MOTIVOS DE NÃO ADESÃO ÀS PRÁTICAS SAUDÁVEIS DURANTE O CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL

Documentos relacionados
ISSN ÁREA TEMÁTICA:

IDENTIFICANDO E PREVENINDO A OCORRÊNCIA DE TRAUMA MAMILAR EM PUÉRPERAS ATENDIDAS NO PROJETO CPP

PALAVRAS-CHAVE ENFERMAGEM MATERNO-INFANTIL. PERÍODO PÓS- PARTO. PESQUISA EM ENFERMAGEM.

PROJETO DE EXTENSÃO CEPP: INDICE CONTRASTIVO ENTRE PARTO CESÁREA E PARTO NORMAL

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade B Apresentação de resultados de ações e/ou atividades

GRUPO DE GESTANTES: A PARTICIPAÇÃO ATIVA DAS MULHERES E O COMPARTILHAR DE CUIDADOS NO PRÉ-NATAL

CARATERIZAÇÃO DAS GESTANTES DE UMA UNIDADE DE SAÚDE DE PONTA GROSSA PR

NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE ALEITAMENTO MATERNO DE GESTANTES NO MUNICÍPIO DE APUCARANA PR

ISSN ÁREA TEMÁTICA:

I Workshop dos Programas de Pós-graduação em enfermagem

PALAVRAS-CHAVE Obstetrícia. Educação em saúde. Consulta de enfermagem.

PERFIL DAS MÃES DE RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS DO HOSPITAL MATERNO INFANTIL DA CIDADE DE APUCARANA

10º FÓRUM DE EXTENSÃO E CULTURA DA UEM

12º CONEX Resumo Expandido Comunicação oral

PERFIL OBSTÉTRICO DAS PUÉRPERAS ATENDIDAS PELO PROJETO CEPP

FATORES DE RISCO PARA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA EM PUÉRPERAS: PROJETO CEPP

PERCEPÇÃO E CONHECIMENTO DE PUÉRPERAS SOBRE A AMAMENTAÇÃO COM ENFOQUE NO DESMAME PRECOCE

FATORES DE RISCO PARA TRABALHO DE PARTO PREMATURO EM PALMAS-TO

INFLUÊNCIA DOS DESVIOS NUTRICIONAIS GESTACIONAIS NO PESO AO NASCER DE RECÉM-NASCIDOS ATENDIDOS PELA REDE PÚBLICA DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE PALMAS TO

CONHECIMENTO DE GESTANTES SOBRE O TEMA ALEITAMENTO MATERNO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE

COMUNICAÇÃO COORDENADA - ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL FAZENDO A DIFERENÇA NO CENÁRIO NACIONAL

PALAVRAS-CHAVE: Amamentação. Amamentação exclusiva. Enfermagem.

II SIEPS XX ENFERMAIO I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM ESTRATÉGIA EDUCATIVA COM GESTANTES SOBRE ALEITAMENTO MATERNO: RELATO DE EXPERIÊNCIA

HISTÓRICO DA AMAMENTAÇÃO EM PUÉRPERAS MULTIPARAS

PALAVRAS-CHAVE Enfermagem. Educação em Saúde. Período Pós-Parto

IDENTIFICANDO A OCORRÊNCIA DE TRAUMA MAMILAR EM MULHERES ATENDIDAS NO PROJETO CEPP

IDADE GESTACIONAL, ESTADO NUTRICIONAL E GANHO DE PESO DURANTE A GESTAÇÃO DE PARTURIENTES DO HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PELOTAS RS

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS PUÉRPERAS PARTICIPANTES EM UM PROJETO DE EXTENSÃO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM PRÉ-NATAL E PÓS-PARTO.

Atenção à saúde da mulher durante o pré-natal de risco habitual 13 Evelin de Araújo Pereira Audrey Vidal Pereira

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade B Apresentação de resultados de ações e/ou atividades

PALAVRAS-CHAVE: Cesárea, Parto normal, Período Pós Parto.

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ÀS PUÉRPERAS EM UNIDADES DE ATENÇÃO PRIMÁRIA

Melhoria da Atenção ao Pré-natal e Puerpério na ESF 09 - Vila Ester, em São Borja-RS

PALAVRAS-CHAVE Morte Fetal. Indicadores de Saúde. Assistência Perinatal. Epidemiologia.

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA

conhecidos pela comunidade científica e difundidos na sociedade, principalmente aqueles que

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE APOIO À EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EDITAL CURSO PARA GESTANTES NASCER FELIZ CAMPUS MOSSORÓ.

PERFIL GESTACIONAL DAS MULHERES ATENDIDAS NO PROJETO CEPP EM 2013

PALAVRAS-CHAVE Saúde Materno-Infantil. Enfermagem. Assistência.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE DISCIPLINA

ALEITAMENTO MATERNO DO PREMATURO EM UMA UNIDADE NEONATAL DA REGIÃO NORDESTE

O QUE REPRESENTA O ACOMPANHAMENTO DAS CONDICIONALIDADES DE SAÚDE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA PARA O SUS?

A IMPORTÂNCIA DA CONSULTA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO

O RELATO DE EXPERIENCIA DE UM CURSO DE GESTANTE EM UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA RS 1

A ENFERMAGEM E A ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À MULHER NO PARTO E NASCIMENTO NO ÂMBITO DO SUS. Profa. Dra. Emilia Saito Abril 2018

PROJETO CONSULTA PUERPERAL DE ENFERMAGEM FRENTE À DEPRESSÃO PÓS-PARTO

uma revisão integrativa The practice of breastfeeding and the factors that take to early weaning: an integrating review

RELATÓRIO DIVISÃO ADJUNTA DE ATENÇÃO À SAÚDE

CURSO DE GESTANTES E PARTO HUMANIZADO: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENFERMEIRO

UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO O PAPEL DO ENFERMEIRO NA PROMOÇÃO AO ALEITAMENTO MATERNO

POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA. Material de Base para Seminários PNASII

OS FATORES DE RISCOS PARA NÃO REALIZAÇÃO DO PARTO NORMAL

PALAVRAS CHAVE: Amamentação, desmame, dificuldades.

PERFIL OBSTÉTRICO DE PUÉRPERAS INTERNADAS NO ALOJAMENTO CONJUNTO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

PERFIL DAS GESTANTES ATENDIDAS EM UM HOSPITAL DE MÉDIO PORTE NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA/RS 1

Qualificação da Atenção ao Pré-Natal e Puerpério na UBS Naudar Vicente Konsen, Jari / RS

VIVÊNCIAS DA AMAMENTAÇÃO NUM GRUPO DE MÃES ADOLESCENTES. Ana Flores Goreti Pereira Isabel Teixeira

RELATÓRIO DIVISÃO ADJUNTA DE ATENÇÃO À SAÚDE

PROJETO CONSULTA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-NATAL : UMA AÇÃO EXTENSIONISTA (2012) 1

RELATÓRIO DIVISÃO ADJUNTA DE ATENÇÃO À SAÚDE

COMPORTAMENTO TEMPORAL DA MORTALIDADE NEONATAL PRECOCE EM SERGIPE DE : um estudo descritivo RESUMO

RELATÓRIO DIVISÃO ADJUNTA DE ATENÇÃO À SAÚDE

ENFERMAGEM. SAÚDE DA MULHER Assistência de Enfermagem ao Parto/Aborto. Parte 4. Profª. Lívia Bahia

RELATÓRIO DIVISÃO ADJUNTA DE ATENÇÃO À SAÚDE

RELATÓRIO DIVISÃO ADJUNTA DE ATENÇÃO À SAÚDE

TÍTULO: ENFERMAGEM OBSTETRICA X USO DE METODOS NAO FARMACOLOGICOS: INTERVENÇOES NO TRABALHO DE PARTO NORMAL

ANÁLISE TEMPORAL DOS PARTOS CESÁREOS NO MUNICÍPIO DE BEZERROS-PE ENTRE 1994 E 2014: IMPACTOS NA SAÚDE PÚBLICA

IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO E DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O CONTROLE DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO NO BRASIL

GEP NEWS, Maceió, V.2, n.2, p , abr./jun. 2018

Humanização do Parto. Prof.ª Leticia Pedroso

POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER

LÂMINAS SOBRE ALEITAMENTO MATERNO E A ODONTOLOGIA MATERIAL EDUCATIVO PARA PUÉRPERAS

5º Simposio de Ensino de Graduação

O PROCESSO DO ALEITAMENTO MATERNO EM RECÉM-NASCIDO DE BAIXO PESO

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES ATENDIDAS NOS ESF DO MUNICÍPIO DE SÃO LUDGERO NO ANO DE 2007

Perfil dos nascidos vivos de mães residentes na área programática 2.2 no Município do Rio de Janeiro

Programa Analítico de Disciplina EFG361 Enfermagem Materna

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE APOIO À EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - EDITAL 2018 CURSO PARA GESTANTES NASCER FELIZ CAMPUS MOSSORÓ.

IMPORTÂNCIA DA CONSULTA DE ENFERMAFGEM PARA PREVENÇÃO DA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA EM PUÉRPERAS

O papel da Atenção Básica no pré-natal, parto e puerpério. Departamento de Atenção Básica Ministério da Saúde

Visita domiciliar ao recém nascido: uma prática Interdisciplinar.

RODA MATERNAGEM: INFORMAÇÃO É PODER! EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO PERÍODO GRAVÍDICO PUERPERAL

Parto Normal. A importância de conhecer as vantagens.

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Mostra de Projetos 2011

LEI Nº , DE 25 DE MARÇO DE 2015

CONHECIMENTO E PRÁTICA DE NUTRIZES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE SOBRE O ALEITAMENTO MATERNO

ESCALA DE EXPOSITORES

Universidade Estadual de Maringá / Centro de Ciências da Saúde/Maringá, PR.

31º SEMINÁRIO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA REGIÃO SUL GRUPO EDUCATIVO COM PUÉRPERAS

Certificamos que AGNES RAQUEL DA SILVA CORREIA - Relator(a); FRANCISCA ALANA BEZERRA

Nº TITULO AUTORES MODALIDADE DATA APRESENTAÇÃO 1 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO À MULHER NO Marta de Oliveira Nascimento POSTER 24/03 M

PROGRAMA DE INCENTIVO AO ALEITAMENTO MATERNO. Hospital de Clínicas de porto Alegre

TÍTULO: FATORES BIOPSICOSSOCIOCULTURAIS ASSOCIADOS AO DESMAME ANTES DOS 24 MESES DE IDADE

REVISÃO INTEGRATIVA: A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA COMO UM DESAFIO PARA O PARTO HUMANIZADO

A Importância do Apoio do Pai do. adequado na Gravidez de Adolescentes

por apresentarem contração paradoxal do AP no primeiro atendimento fisioterapêutico; duas gestantes, por parto prematuro; duas, pela ocorrência

A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO ATÉ OS SEIS MESÊS DE IDADE PARA A PROMOÇAO DA SAÚDE DO BEBÊ

Transcrição:

MOTIVOS DE NÃO ADESÃO ÀS PRÁTICAS SAUDÁVEIS DURANTE O CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL Lia Gomes Lopes; Karine de Castro Bezerra; Purdenciana Ribeiro de Menezes; Dayana Maia Saboia; Camila Teixeira Moreira Vasconcelos Universidade Federal do Ceará. Email: lialopes31@gmail.com Universidade Federal do Ceará. Email: karineufc@gmail.com Universidade Federal do Ceará. Email: dencinharibeiro@gmail.com Universidade Federal do Ceará. Email: day_saboia@yahoo.com.br Universidade Federal do Ceará. Email: camilamoreiravasco@gmail.com Resumo do artigo: A prática de educação em saúde se constitui como peça fundamental para a promoção de cuidados e adoção de medidas para a prevenção de doenças, bem como enfatizar as orientações de práticas saudáveis que devem ser dadas durante as consultas de pré-natal. Faz-se necessário avaliar a contribuição de ações educativas no processo de aprendizado e na promoção da saúde, bem como na ampliação de conhecimentos adquiridos. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar os motivos que levaram mulheres que participaram de um grupo de gestantes a não desenvolverem práticas consideradas adequadas durante o ciclo gravídico-puerperal. Trata-se de um estudo do tipo caso-controle realizado no período de março a maio de 2016, junto a mulheres com pelo menos um filho vivo, participantes de um curso para gestantes ou que realizavam acompanhamento de puericultura em uma CPN. Do instrumento da pesquisa, foram captadas as variáveis de interesse para atender aos objetivos do presente estudo, cujos dados foram: os aspectos sociodemográficos e econômicos; via de parto; amamentação e revisão de parto. A escolha dessas variáveis se deu por conveniência, uma vez que estes dados foram apresentados por meio de perguntas subjetivas no formulário. Foram avaliadas 60 mulheres, sendo 30 para cada grupo composto na amostra, com uma média de idade de 25 anos, sendo a maioria não branca, com renda mensal menor que um salário mínimo, nove anos ou mais de estudo, casadas, com profissões remuneradas e sem vínculo empregatício. Os motivos para a escolha da via de parto variaram entre preferência pessoal e indicação cirúrgica, sendo a dilatação insuficiente o principal motivo em ambos os grupos. Quanto a realização da consulta de revisão de parto, a maioria relatou falta de conhecimento como principal motivo. Em relação aos motivos que levaram ao desmame precoce, o relato de leite insuficiente foi o principal referido por ambos os grupos. Percebe-se que os motivos por trás da não adesão às práticas saudáveis dizem respeito a questões, em sua maioria, evitáveis e que podem ser desconstruídas por meio da Educação em Saúde. Palavras-chave: Educação em Saúde, Hábitos, Parto, Aleitamento Materno, Período Pós-Parto.

Introdução A gestação é um período determinante na vida da mulher, no qual mudanças importantes, sejam estas físicas ou emocionais, se estabelecem como parte de um processo efetivo e que permeia por toda a vida. A assistência prestada à mulher durante essa fase contribui significativamente para o desenvolvimento de uma gestação mais segura, principalmente durante as consultas de pré-natal, tendo em vista que é possível antecipar riscos e promover cuidados de saúde. A prática de educação em saúde se constitui como peça fundamental para a promoção de cuidados e adoção de medidas para a prevenção de doenças, bem como enfatizar as orientações de práticas saudáveis que devem ser dadas durante as consultas de pré-natal. O desenvolvimento de atividades educativas em grupo pode proporcionar o compartilhamento de experiências, sentimentos e afetos entre os participantes, além da socialização de saberes e a busca por recursos para a saúde integral na dimensão individualcoletiva (MOURA et. al, 2014). O diálogo é uma ferramenta poderosa para a transformação de seres humanos em indivíduos ativos e a prática da educação dialógica desenvolvida nos grupos de gestantes permite o estabelecimento de relações interpessoais, bidirecionais, participativas e humanizadas. Nesse espaço, os educadores ensinam e aprendem com os participantes, criando um processo de compartilhamento de experiências entre todos os envolvidos e a construção coletiva de conhecimentos (LINHARES, PONTES e OSÓRIO, 2013). Embora seja uma prática explorada com bastante vigor, a Educação em Saúde ainda apresenta diversas dificuldades ao ser desenvolvida, e, como já demonstrada através de estudos, isso influencia de forma positiva ou não, a participação ativa da população na busca por mais conhecimentos em saúde. Em virtude disto, faz-se necessário avaliar a contribuição de ações educativas no processo de aprendizado e na promoção da saúde, bem como na ampliação de conhecimentos adquiridos. Considerando que grupos educativos para gestantes frequentemente abordam questões relacionadas ao parto, aleitamento materno e cuidados no pós-parto, torna-se importante conhecer os motivos e dificuldades por trás da não realização de tais cuidados. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar os motivos que levaram mulheres que participaram de um grupo de gestantes a não desenvolverem práticas consideradas adequadas durante o ciclo gravídico-puerperal. Metodologia

Trata-se de um estudo do tipo caso-controle realizado no período de março a maio de 2016, junto a mulheres com pelo menos um filho vivo, participantes de qualquer uma das edições entre a VII e a XI do Curso para Gestantes e Acompanhantes, realizadas entre 2013 e 2015 em uma Casa de Parto Natural (CPN) em Fortaleza, selecionadas para o grupo caso. As mulheres do grupo controle não participaram de qualquer curso preparatório para gestantes e foram selecionadas a partir das consultas de acompanhamento de puericultura na CPN, bem como abordadas na sala de espera de um Centro de Saúde Familiar (CSF) localizado em Fortaleza. A coleta de dados foi realizada por meio de formulário desenvolvido pela própria pesquisadora e aplicado à todas as participantes, contendo questões referentes aos dados de identificação, dados obstétricos e instrumento de avaliação acerca dos assuntos abordados no Curso para Gestantes e Acompanhantes. Do instrumento da pesquisa, foram captadas as variáveis de interesse para atender aos objetivos do presente estudo, cujos dados foram: os aspectos sociodemográficos e econômicos; via de parto; amamentação e revisão de parto. A escolha dessas variáveis se deu por conveniência, uma vez que estes dados foram apresentados por meio de perguntas subjetivas no formulário, questionando diretamente o motivo por trás de cada resposta. Para o presente estudo, as práticas consideradas saudáveis ou adequadas foram classificadas em conformidade com a literatura vigente e com as recomendações do Ministério da Saúde: realização de parto vaginal, aleitamento materno por seis meses ou até dois anos e realização da consulta de revisão de parto. Os dados do grupo caso foram coletados através de entrevista telefônica a partir dos números para contato no ato das inscrições para o Curso de Gestantes. O grupo controle foi abordado na sala de espera da CPN e CSF durante as consultas de puericultura realizadas nos locais. No ato da coleta, foi esclarecido quanto ao anonimato dos usuários, bem como a utilização dos dados somente para fins científicos, resguardando o direito dos entrevistados de desistirem da pesquisa a qualquer momento. A presente pesquisa está inserida em um projeto maior intitulado Avaliação de um Curso de Gestantes Como Estratégia de Educação Sobre as Práticas Relacionadas à Gestação, ao Parto e aos Cuidados com o Bebê, submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (CEP/UFC/PROPESQ) e aprovado sob parecer número 480.836. Resultados e discussão

Foram avaliadas 60 mulheres, sendo 30 para cada grupo composto na amostra. Inicialmente, o grupo de mulheres participantes do Curso de Gestantes era composto por 119 mulheres, conforme os dados de inscrição do curso. No entanto, foi possível entrar em contato com somente 30 participantes, visto que 51 ligações resultaram em número inexistente e 38 não atenderam a ligação após 3 tentativas, totalizando, portanto, 89 perdas. As 60 mulheres envolvidas no estudo apresentaram uma faixa etária entre 17 a 40 anos (25±5,71), a maioria se autodeclarou como não branca, com uma renda menor que 1 salário mínimo (SM), nove anos ou mais de estudo e, em sua maioria, casadas. Da mesma forma, a maioria relatou ter profissões remuneradas, não contribuintes com o INSS, não possuíam vínculo empregatício, não retornou ao emprego após o nascimento do bebê e não aderiu a licença-maternidade. Dentre as que retornaram ao emprego, 26,6% do grupo caso respondeu que amamentou durante esse período, enquanto que 30% do grupo controle não amamentou. Existem achados divergentes na literatura acerca do perfil sociodemográfico de mulheres participantes de grupos educativos, corroborando com os resultados de estudo realizado em Guarulhos com um grupo de promoção ao aleitamento materno (COSTA; FERNANDES, 2015), mas se contrapondo aos achados de estudo realizado no Rio Grande do Norte, no qual as mulheres apresentaram renda familiar maior e 65,9% apresentaram nível superior de escolaridade (SILVA et. al, 2014). Tabela 1 - Distribuição dos dados segundo aspectos sociodemográficos e econômicos das mulheres envolvidas no estudo. Fortaleza, 2016. Caso Controle Valor Md Variáveis OR IC 95% N % N % de p* (±DP) Faixa etária Até 18 anos Maior que 18 0 30 100 1 3,3 29 96,6 2,034 1,569 2,637 1,017 25 (±5,71) Raça Branca Não branca 5 16,6 25 83,3 9 30 21 70 0,467 0,135 1,609 1,491

Renda < R$ 888,00** R$ 888,00 ** 15 50 15 50 19 63,3 11 36,6 0,579 0,206 1,624 1,086 Escolaridade < 9 anos de estudo 9 anos de estudo 5 16,6 25 83,3 4 13,3 26 86,6 1,300 0,313 5,404 0,131 Estado civil Solteira Casada 6 20 24 80 8 26,6 22 73,3 1,455 0,435 4,860 0,373 Profissão Remunerada Não remunerada 17 56,6 13 43,3 16 53,3 14 46,6 1,144 0,414 3,166 0,067 Contribui com o INSS SIM NÃO 12 40 18 60 9 30 21 70 1,556 0,534 4,532 0,659 Possui vínculo empregatício SIM NÃO 9 30 21 70 5 16,6 25 83,3 2,143 0,622 7,387 1,491 Retornou a trabalhar SIM NÃO 13 43,3 17 56,6 12 40 18 60 1,147 0,411 3,204 0,069 Aderiu a licença maternidade SIM

NÃO 9 30 21 70 Amamentou durante o período de trabalho 6 20 24 80 1,714 0,523 5,621 0,800 SIM 8 26,6 6 20 NÃO 3 10 9 30 3,756 Não se aplica 19 63,3 15 50 Total 30 100 30 100 O número de partos cesáreos correspondeu a 60% no grupo caso e 70% no grupo controle. Quando questionadas acerca dos motivos que levaram as mulheres a escolherem cada tipo de parto, foi visto que o parto vaginal foi realizado por escolha própria e o parto cirúrgico apresentou as seguintes justificativas: desenvolvimento da DHEG, posição transversa ou pélvica do bebê, dilatação insuficiente, pós-datismo, RN classificado como GIG (Gigante para a Idade Gestacional). Outras justificativas demonstram a quantidade ainda considerável de cesarianas eletivas, tendo em vista que não apresentaram indicações para a sua realização. Muitas mulheres relataram preferir o parto cesáreo, enquanto outras relataram circular de cordão e realização de laqueadura tubária, como justificativa. Gráfico 1 Demonstração Gráfica dos Motivos para a Escolha do Parto no Grupo Caso e Controle. Fortaleza, 2017. Motivos relacionados a via de parto 12 10 8 6 4 2 0 Grupo Caso - Parto vaginal Grupo Caso - Parto cesáreo Grupo Controle - Parto vaginal Grupo Controle - Parto cesáreo Escolha própria DHEG Posição transversa/pélvica Laqueadura tubária Não teve dilatação RN GIG Circular de cordão Pós-datismo

O parto é um fenômeno cercado de mitos e informações errôneas e que, frequentemente, é influenciado por aspectos culturais e sociais. Estudo qualitativo realizado com 20 gestantes, observou que a escolha da via de parto sofre influência direta de experiências de familiares próximos e que o medo e a tensão acerca da dor durante o parto normal contribuem significativamente para a elevação de cesarianas. Além disso, foi observado que a falta de orientação durante o pré-natal sobre as verdadeiras indicações para a cesariana e os benefícios e desvantagens de cada parto, associados aos avanços tecnológicos constituem fator determinante na escolha e ascensão do parto cirúrgico (BITTENCOURT et. al, 2014). De acordo com Riscado, Jannotti e Barbosa (2016), em uma revisão integrativa, o parto cirúrgico é apontado com frequência como um problema de saúde pública no Brasil, uma vez que a OMS preconiza taxas equivalentes a 10% a 15% dessa via de parto. A generalização do parto cesáreo é vista como representante de maior risco para aumento da morbimortalidade materna e neonatal e ainda ter relação direta com os prejuízos para a amamentação. Quanto a revisão de parto, 76,6% do grupo caso e 66,6% do grupo controle realizou a consulta, conforme recomendação. Em relação às motivações que levaram as mulheres a não realizar as consultas de revisão de parto, a maioria relatou a falta de conhecimento ou a falta de importância para realizar a consulta, bem como a falta de tempo e a dificuldade de acesso às unidades de saúde. Gráfico 2 Distribuição dos motivos para não realização da consulta de revisão de parto. Fortaleza, 2017.

Em um estudo de caráter exploratório descritivo, de abordagem qualitativa, para conhecer a realidade dos enfermeiros em um município do interior do Estado do Rio Grande do Sul, os profissionais relataram a facilidade de atendimento contemplado na rede através da relação entre o hospital e ESF. Com o agendamento de puericultura, muitos mencionaram agendar a revisão de puerpério para a mesma data e asseguram que esse trabalho em rede agiliza o processo, o que aponta que as profissionais enfermeiras demonstram preocupação em qualificar a assistência no puerpério. As autoras explicam (PAVANATTO; ALVES, 2014, p. 767): O puerpério é o período em que o organismo da mulher retorna à situação do estado pré-gestacional, que inicia na primeira hora após a dequitação da placenta e se encerra após quarenta e dois dias. No pós-parto, a mulher se depara com o desafio de cuidar de si e da criança e na consulta puerperal são estabelecidas orientações que amenizam seus medos e anseios, avalia-se o processo da amamentação e também é introduzido um método contraceptivo adequado. Em relação à amamentação e aos cuidados com o bebê, o estudo demonstrou que a maioria das mulheres de ambos os grupos amamentou seu bebê num período maior ou igual a 6 meses e introduziu outro tipo de leite como substituto ou complemento. Quanto aos motivos que levaram ao desmame precoce, no grupo caso as justificativas foram: leite insuficiente, falta de tempo, fissuras, lactente com alergia ao leite e dificuldade de deglutição. No grupo controle as justificativas permaneceram as mesmas, com a diferença de que mais mulheres relataram ter leite insuficiente e outras afirmaram que não queriam mais amamentar. Gráfico 3 - Demonstração gráfica dos motivos que levaram ao desmame precoce. Fortaleza, 2017.

Os benefícios do aleitamento materno para a saúde da mãe e para o desenvolvimento da criança já foram amplamente difundidos e sabe-se que a prática reduziria consideravelmente as taxas de mortalidade infantil (VASQUEZ et. al, 2015). A fissura mamilar é um dos principais motivos para o desmame, por causar dor e desconforto; o mamilo plano, como fator anatômico também foi citado como dificuldade, embora o mesmo não seja motivo suspensivo da amamentação. Os fatores desencadeantes para o desmame precoce podem ser trabalhados ao longo do pré-natal e de atividades educativas que possam diminuir a ansiedade das gestantes (CARNEIRO et. al, 2014). Os hábitos adquiridos durante a gestação e puerpério sofrem influência de diversos fatores, muitos, desenvolvidos a partir de experiências prévias ou que sejam pré-estabelecidos culturalmente. Por um lado, os conhecimentos prévios acerca dos cuidados durante a gestação e com o bebê podem contribuir para o desenvolvimento de maior autonomia no processo gravídico-puerperal. Por outro, tais hábitos, quando aplicados erroneamente, podem levar a práticas inadequadas de saúde e prejudicar o binômio mãe-filho. Neste sentido, Silva, Silveira e Gregório (2012) concluem não é fácil modificar hábitos de vida e conceitos sociais, mas, quando se investe em educação em saúde para a população, a realidade dos cenários pode ser modificada aos poucos. Portanto, a realização de estudos que tenham como objetivo avaliar a predominância de práticas saudáveis durante o período gravídico-puerperal constituem temáticas de grande relevância, pois podem contribuir para uma assistência pré-natal adequada, bem como para atividades educativas voltadas para o público alvo. Da mesma forma, conhecer os motivos e as dificuldades que levam à não adesão dessas práticas pode favorecer e intensificar a abordagem desses assuntos nas ações educativas e durante as consultas de prénatal, uma vez que um dos papeis desempenhados pelo enfermeiro é servir como facilitador durante as ações de Educação em Saúde. Conclusão Neste estudo foram apontados alguns fatores que influenciaram na não realização das práticas consideradas adequadas, tais como parto vaginal, aleitamento materno por até seis meses ou mais e consulta da revisão de parto. Com relação a primeira, foi observado que os dois principais motivos apontados para a realização do parto cesáreo foram preferência da parturiente e dilatação insuficiente do colo uterino. Quanto ao aleitamento materno por menos de seis meses, a grande maioria relatou não ter tempo ou não ter leite suficiente e quanto a

revisão de parto, foi visto que dentre as mulheres que não realizaram a consulta, a maioria afirmou não querer realiza-la. Com isso, percebe-se que os motivos por trás da não adesão às práticas saudáveis dizem respeito a questões, em sua maioria, evitáveis e que podem ser desconstruídas por meio da Educação em Saúde. Ainda que os resultados dos grupos caso e controle não sejam significativamente diferentes, observa-se que o grupo caso apresenta proporções menores que podem indicar a influência do curso para gestantes, do qual fizeram parte. Referências 1. BITTENCOURT, F.; VIEIRA, J. B.; ALMEIDA, A. C. C. H. de; Concepção de Gestantes Sobre o Parto Cesariano. Cogitare Enferm, Paraná, v. 18, nº 3, p. 515 520, jul/set 2013. 2. CARNEIRO, L. M. M. C. e et al. Prática do Aleitamento Materno por Puérperas: Fatores de Risco Para o Desmame Precoce. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 2, p. 239-248, 2014. 3. COSTA, E. F. da; FERNANDES, R. A. Q.; Perfil Sociodemográfico e Obstétrico de Mulheres Participantes de Grupos de Incentivo ao Aleitamento Materno de Comunidade Carente. Revista Saúde, São Paulo, v. 9, nº 1, p. 32 42, 2015. 4. LINHARES, F. M. P.; PONTES, C. M.; OSÓRIO, M. M. Breastfeeding promotion and support strategies based on Paulo Freire's epistemological categories. Revista de Nutrição, Campinas, v. 26, nº 2, p. 125 134, março, 2013. 5. MOURA, T. N. B. de et al. Educação em Saúde como Ferramenta para o Cuidado à Gestante, Puérpera e Recém-Nascido: Uma Abordagem Multidisplinar. Revista Eletrônica Gestão & Saúde. Vol.05, Nº. 04, p. 2343-52, 2014. 6. RISCADO, L. C.; JANNOTTI, C. B.; BARBOSA, R. H. S. A decisão pela via de parto no brasil: temas e tendências na produção da saúde coletiva. Texto Contexto Enferm, v. 25, n. 1, p. e3570014, 2016. 7. SILVA, A. G. C. B. da; SILVA, J. L. e; LISBOA, L. L.; MONTEIRO, R. A.; VIANA, E. S. R. Perfil Sociodemográfico e Clínico das Participantes de um Curso para Gestantes. Rev. APS, Natal, v. 17, nº 3, p. 382 387, jul. /set. 2014 8. SILVA, S. R. da; SILVEIRA, C. F.; GREGÓRIO, C. C. M. Motivos alegados para a não realização do exame de papanicolaou, segundo mulheres em tratamento quimioterápico contra o câncer do colo uterino. Rev. Min. Enferm., v. 16, n. 4, p. 579-587, out./dez., 2012. 9. VASQUEZ, J.; DUMITH, S. C.; SUSIN, L. R. S. Aleitamento materno: estudo comparativo sobre o conhecimento e o manejo dos profissionais da Estratégia Saúde da Família e do Modelo Tradicional. Rev. Bras. Saúde Materno-Infantil, Recife, v. 15, nº 2, abr 2015.