N o 35 Março 2015 Centro de Farmacovigilância da UNIFAL-MG Site: www2.unifal-mg.edu.br/cefal Email: cefal@unifal-mg.edu.br Tel: (35) 3299-1273 Equipe editorial: prof. Dr. Ricardo Rascado; profa. Drª. Luciene Marques; Bernadete Aparecida Rocha; Janderson Paceli Acrísio de Souza; Michele Sousa Neri. MIELOMA MÚLTIPLO: Novo Medicamento no tratamento contra o Câncer de Medula Óssea O mieloma múltiplo é uma doença que afeta a medula óssea e se caracteriza pelo aumento do plasmócito, um tipo de célula que produz imunoglobulina, proteína que participa de nosso sistema de defesa. Esta doença tem maior incidência em pessoas idosas, em geral, maiores de 65 anos, sendo mais rara em indivíduos com menos de 35 anos. Grandes avanços no tratamento desta enfermidade ocorreram desde a introdução do primeiro tratamento com melfalano e prednisona, ainda na década de 60. O mieloma múltiplo representa 1% de todos os tipos de câncer, sendo o segundo mais comum entre os hematológicos, ficando atrás dos linfomas não-hodgkin, em adultos. TIPOS DE MIELOMA MÚLTIPLO O mieloma múltiplo pode ser classificado de acordo com o tipo de proteína M produzida, sendo o tipo IgG o mais comum, seguido pelo IgA e pelo de cadeias leves, quando somente uma porção do anticorpo é secretada. No caso do mieloma de cadeias leves, a proteína M é mais frequentemente encontrada na urina do que no sangue. Em raros casos, o mieloma múltiplo pode ser não-secretor, ou seja, pode não apresentar proteína M pelos métodos de pesquisa convencionais. SINAIS E SINTOMAS No Brasil, atualmente, alguns estudos demonstram que ocorre demora no diagnóstico desta doença, o que faz com que os pacientes cheguem aos centros de referência com quadro clínico avançado, já tendo passado por consultas com vários especialistas. Por esta razão, é muito importante o conhecimento dos principais sinais e sintomas da doença por parte da população e dos profissionais de saúde, para que os casos suspeitos sejam encaminhados com maior agilidade para os cuidados do hematologista e/ou oncologista. 1
Diversos sintomas podem estar presentes ao diagnóstico, sendo os mais comuns: Aumento dos níveis de cálcio no sangue. Dores ósseas constantes na coluna, com irradiação para as pernas e região glútea, sem melhora com analgésicos. Fraturas ósseas espontâneas ou tumores ósseos (plasmocitomas). Mau funcionamento dos rins, podendo ser necessário, em alguns casos, tratamento com hemodiálise. Deficiência do sistema imunológico com infecções de repetição. Alguns pacientes descobrem ocasionalmente o mieloma ao realizarem exames laboratoriais de rotina, quando identificam o aumento de proteína M no sangue ou urina. DIAGNÓSTICO De acordo com os últimos consensos, são necessários três elementos para a comprovação do diagnóstico desta doença: Presença de proteína M. Infiltração da medula óssea por plasmócitos identificados através de aspirado ou biópsia de medula óssea ou biópsia de massa tumoral, com laudo de plasmocitoma. Evidências de dano aos órgãos afetados pelo mieloma múltiplo: anemia, lesões líticas na radiografia do esqueleto, insuficiência renal e hipercalcemia. TRATAMENTO Atualmente, não existe cura para a doença, mas existem várias terapêuticas que controlam a doença e são tratamentos que, quando há boa resposta, fazem a doença regredir e ficar parada. O tratamento do mieloma múltiplo escolhido pode variar dependendo do protocolo de tratamento adotado e de determinadas características apresentadas pelo paciente. A escolha e a dose administrada dependerão de alguns fatores, como fase da doença, idade e função renal do paciente. A quimioterapia utiliza medicamentos anticancerígenos para destruir as células tumorais, porém não atinge somente as células cancerígenas, mas as células sadias do organismo, por ser um tratamento sistêmico. Essa medicação pode ser administrada por via venosa e por via oral. A radioterapia também pode fazer parte do tratamento combinado com quimioterapia para tratar a medula óssea doente antes do transplante de células tronco hematopoiético alogênico (TCTH). Os corticosteróides são uma parte importante do tratamento do mieloma múltiplo e podem ser utilizados sozinhos 2
ou combinados com outras drogas, pois ajudam a diminuir sintomas, como náuseas e vômitos, causados pela quimioterapia. Os fármacos mais utilizados no tratamento do mieloma são Dexametasona e Prednisona. Agentes Imunomoduladores como a Talidomida que é uma droga que já foi usada como sedativo e atualmente está disponível no tratamento do mieloma múltiplo; a Lenalidomida que é um medicamento similar à Talidomida, que apresenta bons resultados para o mieloma múltiplo. Inibidores do Proteassoma são medicamentos que retardam os complexos enzimáticos (proteossomas) nas células quebrando proteínas importantes para manter a divisão celular sob controle. Eles parecem afetar células tumorais mais do que as células normais. O medicamento Bortezomib é administrado via intravenosa ou sob a pele, muitas vezes uma ou duas vezes por semana. O Carfilzomib é um novo inibidor do proteassoma para tratamento do mieloma múltiplo em pacientes que já foram tratados com Bortezomib e um agente imunomodulador. É administrado por via intravenosa, geralmente em um ciclo de quatro semanas. Os efeitos colaterais dependem do tipo de medicamento, da dose administrada e da duração do tratamento. Os efeitos colaterais comuns à maioria das drogas quimioterápicas podem incluir, por exemplo, perda de cabelo, inflamações na boca, perda de apetite, náuseas, vômitos, diminuição das taxas sanguíneas, infecções, hematomas ou hemorragias e fadiga. Estes efeitos colaterais, geralmente, são de curto prazo e reduzem com o término do tratamento. NOVO MEDICAMENTO NO TRATAMENTO DO MIELOMA MÚLTIPLO. A agência americana responsável pelo controle de medicamentos (FDA- Food and Drug Administration) aprovou o medicamento Farydak, uma nova classe de medicamento capaz de inibir o avanço do mieloma múltiplo, ou seja, destinado para o tratamento de pacientes com câncer de medula óssea. O novo medicamento funciona através da inibição da atividade de enzimas conhecidas como HDACs (histonedeacetulases). Todo o processo consiste em retardar a super produção das células plasmáticas em pacientes com mieloma múltiplo ou estimular a morte destas células perigosas. Farydak é o primeiro inibidor de HDAC aprovado para o tratamento do mieloma múltiplo. No entanto, o uso do Farydak é destinado e restrito apenas para pacientes que já se submeteram pelo menos em duas terapias 3
convencionais, incluindo Bortezomib e um agente imunomodulador. Farydak é para ser utilizado em combinação com Bortezomib, um tipo de quimioterapia, e Dexametasona, um medicamento antiinflamatório. "Farydak tem um novo mecanismo de ação que a distingue de drogas prévias aprovadas para o tratamento de mieloma múltiplo, tornando-se um agente candidato potencialmente atraente para o tratamento do mieloma múltiplo", disse Richard Pazdur, MD, diretor do escritório de Hematologia e Oncologia no centro do FDA para avaliação e pesquisa de drogas. A ação do novo medicamento já se demonstrou eficaz e com animadores resultados, uma vez que os pacientes que foram submetidos à combinação Farydak notaram um atraso de cerca de 10,6 meses na progressão da doença (sobrevida livre de progressão) em comparação com 5,8 meses em participantes submetidos ao tratamento convencional (Bortezomib e Dexametasona). Outra grande demonstração de sua eficiência foi no relato dos 59% dos participantes tratados com Farydak que notaram involução, encolhimento e desaparecimento do câncer após o tratamento, contra os 41% que receberam o tratamento convencional. Por outro lado, os efeitos colaterais mais comuns do medicamento são diarreia e problemas cardíacos. Devido a estes riscos, ele esta em processo de análise por órgãos de controle e regulamentação. Farydak tem demonstrado potencialmente razoável para ser substituto dos tratamentos convencionais de mieloma múltiplo e com finalidade de prever o benefício clínico aos pacientes. Portanto, a empresa fabricante esta realizando ensaios de confirmação para verificar e descrever o benefício clínico da Farydak. CONCLUSÃO Conclui-se que nos últimos anos o prognóstico dos doentes com mieloma múltiplo melhorou muito com o surgimento de novos medicamentos. Como geralmente não se conhece a causa da leucemia, o tratamento tem o objetivo de destruir as células leucêmicas, para que a medula óssea volte a produzir células normais, proporcionando redução nos sintomas e melhorias na qualidade de vida dos pacientes. 4
Referências bibliográficas Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia ABRALE. São Paulo. Disponível em: <http://www.abrale.org.br/uploads/files/ Mileoma%20multiplo%20Fase6%28201 2%29-pd.pdf>. Acesso em: 01/03/2015. U.S. Food and Drug Administration FDA. USA. EUA aprovam novo medicamento contra câncer de medula óssea. 2015. Disponível em: <http://www.fda.gov/newsevents/news room/pressannouncements/ucm435296. htm>. Acesso em: 05/03/2015. Instituto Oncoguia. EUA aprovam novo medicamento contra câncer de medula óssea. 2015. Disponível em: <http://www.oncoguia.org.br/conteudo/ eua-aprova-medicamento-contra-cancerde-medula-ossea/7175/7/>. Acesso em: 05/03/2015. Caso queira notificar reação adversa a algum medicamento, desvio de qualidade ou erro de medicação, acesse o portal do CEFAL (http://www.unifal-mg.edu.br/cefal) e preencha o formulário. https://www.facebook.com/cefal.unifal centrodefarmacovigilancia@gmail.com (35) 3299-1273 Instituto Oncoguia. Tratamento Quimioterápico do Mieloma Múltiplo. 2015. Disponível em: <http://www.oncoguia.org.br/conteudo/t ratamento-quimioterapico-do-mielomamultiplo/2003/397/>. Acesso em: 05/03/2015. Associação Portuguesa Contra Leucemia APCL. Mieloma Múltiplo. 2015. Disponível em: < http://www.apcl.pt/leucemia/outrasdoencas-hematologicas/mielomamultiplo>. Acesso em: 05/03/2015. 5