SÍNTESE POR CO-PRECIPITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO COMPÓSITO CERÂMICO 3Y- TZP / Al 2 O 3

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Transcrição:

1 SÍNTESE POR CO-PRECIPITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO COMPÓSITO CERÂMICO 3Y- TZP / Al 2 O 3 R.H.L.Garcia, V. Ussui, V., N.B. Lima, A. H. A. Bressiani; D.R.R.Lazar Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares Av. Lineu Prestes, 2242 Cidade Universitária São Paulo - SP rlgarcia@ipen.br RESUMO A dispersão de alumina em matriz de zircônia estabilizada na fase tetragonal promove o aumento da dureza, módulo de elasticidade e resistência à flexão em temperaturas elevadas, além de inibir a transformação tetragonal monoclínica em atmosferas aquosas. Para otimizar essas propriedades, correlacionou-se, neste trabalho, as características dos pós de 3Y-TZP contendo 20% em massa de alumina, obtidos por co-precipitação, com a microestrutura das cerâmicas. Os pós foram calcinados entre 600 e 1200ºC por uma hora, e caracterizados por MEV, DRX, BET e análise granulométrica, apresentando elevada área de superfície específica, em relação a pós de 3Y-TZP obtidos pela mesma rota. As cerâmicas foram sinterizadas em temperaturas entre 1400 e 1620ºC, por uma hora, e caracterizadas por MEV, DRX e medidas de densidade. A presença de Al 3+ inibe a cristalização da zircônia, exigindo elevada temperatura de sinterização para a densificação e homogeneização da microestrutura. Palavras- chave: Co-precipitação, ferramentas de corte, cerâmicas estruturais, compósito, alumina, zircônia, 3Y- TZP, microestrutura.

2 INTRODUÇÃO A adição de 3 mol% de ítria em uma matriz de zircônia produz uma solução sólida, na qual a fase polimórfica tetragonal é estabilizada à temperatura ambiente. Nessa condição, a cerâmica TZP (tetragonal zirconia polycrystals) possui uma característica importante, a deflexão de trincas pela transformação martensítica. Essa consiste na alteração polimórfica de grãos tetragonais para monoclínicos, e pode ocorrer quando uma tensão mecânica é aplicada. Assim, há um incremento de volume do grão, possibilitando, por exemplo, o impedimento da progressão de uma trinca, resultando em um material com elevada tenacidade à fratura 1. Por outro lado, cerâmicas compostas unicamente de alumina possuem elevada dureza, porém, baixa tenacidade 2. Uma vez que zircônia e alumina têm baixíssima solubilidade, mesmo em elevadas temperaturas 1, é possível produzir um compósito cerâmico com desempenho mecânico otimizado 2. Os mecanismos envolvidos incluem a inibição do crescimento exagerado de grãos na sinterização 3,4, formação de microtrincas 1,5,6. Além disso, a presença da segunda fase pode promover a transformação martensítica no compósito 5. Devido à excelente biocompatibilidade da alumina e da zircônia, estes são empregados para propósitos biomédicos 6,7, além de aplicações estruturais e ferramentas de corte. Para maximizar os benefícios da segunda fase, os grãos devem ser de tamanho reduzido e homogeneamente dispersos em uma matriz de elevada densidade. Porém, a densificação desse compósito apresenta dificuldades técnicas, uma vez que a presença da segunda fase inibe a cristalização 4,8. Desse modo, geralmente se faz necessário o emprego de técnicas onerosas de sinterização como prensagem a quente 9 e prensagem isostática a quente 10. Como alternativa, métodos químicos podem ser empregados para a obtenção de pós de elevada reatividade, possibilitando uma sinterização que propicia excelente densificação sem a necessidade do uso de alta pressão. Alguns exemplos desses métodos não convencionais de preparação de pós são vaporização de solventes, redução eletroquímica 11, combustão de solventes 12, co-precipitação 4, 8, 13 e sol-gel 14. A rota da co-precipitação consiste na preparação de uma solução aquosa dos íons metálicos (ex: Al(NO 3 ) 3, ZrOCl 2 ) com a estequiometria desejada, e misturar lentamente com o agente precipitante (base aquosa, como NH 4 OH), resultando num

3 gel que será filtrado. O processo ainda pode incluir lavagens do precipitado com solventes orgânicos e destilação azeotrópica para evitar a formação de aglomerados fortes na secagem 15. Devido às interessantes possibilidades e baixo custo da aplicação desse método para a fabricação de cerâmicas à base de zircônia, nesse trabalho procurouse correlacionar as características dos pós contendo 20% (em massa) de alumina em matriz de 3Y-TZP, obtidos pela rota de co-precipitação, calcinados e sinterizados em diferentes temperaturas. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL A preparação dos pós contendo 20% em massa de alumina, em matriz de zircônia estabilizada com 3 mol % de ítria, foi realizada a partir das seguintes soluções: (a) oxicloreto de zircônio, obtida pela dissolução do hidróxido de zircônio, com pureza 99,5% em massa de ZrO 2, (IPEN, Brasil); (b) cloreto de ítrio, preparado pela dissolução do respectivo óxido de pureza 99,9% em massa (Aldrich, EUA), (c) cloreto de alumínio hexaidratado, preparado pela dissolução do reagente de pureza 99% em massa (Synth, Brasil). Os demais reagentes, hidróxido de amônio, etanol e n-butanol são de grau analítico. Realizou-se a co-precipitação dos hidróxidos mistos partindo-se de uma solução contendo 35 g L -1 dos específicos óxidos metálicos. O emprego do dobro do volume de precipitante, determinado em ensaios titulométricos com phmetro (Micronal B-474), garantiu que o ph da solução fosse mantido sempre superior a 10. O precipitado foi lavado e repolpado com água, para eliminação de cloretos, e foi tratado com etanol e n-butanol, para a eliminação da água remanescente. Depois de seco a 80ºC em estufa por 24h, os pós foram calcinados ao ar, nas temperaturas de 600, 800, 1000 ou 1200ºC, por 1 hora. Por fim, os pós foram conformados por prensagem uniaxial a 100 MPa, em matriz de 10mm de diâmetro, e sinterizados a 1400, 1500 e 1620ºC, por 1 hora. As rampas de aquecimento foram fixadas em 10ºC min -1 até 800ºC e 5ºC min -1 até a temperatura de patamar. A codificação das amostras sinterizadas está descrita na tabela 1.

4 Tabela 1: Codificação das cerâmicas contendo 20% (em massa) de alumina em matriz de 3Y-TZP. Codificação Temperatura de calcinação (ºC) Temperatura de sinterização (ºC) 6/14 600 1400 6/15 600 1500 6/16 600 1620 8/14 800 1400 8/15 800 1500 8/16 800 1620 10/14 1000 1400 10/15 1000 1500 10/16 1000 1620 12/14 1200 1400 12/15 1200 1500 12/16 1200 1620 As técnicas de caracterização dos pós incluíram: determinação da área superficial específica pela técnica de adsorção gasosa - BET (Micromeritics ASAP 2000), distribuição granulométrica dos aglomerados por difração a laser (Beckman- Coulter modelo LS 13 320 acoplado ao módulo seco Tornado DPS), microscopia eletrônica de varredura (PHILLIPS, modelo XL30), microscopia eletrônica de transmissão (JEOL, modelo 200-c) e difração de raios X (RIGAKU, modelo Multiflex) utilizando-se radiação de Cu-Kα, na potência de 40kW e 20mA. Por sua vez, as amostras sinterizadas foram caracterizadas por medidas de densidade aparente, baseadas no princípio de Archimedes, microscopia eletrônica de varredura para observação das superfícies de fratura e drifração de raios X para verificação das fases presentes nas cerâmicas. Utilizou-se o refinamento pelo método de Rietveld dos dados obtidos por difração de raios X para quantificação das fases da amostra 8/16, sendo esta varredura realizada com 8 segundos por passo angular de 0,02º.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os pós produzidos, calcinados no intervalo de 600 a 1000ºC são semelhantes quanto à forma dos aglomerados, conforme representado nas micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura das figuras 1 e 2. No entanto, a 1200ºC nota-se a diminuição da quantidade de partículas de pequeno tamanho (figura 2b), fato este evidenciado pelas curvas de distribuição granulométrica da figura 4b. Observando-se a micrografia obtida por microscopia eletrônica de transmissão (figura 3) evidencia-se o tamanho nanométrico das partículas calcinadas a 800ºC. (a) (b) Figura 1: Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura de pós de 3Y- TZP / Al 2 O 3 - calcinados por uma hora a (a) 600ºC e (b) 800ºC,. (a) (b) Figura 2: Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura de pós de 3Y- TZP / Al 2 O 3 - calcinados por uma hora, a (a) a 1000ºC e b)1200ºc.

6 Figura 3: Micrografia, obtida por microscopia eletrônica de transmissão, do pó cerâmico 3Y-TZP / Al 2 O 3 calcinado a 800ºC A partir dos resultados das análises de adsorção gasosa, (figura 4a), verificase uma expressiva redução da área superficial específica em função da temperatura de calcinação dos pós. De 600 a 1200ºC, a área passou de 179 a 1,21 m 2 g -1, em conseqüência do pronunciado crescimento das partículas. Observando-se os resultados de análise granulométrica (figura 4b), verifica-se um menor tamanho de aglomerados para os pós calcinados na faixa de 600 a 1000ºC, e o aumento significativo dos aglomerados/partículas calcinadas a 1200ºC, corroborando a hipótese de que nessa temperatura já atuam significativamente força motrizes da sinterização. Área superficial específica (m 2 / g) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 Massa acumulada (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 600ºC 800ºC 1000ºC 1200ºC 0 600 800 1000 1200 Temperatura de calcinação (ºC) (a) 0 66 10 1 0,3 Tamanho equivalente (µm) (b) Figura 4: (a) Área de superfície específica e (b) curvas de distribuição granulométrica de pós cerâmicos 3Y-TZP/Al 2 O 3, em função temperatura de calcinação.

7 Na ausência de segunda fase, a 3Y-TZP obtida por co-precipitação normalmente cristaliza em torno de 600ºC 4,16. Do mesmo modo, a alumina cristaliza em torno de 400-500ºC como γ-alumina, transformando-se para θ-alumina a 900ºC e estabilizando-se em α-alumina a 1100ºC 8. Porém, no compósito estudado, a formação das estruturas cristalinas foi mutuamente inibida. Observando-se os padrões de difração dos pós, nota-se a baixa cristalinidade das amostras calcinadas abaixo de 1200ºC (figura 5). A zircônia iniciou a cristalização, significativamente, acima de 600ºC, não sendo possível observar as reflexões de alumina cristalina nas amostras calcinadas em temperaturas inferiores a 1200ºC. Quando calcinada nessa temperatura, verificou-se a presença da alumina-θ, com baixíssima ocorrência da fase α (figura 6). Intensidade (u.a.) Temperatura de calcinação (ºC) 1200 1000 800 600 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2 θ (graus) Figura 5: Difratogramas de raios-x mostrando a evolução da cristalinidade dos pós de 3Y-TZP / Al 2 O 3 em função da temperatura de calcinação

8 Intensidade log(u.a.) Zirconia (t) Zirconia (m) Alumina θ Alumina α 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2θ (graus) Figura 6: Difratograma de raios-x do pó de 3Y-TZP / Al 2 O 3 calcinado a 1200ºC Os valores de densidade aparente das amostras sinterizadas são apresentados na figura 7. As cerâmicas calcinadas até 1000ºC e sinterizadas a 1620ºC atingiram maior densificação, 5,5 Temperatura de sinterização 1400ºC 1500ºC 1620ºC Densidade (g/cm 3 ) 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 600ºC 800ºC 1000ºC Temperatura de calcinação 1200ºC Figura 7: Densidade aparente das cerâmicas de 3Y-TZP/Al 2 O 3 em função da temperatura de calcinação dos pós e de sinterização.

9 Nas figuras 8 e 9, é mostrada a evolução microestrutural das cerâmicas estudadas. Verificou-se que as amostras sinterizadas a 1620ºC, preparadas a partir de pós calcinados em temperaturas inferiores a 1200ºC apresentam homogeneidade e excelente dispersão dos grãos de alumina na matriz. Cabe ressaltar que os pós calcinados a 1200ºC não possuem características adequadas para uma boa densificação. Por outro lado, as cerâmicas sinterizadas em temperaturas inferiores apresentaram heterogeneidade na microestrutura, pois é necessária, neste compósito uma maior energia para o desenvolvimento das forças motrizes na sinterização. (a) (b) Figura 8: Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura das superfícies de fratura das cerâmicas 3Y-TZP / Al 2 O 3 codificações 10/14 (a) e 12/16 (b), respectivamente. (a) (b) Figura 9: Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura das superfícies de fratura das cerâmicas de 3Y-TZP/ Al 2 O 3, codificações 6/16 (a) e 8/16 (b), respectivamente.

10 Nas cerâmicas sinterizadas a 1620ºC, a obtidas a partir de pós calcinados a 800 o C, o refinamento dos dados obtidos por DRX, pelo método de Rietveld, confirmou que o compósito é constituído por 21% (em massa) de alumina, em matriz de zircônia de estrutura tetragonal, contendo ainda 20% de fase cúbica e 7,5% de fase monoclínica. A presença de fase cúbica pode ser decorrente de heterogeneidades na dispersão da ítria durante a etapa de síntese ou tratamento térmico. Outra hipótese, sugerida na literatura, é a formação de fases polimórficas metaestáveis, em conseqüência da incorporação de Al 3+ na estrutura cristalina da zircônia 20. Por sua vez, a presença da fase monoclínica também pode ser decorrente de heterogeneidades microestruturais ou tensões provocadas por diferenças nos coeficientes de expansão térmica das fases envolvidas. CONCLUSÃO Os pós contendo 20% em massa de alumina em matriz de zircônia estabilizada com ítria, obtidos pela rota de co-precipitação, possuem tamanho nanométrico, elevada área superficial, porém, baixa cristalinidade, quando calcinados em temperaturas inferiores a 1200ºC. O estudo de sinterização realizado permitiu definir condições de tratamento térmico adequadas para atingir boa densidade, superior a 95% da densidade teórica. Neste caso, as condições otimizadas incluem calcinação a 800ºC e sinterização a 1620ºC, ambos por uma hora. Essa cerâmica apresenta, em sua composição, alumina α, zircônia cúbica, zircônia monoclínica, em matriz de zircônia tetragonal. A presença de zircônia cúbica e monoclínica será investigada em trabalhos futuros, por meio de técnicas de caracterização microestrutural, incluindo microscopia eletrônica de transmissão. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem os colegas Joana D. Andrade, Reinaldo A. da Costa, Sandra M. Cunha, Rene R. de Oliveira, Nildemar A. M. Ferreira e Celso V. de Moraes pelo auxílio no trabalho experimental e ao LAMI (Laboratório Associado Micronal-IPT) pelas medidas de granulometria.

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