Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. Espécies arbóreas invasoras: como e quando fazer o controle?



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Transcrição:

Espécies arbóreas invasoras: como e quando fazer o controle? GISELDA DURIGAN - FLORESTA ESTADUAL DE ASSIS giselda@femanet.com.br O conceito físico de entropia, que trata de uma tendência a um aumento constante na desordem das coisas, pode ser emprestado a outras ciências, como a biologia e, no caso de que trataremos aqui, à fitogeografia, travestido de tendência natural a um aumento da diversidade nos ecossistemas naturais. Se essa tendência fosse contínua, era de se esperar que cada nova espécie oriunda de processos evolutivos (mutação e seleção natural) em algum canto do mundo, um dia viesse a se espalhar por todo o planeta. Da mesma forma, em cada canto do planeta poderiam ser encontradas todas as espécies de plantas existentes nas diferentes regiões do mundo. Naturalmente, esse ideal entrópico não acontece com as plantas porque barreiras, principalmente geográficas e climáticas, além de barreiras de natureza biológica, impedem o livre deslocamento das espécies. Assim sendo, ainda que as condições ambientais do Brasil sejam apropriadas para o desenvolvimento de espécies de eucalipto, por exemplo, para que essas espécies aqui chegassem naturalmente suas sementes precisariam antes cruzar desertos, oceanos ou geleiras, a depender da rota escolhida. Ou seja, provavelmente não chegariam nunca! Utilizando exemplo menos extremo, pode-se especular: quanto tempo levaria para que a goiabeira, uma planta oriunda de algum lugar incerto das Américas, se instalasse e se disseminasse por todo o Brasil se o homem não tivesse atuado como agente dispersor? Esses questionamentos estão por trás de toda a discussão sobre plantas invasoras. Se as plantas caminham naturalmente em todo o planeta por processos naturais, é difícil, às vezes, interpretar quando o aparecimento de uma espécie em locais onde ela não ocorria antes deve ser considerado invasão biológica, ou seja, algo que deve ser evitado ou controlado. A resposta deve estar na análise e na predição das conseqüências desse processo. Sempre que a entrada de uma espécie implicar a simplificação da comunidade, com redução da riqueza pela extinção de outras espécies ou redução da diversidade pelo desequilíbrio entre as populações, tratar-se-á de invasão que necessita de controle. Usando a metáfora da guerra, já que é daí que emprestamos o conceito de invasão, podemos dizer que o caso de um guerreiro que se enamora de uma moça de outra tribo e com ela passa a viver e ter filhos, integrando-se pacificamente à nova tribo e assimilando seus costumes é totalmente diferente do caso de um exército hostil que invade outra tribo, extermina a população e destrói sua cultura. Tentarei aqui trazer à discussão alguns exemplos emblemáticos de contaminação por espécies arbóreas, com os quais tenho me deparado no decorrer dos meus estudos de ecossistemas naturais e plantios de restauração, principalmente no interior do Estado de São Paulo. Pinus spp. Exemplos de contaminação biológica por espécies arbóreas no Estado de São Paulo

As espécies do gênero Pinus são oriundas da América Central e do Norte, introduzidas no Brasil para produção de madeira e resina em plantios comerciais. De modo geral invadem comunidades não arbóreas, em locais onde não há déficit hídrico. No Estado de São Paulo, Pinus elliottii tem tido quase que o monopólio dessas invasões. Ainda não se sabe ao certo se as outras espécies do gênero são menos agressivas ou se, por terem sido introduzidas mais tarde, perderam a primazia para o P. elliottii. Em sendo heliófitas e muito bem adaptadas a solos permanentemente úmidos, as árvores de Pinus, cujas sementes são transportadas pelo vento (dispersão à distância), têm invadido principalmente os ambientes ripários, como os campos úmidos em regiões de cerrado, ou áreas desmatadas, em regiões nas quais a estação seca é menos prolongada ou o lençol freático é pouco profundo. Com menor êxito, mas já observado em muitos locais, as árvores de Pinus instalam-se às vezes em clareiras de florestas naturais e com freqüência ocupam totalmente o subosque dos próprios plantios homogêneos da espécie, dificultando tremendamente o manejo. A invasão por Pinus, porém, não ocorre em locais onde as plantas são sujeitas à restrição hídrica. Ainda que germinem, as plântulas não sobrevivem à estação seca. As medidas de controle, ainda tentativas, passam pelo corte das árvores (que felizmente não rebrotam) e pelo fogo controlado (que mata todos os jovens e possivelmente as sementes). A maior dificuldade tem sido o controle em áreas encharcadas, onde o acesso para corte é muito difícil e onde o fogo não se propaga facilmente. Eucalyptus spp. Espécies do gênero Eucalyptus, oriundas da Austrália, foram introduzidas no Estado de São Paulo há cerca de um século, mas são raros os casos em que se encontram essas árvores crescendo em locais onde não foram plantadas. Quando acontece, geralmente são poucos indivíduos, que se estabelecem em locais onde o solo tenha sido revolvido, ao redor de talhões que foram plantados, casos típicos da chamada dispersão marginal. Raramente se observam árvores de eucalipto invadindo ecossistemas naturais. As sementes são dispersas por gravidade ou, dado o reduzido tamanho de suas sementes (até 500.000 sem/kg), pelo vento a curtas distâncias, apesar de serem desprovidas de estrutura de vôo. Os poucos casos de contaminação biológica por eucalipto geralmente se tratam de espécies com sementes maiores, cujas reservas possibilitam a sobrevivência dos seedlings no ambiente por tempo mais longo. A eliminação das árvores de eucalipto, se considerada necessária, é difícil, uma vez que as árvores rebrotam várias vezes após o corte. A solução mais rápida e eficaz é a aplicação de herbicidas potentes sobre as touças, específicos para plantas lenhosas. Leucaena leucocephala(lam.) R. de Wit A leucena foi introduzida no Brasil como planta forrageira e, diante de sua alta eficiência como fixadora de nitrogênio, mostrou-se capaz de se desenvolver em solos muito degradados, passando a ser utilizada em plantios de recuperação de áreas degradadas. Com sementes secas, dispersas por gravidade, e altamente exigente em luz, a leucena parece incapaz de invadir formações arbóreas naturais ou de se deslocar rapidamente por grandes distâncias.

A atribuição do papel de invasora à leucena se faz principalmente porque em muitos plantios de restauração a espécie tem sobrepujado as essências nativas nos processos de regeneração natural, como tem sido observado também com outras espécies introduzidas, a exemplo de Cordia abyssinica R.Br. e Melia azedarach L. (Siqueira, 2002). Formam-se, às vezes, bosques praticamente puros de leucena, que parecem estáveis, impedindo o aumento natural da diversidade. Porém, em plantios heterogêneos realizados sobre solos férteis que mantêm sua composição e estrutura originais, espécies arbóreas de maior porte acabam por sombrear os indivíduos de leucena, que paulatinamente vão desaparecendo da comunidade. A necessidade de controle da população de leucena em plantios de restauração ainda é objeto de controvérsias. Suas funções benéficas, tais como proteger o solo contra a erosão, recuperar a fertilidade pelo acréscimo de N e matéria orgânica ou proteger os recursos hídricos, são indiscutíveis e tudo indica que a homogeneização da comunidade só tem ocorrido em ambientes muito perturbados, nos quais as árvores nativas têm dificuldades para se estabelecer. Eliminar totalmente a leucena desses locais pode ser uma estratégia equivocada. Desbastálas e promover plantios de enriquecimento com espécies nativas de crescimento vigoroso que possam proporcionar sombreamento parece ser mais adequado. Schizolobium parahyba (Vell.) Blake Assim como uma série de outras espécies ornamentais, nativas ou introduzidas, o guapuruvu foi disseminado por quase todo o Brasil. Cultivado nas propriedades rurais por sua utilidade (madeira mole, fácil de trabalhar), pela beleza de suas flores, pelo majestoso porte das árvores e, principalmente, pelo fácil cultivo e crescimento vertiginoso, o guapuruvu é, talvez, a espécie arbórea cujo plantio é mais gratificante e, por isso mesmo, pode ser o melhor argumento para convencer aqueles que relutam em plantar árvores porque crescem muito devagar. É difícil resgatar precisamente a origem de muitas plantas cultivadas, porque faltam registros fitogeográficos anteriores à ação do homem disseminando essas plantas por diferentes regiões. No caso do guapuruvu, registros do início do século XX (Pio Correa, 1926) mencionam ser a espécie comum em toda a Serra do Mar, mas apenas em sua vertente litorânea. Há muito tempo, porém, essa árvore, cujas sementes são dispersas a longas distâncias por ventos fortes, vem se disseminando pelo interior do Estado de São Paulo, a partir de exemplares cultivados. Suas sementes germinam e se estabelecem facilmente em solos de regiões florestais e podem se formar até cinco gerações em cerca de 30 anos. Embora heliófita preferencial, o guapuruvu estabelece-se à meia-sombra e muito rapidamente ultrapassa o dossel em qualquer tipo de floresta (segundo Pio Correa, 1926, é a maior de todas as árvores da Serra do Mar!). A verdade é que hoje se encontram exemplares de grande porte de guapuruvu no interior de diversos fragmentos florestais em todo o interior do Estado de São Paulo. Às vezes é possível mapear a origem dos propágulos, como é o caso da estação Ecológica dos Caetetus (Alvinlândia, SP), em que as árvores que surgiram no interior da floresta nos últimos 20 anos são descendentes de árvores plantadas (ainda vivas) na propriedade vizinha há cerca de 40 anos.

Outras vezes, as árvores-mães já não existem mais, despertando a ilusão de que as árvores existentes dentro dos fragmentos sejam nativas do local. Com base nessa crença, o guapuruvu tem sido uma das dez espécies mais utilizadas em plantios de restauração florestal em todo o estado de São Paulo (Barbosa & Martins, 2003), com base até mesmo nas leis que regulamentam os plantios e que o indicam para essas regiões. Algumas questões se colocam, inevitavelmente: deve-se recomendar a proibição do plantio dessa espécie? Ou a eliminação das árvores que estão surgindo nos fragmentos florestais? Será que essas árvores podem levar outras espécies da floresta à extinção? Ou poderão levar à homogeneização dos plantios como ocorre com a leucena? Se o guapuruvu pode ser utilizado nos plantios, por que não poderiam outras espécies que não são nativas, mas se desenvolvem bem nessas regiões? Será que, se as florestas paulistas não tivessem sido totalmente fragmentadas, o guapuruvu não acabaria, naturalmente, avançando para o interior? Sem respostas seguras para essas questões, que sejam baseadas em estudos científicos criteriosos, é impossível tomar decisões a respeito de casos como esse. Coffea arabica L. Essa pequena árvore foi introduzida no Brasil há séculos e tornou-se uma das principais plantas cultivadas no país. Planta perene de pequeno porte, tolerante à sombra, com sementes dispersas pela fauna, o café poderia ter se tornado um caso sério de invasão, o que não aconteceu. Hoje se encontram com freqüência plantas de café no interior dos fragmentos florestais, principalmente no oeste paulista. Na maioria dos casos são plantas dispostas em linhas e, na verdade, foram plantadas. Era comum a formação de viveiros de espera sob o dossel das florestas, onde as mudas de café ficavam depositadas e protegidas contra as geadas. Muito longevas, essas plantas ainda sobrevivem. Além dessas plantas, evidentemente introduzidas pelo homem, eventualmente encontramse plantas isoladas de café no subosque, provavelmente oriundas de sementes transportadas de lavouras da vizinhança pela fauna, ou descendentes daquelas mudas plantadas. O café, porém, de modo algum pode ser considerado um espécie invasora que necessita de controle, já que não parece colocar em risco o equilíbrio e a diversidade dos ecossistemas naturais. Reflexões sobre o controle de espécies invasoras Em uma época em que promover o plantio de árvores tem sido o maior desafio, defender a necessidade de cortá-las parece um contra-senso. Aceitar que árvores que nascem e crescem naturalmente podem ser maléficas requer, mais do que uma mudança de paradigma, a ruptura de convicções atávicas. O mesmo não ocorre com plantas herbáceas, com as quais aparentemente não desenvolvemos grandes vínculos afetivos, de modo que nenhum de nós hesita em recomendar o controle da braquiária ou do colonião, por exemplo. Também é preciso vencer conceitos pré-estabelecidos como, por exemplo, de que toda árvore brasileira é intrinsecamente boa e toda árvore oriunda de outros países é invariavelmente má.

Qualquer ação voltada ao plantio ou corte de árvores deve basear-se, racionalmente, nos três objetivos seguintes: 1) preservar os ecossistemas naturais e garantir sua estabilidade; 2) recuperar a cobertura vegetal primariamente para restituir suas funções protetoras e, na medida do possível, para restaurar a diversidade original; 3) promover o cultivo de espécies arbóreas para suprimento das necessidades humanas de produtos e serviços florestais. Referências Bibliográficas Barbosa, L.M. & Martins, S.E. 2003. Diversificando o reflorestamento no Estado de São Paulo: espécies disponíveis por região e ecossistema. São Paulo:Instituto de Botânica. Pio Corrêa, M.P. 1926. Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura. V. 1. Siqueira, L.P. 2002. Monitoramento de áreas restauradas no interior do Estado de São Paulo. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Dissertação de Mestrado.