INUNDAÇÕES NAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTES EM GOIÂNIA-GO FLOODS IN PERMANENT PRESERVATION AREAS IN GOIÂNIA-GO Thalyta Lopes Rego Mestranda em Geografia, Universidade Federal de Goiás Instituto de Estudos Sócio-Ambientais IESA Goiânia, Goiás, Brasil thalytalopesrg@gmail.com INTRODUÇÃO As inundações no período chuvoso ocasionam muitos problemas à população. Em eventos extremos de chuva há problemas relacionados com alagamentos, enchentes, inundações e escorregamentos, causados pelas condições naturais do solo e relevo, como também pelas alterações antrópicas no local. Os resultados são bastante críticos com pessoas desabrigadas, desaparecidas, falta de energia, contaminação de solos e dos recursos hídricos. Esses problemas ocorrem principalmente porque no processo de construção da cidade há a retirada de materiais naturais e o incremento de materiais artificiais, provocando mudanças nos processos infiltração e escoamento da água precipitada durante as chuvas. Segundo Tucci (1997) as enchentes em áreas urbanas ocorrem devido a dois processos: enchentes em áreas ribeirinhas e devido a urbanização. Estes dois processos podem ocorrer isoladamente ou de forma integrada. Os rios possuem dois leitos: o menor e o maior. O leito menor é por onde a água escoa a maior parte do tempo. Quando o escoamento ultrapassa este leito, devido a variabilidade temporal, pode alcançar o leito maior. As enchentes em áreas ribeirinhas ocorrem quando a população ocupa o leito maior do rio, em períodos de estiagem. Enchentes que ocorrem devido à urbanização são causadas pela impermeabilização do solo e a construções de redes de condutos de escoamento. Outros fatores que podem aumentar a frequência e a magnitude das enchentes são a construção de aterros, pontes, drenagens inadequadas, obstruções de escoamento em condutos e
assoreamento. Outro problema associado às inundações é a ocupação das Áreas de Preservação Permanentes, que são as áreas que margeiam os córregos e rios com larguras definidas em lei. As Áreas de Preservação Permanentes (APP) são instrumentos legais utilizados pelo poder público para proteger uma área ambientalmente sensível. Estas áreas formam uma barreira protegendo os cursos d'água das ações antrópicas próximas às margens. Devem ser mantidas na sua condição natural, livre de qualquer alteração que possa colocar em risco a qualidade do curso d'água próximo. A ocupação inadequada pode acelerar processos erosivos, assoreamentos, desmatamentos, perda da qualidade da água e inundações. A Lei 18.104 de julho de 2013, que dispõe sobre a Política Florestal do Estado de Goiás, define as Áreas de Preservação Permanentes como: Área de Preservação Permanente APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (GOIÁS, 2013). De acordo com Nascimento (1994) Goiânia foi projetada para 50 mil habitantes, porém 30 anos após sua construção a população já passava de 150 mil habitantes. As leis vigentes na época juntamente com a pouca fiscalização, foram insuficientes para impedir a construção de habitações e estabelecimentos comerciais e industriais em áreas de preservação ambiental, ocasionando entre outros problemas o desmatamento da mata ciliar e poluição dos cursos d água. O desmatamento e a impermeabilização do solo fazem com que a água proveniente da chuva escoe diretamente para os cursos d água, levando consigo materiais que estão depositados nas ruas, causando enchentes e inundações. O planejamento inadequado das avenidas principais da cidade leva a alagamentos que causam congestionamentos e acidentes no trânsito nos dias de chuva intensa. Esta pesquisa tem como objetivo identificar, mapear e analisar as Áreas de Proteção Permanente nos pontos de inundação em Goiânia. Para alcançarmos este objetivo foram realizadas pesquisas em notícias de jornais relacionadas a inundações
para identificar os pontos em que ocorrem mais inundações em Goiânia e análise de fotografias aéreas para perceber a ocupação nas Áreas de Preservação Permanente onde ocorrem essas inundações. Percebemos que as ocupações próximas a cursos d água sempre foram presentes na história de Goiânia e continuam ocorrendo sem se observar as consequências deste fato. Devido aos sistemas atmosféricos atuantes na região de Goiânia, a cidade está sujeita a um período chuvoso intenso, muitas vezes com consequências desastrosas para a população. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A cidade de Goiânia se localiza na Região Centro-Oeste do país, no Planalto Central, e possui uma área de 732,802 quilômetros quadrados, limitando-se ao norte com os municípios de Goianira, Nerópolis e Goianápolis, ao sul com o município de Aparecida de Goiânia, a leste com os municípios de Senador Canedo e Bela Vista de Goiás e a oeste com o município de Trindade (figura 01). Figura 01 Localização do município de Goiânia
O clima predominante é classificado como Tropical Úmido com temperatura anual média de 22,9 C. Goiânia pertence à bacia do Rio da Prata e à micro-bacia do Rio Meia Ponte. Outros cursos d água de importância para a cidade são o Ribeirão João Leite, os córregos Anicuns, Botafogo, Capim-Puba, Cascavel e Macambira. Os sistemas atmosféricos atuantes em Goiânia, que são os mesmos para toda a Região Centro-Oeste, levam a formação de dois períodos do clima: um seco e um chuvoso. Barros (2003), que escreveu sobre a caracterização do clima no Distrito Federal, afirma que o período de abril a setembro apresenta-se seco e o de outubro a março, chuvoso. De acordo com Nascimento (1994), Goiânia foi projetada para 50 mil habitantes, porém 30 anos após sua construção a população já passava de 150 mil habitantes. As leis vigentes na época e pouca fiscalização foram insuficientes para impedir a construção de habitações e estabelecimentos comerciais e industriais em áreas de fundo de vale, ocasionando entre outros problemas o desmatamento da mata ciliar e poluição dos cursos d água. Moysés (2004) apresenta dados em que a população urbana de Goiânia em 1940 era de 31,2%, aumentando para 86,9% nos anos 1960 e chegando a 99,1% nos anos 1990. Atualmente a população de Goiânia vem crescendo significativamente, principalmente próximo a lugares que oferecem espaços verdes e grandes possibilidades de crescimento econômico, mas essas áreas verdes muitas vezes são ocupadas de maneira indevida. Arrais (2004, p.112) afirma que existem aproximadamente 500 bairros em Goiânia, muitos em situação irregular, até mesmo na clandestinidade, alguns encravados nos limites da Zona de Expansão Urbana e em áreas de vegetação nativa, consideradas áreas de preservação ambiental. Os lugares mais procurados são próximos a rios e córregos, que são espaços legalmente protegidos para manter o equilíbrio ecológico. Esta forma de ocupação do solo, que vem sendo praticada desde a construção da cidade, pode interferir na permeabilidade do solo, reduzir a quantidade de água da chuva que infiltra no solo e causar sérios impactos ambientais. Estes fatos são afirmados por Nascimento e Oliveira (2010) ao discutirem sobre o crescimento urbano de Goiânia,
O intenso processo de expansão demográfica e crescimento urbano, especialmente a partir da década de 1950, resultou numa gama de problemas socioambientais, entre os quais vale destacar a ocupação de áreas impróprias, a devastação da cobertura vegetal (sobretudo áreas de preservação permanente), a impermeabilização do solo, a formação de processos erosivos, dentre outros (NASCIMENTO E OLIVEIRA, 2010, p. 3). Estas alterações ambientais em Goiânia provocam diversos problemas ligados ao clima local. Com duas estações bem definidas uma seca e uma chuvosa, Goiânia enfrenta dificuldades na estação chuvosa. As chuvas intensas são de curta duração mas, com a dificuldade de infiltração, as águas resultantes ganham velocidade devido à declividade do terreno, chegando rapidamente e em maior quantidade aos rios, causando as inundações. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa se baseou em 15 pontos de inundação monitorados pela Comissão Municipal da Defesa Civil (Comdec), publicados no jornal O Popular em 01 de outubro de 2012. Para a análise das áreas de preservação permanente foi obtida a ortofoto de 2012 do município de Goiânia e o Mapa Urbano Digital de Goiânia (MUBDG) de 2011, na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável. Através do MUBDG foi delimitado através de um software de geoprocessamento as áreas de preservação permanente de acordo com o estabelecido na Política Florestal do Estado de Goiás, que determina: Art. 9º Consideram-se Áreas de Preservação Permanente APP, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei: I as faixas marginais de qualquer curso d água natural, perenes e intermitentes excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para os cursos d água de até 10 (dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d água com largura superior a 10 (dez) metros e até 50 (cinquenta) metros de largura (GOIÁS, 2013).
No Rio Meia Ponte e no Ribeirão João Leite foram delimitadas as faixas de 50 metros pois possuem largura entre 10 e 50 metros. Nos demais rios e córregos foram delimitadas faixas de 30 metros para as APPs. Estas delimitações foram sobrepostas à ortofoto para análise das APPs. RESULTADOS Os pontos de inundação apresentados no jornal estão destacados na figura 02. Nesta imagem é possível perceber que os pontos de inundação se distribuem nas regiões Central, Oeste, Noroeste, Norte e Leste de Goiânia. Figura 02 Pontos de inundação em Goiânia Fonte: O popular, 2012. Aplicando as distâncias determinadas para a APP de cada ponto destacado pelo Comdec podemos observar nas imagens abaixo que na grande maioria dos pontos de
inundação não há o respeito às áreas que deveriam ser preservadas, havendo construções de habitações e ruas dentro desses limites. Ponto 1. Vila Coronel Cosme II Ponto 2. Vila Santa Efigênia Ponto 3. Vila Fernandes Ponto 4. Invasão Emílio Póvoa Ponto 5. Vila Monticely Ponto 6. Conjunto Caiçara
Ponto 7. Setor Urias Magalhães Ponto 8. Vila Romana Ponto 10. Vila Maria Rosa Ponto 11. Setor dos Funcionários Ponto 12. Vila Roriz Ponto 13. Setor Grande Retiro
Ponto 14. Setor Norte Ferroviário Ponto 15. Vila Maria Luiza No ponto 9 indicado na imagem do jornal, na rua indicada não há a presença de curso d'água próximo, há a presença de um corpo hídrico, porém este se encontra distante do local da inundação e de residências. No ponto 1 e 7 não há a presença de construções dentro da área delimitada, porém, percebe-se foi retirada grande parte da vegetação à margem do Rio Meia Ponte. Deixando as margens expostas há menor infiltração dá água da chuva e esse volume de água chega com maior velocidade ao rio, intensificando as inundações. Os demais pontos possuem construções dentro da Área de Preservação Permanente, bastante próximas às margens dos rios, inclusive com construção de ruas. São áreas bastante sensíveis com construções que em alguns pontos não possuem 10 metros de distância da margem do rio, como nos pontos 2, 3 e 10, e com construções ao longo de uma grande parte da margem do rio, como nos pontos 5, 11 e 12. Seguindo os dois tipos de inundação propostos por Tucci (1997) percebe-se que as inundações nos pontos destacados pela Defesa Civil são, em sua maioria, inundações ribeirinhas e em alguns pontos devido à urbanização. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos pontos de inundação analisados foi possível perceber que as Áreas de Preservação Permanente destes locais estão comprometidas, tanto com a retirada da vegetação, quanto com a presença de construções muito próximas aos rios. Os
problemas ocasionados pela falta de planejamento e fiscalização dessas áreas incluem perdas materiais e colocam em risco a saúde e a vida dos moradores que vivem próximos aos pontos analisados. É importante que se estude os impactos que são causados no ambiente urbano devido as modificações do ambiente natural e que se desenvolva mecanismos de controle e prevenção eficazes. Se torna indispensável e urgente o planejamento do uso do solo, ampliação da drenagem urbana, preservação dos locais de recarga por meio do qual há a infiltração da água das chuvas e contenção dos desmatamentos. REFERÊNCIAS ABREU, V. Cresce número de áreas de risco. O popular. Goiânia, p. 5, 1 de out. 2012. ARRAIS, T. A. Geografia Contemporânea de Goiás. Goiânia: Vieira, 2004. BARROS, J. R. A chuva no Distrito Federal: o regime e as excepcionalidades do ritmo. 2003. 221 p. (Mestrado em Geografia) Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Universidade Estadual Paulista. Rio Claro. GOIÁS. Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. Política Florestal do Estado de Goiás. Goiânia, GO, 2013. MOYSÉS, A. Goiânia: metrópole não planejada. Goiânia: Ed. da UCG, 2004 NASCIMENTO, D. T. F.; OLIVEIRA, I, J. de. Mapeamento do Crescimento Urbano de Goiânia-GO:1986 a 2010. In: SEMINÁRIO NACIONAL DAS METRÓPOLES,2010, Goiânia. Anais. Goiânia, 2010. NASCIMENTO, M. A. L. S. Erosões Urbanas em Goiânia. Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, v. 14, n. 1, p. 77-101, jan./dez. 1994. TUCCI, C. E. M. Águas no Meio Urbano. UFRS, 1997.