Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5)



Documentos relacionados
Escoliose Idiopática no Adolescente: Instrumentação Posterior

Fratura do Sacro no Adulto Jovem

Evaluation of Surgical Treatment of Fractures of Thoracolumbar Spine with Third-Generation Material for Internal fixation

Médico Neurocirurgia da Coluna

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

LESÃO DURAL NO CONTEXTO DE FRATURAS TORACO- LOMBARES TIPO BURST ASSOCIADAS A FRATURAS EM RAMO VERDE DAS LÂMINAS

ESTUDO RETROSPECTIVO DE CIRURGIAS DESCOMPRESSIVAS DA COLUNA TORACOLOMBAR REALIZADAS APÓS RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

Classificação das fraturas da coluna torácica e lombar Classification of thoracic and lumbar spine fractures

PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA DA SBOT-RJ ORTOCURSO SBOT-RJ/COLUNA CURSO PREPARATÓRIO PARA O TEOT 22 de Agosto de 2015 NOME:

PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA DA SBOT-RJ ORTOCURSO SBOT-RJ/COLUNA CURSO PREPARATÓRIO PARA O TEOT 22 de Agosto de 2015 NOME: HOSPITAL:

Diretrizes Assistenciais TRAUMA RAQUIMEDULAR

Alexandre José Reis Elias

Fraturas C1 / C2 Lucienne Dobgenski 2004

Escoliose: uso de órteses

TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR TRM. Prof. Fernando Ramos Gonçalves-Msc

Luxação da Articulação Acrômio Clavicular

TRAUMA RAQUIMEDULAR. Epidemiologia: Incidência : de 32 a 52 casos/m. Sexo : preferencialmente masculino. Faixa etária : entre 15 e 40 anos

LESÕES TRAUMÁTICAS DA COLUNA VERTEBRAL LESÃO MEDULAR (CHOQUE MEDULAR)

PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO DE PÓS-OPERATÓRIO INICIAL DE CIRURGIA LOMBAR

Coluna Vertebral: Cirurgia com Fixação Dinâmica Posterior

FRATURAS TORACO-LOMBARES POR OSTEOPOROSE VERTEBROPLASTIA. Simone Tortato

Colégio Brasileiro de Radiologia Critérios de Adequação do ACR TRAUMA DE COLUNA

Fraturas Proximal do Fêmur: Fraturas do Colo do Fêmur Fraturas Transtrocanterianas do Fêmur

Entorse do. 4 AtualizaDOR

Fixação monossegmentar das fraturas da coluna toracolombar

ESCOLIOSE. Prof. Ms. Marcelo Lima

29/08/2011. Radiologia Digital. Princípios Físicos da Imagem Digital 1. Mapeamento não-linear. Unidade de Aprendizagem Radiológica

Data: 01/02/2013. NTRR10/2013 Solicitante: Ilmo Dr Alyrio Ramos Desembargador da 8ª Câm. Cível - TJMG Numeração:

4 Segmentação Algoritmo proposto

Resumo Introdução As fraturas cervicais correspondem a um grande espectro de lesões. Em

Maria Fernanda Silber Caffaro

Fratura toracolombar tipo explosão: comparação do tratamento conservador em pacientes com e sem fratura do arco vertebral posterior *

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

Data: 23/12/2013. NTRR 261/2013 Solicitante: Drª. Juliana Mendes Pedrosa Juiza de Direito - Itambacuri Numeração:

CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS TÓRACO-LOMBARES BASEADA EM INVESTIGAÇÃO POR IMAGEM. Avaliação de 33 casos

Autoria: Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Associação Médica Brasileira e Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR).

Imagem da Semana: Radiografia e Ressonância Magnética (RM)

Cirurgia lombar falhada

Radiology: Volume 274: Number 2 February Amélia Estevão

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE. RESUMO Objetivo: o manejo das fraturas toracolombares

Fratura Osteoporótica da Coluna Vertebral: Tratamento por Métodos de Preenchimento Ósseo

Fratura toracolombar tipo explosão: resultados do tratamento conservador *

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE. RESUMO Introdução: a cifose pós-traumática é uma complicação do tratamento


LESÕES DA COLUNA VERTEBRAL NOS ESPORTES.

1. Da Comunicação de Segurança publicada pela Food and Drug Administration FDA.

É uma fratura comum que ocorre em pessoas de todas as idades. Anatomia. Clavícula

( ) CONSULTA EM CIRURGIA ORTOPEDICA

TRATAMENTO CONSERVATIVO E CIRÚRGICO DE HÉRNIA DE DISCO (TIPO I) TORACOLOMBAR GRAU V EM CÃO RELATO DE CASO

COLUNA/COLUMNA - VOLUME 4 (1) - JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO ARTIGO ORIGINAL

Tumores benignos da coluna cervical* EDISON L. DEZEN, OSMAR AVANZI, JOSÉ CARLOS A. SALOMÃO, WALDEMAR DE CARVALHO PINTO FILHO

Maria da Conceição M. Ribeiro

Título: Modelo Bioergonomia na Unidade de Correção Postural (Total Care - AMIL)

Nova metodologia para contrução das Diretrizes de Utilização AMB

MESA REDONDA CONVENCIONAL: UM ESPORTE, UM GESTO, UMA LESÃO

Avaliação do tratamento cirúrgico da fratura toracolombar com material de terceira geração *

A causa exata é determinada em apenas 12-15% dos pacientes extensamente investigados

OUTUBRO. um mes PARA RELEMBRAR A IMPORTANCIA DA. prevencao. COMPARTILHE ESSA IDEIA.

Tuberculose óssea na coluna vertebral: aspectos clínicos e cirúrgicos Vertebral tuberculosis of the spine: clinical aspects and surgery

Luxação simples do cotovelo associada a lesão ligamentar interna e externa

Estudo experimental do sequenciamento das manobras da ligamentotaxia na descompressão do canal vertebral

Avaliação Goniométrica no contexto do Exame Fisioterapêutico

ARTIGO ORIGINAL/ORIGINAL ARTICLE

PARECER CFM nº 14/15 INTERESSADO: Sr. Newton de Souza Carneiro Realização de exame de ressonância magnética Cons. Aldemir Humberto Soares

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

ANULOPLASTIA INTRADISCAL ELECTROTHERMAL THERAPY IDET

Urgências Ortopédicas em Clínica Pediátrica. Dr. Celso Rizzi Ortopedista Pediátrico do INTO

O que é câncer de mama?

FRATURA DA COLUNA TORACOLOMBAR TIPO EXPLOSÃO: CORRELAÇÃO ENTRE CIFOSE E RESULTADO CLÍNICO DO TRATAMENTO

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE. RESUMO Objetivos: avaliar os resultados obtidos em pacientes portadores

s.com.br Prof. Ms. José Góes Página 1

TÉCNICA EM RADIOLOGIA

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCHA EM CASOS DE FRATURAS DO MEMBRO INFERIOR.

Como escolher um método de imagem? - Dor abdominal. Aula Prá:ca Abdome 1

O SECRETÁRIO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. no uso de suas atribuições, RESOLVE:

RM MAMÁRIA: quando indicar?

Reabilitação em Dores Crônicas da Coluna Lombar. Michel Caron Instituto Dr. Ayrton Caron Porto Alegre - RS

Nota referente às unidades de dose registradas no prontuário eletrônico radiológico:

s.com.br Prof. Ms. José Góes Página 1

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

Manual Específico Unimed-Rio - TISS

Fixação transpedicular percutânea em fraturas toraco-lombares

PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA DA SBOT-RJ ORTOCURSO SBOT-RJ/COLUNA CURSO PREPARATÓRIO PARA O TEOT 22 de Agosto de 2015 NOME:

PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA ORTOCURSO COLUNA CURSO PREPARATÓRIO PARA O TEOT 27 de Agosto de 2016

Uso do parafuso transfacetário para estabilização da coluna cervical: nota técnica

ESCOLIOSE Lombar: Sintomas e dores nas costas

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

AOSPINE Latino América. Guia para Spine Centers -

Data: 13/11/2012. Medicamento Material Procedimento X Cobertura. Nota técnica 16/2012 Solicitante Juiz de Direito Dr.

fratura toracolombar do tipo explosão: correlação entre cifose e função após tratamento conservador

Colaboradores da Oceanair e Avianca. Prezado Cliente, Parabéns!

Lesões Traumáticas da Coluna Cervical (Cervical Alta C1 e C2, e Cervical Baixa C3 a C7)

12º Imagem da Semana: Ressonância Magnética de Coluna

Sistema de Navegação Aimnav

Lesões Traumáticas da Coluna Cervical (Cervical Alta C1 e C2, e Cervical Baixa C3 a C7)

TRAUMA RAQUIMEDULAR (TRM)

DIAGNÓSTICO DAS LOMBALGIAS. Luiza Helena Ribeiro Disciplina de Reumatologia UNIFESP- EPM

MAPEAMENTO ELETROANATOMICO NA ABLAÇÃO. Cristiane Miranda Hospital São Lucas - RJ

Tratamento conservador das fraturas da coluna toracolombar *

de nódulos axilares e sintomas como desconforto e dor, são importantes para o diagnóstico e conduta a serem tomados em cada caso. Há exames de imagem

Transcrição:

Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5) Autoria: Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Colégio Brasileiro de Radiologia Elaboração Final: 12 de novembro de 2007 Participantes: Canto FT, Néri OJ, Canto RST, Defino HLA, Façanha Filho FAM, Veiga JCE, Skaf AY O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. 1

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA: Realizada pesquisa no MEDLINE por meio da base de descritores MeSH (Medical Subject Heading), utilizando os descritores: lumbar spine, thoracic spine, thoracolumbar spine, fracture, neurological lesion, treatment, surgery, posterior surgery, anterior surgery, arthrodesis, anterior decompression, posterior decompression, spine fixation, magnetic resonance, tomography, radiography, functional outcome, clinical outcome. GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA: A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados). D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. OBJETIVO: Estabelecer orientação, com aplicabilidade para a realidade brasileira, em pontos controversos relacionados ao tratamento da fratura da coluna. CONFLITO DE INTERESSE: Nenhum conflito de interesse declarado. 2 Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5)

INTRODUÇÃO O tratamento das fraturas da coluna vertebral ainda é um tema bastante controverso na literatura médica. Os limites entre o tratamento conservador e o cirúrgico ainda não estão totalmente esclarecidos. Os avanços na instrumentação cirúrgica e a diminuição da morbidade do procedimento cirúrgico ajudaram a aumentar o arsenal terapêutico para os pacientes com fratura da coluna vertebral. A divisão da coluna torácica e lombar em três segmentos com as mesmas particularidades anatômicas - coluna torácica (T1-T9), coluna toracolombar (T10-L2) e coluna lombar (L3-L5) - é útil para padronizar e comparar os resultados das diferentes formas de tratamento. O tratamento conservador, quando indicado, deve sempre ser a primeira opção terapêutica, por outro lado, o tratamento cirúrgico, com redução aberta, fixação interna e artrodese do segmento fraturado possibilita a correção da deformidade, mobilização precoce, evitando a necessidade do uso de órteses e protegendo contra desalinhamento ou lesões neurológicas tardias 1,2 (C). Os critérios para a avaliação dos diferentes tratamentos realizados estão sendo baseados em parâmetros clínicos, radiológicos, funcionais, de qualidade de vida, de retorno ao trabalho, entre outros 3 (B). Esses critérios estão colaborando para tornar mais objetivos os resultados dos tratamentos para as lesões da coluna torácica e lombar. Outro dado importante, que foi revelado por trabalhos de seguimento pós-operatório, é que a evolução clínica-funcional e radiológica deve ser realizada no pós-operatório imediato e também com o mínimo de dois anos de pós-operatório, porque muitos resultados alcançados logo após a cirurgia não são mantidos ao final de pelo menos dois anos de evolução 4 (B). Aproximadamente 90% de todas as fraturas da coluna vertebral estão localizadas na junção toracolombar, sendo que as fraturas tipo compressão (explosão) perfazem 20% dessas lesões 5 (B). QUAL A MELHOR CLASSIFICAÇÃO PARA SER USADA NO TRATAMENTO DAS FRATURAS DA COLUNA TORÁCICA, TORACOLOMBAR E LOMBAR? Ainda não existe uma classificação universalmente aceita para o tratamento das fraturas da coluna torácica e lombar, que possa Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5) 3

facilitar o diálogo entre os envolvidos com o tratamento dos pacientes e a escolha da melhor opção terapêutica. A classificação de Denis é uma das mais usadas e tem como grande vantagem a sua simplicidade. As lesões da coluna são divididas em quatro formas: lesões por compressão, por explosão, fratura tipo cinto de segurança e fratura luxação 6 (C). Além de diferenciar as fraturas, essa classificação procura diferenciá-las em estáveis e instáveis, quando acontece a lesão de mais de duas colunas (de Denis). O uso dessa classificação na prática clínica não se mostrou eficaz para diferenciar todas as fraturas em estáveis ou instáveis 7 (B). A classificação de Magerl classifica as fraturas pelo seu mecanismo de lesão: fraturas por compressão - tipo A; distração - tipo B; e rotação - tipo C. A partir de um desses três grandes grupos, a fratura pode também ser subclassificada 8 (C). A classificação de Magerl é muito completa, mas, por ser muito extensa, não tem sido facilmente incorporada à prática clínica 7 (B). Podemos utilizar um escore de gravidade da lesão da coluna toracolombar, no sentido de facilitar a escolha entre tratamento conservador ou cirúrgico. Pelas características nos exames de imagem diferencia-se o mecanismo da lesão (compressão, translação-rotação e distração) e identifica-se a presença de lesão do complexo ligamentar posterior. Soma-se a esses pontos a presença ou não de algum déficit neurológico. Caso o paciente com fratura da coluna toracolombar apresente um escore 3, é sugerido o tratamento conservador. Se o escore da fratura for a 5, é sugerido o tratamento cirúrgico 9 (C). As fraturas com o escore de 4 podem ser tratadas tanto de forma conservadora como cirúrgica, dependendo da vivência e da opção do cirurgião. QUAL O PAPEL DA RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS FRATURAS DA COLUNA LOMBAR? A radiografia simples da coluna lombar é o primeiro exame a ser solicitado em caso de suspeita de lesões traumáticas da coluna lombar, visto que por meio dela pode-se detectar a grande maioria dessas lesões, exceto as lesões discoligamentares sem desalinhamento segmentar 10 (B). A Ressonância Magnética (RM) não é obrigatória para a realização do diagnóstico e planejamento do tratamento das fraturas da coluna torácica, toracolombar e lombar 11 (C). É importante para prever possíveis falhas do tratamento conservador 12 (B). A ressonância é o exame mais sensível para detectar lesões do complexo ligamentar posterior, na qual a ponderação em T2, com supressão de gordura, apresenta sensibilidade de 97% 13 (B). Sabe-se, ainda, que 30% das lesões ligamentares posteriores da coluna toracolombar podem não ser diagnosticadas com a radiografia simples e com a tomografia computadorizada 14 (B). A RM também é importante para pacientes que apresentam déficits neurológicos incompatíveis com a lesão óssea ou déficits neurológicos progressivos não explicados por outros exames de imagem 14 (B). Com relação à Tomografia Axial Computadorizada, os cortes, nos planos axial e sagital, devem ser solicitados, e sinais indiretos de lesão do complexo ligamentar posterior podem ser diagnosticados pela tomografia 14 (B). 4 Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5)

QUAIS AS FRATURAS DA COLUNA TORÁCICA, LOMBAR E TORACOLOMBAR QUE PODEM SER TRATADAS CONSERVADORAMENTE? As fraturas cujo mecanismo de lesão foi por compressão, sem lesão do complexo ligamentar posterior, sem cominuição da placa vertebral superior, e sem lesão neurológica podem ser tratadas conservadoramente 5 (B) 15 (A) 16 (C). Quando ocorre cominuição do corpo vertebral, as fraturas são classificadas como fraturas por explosão, que corresponde a 67% das fraturas da transição toracolombar 15 (A). Ainda não existe uma definição quanto à melhor forma de tratamento para esse tipo tão freqüente de fratura 3 (B). Há informação científica, na qual não há diferença nos resultados clínicos e funcionais do tratamento de fraturas por explosão da coluna toracolombar, quando comparamos o tratamento conservador (gesso ou colete) ao cirúrgico (artrodese anterior ou posterior, com instrumentação) 15 (A). Entretanto, existem dados que demonstram benefício maior do tratamento cirúrgico das fraturas por explosão da transição toracolombar, quando comparado ao conservador, com relação à avaliação clínica e funcional 17 (A). Estes últimos dados justificam o uso do tratamento cirúrgico, uma vez que a técnica utilizada (todos os pacientes tratados por fixação posterior curta) foi homogênea 15 (A), quando comparado ao estudo que não obteve diferença nos resultados 17 (A), no qual houve muita variação nas opções terapêuticas cirúrgicas (artrodese posterior longa com ganchos, artrodeses anteriores com enxerto de costela e de fíbula) utilizadas na comparação ao tratamento conservador 17 (A). QUAIS AS FRATURAS DA COLUNA TORÁCICA, TORACOLOMBAR E LOMBAR DEVEM SER TRATADAS CIRURGICAMENTE? As fraturas dos pacientes com lesão neurológica completa ou incompleta devem ser tratadas cirurgicamente 15,18,19 (A). As fraturas com lesão do complexo ligamentar posterior são potencialmente instáveis e também devem ser tratadas cirurgicamente 20 (A). A grande controvérsia permanece com relação ao tratamento cirúrgico ou conservador das fraturas por explosão e com relação aos sinais indiretos de instabilidade da fratura, ou seja, um acunhamento de mais de 50% da altura do corpo, um ângulo de cifose segmentar maior que 30, e um alinhamento sagital maior que 15 21,22 (A). O motivo da controvérsia é que o tratamento muito utilizado nas últimas décadas, com fixação posterior curta e enxerto ósseo transpedicular na vértebra fraturada, é ineficaz para manter a correção do alinhamento sagital no pós-operatório tardio 22 (A) 4 (B) 6 (C). EXISTE DIFERENÇA ENTRE A FIXAÇÃO ASSOCIADA À ARTRODESE, OU APENAS A FIXAÇÃO DAS FRATURAS POR EXPLOSÃO DA COLUNA LOMBAR? Considerando os fatores clínico-funcionais dos pacientes que apresentam fratura tipo explosão da coluna toracolombar, e que foram submetidos a tratamento cirúrgico, não há diferença entre aqueles submetidos à fixação curta do segmento fraturado com parafusos pediculares sem artrodese, e aqueles submetidos à mesma técnica de fixação posterior associada à artrodese com enxerto autólogo. Todos os implantes de pacientes submetidos apenas à fixação posterior devem ser retirados com um ano de pós-operatório, para evitar o risco de falha do im- Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5) 5

plante. Nos pacientes submetidos à fixação mais artrodese, o implante só deve ser retirado a pedido do paciente. Os pacientes submetidos à fixação da fratura sem artrodese apresentam maior mobilidade no segmento envolvido, menor perda sangüínea transoperatória e menor tempo cirúrgico 23 (A). EXISTE DIFERENÇA ENTRE A VIA COMBINADA, VIA ANTERIOR OU VIA POSTERIOR NAS FRATURAS POR EXPLOSÃO DA COLUNA TORACOLOMBAR E LOMBAR? Não existe diferença entre a via anterior, a via posterior e a via combinada com relação ao resultado clínico e funcional 18 (A) 24 (B). Em longo prazo, as cirurgias que possibilitam a restauração do corpo vertebral fraturado com enxerto ósseo ou cage garantem a manutenção da correção radiológica obtida no pós-operatório 24 (B). Entretanto, não existe correlação entre a avaliação radiográfica e a avaliação clínica-funcional 15,17 (A). Acredita-se que a via anterior é superior à via posterior para realizar a descompressão da medula vertebral 24 (B). Entretanto, há evidências também de que os resultados neurológicos pós-operatórios com a descompressão por via posterior ou anterior são semelhantes 25 (B). NAS FRATURAS POR EXPLOSÃO DA COLUNA LOMBAR, AINDA EXISTE INDICAÇÃO PARA A ARTRODESE POSTERIOR LONGA (DOIS NÍVEIS ACIMA E DOIS NÍVEIS ABAIXO)? A artrodese posterior longa da coluna vertebral é superior à artrodese posterior curta para manter os parâmetros radiográficos obtidos no pós-operatório 21 (A). Entretanto, a avaliação clínica e funcional dos pacientes submetidos à artrodese curta e à longa foi semelhante 21 (A). Em fraturas com alto grau de cominuição do corpo vertebral, o número de complicações com a via posterior curta isolada é alto. Nesses casos, associa-se uma via anterior ou se faz uma fixação posterior mais longa 21 (A) 25 (B). EXISTEM INDICAÇÕES PARA A VIA ANTERIOR NAS FRATURAS DA COLUNA TORÁCICA? As fraturas da coluna torácica podem ser tratadas apenas por via anterior, sendo as fraturas por explosão sem acometimento dos elementos posteriores da transição toracolombar a sua principal indicação. Porque, por meio de uma única cirurgia, realiza-se a descompressão do canal vertebral, restauram-se as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral e estabiliza-se a fratura 18 (A). As fraturas por explosão sem acometimento dos elementos posteriores e instáveis, ou seja, uma perda de mais de 50% da altura do corpo e mais que 30 de cifose da coluna torácica baixa podem ser tratadas apenas pela via anterior, visto que a nova geração de implantes proporciona estabilidade imediata 25 (B). Pode-se afirmar que acima da transição toracolombar, ou seja, de T1 a T9, as necessidades de uma cirurgia por via anterior são menores. Primeiro, as fraturas por explosão nessa região da coluna são mais raras, e as que requerem tratamento cirúrgico, muitas vezes, apresentam lesão dos elementos posteriores, sendo mais bem tratadas por fixação e artrodese posteriores 3 (B). Por fim, a incidência de lesões neurológicas completas em fraturas dessa região é alta, e ao se realizar a cirurgia apenas por via posterior pode-se descomprimir o canal vertebral, refazer o batente anterior por um acesso póstero-lateral e fixar a fratura, eliminando a morbidade de uma toracotomia nesses pacientes com lesão neurológica completa 26 (B). 6 Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5)

QUAIS OS FATORES PROGNÓSTICOS COM RELAÇÃO À RECUPERAÇÃO FUNCIONAL DOS PACIENTES COM FRATURA DA COLUNA LOMBAR? Considerando as lesões neurológicas relacionadas com as fraturas tipo explosão da coluna toracolombar e lombar, pode-se dizer que há forte associação entre o estreitamento do canal vertebral e o déficit neurológico dos pacientes. O estreitamento do canal vertebral detectado por meio da tomografia, no momento da avaliação secundária do paciente, está mais relacionado ao déficit neurológico do que à gravidade das lesões anatômicas dos elementos vertebrais envolvidos no trauma 27 (B). Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5) 7

REFERÊNCIAS 1. Akalm S, Kis M, Benli IT, Citak M, Mumcu EF, Tüzüner M. Results of the AO spinal internal fixator in the surgical treatment of thoracolumbar burst fractures. Eur Spine J 1994;3:102-6. 2. Mayer H, Schaaf D, Kudernatsch M. Use of internal fixator in injuries of the thoracic and lumbar spine. Chirurg 1992;63:944-9. 3. Defino HL, Canto FR. Low thoracic and lumbar burst fractures: radiographic and functional outcomes. Eur Spine J 2007;16:1934-43. 4. Knop C, Fabian HF, Bastian L, Blauth M. Late results of thoracolumbar fractures after posterior instrumentation and transpedicular bone grafting. Spine 2001;26:88-99. 5. Tropiano P, Huang RC, Louis CA, Poitout DG, Louis RP. Functional and radiographic outcome of thoracolumbar and lumbar burst fractures managed by closed orthopaedic reduction and casting. Spine 2003;28:2459-65. 6. Denis F. The three column spine and its significance in the classification of acute thoracolumbar spinal injuries. Spine 1983;8:817-31. 7. Wood KB, Khanna G, Vaccaro AR, Arnold PM, Harris MB, Mehbod AA. Assessment of two thoracolumbar fracture classification systems as used by multiple surgeons. J Bone Joint Surg Am 2005;87:1423-9. 8. Magerl F, Aebi M, Gertzbein SD, Harms J, Nazarian S. A comprehensive classification of thoracic and lumbar injuries. Eur Spine J 1994;3:184-201. 9. Vaccaro AR, Zeiller SC, Hulbert RJ, Anderson PA, Harris M, Hedlund R, et al. The thoracolumbar injury severity score: a proposed treatment algorithm. J Spinal Disord Tech 2005;18:209-15. 10. Alanay A, Yazici M, Acaroglu E, Turhan E, Cila A, Surat A. Course of nonsurgical management of burst fractures with intact posterior ligamentous complex: an MRI study. Spine 2004;29:2425-31. 11. Shen WJ, Shen YS. Nonsurgical treatment of three-column thoracolumbar junction burst fractures without neurologic deficit. Spine 1999;24:412-5. 12. Oner FC, van Gils AP, Faber JA, Dhert WJ, Verbout AJ. Some complications of common treatment schemes of thoracolumbar spine fractures can be predicted with magnetic resonance imaging: prospective study of 53 patients with 71 fractures. Spine 2002;27:629-36. 13. Lee HM, Kim HS, Kim DJ, Suk KS, Park JO, Kim NH. Reliability of magnetic resonance imaging in detecting posterior ligament complex injury in thoracolumbar spinal fractures. Spine 2000;25:2079-84. 14. Leferink VJ, Veldhuis EF, Zimmerman KW, ten Vergert EM, ten Duis HJ. Classificational problems in ligamentary 8 Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5)

distraction type vertebral fractures: 30% of all B-type fractures are initially unrecognised. Eur Spine J 2002; 11:246-50. 15. Wood K, Buttermann G, Mehbod A, Garvey T, Jhanjee R, Sechriest V, et al. Operative compared with nonoperative treatment of a thoracolumbar burst fracture without neurological deficit. A prospective, randomized study. J Bone Joint Surg Am 2003;85-A:773-81. 16. McAfee PC, Yuan HA, Fredrickson BE, Lubicky JP. The value of computed tomography in thoracolumbar fractures. An analysis of one hundred consecutive cases and a new classification. J Bone Joint Surg Am 1983;65:461-73. 17. Siebenga J, Leferink VJ, Segers MJ, Elzinga MJ, Bakker FC, Haarman HJ, et al. Treatment of traumatic thoracolumbar spine fractures: a multicenter prospective randomized study of operative versus nonsurgical treatment. Spine 2006;31:2881-90. 18. Wood KB, Bohn D, Mehbod A. Anterior versus posterior treatment of stable thoracolumbar burst fractures without neurologic deficit: a prospective, randomized study. J Spinal Disord Tech 2005;18(Suppl):S15-23. 19. Shen WJ, Liu TJ, Shen YS. Nonoperative treatment versus posterior fixation for thoracolumbar junction burst fractures without neurologic deficit. Spine 2001;26:1038-45. 20. Moon MS, Choi WT, Moon YW, Kim YS, Moon JL. Stabilization of fractured thoracic and lumbar spine with Cotrel- Dubousset instrument. J Orthop Surg (Hong Kong) 2003;11:59-66. 21. Tezeren G, Kuru I. Posterior fixation of thoracolumbar burst fracture: shortsegment pedicle fixation versus longsegment instrumentation. J Spinal Disord Tech 2005;18:485-8. 22. Alanay A, Acaroglu E, Yazici M, Aksoy C, Surat A. The effect of transpedicular intracorporeal grafting in the treatment of thoracolumbar burst fractures on canal remodeling. Eur Spine J 2001;10:512-6. 23. Wang ST, Ma HL, Liu CL, Yu WK, Chang MC, Chen TH. Is fusion necessary for surgically treated burst fractures of the thoracolumbar and lumbar spine? A prospective, randomized study. Spine 2006;31:2646-53. 24. Been HD, Bouma GJ. Comparison of two types of surgery for thoraco-lumbar burst fractures: combined anterior and posterior stabilization vs. posterior instrumentation only. Acta Neurochir (Wien) 1999; 141:349-57. 25. Korovessis P, Baikousis A, Zacharatos S, Petsinis G, Koureas G, Iliopoulos P. Combined anterior plus posterior stabilization versus posterior short-segment instrumentation and fusion for mid-lumbar (L2-L4) burst fractures. Spine 2006; 31:859-68. Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5) 9

26. Bridwell KH, Lewis SJ, Lenke LG, Baldus C, Blanke K. Pedicle subtraction osteotomy for the treatment of fixed sagittal imbalance. J Bone Joint Surg Am 2003;85-A:454-63. 27. Meves R, Avanzi O. Correlation among canal compromise, neurologic deficit, and injury severity in thoracolumbar burst fractures. Spine 2006;31:2137-41. 10 Lesões Traumáticas da Coluna Torácica (T1-T9), Toracolombar (T10-L2) e Lombar (L3-L5)