolvimento sustentável é vista neste artigo por uma abordagem sócio-histórica. O presente artigo tem como objetivo explorar histórica e criticamente os interesses econômicos, políticos, sociais nos temas: meio ambiente, sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e educação ambiental e oferece uma análise da Educação Ambiental suportado no materialismo histórico e dialético para compreender o indivíduo e o meio ambiente para não dicotomizar as ações ambientais, econômicas, políticas e sociais. Palavras chave: Educação Ambiental; sustentabilidade; desenvolvimento sustentável; Sócio- Histórica; meio ambiente.
1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento das sociedades, no decorrer dos anos, aponta inúmeros benefícios para diversas áreas: telecomunicações, medicina, transporte, educação, porém o simples acompanhamento dos noticiários junto à imprensa e os constantes alertas da academia, através de diversas vozes, apontam uma necessária reflexão sobre as práticas econômicas e sociais que afetam o meio ambiente. A degradação do meio ambiente e do ecossistema são reflexos dessa evolução, descrita muitas vezes como em uma abordagem de desenvolvimento ou crescimento econômico, que segundo Jacobi (2005) eram, até recentemente, considerados sinônimos. No contexto do desenvolvimento e meio ambiente deve-se considerar a forma como sociedade vêm explorando os recursos do planeta que segundo Guimarães (2001 apud JACOBI 2005) caracteriza como uma crise de impacto ao planeta, o que configura o esgotamento de um estilo de desenvolvimento ecologicamente predador, socialmente perverso, politicamente injusto, culturalmente alienado e eticamente repulsivo (p. 235). Na construção de uma sociedade sustentável, surgem dificuldades e conflitos em variados aspectos como, meio ambiente, sociedade, economia, política e cultura e o tema Educação Ambiental envolve variáveis importantes como indivíduo, meio ambiente, cultura e conscientização, entre outras (JACOBI, 2003; LIMA, 2005). Nesse contexto a importância de práticas educacionais e responsabilidade e ética tornam-se relevantes no âmbito do meio ambiente e, portanto parte integrante na cultura e consciência do indivíduo que habita e habitará esse planeta. Para uma proposta de atuação nesses temas tem-se a busca de mudanças de crenças, valores, pressupostos, convicções, opiniões. Para que esse processo se efetive é determinante a ação educacional, corroborando com o foco desse artigo, que pretende lançar mais uma contribuição pela busca de novas abordagens para educação ambiental. 2. OBJETIVOS 2
O objetivo desse trabalho é, através de um panorama histórico, aprofundar os temas: educação ambiental, meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Promovendo um estudo dos processos em sua constituição social e histórica e não somente os objetos, buscando os diferentes estágios que o compõe. Ainda refletir o contexto social e histórico vivenciado pelos indivíduos e os conceitos subjacentes da sociedade e do meio ambiente e, lançar novas argumentações de acordo com a abordagem Sócio-Histórica para extensão do tema. 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. Meio Ambiente um breve histórico O surgimento do debate envolvendo os temas meio ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade inicia-se na década de 70, citando como um dos primeiros fóruns relevantes o Clube de Roma que foi uma associação livre de cientistas, empresários e políticos de diversos países que se reuniu em Roma, no princípio dessa década, para refletir, debater e formular propostas sobre os problemas do sistema global. (MCCORMICK, 1992 apud LIMA 2003) Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo (1972), foi um decisivo marco no debate sobre os problemas ambientais em nível internacional que pelas iniciativas das Nações Unidas promoveram a inserção do tema ameaça ao meio ambiente como conseqüência do crescimento econômico e o respectivo impacto da poluição industrial, trazendo para esse debate os países industrializados e em desenvolvimento (MALHEIROS et al., 2005; SORRENTINO et al., 2005). Nessa época os países em desenvolvimento ainda apontavam para prioridades focadas unicamente no crescimento econômico em detrimento ao meio ambiente, considerando atuação direta na pobreza que reverteriam em conseqüências positivas na qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente (MALHEIROS et al. 2005). Ainda na década de 1970, surge através de Ignacy Sachs o termo ecodesenvolvimento que tem como proposto um modelo de desenvolvimento multidimensional condizente com as relações econômicas, o bem-estar das sociedades, discutindo racionalmente a responsabilidade da utilização dos recursos 3
naturais. Discussão esta que acirra as críticas ao discurso desenvolvimentista da época com limites não só econômicos como também social, ambiental e éticocultural (LIMA, 2003; SORRENTINO, 2005). Nessa dinâmica de evolução, em 1987, o Relatório Bruntland, também conhecido como Nosso futuro comum, foi publicado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida na época pela primeira-ministra norueguesa Gro Bruntland. Esse relatório apresentava o conceito de desenvolvimento sustentável reorientando as necessárias relações entre economia, tecnologia, sociedade e política, reforçando uma nova postura ética em relação à preservação do meio ambiente, apontando para o desafio do desenvolvimento humano, tanto entre as novas gerações, quanto entre os integrantes da sociedade da época. (JACOBI, 2003; LIMA, 2003; MALHEIROS, 2005; SORRENTINO, 2005). Lima identifica em Leff (2001) essa caracterização ao afirmar que: antes que as estratégias de Ecodesenvolvimento conseguissem romper as barreiras da gestão setorializada de desenvolvimento... as próprias estratégias de resistência à mudança da ordem econômica foram dissolvendo o potencial crítico e transformador das práticas de Ecodesenvolvimento. Daí surge à busca de um conceito capaz de ecologizar a economia, eliminando a contradição entre crescimento econômico e preservação da natureza... Começa então naquele momento a cair em desuso o discurso do Ecodesenvolvimento, suplantado pelo discurso de Desenvolvimento Sustentável. (p. 102) Na esteira do debate crescimento econômico e meio ambiente, ocorre em 1992 a 2ª Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, denominada posteriormente de Rio 92, como destaques, além da intensa discussão sobre o desenvolvimento sustentável foram estabelecidos compromissos internacionais com a chancela de vários países, como a Declaração do Rio de Janeiro e a Agenda 21 Global (MALHEIROS et al. 2005; JACOBI; 2003). A Agenda 21 considerou que na relação desenvolvimento e o meio ambiente, desenhada para o século XXI, os modelos tradicionais de crescimento deviam ser reconsiderados para que a sociedade industrial tivesse novos referenciais suportados pelo desenvolvimento sustentável, destacando a pluralidade, diversidade, multiplicidade e heterogeneidade. Vale ressaltar que, apesar das críticas existentes 4
como confronto com o paradigma sociedade de risco, consumo desenfreado dos recursos naturais, o conceito de desenvolvimento sustentável apresenta um importante avanço, na medida em que garante o direito ao desenvolvimento, principalmente em países com níveis insatisfatórios de renda e riqueza, e o direito ao ambiente saudável das futuras gerações (JACOBI, 2003; DEGANI, 2003 apud QUELHAS 2006). No mais recente encontro mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, consagrado como Rio + 10, realizado em 2002 em Joanesburgo, os objetivos preconizados sobre desenvolvimento sustentável não foram aprofundados e praticamente não foram acordados novos passos nem no plano teórico, nem nas medidas práticas, apesar da oportunidade de ampliar as discussões a respeito do tema (JACOBI, 2005). No Brasil, a postura do governo nesse período era focada somente no crescimento econômico sem considerar os impactos ao meio ambiente e estava em desacordo com as propostas estabelecidas e defendidas na 1ª Conferência Mundial para o Meio Ambiente em Estocolmo (1972), no entanto com o passar dos anos busca pelo desenvolvimento sustentável vem se alterando e procura um alinhamento legal, político e educacional, sendo disseminado através de políticas públicas, como: Política Nacional de Meio Ambiente (1981), Constituição Brasileira (1988), Política Nacional de Recursos Hídricos (1997). A educação ambiental também tem sido impulsionada pela Política Nacional de Educação Ambiental (1999), Leis de Crime Ambientais (1999) e Estatuto da Cidade (2000), que tem em seus artigos a devida apropriação do tema (MALHEIROS et al., 2005; SORRENTINO et al., 2005). Vale ressaltar que o debate sobre meio ambiente, sustentabilidade e educação ambiental ganha constantemente contribuições que levam a demonstrar a dinâmica, riqueza e importância desses temas para a sociedade atual e futura. 3.2. Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável Ao trazer a luz da sociedade os temas como sustentabilidade e desenvolvimento sustentável não determinam que o consenso tenha sido alcançado como cita Silva (2006) sustentabilidade continua causando muitas controvérsias, principalmente 5
relativas ao consumo de recursos não renováveis que devem ser explorados em bases sustentáveis (p. 387). A sustentabilidade pode também ser fundamentada em sua construção, segundo Lima (2003), nas inconsistências de exploração de recursos em atendimento ao sistema produtor capitalista, intensamente conduzido ao longo dos anos 70 que além da recorrente exploração desenvolvimentista não atuou na perspectiva de gerenciar os resíduos ou impactos decorrentes do crescimento preconizado. Suportado por Lima (2003) a compreensão e articulação do tema sustentabilidade pode ser mais facilmente conduzido como um discurso, no sentido empregado por Michel Foucault no contexto da arqueologia e, sobretudo, da genealogia do saberpoder, pois segundo Foucault toda sociedade controla e seleciona o que pode ser dito numa certa época, quem pode dizer e em que circunstâncias, como meio de filtrar ou afastar os perigos e possíveis subversões que daí possa advir. (FOUCAULT, 2001, apud LIMA 2005, p. 100). Ainda por Foucault (2001 apud LIMA 2005) os discursos são entendidos como práticas geradoras de significados que se apóiam em regras históricas para estabelecer o que pode ser dito, num certo campo discursivo e num dado contexto histórico. Essa prática discursiva possível resulta de um complexo de relações com outras práticas discursivas e sociais. O discurso, portanto, relaciona-se simultaneamente, com suas regras de formação, com outros discursos e com as instituições sociais e o poder que elas expressam. (p. 100) A proposta da contribuição de Foucault é de reter a idéia de que todo discurso expressa uma vontade de poder que aspira e luta para ser reconhecido como a verdade sobre um determinado campo em um certo contexto histórico. (LIMA, 2005 p. 101) Pela necessidade de reconhecimento atual e no contexto histórico vivido, a noção de sustentabilidade encontra-se em um momento adequado para sua compreensão por reunir sob si posições teóricas e políticas contraditórias e até mesmo opostas (JACOBI, p. 238), todavia ao discutir sustentabilidade deve-se compreender que o tema em si traz uma limitação nas oportunidades de crescimento que devem ser discutidas com um conjunto de iniciativas determinadas pelos interlocutores e 6
participantes sociais, buscando através de práticas educativas levarem os variados setores ao diálogo construindo responsabilidades e valores éticos. A sustentabilidade como campo de construção comum conduz para o consenso às diversas concepções e grupos divergentes atenuando os conflitos que até então os dividiam (LIMA, 2003). Esse campo em sua formação genérica aproximou variados agentes capitalistas e socialistas, conservacionistas e ecologistas, antropocêntricos e biocêntricos, empresários e ambientalistas, ONGs, movimentos sociais e agências governamentais, promovendo o desenvolvimento sustentável que introduz a temática ambiental em fóruns político-econômicos nacionais e internacionais, conquistando um reconhecimento inédito na trajetória do ambientalismo até então (LIMA, 2003, p. 105). Para o desenvolvimento sustentável deve-se pensar em um equilíbrio entre avanços tecnológicos, pressões econômicas e o meio ambiente que deverá sustentar esse futuro, para tanto a preocupação com os recursos naturais deve alcançar padrões de transparência e ética (SILVA, 2006). O termo desenvolvimento sustentável em sua construção histórica passa pelo relatório Bruntland (1987) e como mencionado anteriormente traz para o debate em uma esfera que envolva economia, tecnologia, sociedade e política, suportado em um campo ético na preservação do meio ambiente, considerando o grande desafio desta nova etapa. Como uma versão mais elaborada do desenvolvimento sustentável, construída por cientistas sociais de países desenvolvidos como Suécia, a Holanda, a Alemanha, a Noruega e o Japão, surge a Modernização Ecológica que propõe um discurso coerente de crescimento econômico e proteção ambiental, e aceito internacionalmente entre países e corporações do ecocapitalismo. Resumidamente a Modernização Ecológica pode ser entendida como uma proposta de reestruturação da economia política do capitalismo que se esforça em demonstrar a compatibilidade entre crescimento econômico e proteção ambiental (LIMA, 2003, p. 105). A proposta de sustentabilidade determina o imperativo em definir limites às possibilidades de crescimento como premissa que proporcione um conjunto de iniciativas principalmente por meio de práticas educativas com participação de 7
variados interlocutores governo, indústria, terceiro setor, academia, sociedade que atendam e desenvolvam ativamente um processo de diálogo. Essa proposta torna-se real e relevante quando atinge um sentimento de co-responsabilidade e de constituição de valores éticos e transparentes. Sendo assim, o desenvolvimento sustentável como uma proposta concreta, algo como uma política / padrão multinacional tem de atingir as dimensões culturais, econômicas, educacionais, sociais, as relações de poder existentes e compreender os limites ambientais não como barreira e sim como padrões bem definidos e intrínsecos para evitar uma ação contínua predatória do meio ambiente (JACOBI, 2003; 2005; MALHEIROS et al. 2005). 3.3 Educação Ambiental - um pouco de história A educação ambiental tornou-se pauta de discussão de conferências mundiais, também a partir da 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo em 1972, em que essencialmente estabeleceu que a educação da população fosse primordial para disseminação das bases de opinião mais esclarecidas e se tornava necessário construir o sentimento de responsabilidade nos indivíduos na busca da proteção e melhoria do meio ambiente (PELICIONI, 2005). Na seqüência, o Encontro Internacional de Educação Ambiental em Belgrado, Iugoslávia em 1975, propôs orientações que foram inseridas no Programa Internacional de Educação Ambiental de Estocolmo, como a divulgação de uma nova ética global que proporcionasse a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e da dominação e exploração humana. (DIAS, 1992 apud PELICIONI, 2005, p. 588) Segundo o referido autor, em síntese, este encontro lançava a urgência de difundir um processo de mudança de comportamentos e de conscientização para o desenvolvimento e reforma nos sistemas educacionais vigentes, como o suporte de programas mundiais de educação ambiental. Esses preceitos também lançaram as bases para a I Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental realizada em 1977 em Tbilisi em que se iniciou um amplo processo em nível global orientado para criar as condições que formem uma nova consciência sobre o valor da natureza e para reorientar a 8
produção de conhecimento baseada nos métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade (JACOBI 2005, p. 190). Nesse sentido produziu-se um documento de 41 recomendações que sustentam as bases até os dias atuais. Neste documento propõe-se o conceito, os objetivos e os princípios da educação ambiental como estratégia de compreensão e condução da sustentabilidade ambiental e social do planeta (PELICIONI, 2005; SORRENTINO et al. 2005). Nesse evento recomendava-se a formatação de um processo contínuo e estruturado para a educação ambiental, atendendo os requisitos teóricos e práticos, buscando alcançar, em uma conceituação de ensino-aprendizagem, variados grupos profissionais e sociais com estratégias mais modernas e adequadas (PELICIONI, 2005). Na Rio 92, a educação ambiental foi tema presente em todas as propostas da Agenda 21, proporcionando as transformações sociais necessárias ao combate à pobreza, levando a população à obtenção de meios de subsistência sustentáveis que conduzam a reorientar uma sociedade humana (PELICIONI, 2005). No Brasil, em 1997, foram realizados eventos específicos de educação ambiental de relevante importância que geraram conteúdo para a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização para a Sustentação em Tessalônica, na Grécia, nesse mesmo ano. Entre as necessidades identificadas nessa conferência ficou caracterizado a melhor preparação dos professores e materiais didáticos e a necessidade de ações de educação ambiental baseadas nos conceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação e práticas interdisciplinares (JACOBI, 2003; PELICIONI, 2005). Pode-se perceber que os itens discutidos até esse momento salientam que o tema educação ambiental, além de ser composto por variáveis importantes e difíceis de serem transformadas pelos indivíduos e pela sociedade, tais como: sentimento de responsabilidade; a ética que proporcione a erradicação da pobreza e da fome; uma nova consciência sobre o valor da natureza; a identidade cultural; a diversidade; a importância das práticas interdisciplinares; a compreensão e construção de estratégias para a sustentabilidade ambiental, entre outros, não estão descolados das variáveis subjacentes ao próprio desenvolvimento da sociedade como um todo. 9
Nesse sentido necessita-se analisar e reavaliar as políticas econômicas, educacionais e públicas que acabam, muitas vezes, constituindo e reforçando a exploração desenfreada dos indivíduos e do meio ambiente que, num processo dialético, se traduz na dificuldade de conscientização e disseminação de opinião de uma sociedade desigual, oprimida e constituída da própria exploração. 4. CONCLUSÕES Educação Ambiental em uma abordagem sócio-histórica Pode-se ressaltar na discussão desse artigo que na construção de uma sociedade sustentável surgem dificuldades e conflitos inerentes a qualquer tema que envolva aspectos como meio ambiente, sociedade, economia, política e cultura e, o tema educação ambiental envolve além desses tópicos variáveis importantes como indivíduo, meio ambiente, cultura e conscientização, entre outras (JACOBI, 2003; LIMA, 2005). Como proposta se vê necessário novas atitudes e comportamentos que buscam a mudança de valores dos indivíduos, da sociedade, com a construção de um pensamento crítico, com estabelecimentos éticos, sustentáveis e políticos da educação ambiental, "situando o ambiente conceitual e político onde a educação ambiental pode buscar sua fundamentação enquanto projeto educativo que pretende transformar a sociedade e o indivíduo (CARVALHO, 2004 apud JACOBI, p. 244). Nesse contexto utilizando-se a abordagem Sócio-Histórica, com suporte de Morin, na educação ambiental crítica, o conhecimento para ser pertinente não deriva de saberes desunidos e compartimentalizados, mas da apreensão da realidade a partir de algumas categorias conceituais indissociáveis ao processo pedagógico (2002, apud JACOBI, 2005, p. 244). Dessa forma a educação ambiental deve fugir das armadilhas paradigmáticas como define Guimarães (2004 apud JACOBI, 2005) contribuindo para mudanças no quadro da crise sócio-ambiental recorrente. Com a construção desse novo formato Jacobi (2005) propõe um processo intelectual ativo com desenvolvimento do diálogo e interação para novas interpretações das informações, conceitos e significados, que tendem a se originar do aprendizado dos indivíduos. 10
Como refere os autores Carvalho, Leff, Sauvé e Gaudiano, um discurso ambiental dissociado das condições sócio-históricas pode ser alienante e levar a posições politicamente conservadoras, na medida em que mobiliza o que Carvalho denomina de um consenso dissimulado, em virtude da generalização e do esvaziamento do termo desenvolvimento sustentável, das diferenças ideológicas e os conflitos de interesses que se confrontam no ideário ambiental. (2003, apud JACOBI, p. 245) Nesse sentido a abordagem Sócio-Histórica propõe superar o reducionismo, ampliando o diálogo, contribuindo com os saberes, à participação, os valores éticos fortalecendo a complexa interação entre sociedade e natureza. O homem consciente que em suas ações no meio ambiente modifica-o e dialeticamente se transforma é capaz de repensar e criticar as políticas ambientais, econômicas e sociais, utilizando a ética para se perceber como agente construtor ou destruidor do meio ambiente. A Educação Ambiental suportada na abordagem Sócio-Histórica de Vygotsky permite pensar na sociedade, na economia, na cultura e no meio ambiente não dissociado e não reduzido às armadilhas paradigmáticas desse conceito, devido utilizar a dialética como método de análise dos fenômenos. No entanto esse trabalho além de árduo, por movimentar muitos interesses sociais, individuais, políticos e econômicos, deve ser intensificado para que a cultura do consumo desenfreado, do capitalismo massacrante que apenas usufrui o meio ambiente sem consciência crítica, possa ser repensado e transformado, assim como compreender que não só as políticas públicas são responsáveis pelo meio ambiente, mas os atos individuais também transformam e são transformados pela Educação. Nesse sentido pode-se pensar no meio ambiente individual e social, universal e individual ao mesmo tempo, sem dicotomizar as ações éticas, econômicas, políticas, sociais e individuais. Os indivíduos conscientes de que são participantes ativos no meio ambiente, com a contribuição da Educação Ambiental, seja como construtor ou destruidor são capazes de repensar as suas atividades e as atitudes em relação ao meio ambiente. 11
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